1. A toponímia, entendida no seu duplo sentido, de «conjunto dos nomes que identificam lugares habitados e não habitados» e «estudo dos nomes de lugar», é uma área linguística imediatamente exposta a vicissitudes extralinguísticas. É verdade que muitos nomes de lugar são criações primordiais e anónimas, mas outros nomes, em épocas já documentadas, têm resultado do arbítrio dos poderosos e são arma política – basta lembrar o caso das Malvinas vs. Falkland. A atribuição de nome por decreto a uma cidade ou a um monte, frequentemente rasurando por completo o mais antigo, é, pois, prática frequente e ganhou novo relevo, quando, como foi aqui referido, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, deu ordem para, no uso oficial, substituir a expressão inglesa Gulf of Mexico (Golfo do México) por Gulf of America (Golfo da América). No Alasca, a montanha mais alta dos Estados Unidos passa agora a ser apenas conhecida oficialmente como Mount McKinley, descartando-se o nome ameríndio Denali; mas a voluntariosa fixação toponímica em curso nos EUA não afeta (por enquanto) o português, língua em que continuam válidos o talassónimo Golfo do México e o orónimo Monte Denali, a par de Monte McKinley. Entretanto, assinale-se que a iniciativa de Trump é inspiradora, e o político republicano Buddy White, no contexto do interesse presidencial publicamente manifestado pela anexação da Gronelândia*, propõe que se renomeie este território como Red, White and Blueland, ou seja, «Terra Vermelha, Branca e Azul», em alusão às cores da bandeira norte-americana. Na rubrica Controvérsias, disponibiliza-se a tradução de um comentário do linguista Evgeny Shokhenmayer (blogue e-Onomastics, 15/02/2025), que, a respeito desta proposta, antevê um choque entre os interesses norte-americanos e a história dos gronelandeses.
Sobre a mudança toponímica operada por decreto, leia-se "Golfo da América", um artigo de opinião do historiador João Pedro Marques (Observador, 27/01/2025). Relativamente a questões linguísticas e extralinguísticas no estudo da toponímia, sugere-se ainda a consulta de respostas e artigos do arquivo do Ciberdúvidas: "Topónimo", "Os nomes e marcas históricas da toponímia portuguesa", "A falta de padronização da toponímia em português", "Querem mudar os nomes das ruas e largos? Ora tentem lá outra vez", "Toponímia angolana só em língua portuguesa". Sobre Gronelândia, ver aqui. Na imagem, vista da capital gronelandesa, Nuuk, e do monte Sermitsiaq (crédito: Wikipédia).
2. A toponímia, como outras áreas de atividade linguística, levanta questões normativas nada despiciendas, Sobretudo quando o debate das fontes da norma-padrão e da sua definição tem sempre relevância no mundo de língua portuguesa, caracterizado pela sua dispersão geográfica e pela força centrífuga decorrente. Na Montra de Livros, apresenta-se o número 68 de Confluência (publicação do Instituto de Língua Portuguesa do Liceu Literário Português do Rio de Janeiro), no qual se reúnem trabalhos acerca de duas normas-padrão do português, a europeia e a brasileira, e as tensões entre estas e os usos linguísticos dos seus falantes.
3. A categoria de aspeto continua a motivar dúvidas, como é o caso de uma pergunta sobre a situação aspetual configurada pela frase «A dignidade não está naquilo que temos, mas na forma como fazemos aquilo que nos cabe». A resposta faz parte do conjunto de cinco respostas que atualizam o Consultório e abrangem outros tópicos, a saber: duas interjeições medievais; a regência de reduzir; o nome musicista; e a expressão «mil reais».
4. Para Alfredo Cameirão, presidente da Associação da Língua e Cultura Mirandesa, a língua mirandesa «devia ser ensinada na escola com a mesma dignidade com que são ensinadas as outras línguas». São declarações que preenchem uma entrevista publicada na revista digital Comunidade, Cultura e Arte (16/02/2025) e que se transcreve com a devida vénia em Diversidades.
5. Tópicos dos projetos em vídeo do Ciberdúvidas: em Ciberdúvidas Responde (episódio 23), esclarece-se a diferença entre emigrante e imigrante; e em O Ciberdúvidas Vai às Escolas (episódio 18), comenta-se a origem da palavra trabalho (com professoras e alunos do 9.º ano do Agrupamento de Escolas de Alfornelos, no concelho da Amadora, a quem muito se agradece a participação).
6. Registe-se a realização, em 5 de março, na Faculdade de Letras de Lisboa, do colóquio Lindley Cintra. 100 anos, uma homenagem à obra e à figura de Luís Filipe Lindley Cintra, iminente filólogo, linguista e coautor da conhecida Nova Gramática do Português Contemporâneo (Edições João Sá da Costa, 1984). Na mesma data, a conferência internacional Da Minha Janela Vê-se o Mundo, promovido pelo jornal Público para assinalar o 50.º aniversário da independência dos países africanos de língua oficial portuguesa e os 500 do nascimento de Camões.
7. Relativamente a programas que versam sobre temas e tópicos do português na rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos, programa difundido pela RDP África, na sexta-feira, 21/02/2025, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Regina Duarte, comissária do Plano Nacional de Leitura (PNL), apresenta os projetos que esta entidade desenvolve com os países africanos de língua oficial portuguesa.
– Também em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 23/02/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 01/03/2025, às 15h30*), Regina Duarte discute os projetos do PNL para 2025. O programa incluiu um apontamento gramatical da consultora do Ciberdúvidas Carla Marques.
* Hora oficial de Portugal continental.