O excerto apresentado integra o ponto 3, da obra Lições de Português pela Análise Sintática, de Evanildo Bechara, dedicado ao estudo de «Os principais verbos impessoais». Nesta secção, o autor começar por identificar alguns verbos impessoais e associa a este grupo a expressão «era uma vez». De seguida, apresenta alguns exemplos literários de frases iniciadas por «era uma vez». Todos estes casos são analisados como pertencentes à categoria de verbos impessoais, ou seja, de verbos que não têm sujeito.
O Prof. Martinz de Aguiar, na carta referida, vem discordar da interpretação de Bechara, ao defender que as expressões que seguem o verbo são o seu sujeito e que o verbo deve concordar com elas, como deveria acontecer na expressão «lá vai os homens», cuja forma correta será, na sua opinião, «lá vão os homens».
Note-se, no entanto, que Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa, já não defende que a expressão «era uma vez» inclui um verbo impessoal: «Com a expressão era uma vez uma princesa, continua o verbo ser como intransitivo e o substantivo seguinte como sujeito; todavia, como diz A.G. Kury, “a atração fortíssima que exerce o numeral uma da locução uma vez”, leva a que o verbo fique no singular ainda quando o sujeito seja um plural: Disse que era uma vez dois (...) compadres, um rico e outro pobre [CC.1, 31].» (pp. 453-454)
Esta diversidade de análise explica-se pelo facto de a interpretação de estruturas como as que se encontram em causa dar azo a interpretações muito diversas. Caberá ao leitor adotar a interpretação que considerar mais justa e pertinente.
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