A situação política portuguesa das últimas semanas tem sido bastante atribulada desde que foi tornado público que o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, tinha uma empresa, a Spinumviva, que receberia uma avença mensal de cerca de 4500 euros do Grupo Solverde, um dos maiores grupos económicos de jogo e hotéis em Portugal1. Esta nova polémica a envolver o primeiro-ministro ameaça mergulhar o país em mais uma crise política e como seria de esperar, a reação dos partidos da oposição a este caso foi de reprovação, o que levou a que já tivessem sido discutidas no parlamento duas moções de censura ao governo, sendo que, como resposta a esta polémica, Montenegro decidiu apresentar uma moção de confiança, que será discutida terça-feira, dia 11 de março, no parlamento e que poderá envolver o país em novas eleições legislativas. Toda esta cena política portuguesa colocou nas luzes da ribalta dois termos, censura e confiança, sobre os quais vale a pena tentar descobrir um pouco mais.
O nome comum censura, com origem no termo latino censūra, tem, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), como uns dos seus sentidos possíveis «ação de criticar e de condenar alguma coisa ou de criticar e repreender alguém pelos seus atos; ato ou efeito de censurar». Este sentido ativa-se no uso da expressão «moção de censura», que descreve a sanção dirigida a um governo a manifestar repúdio por uma ação e apresentada a uma assembleia para votação (Infopédia).
A par disto, censura pode também ser utilizada para mencionar a «atividade de controlo, de crítica e reprovação exercidas sobre o conteúdo ideológico ou moral das notícias da comunicação social, das obras literárias, artísticas... em que se corta ou bane aquilo que é considerado nocivo ou inconveniente» (DLPACL). Por conseguinte, expressões como «censura prévia», que refere o «ato de avaliar ou julgar em órgão próprio qualquer obra ou texto antes de ser publicado» (DLPACL), ou «lápis azul», símbolo da censura na época da ditadura portuguesa do século XX, já que os censores tinham por hábito usar o lápis azul para indicar os cortes em qualquer texto, imagem ou desenho que seria publicado, são frequentemente associadas a este sentido. Com este nome, relaciona-se o verbo censurar, usado commumente para referir situações em que se condena ou crítica algo ou alguém.
No que concerne ao nome confiança, formado a partir do verbo confiar, que advém da forma latina confidāre, e do sufixo -ança, que serve para indicar estados de alma, o sentido que usualmente lhe é atribuído é de «credibilidade, bom conceito que se tem de alguém ou de alguma coisa; segurança, garantia, esperança firme que se sente em relação a alguém ou a alguma coisa» (DLPACL). Este significado surge na expressão «moção de confiança», referente à proposta apresentada numa assembleia por um grupo, com vista à manifestação de apoio a determinada ação (Infopédia). Baseadas neste nome estão outras expressões como, por exemplo, a locução «à confiança», com o sentido de «sem receio, sem desconfiança; com garantia, segurança» (DLPACL), «abusar da confiança» quando se pretende dizer que se desrespeitou alguém, ou ainda «trair a confiança» para indicar quando alguém comete um ato de deslealdade.
Resumidamente, a situação política em Portugal e no mundo, cada vez mais instável e perigosa, causa naturalmente enorme inquietação. As palavras e as expressões que descrevem um ambiente político valem sempre a pena como objeto de análise e, neste caso, espelham bem tempos de conflito e incerteza.
1. Leia-se aqui mais informações sobre o caso.