Este é um ponto muito polêmico na gramaticografia tradicional brasileira.
Dentro dessa tradição gramatical, poucos gramáticos mencionam a possibilidade de o advérbio poder modificar substantivo: Gladstone Chaves de Melo, Napoleão Mendes de Almeida, Evanildo Bechara, Silveira Bueno. Não sendo uma gramática normativa, mas sim descritiva, Maria Helena de Moura Neves também estende aos advérbios a possibilidade de modificar outras classes gramaticais.
A maioria dos estudiosos tradicionais, porém, não registra tal possibilidade, afirmando que o advérbio pode modificar tão somente as seguintes classes gramaticais: verbo, adjetivo ou outro advérbio. Guiam-se eles, direta ou indiretamente, pela lição de José Oiticica em seu livro Manual de Análise Léxica e Sintática, no qual alista um grupo de palavras chamadas por ele «palavras denotativas», por não se enquadrarem na classe dos advérbios.
No capítulo de advérbio de sua gramática, assim Bechara esclarece a questão:
«A Nomenclatura Gramatical Brasileira põe os denotadores de inclusão, exclusão, situação, retificação, designação, realce, etc. à parte, sem a rigor incluí-los entre os advérbios, mas constituindo uma classe ou grupo heterogêneo chamado denotadores, que coincide, em parte, com a proposta de José Oiticica das palavras denotativas, muitas das quais têm papel transfrástico e melhor atendem a fatores de função textual estranhos às relações semântico-sintáticas inerentes às orações em que se acham inseridas:
[...]
2 – exclusão: só, somente, salvo, senão, apenas, etc.:
Só Deus é imortal.
Apenas o livro foi vendido.
[...]»
Dessa forma, não havendo referência bibliográfica no edital, esta questão deveria ter sido anulada em virtude da divergência entre os estudiosos sobre a classificação do só em «Só o bobo...»: uns dirão ser advérbio modificando o sintagma nominal «o bobo», cujo núcleo é o substantivo bobo; outros dirão ser uma palavra denotativa de exclusão, pois advérbio não modifica outras classes senão o verbo, o adjetivo ou outro advérbio.
Sempre às ordens!