1. A associação entre nacionalidade e língua tem sido convocada por diferentes setores da sociedade com vista a fins muito distintos. A língua como fator essencial na construção identitária tem sido também uma questão teórica abordada em várias áreas dos estudos linguísticos. No quadro destas relações, mais recentemente, tem-se colocado uma nova questão associada ao fenómeno da imigração, que tem tido bastante expressividade em Portugal: deverá o domínio da língua ser uma condição de entrada no país? As opiniões têm-se dividido: há quem recorde o passado dos imigrantes portugueses, que desconheciam as línguas dos diferentes países onde se instalaram em busca de uma vida melhor; há quem argumente com as questões de unidade e identidade cultural de um povo. Recentemente, Jorge Miranda, considerado um dos pais da Constituição portuguesa, veio defender que Portugal só deve aceitar imigrantes que dominem o português, mostrando-se, neste âmbito, favorável à entrada de imigrantes oriundos de países africanos de língua portuguesa e do Brasil. Na sua ótica, o domínio da língua é um fator de integração que deverá ser tido sempre em consideração. A relação entre um dado povo e a sua língua pode ser encarada sob o ponto de vista da história da criação das línguas, uma área para a qual investigações recentes trouxeram contributos importantes. Com efeito, embora atualmente se considere que a língua é um dos eixos de afirmação de um povo, também parece certo que as línguas humanas tiveram uma origem comum, descendendo todas de uma primeira língua, que terá começado a sofrer divisões há cerca de 135 mil anos com a mobilidade geográfica dos povos e o desenvolvimento posterior de variações genéticas. Num estudo recente publicado na revista Frontiers in Psychology (divulgado pelo jornal Público) divulgam-se estes dados, atribuindo os investigadores particular atenção não à possibilidade humana de produção de sons mas antes à capacidade de associação entre vocabulário e sintaxe, que criou um sistema assente em regras, uma gramática, que abriu caminho para o desenvolvimento do pensamento complexo e à sua partilha com os outros seres humanos.
2. Considerando ainda a celebração do bicentenário do nascimento do escritor Camilo Castelo Branco, o consultor Carlos Rocha dedica um apontamento de natureza topológica à grafia da designação da localidade onde este viveu os últimos anos de vida: dever-se-ia grafar Ceide ou Seide (como atualmente acontece)?
3. Poderão os termos adotados para designar as variedades do português encerrar uma natureza discriminatória? Encerrarão estruturas como «português europeu» e «português do Brasil» juízos de valor sobre os povos que falam as diferentes variedades de uma língua? Esta questão é abordada numa resposta que demonstra como os usos terminológicos científicos procuram formulações acéticas para descrever realidades linguísticas, constituindo, por vezes, os valores ideológicos que se lhes pretende associar uma ação a posteriori. Na atualização do Consultório, é possível ler ainda uma resposta sobre as possíveis significações do nome criatura e consultar três respostas sobre tópicos de natureza sintática: usos do verbo emendar; natureza da palavra só junto de nome; concordância do adjetivo com dois nomes. Por fim, uma resposta de âmbito lexicológico relacionada com o regionalismo "deboeira".
4. O provérbio «Julho, debulhar. Agosto, engavelar» pode oferecer dificuldades de compreensão a um falante atual pela opacidade do verbo de âmbito agrícola engavelar. No apontamento enquadrado da Dúvida da Semana, a professora Carla Marques aborda o tema (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
5. Entre os acontecimentos e artigos de interesse, destacamos:
– O artigo divulgado no jornal Público sobre a censura da palavra mulher, nos EUA, determinada pela administração Trump;
– As questões que se apresentam como entrave ao desenvolvimento do Amália, o modelo de inteligência artificial português.