Apenas a sonorização – ou lenição1 – é válida.
Na evolução do latim para o sistema galego-português e outros sistemas da România Ocidental, ocorreu regularmente o vozeamento das consoantes oclusivas surdas intervocálicas surdas -C-, -P- e -T- : PACARE > pagar; SAPERE > saber; METU- > medo.
Observe-se que a sonorização se insere no fenómeno mais vasto da assimilação, pois o traço vozeado do contexto vocálico é transmitido à consoante intervocálica.
Sendo assim, à descrição do caso de TOTU-> todo, dá-se prioridade ao processo mais geral da sonorização, que ocorre em palavras em que não há contexto para a dissimilação:
PRATU- > prado
CITU- > cedo
LATU- > lado.
Considerando os casos acima, aceita-se metodologicamente a prioridade da regra mais geral sobre o fenómeno menos regular. A transição TOTU- > todo enquadra-se, portanto, na sonorização, que é regular e tem âmbito genérico, e não entre os fenómenos de dissimilação, que ocorrem mais pontualmente, em função de cada palavra.
1 «Refere-se tradicionalmente como lenição (ou abrandamento) uma série de mudanças que afetaram as consoantes oclusivas intervocálicas [...]. O contexto intervocálico potencia o 'abrandamento' da consoante, que assimila traços das vogais, como o traço de vozeamento (nesse caso uma não vozeada) [...].» Maria Teresa Brocardo, Tópicos de História da Língua Portuguesa, Lisboa, Edições Colibri, 2014, p. 50.