Convém perceber que o que se escreve nem sempre corresponde ao que se pronuncia realmente. Quem trabalha em fonética e fonologia sabe isto muito bem e descobre que há mais variação do que se imagina – variação que até não é considerada incorreta nem pelos estudiosos da língua nem pelos leigos em matéria de atitudes linguísticas. Assim, se se está a falar de pronúncia, há que distinguir entre a pronúncia aceite por todo o país e as pronúncias que são toleradas regionalmente.
Sobre os cinco primeiros casos, no contexto da variação observada em Portugal:
a) "fálár", "ládrár", "lárgár" e "págár" são de facto pronúncias anómalas ou menos recomendáveis entre falantes do território português, porque o a da primeira sílaba de cada caso costuma ser fechado1;
b) o mesmo não se pode dizer de ganhar pronunciado como "gánhar", caso em que o a da primeira sílaba, que é átona, é aberto por razões históricas (vem de dois aa da forma arcaica gaanhar).
Quanto à pronúncia de quarenta, esta palavra soa como [kuarenta] no discurso culto e pausado, embora informalmente se diga "corenta" ou "curenta".
Sobre rio, é sabido (ver Textos Relacionados) que em grande parte do país a sequência io se pronuncia como o ditongo "iu" – é o caso de Lisboa (ver Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 3379). Contudo, não é assim nas Beiras, nem na maior parte do Norte. Todas essas pronúncias são corretas.
Quanto às pronúncias de Loures e Loulé, é de assinalar que, entre falantes a sul do Vouga, a grafia ou se pronuncia geralmente "ô", o que é aceite e até está legitimado como pronúncia-padrão, apesar de a conservação do ditongo a norte ser também correta. Sendo assim, aceita-se que Loures seja "lôres", enquanto Loulé soa "lôlé", embora se registe também a variante "lólé", com ó aberto, o que está em linha, por exemplo, com uma tendência meridional (lisboeta) de se pronunciar ou como "ó" aberto imediatamente antes de sílaba tónica. Por exemplo, em Lisboa e arredores não é infrequente a prolação "óvir", em vez de "ouvir" ou "ôvir" (verbo ouvir).
1 Contudo, a pronúncia de largar como "làrgár" não será propriamente estranha, podendo dizer-se que é uma variante possível mas avaliada de maneira menos consensual.