Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No segundo dia da campanha para as eleições legislativas que se realizam em Portugal, em 10 de março, uma figura partidária relacionou polemicamente a questão da segurança com a intensificação dos fluxos imigratórios no território português. As reações, concordantes e discordantes, não se fizeram esperar, enquanto se fala igualmente da integração linguística dos migrantes, a qual se torna premente na vida escolar, como confirma a entrevista concedida pela subdiretora-geral da Educação, Eulália Alexandre, ao jornal Expresso (29/02/2024). Mas também problemática se revela a integração de falantes de variedades do idioma diferentes da de Portugal, como é o caso de estudantes do Brasil e dos países africanos de língua oficial portuguesa a frequentarem universidades portuguesas. A verdade é que as características gramaticais e estilísticas do português europeu podem criar obstáculos e gerar mal-entendidos, quando se trata de escrever uma dissertação ou uma tese. Das dificuldades linguísticas encontradas por três estudantes universitários – um português, uma são-tomense e um brasileiro – trata a consultora Inês Gama num apontamento disponível na rubrica O Nosso Idioma e que vem na sequência do trabalho "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), entrevista feita pelo Ciberdúvidas aos alunos do Iscte.

2. Querendo recordar a revolução sexual dos anos 60, ocorre empregar a expressão «amor livre», mas será que «livre amor» é expressão com igual legitimidade? A dúvida integra-se no conjunto de sete novas perguntas da atualização do Consultório, onde ainda se analisam os seguintes tópicos: a associação dos pronomes si e consigo às formas de tratamento; o topónimo Sydney; a etimologia de dois topónimos do norte de Portugal; o valor causal de por com infinitivo; duas construções não habituais, uma com o verbo saber e outra com gostar.

3. Durante muito tempo, na história da língua portuguesa, raramente se falava do galego a não ser para o integrar no composto galego-português. Nos últimos anos, porém, tomou-se consciência de que as origens do português são também galegas, como já assinalaram Fernando Venâncio e Marco Neves. Na Montra de Livros, apresenta-se O Galego e o Português. Passado Presente, livro eletrónico resultante da colaboração de académicos brasileiros e galegos, contribuindo para a avaliação ajustada do papel linguístico e cultural da Galiza na história do português.

4. Sobre a censura de certos gramáticos prescritivos ao uso de «o mesmo», em frases como «pediram um parecer ao provedor e aguardam a intervenção do mesmo», transcreve-se, com a devida vénia, em O Nosso Idioma, o apontamento que o escritor e revisor  brasileiro Gabriel Lago publicou no mural Língua e Tradição (Facebook, 23/02/2024).

5. Já se encontra disponível o 8.º episódio do podcast do Ciberdúvidas, cujas anfitriãs, Sara Mourato e Jessica Mendes, comentam desta vez os particípios passados aceitado, imprimido e matado, e dão pistas para o uso correto de «menos mal» (ver Notícias).

6. Registos de conteúdos e atividades com interesse linguístico e cultural:

– A passagem do dia 29 de fevereiro, que só figura no calendário nos anos bissextos, deu o mote a mais um episódio do programa Pilha de Livros, de Marco Neves: trata-se de "O dia mais raro e as ideias erradas sobre as línguas" (29/02/2024). Dos episódios recentes deste podcast, destaca-se ainda este outro: "Porque nos irritamos tanto com a língua?" (27/02/2024).

– A apresentação, em 25/02/2024, do projeto Greenhouse ("Estufa") na Estufa Fria, em Lisboa, pela artista visual Mónica de Miranda, a historiadora Sónia Vaz Borges e a coreógrafa Vânia Gala, que este ano representam Portugal na 60.ª Bienal de Arte de Veneza. As três artistas, que têm raízes na diáspora africana de Angola e Cabo Verde, vão criar um “jardim crioulo” no Palácio Franchetti, de 20 de abril a 24 de novembro, durante os sete meses de duração da Bienal. O projeto coincide com duas comemorações, a do cinquentenário do 25 de Abril de 1974 e, em setembro, a do centenário de Amílcar Cabral (1924-1973).

7. Tema centrais de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica à língua portuguesa:

–  A diferença entre orações subordinadas substantivas relativas e orações subordinadas adjetivas relativas é explicada pela linguista Sandra Duarte Tavares, em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 01/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*).

–  Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 03/02/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 09/02/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Carla Marques sobre os aforismos e a sua função num texto escrito, com recurso a alguns exemplos de Fernando Pessoa e Agustina Bessa-Luís. Ainda um apontamento gramatical de Inês Gama sobre classes de palavras.

–  Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, cujas emissões de 4 a 8 de março (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*) são preenchidas pelo tema da alfabetização.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, o período de campanha eleitoral teve início a 25 de fevereiro. É tempo de desenvolvimento de estratégias políticas e estas passam também por questões de natureza linguística. Uma delas está relacionada com o uso de chavões. Neste contexto, importa distinguir chavão, de bordão e de jargão. Este último termo pode ser usado com um valor equivalente ao da palavra gíria e aplica-se à linguagem usada por um determinado grupo social ou profissional, que, por vezes, se socorre de termos técnicos ou de expressões que estão codificadas e que, por isso, não são compreendidas por quem não pertence ao grupo. O bordão, por sua vez, é uma palavra ou locução que se vulgarizou, tendo perdido o seu sentido original. Usa-se no discurso de forma automática, como apoio em situações de hesitação ou de reformulação do texto, como acontece com as construções «Estás a ver?» ou «Portanto». Por fim, o chavão corresponde a uma frase feita ou a um lugar-comum, que apresenta ideias já desgastadas, de conteúdo banal ou trivial. Também há quem refira o chavão como sendo um clichê. Na atual campanha política, vamos encontrando chavões que são usados para descrever medidas a implementar, para servir de ataque ao adversário, para ilustrar opções partidárias ou para caracterizar uma realidade pós-eleitoral: «linhas vermelhas», «aventura fiscal», «bala de prata», «fazer parte da solução», «voto útil», «campanha em bolha» ou «valorização salarial». Refira-se ainda que os chavões são muito úteis nas formas de comunicação com o eleitorado, nomeadamente no contexto das redes sociais, porque as afirmações curtas e muitas vezes repetidas chegam a mais eleitores e correm mesmo o risco de viralizar, o que pode auxiliar a construção da notoriedade de um partido político. A propósito das «questões linguísticas nos programas eleitorais», partilhamos, com a devida vénia, o artigo de autoria da professora universitária e linguista Margarita Correia, que regressa à análise dos programas eleitorais dos diferentes partidos para desta feita passar em revista as propostas relacionadas com o ensino das línguas e com a sua promoção em diferentes contextos. 

Recordamos textos publicados no Ciberdúvidas relacionados com as palavras em destaque: «Jargão», «A definição de gíria e de calão», «Calão/jargão», «Tipo, não uses bengalas, tás a ver».

Primeira imagem: ilustração divulgada no Blog da Boitempo 

2. Os processos sintáticos de realce de constituintes numa frase são diversificados. Entre eles, encontramos as construções clivadas, estruturas cuja natureza particular exige uma observação mais fina no plano sintático. Neste âmbito, analisa-se numa das respostas integrantes do Consultório a frase «Não é porque o carro à nossa frente passou no amarelo que devemos arriscar transitar num vermelho». Na atualização de hoje, podem ainda ler-se as seguintes perguntas e respostas: «Oração substantiva completiva de nome», «Levar (alguém) a + orações infinitivas», «Propor e propor-se a», «Valores da conjunção mas», «Futuro imperfeito do indicativo», «Pronome clíticos e «passar a» + infinitivo», «Foliação e "foliatação"» e ««Comparecer à reunião» e «apresentar-se num local»». 

3. Pronúncia e pronuncia são duas palavras parónimas que pertencem a diferentes classes de palavras e cuja prolação é distinta, o que é assinalado pelo uso do acento agudo, tal como explica a consultora do Ciberdúvidas Inês Gama no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2. 

4. A prótese do a em formas verbais é um processo fonológico muito presente na evolução do português, continuando a ser observável em sincronia. Há, todavia, entre os falantes a ideia de que as formas verbais protéticas denunciam a presença de um falante menos culto. O professor universitário brasileiro Rafael Rigolon analisa esta situação, considerando no seu apontamento o caso do dialeto sertanejo, num artigo de âmbito fonológico e de linguística histórica. 

5. Conselho Nacional de Educação  português divulgou o relatório sobre o Estado da Educação 2022. Aqui apontam-se cinco domínios que deverão ser centrais nas políticas de educação no país: 

  • A existência do 2.º ciclo do ensino básico.
  • A inteligência artificial e as suas relações com as múltiplas dimensões do sistema educativo e formativo.
  • O imperativo do desenvolvimento do ensino artístico especializado.
  • O ensino profissional e a sua relevância para o desenvolvimento de novas e inovadoras ideias fundadoras da educação secundária.
  • As novas demografias e a necessidade de as integrar plenamente na conceção de um sistema aberto, livre, inclusivo e socialmente responsável.

Cf. Conselho Nacional de Educação defende fim do 2.º ciclo do básico + Conselho Nacional de Educação considera necessário ensinar alunos de outras formas

 

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1. Na Europa, as preocupações com a guerra na Ucrânia, desencadeada em 27 de fevereiro de 2022, são agravadas pelo desaparecimento do líder da oposição russa Alexei Navalny*. O ministro português do Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, alertando para a degradação da ordem internacional, critica a desatenção dos partidos políticos portugueses, os quais se preparam para  entrar em campanha para as eleições legislativas a realizar em Portugal, em 10 de março. Contudo, a pressão dos problemas socioeconómicos sobre os Portugueses dá prioridade a questões internas, como seja a habitação, tema que motivou Mariana Mortágua, a líder do Bloco de Esquerda, a relatar um episódio que envolveu a própria avó. O caso gerou polémica, e, portanto, o apelido Mortágua tornou-se palavra da atualidade portuguesa, a ponto de a sua pronúncia ter suscitado dúvidas ao jornalista Carlos Vaz Marques e ao humorista Ricardo Araújo Pereira no Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (SIC Notícias, 17/02/2024). Na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato dedica um apontamento ao assunto, revelando que o o de Mortágua soa como [u] no português europeu, por efeito da redução das vogais átonas, um fenómeno característico da variedade lusitana. No entanto, regionalmente, ocorre também a variante com "ó" aberto – símbolo fonético [ɔ] –, numa prolação tradicional, por exemplo, na região da vila de Mortágua**, topónimo na origem do apelido em apreço. Não erra, portanto, quem diz "Mòrtágua".

* Adota-se a forma Alexei Navalny, corrente nos media em português; porém, apesar de existirem várias propostas e critérios (ver Contributo para a transliteração do russo para o português, Pórtico da Língua, 22/11/2017, e o sistema de transliteração ISO 9), é de notar que ainda não existem regras estáveis e uniformes para a transcrição/transliteração de nomes russos para português (ver "A ortografia dos nomes Boris e Vladimir"). 

** Na imagem, um aspeto do trilho das quedas de água de Paredes, no concelho de Mortágua.

2. Ainda em O Nosso idioma, a consultora Inês Gama desenvolve nova reflexão sobre o pluricentrismo da língua portuguesa, na sequência do trabalho "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), uma entrevista a alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas.

3. Em Os Lusíadas (canto V, estância 54), a personagem do gigante Adamastor, acerca de um amor infeliz, diz: «Eu, que cair não pude neste engano»? Não será o verso contraditório, quando se sabe que a personagem caiu, afinal, numa armadilha sentimental? A resposta junta-se a outras seis, num total de sete, compondo a atualização do Consultório. Outros tópicos abordados: o nome credência; os adjetivos fofo e massa; as locuções «na direção de» e «em direção a»; os verbos demorar e levar; o uso de «bem como» e «assim como»; e o valor do advérbio mais associado a nunca.

4. Que sentido tem afirmar que uma língua é mais bonita do que outra? A esta questão procurou dar resposta uma investigação que foi realizada com base em 228 idiomas e cujos resultados se analisam num artigo do portal Líder Magazine (02/02/2024), transcrito, com a devida vénia, em Diversidades.

5. A questão da ortografia volta a estar na ordem do dia, em Portugal, por causa, por exemplo, do slogan eleitoral «Mais ação». Na rubrica Acordo Ortográfico, disponibiliza-se devidamente atribuído o artigo de opinião que o jornalista Nuno Pacheco assinou no jornal Público (22/0/2024), criticando a ortografia em vigor em Portugal, a propósito da supressão das chamadas consoantes mudas em casos como o de ação (antes acção).

6. Um registo que se impõe, por se tratar de uma publicação com 20 anos e que, partindo da atividade de tradução na União Europeia, constitui um repositório precioso de propostas e reflexões sobre a língua portuguesa: trata-se de A Folha, o boletim da língua portuguesa das instituições europeias, cujo primeiro número é o da primavera de 2004 (ler aqui).

7. No âmbito das atividades da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, e com intervenção da editora Boca, destacam-se duas iniciativas: a apresentação dos dois primeiros volumes de Os primeiros contos do mundouma coleção criada a partir dos textos fundadores das várias culturas –, em 27/02/2024, às 18h30, com entrada livre; e, enquadrado pela comemoração do 25 de Abril de 1974, o podcast Pe_Soa: a que estado queremos chegar, lançado todas as quarta-feiras, até 24/04/2024, sempre às 22h55, exatmente hora a que, em 24 de abril de 1974, a rádio transmitiu a senha para o movimento militar avançar e derrubar o regime autoritário então existente.

8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 23/02/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), emite-se uma entrevista com Cristina Martins, professora e investigadora do Celga-Iltec – Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra, sobre a temática do artigo "O que ainda não sabemos e precisávamos de saber para o ensino de Português Língua Não Materna", publicado na Revista da Associação Portuguesa de Linguística.

– No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 25/02/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 02/03/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Carla Marques, também investigadora do Celga-Iltec e consultora permanente do Ciberdúvidas, sobre as condicionantes da elaboração de um manual escolar.

– Salienta-se ainda Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2, cujas emissões de 26 de fevereiro a 1 de março (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), são dedicadas à comunicação oral e da eficácia do discurso. A convidada é a professora Maria Regina Rocha.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. No âmbito da preparação para as eleições legislativas, terminou, em Portugal, o período de debates televisivos, por onde passaram os líderes dos partidos com assento na Assembleia da República na legislatura que agora se encerra. Os candidatos preparam-se agora para dar início ao período de campanha eleitoral, que se desenrolará entre 25 de fevereiro e 8 de março, tendo a votação presencial lugar a 10 de março. Na fase pré-eleitoral, o discurso público em torno dos debates centrou-se muito na construção de metáforas bélicas, que evidenciam que a interpretação que se dá ao momento vivido em Portugal não se centra no conceito de apresentação e discussão de ideias, mas evidencia antes a perspetiva de um conflito, por vezes violento, entre as partes envolvidas. Assinalamos, neste contexto, o uso de expressões claramente bélicas, como «duelo final», «puxar das armas», «ataques», «ponto forte/fraco» ou  «bala de prata» (ver também aqui), que associam os debates a uma imagem de ferocidade muitas vezes associada ao processo de apresentação de argumentos, que se «esgrimem» ou que se transformam em «troca de acusações». Neste âmbito eleitoral enquadra-se também o artigo da professora universitária Margarita Correia, que se propõe analisar questões linguísticas nos programas dos diferentes partidos políticos, começando, neste texto, pelo Chega

2. A diferença entre «estar grato» e «ser grato» está relacionada com o tópico dos predicados estáveis ou transitórios. Esta é uma questão de ordem semântica que se inclui na atualização do Consultório e à qual se junta uma resposta relacionada com o valor de uso do condicional. No plano sintático, apresentamos três novas respostas: a omissão da preposição em orações coordenadas, modificadores apositivos do nome e a correção da estrutura «definidos como sendo». Por fim, no plano ortográfico, encontra-se a revisão da grafia de «chá verde» e, no no âmbito lexical, a existência e formação da palavra projetual

3. Os anglicismos red flag e green flag, usados no campo semântico das relações amorosas, são analisados, neste apontamento, sob diferentes pontos de vista pela consultora do Ciberdúvidas Sara Mourato.

4.  A questão de saber se o nome spa tem forma plural dá matéria para o apontamento da professora Carla Marques, incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, em 18 de fevereiro de 2024.  

5. Na rubrica Ensino, partilhamos a reflexão da escritora e  professora  Dora Gago relativamente ao uso didático da música em relação com o estudo de textos literários. 

6. O festival Correntes d'Escrita, que reúne escritores de expressão ibérica, tem início a 21 de fevereiro, na Póvoa do Varzim, com um programa muito diversificado, que se prolonga até sábado, dia 24. O evento comemora os seus 25 anos de existência adotando como tema a liberdade (programa completo aqui).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, aproximam-se as eleições para a Assembleia da República, a terem lugar em 10 de março. A campanha eleitoral arranca em 25 de fevereiro, e neste contexto bem como no do rescaldo das eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Montenegro, presidente do PSD, opinou que o partido Chega terá de se submeter «[a]o teste do algodão»  quando for votado o programa de governo minoritário da coligação da Aliança Democrática nos Açores. É uma expressão curiosa, que encontra referência no Ciberdúvidas (ver "15 expressões saídas da publicidade que usamos vezes sem conta", do jornalista Tiago Tavares) e que tem origem em «o algodão não engana», frase publicitária que, em anúncios dos anos 90 do século passado, em Portugal, rematava a demonstração da eficácia de um produto de limpeza. Na verdade, a frase em português era a tradução de outra em espanhol – «el algodón no engaña» – que se tornou popular em 1984, com a publicidade de um produto de limpeza semelhante, vendido em Espanha. Na Internet, é possível recolher vários exemplos quer de «teste do algodão» quer de «o algodão não engana», que, em transposição metafórica, significará «momento decisivo ou crítico, que conduz a uma clarificação». Trata-se, portanto, de mais um caso da linguagem publicitária como fonte de renovação fraseológica no português.

Sobre o contributo da publicidade para o aparecimento de novos usos idiomáticos em Portugal, leia-se "Publicidade e expressões idiomáticas". Na imagem, o mordomo que no anúncio de 1984 da campanha publicitária espanhola fazia o «teste do algodão» depois de aplicado o detergente Tenn, um produto da Henkel.

2. O uso do nome lagarto como alcunha de sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal motiva uma das sete novas perguntas do Consultório. Outros tópicos: as orações gerundivas; o significado sexual de solicitar; o arcaísmo trato; a sinonímia de âncora com pivô; os significados de predisposição; e a pronúncia regional -om ("coraçom", em vez de coração).

3. Na sequência da entrevista "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), feita a três alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas, a consultora Inês Gama apresenta na rubrica Ensino uma reflexão sobre o ensino e aprendizagem do português como língua materna.

4. Embora não, como advérbio, seja palavra invariável, há situações em que ocorre como nome e, variando em número, pode ter o plural nãos. Este é o tema abordado pela linguista Carla Marques num apontamento disponível em O Nosso Idioma. Na mesma rubrica, a consultora Sara Mourato dá conta da importância os nomes epicenos nas denominações não científicas dos animais

5. Na Montra de Livros, a professora Arlinda Mártires apresenta o livro Sem Dúvidas a Português, da autoria da também docente de Português  Lúcia Vaz Pedro, que «veicula o conhecimento explícito da língua, através de uma linguagem acessível, ilustrada com exemplos pertinentes».

6Léopold Sédar Senghor (1906-2001), que se notabilizou como poeta, político e presidente da república do Senegal, teve um papel fundamental na implantação do ensino do português no seu país. Em Diversidades, a linguista e professora universitária Margarita Correia refere-se à ação de Senghor num artigo transcrito com a devida vénia do Diário de Notícias (12/02/2024).

7. Duas curiosidades linguísticas, retiradas do muito que escreve na Internet sobre usos e regras do português:

– A abreviatura app, que em Portugal subentende o nome feminino aplicação, levando, portanto, a dizer-se «a app», enquanto no Brasil  se usa «o app», porque se emprega o sinónimo aplicativo, do género masculino [cf. Quora (2021), Infopédia e Michaelis). É abreviatura inglesa (de application software), pelo que se recomenda a grafia em itálico.

– A explicação da expressão «fechar-se em copas» pelo jornalista Sérgio Rodrigues na sua rubrica "Sobre Palavras", da revista brasileira Veja (19/03/2021).

8. Registo de eventos e iniciativas com interesse para a promoção da língua portuguesa:

– A chamada de artigos para o número de outono da revista do Conselho Nacional das Línguas  Vulgarmente Menos Ensinadas, em inglês, Council of Less Commonly Taught Languages, entidade que desenvolve a sua atividade nos EUA. O prazo para o envio de propostas termina em 01/06/2024.

– A 10.ª edição do Festival Cultural Convergências Portugal-Galiza, que decorre entre 3 de fevereiro e 9 de março, com um programa de atividades diversificado e repartido por Braga, em Portugal, e, na Galiza, por Padrón, Ponteareas, A Estrada e Santiago de Compostela.

–  A  25.ª edição do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d'Escritas, festival literário que se realiza na Póvoa do Varzim, de 17 a 25 de fevereiro – neste ano com o tema da liberdade, assinalando os 50 anos do 25 de Abril,  .

9. Temas dos programas de português na rádio pública de Portugal:

– uma conversa com Joana Simões Piedade, coautora com Sofia Lopes da obra Migrações e Interculturalidades: Conhecer para intervir em Sala de Aula. Recursos Pedagógicos para Formadores/Professores, no programa Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 16/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*);

– no Páginas de Português (Antena 2, domingo, 18/02/2024, 12h30*; repetido em 24/02/2024, 15h30*), incluem-se uma entrevista com o linguista Gilvan Muller de Oliveira, sobre a cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (Universidade Federal de Santa Catarina), e um apontamento da professora Carla Marques sobre o plural de spa;

– em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2,  as emissões de 19 a 23/02/2024 têm por tema a regulação, numa conversa com Abel Mateus, primeiro presidente da Autoridade da Concorrência (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*).

Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O que pensam os jovens sobre a língua portuguesa? Para conhecer melhor as perspetivas dos falantes mais novos das diferentes variedades do português, o Ciberdúvidas teve a iniciativa de se sentar à mesa com três estudantes do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, provenientes de três países de língua oficial portuguesa – Brasil, Portugal e São Tomé e Príncipe. O resultado deste encontro é a conversa registada em dois vídeos disponíveis em O Nosso Idioma e acompanhados de um artigo em que a consultora Inês Gama contextualiza e descreve as finalidades e estrutura desta entrevista.

2. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, e porque, em Portugal, se aproximam as eleições legislativas de 10 de março, apresenta-se um apontamento da consultora Sara Mourato sobre a morfologia e a etimologia da palavra sondagem.

3.O nome e adjetivo lusíada, que literalmente significa «filho de Luso (herói mítico, lendário fundador da Lusitânia)», tem uma acentuação que, entre falantes de Portugal, pode dar azo a efeitos ora estranhos ora cómicos. Foi o que aconteceu recentemente num noticiário do Porto Canal, quando se ouviu a forma incorreta "Os Lusiedas", com e aberto tónico, em lugar de Os Lusíadas. O jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, regista o caso no Pelourinho.

4. A palavra estela, que significa «coluna ou placa de pedra, geralmente com inscrições», tem e aberto ou fechado na sílaba tónica -te-? À resposta juntam-se outras cinco no Consultório: existe o verbo aerar? Que valores modais tem o verso vicentino «haveis, padre, de vir»? Como se usa o verbo enumerar numa frase? Que atos ilocutórios configura a frase «foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim» incluída numa famosa carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro?

5. Em Lusofonias, transcreve-se com a devida vénia uma entrevista,  publicada no dia 2 de fevereiro de 2024 no jornal timorense Diligente, com a professora Isabel Margarida Duarte, diretora-adjunta do mestrado em Ensino de Português no contexto de Timor-Leste, que discute a importância da diversidade linguística em Timor-Leste e o papel do português neste país.

6. Entre línguas inventadas, destacam-se, por exemplo, as línguas élficas, concebidas por J. R. R. Tolkien (1892-1973), autor de O Senhor dos Anéis, ou, mais recentemente, as línguas construídas a partir de A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin. Desde 2001, existe igualmente o toki pona, um idioma com um reportório lexical de cerca de 150 palavras, que foi criado pela linguista e tradutora canadiana Sonja Lang, com o intuito de facilitar o entendimento interpessoal e promover o pensamento positivo. Em Diversidades, inclui-se  o apontamento que a jornalista Teresa Oliveira Campos dedicou ao toki pona, no jornal digital ZAP.aeiou, em 2 de fevereiro de 2024.

7. Registos da atualidade em Portugal:

– O programa de atividades com que a Academia das Ciências de Lisboa assinala o 5.º centenário do nascimento de Camões – toda a informação aqui.

– As X Olimpíadas da Língua Portuguesa, uma iniciativa promovida pela Direção-Geral da Educação, o Plano Nacional de Leitura, a Direção-Geral da Administração Escolar, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Associação de Professores de Português e a Escola Secundária de Camões. A 1.ª fase teve lugar em 09/02/2024.

– O lançamento da candidatura virtual de Maria Esperança Portugal, «uma candidata fictícia às eleições legislativas antecipadas que pretende pôr os partidos a discutir o setor [da educação em Portugal]». Trata-se de uma iniciativa da Federação Nacional da Educação.

8. Temas de três dos programas que, na rádio pública portuguesa, são dedicados ao português:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 09/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Celso Praia, professor do Instituto Superior de Educação de Benguela, apresenta o 1.º Seminário Linguístico e Literário desta instituição, denominado Linguística e literatura: um diálogo compreensível e incompreensível, porém eterno.

Sónia Valente Rodrigues, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em entrevista ao programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 11/02/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 17/02/2024, 15h30*), refere-se à utilização de Os Maias de Eça de Queirós numa aula de Português. Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques, que se interroga sobre o plural da palavra não.

– Ainda na Antena 2, as emissões de 12 a 16 de fevereiro do programa Palavras Cruzadas, por Dalila Carvalho, são preenchidas pelo tema da literacia financeira, em conversa com o professor Carlos Alves, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50).

* Hora oficial de Portugal continental.

9. Dado que, em 2024, o Carnaval calha em 13 de fevereiro, a próxima atualização do Ciberdúvidas fica marcada para 16 de fevereiro. Até lá, votos de um Carnaval com boa disposição. Entretanto, sobre este período festivo, consultem-se os seguintes conteúdos: "Entrudo", "'Enfezar o carnaval': etimologia", "'Enfezar o carnaval': etimologia, mais uma vez", "A palavra confete , "Natal, Carnaval, Páscoa: palavras variáveis", "Portugal, Alentejo, no Carnaval", "Partidas de Carnaval e "Carnavalear, carnavalar e carnavalejar".

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Ainda no rescaldo das eleições regionais dos Açores, que ditaram a vitória da coligação PSD/CDS-PP/PPM, liderada por José Manuel Bolieiro, os partidos políticos analisam os resultados obtidos e as possibilidades de governação que estes permitem, na procura da desejada estabilidade. A coligação liderada pelo PSD conseguiu 42,08% dos votos, o que corresponde à eleição de 26 parlamentares. Estes resultados dão particular realce ao conceito maioria relativa, uma vez que a coligação do centro-direita não atingiu a maioria absoluta, como pretendia (para tal precisaria de 29 deputados), tendo-se ficado pela maioria relativa. A expressão «maioria absoluta» é usada para descrever a situação em que um grupo obtém o poder por ter conseguido metade dos votos expressos mais um, ou a maioria de deputados eleitos (nos casos em que os votos são contabilizados por um sistema de representação proporcional). Os resultados eleitorais nos Açores ditaram uma «maioria relativa», também designada «maioria simples», o que significa que a coligação obteve mais votos do que os restante partidos, mas não atingiu mais de metade. Esta situação obriga o líder da coligação a decidir se pretende fazer uma aliança pós-eleitoral para poder governar ou se assumirá a maioria relativa, que o obrigará a negociar a aprovação das medidas que for propondo. 

Recordamos alguns textos disponíveis, que tratam aspetos relacionados com a palavra maioria: "Maioria", "Uso de maioria", "Maioria: grande e pequena?", "A maioria dos alunos estuda/estudam" e "«Dos feridos, a maioria são mulheres e crianças»". 

2. As palavras autor, autoridade e autorização pertencem à mesma família, pois partilham o mesmo radical? Esta questão é esclarecida na atualização do Consultório, onde poderão ainda ser consultadas as seguintes sete novas respostas a dúvidas recebidas: "A construção «tem vindo a» + infinitivo", "A expressão 'meter-se numa alhada'", "Modalidade de 'voltar a agradecer'", "Coordenação com 'bem como' e elipse", "Concordância com alguém", "O verbo duchar", "O apelido Rolim".

3. As particularidades da concordância do substantivo e do verbo com a construção «um e outro» são analisadas neste apontamento da professora Carla Marques, no seu apontamento no programa Páginas de Português, na Antena 2 (divulgada no dia 4 de fevereiro de 2024). 

4. Na rubrica Montra de Livros, divulga-se Antes e Depois de Editar. Estudos Filológicos, uma publicação que conta com a coordenação das filólogas Ângela Correia e Carlota Pimenta, onde se reúne nove estudos dedicados à questão da filologia e a outras com ela relacionadas. 

5. Na rubrica Diversidades, partilhamos, com a devida vénia, dois textos que abordam questões relacionadas com línguas nacionais de diferentes países:

– O Senegal, a sua história, o seu povo e, em particular, as línguas que se falam no país constituem os temas centrais do artigo de Margarita Correia, professora universitária e linguista, no qual aborda aspetos de um país pouco conhecido entre os portugueses;

– Num original transcrito do blogue  do blogue Certas Palavras do dia 4 de fevereiro de 2024, o tradutor e professor universitário Marco Neves propõe um texto em torno da hipótese ficcionada de Portugal ter sido integrado na Espanha, considerando, em particular, qual poderia ter sido a evolução da língua portuguesa neste contexto político. In

6. A literatura pode ser «uma luz em tempos de trevas». É com esta mensagem que a  escritora e professora universitária Dora Gago faz um elogio à literatura e à sua importância em diferentes momentos da nossa vida (texto transcrito com a devida vénia da revista digital revista digital Algarve Informativo).

7. Sara de Almeida Leite, antiga consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, vai lançar o romance Amar em caso de emergência, com a chancela da Porto Editora, e sob o nome literário de Vera dos Reis Valente. O evento terá lugar na FNAC de Oeiras, no dia 7 de março, pelas 18h. 

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1. Enquanto na França, Bélgica, Alemanha e até em Portugal, a atualidade é marcada pelos protestos dos agricultores, na capital portuguesa anunciava-se um outro tipo de manifestação, de motivações e contornos alarmantes. Os seus promotores insurgem-se contra o que chamam polemicamente a «islamização de Lisboa» e declaram a sua xenofobia, visando imigrantes e minorias. Convém, portanto, recordar e realçar a importância do passado mourisco de grande parte de Portugal, em especial das regiões a sul do rio Mondego, nas quais a presença berbere e árabe, geralmente associada ao Islão, alterou a composição étnica da população e o seu perfil cultural. Numerosos são os vestígios materiais da época árabo-muçulmana, cujo legado tem em Portugal, à semelhança do que acontece no centro e sul de Espanha, uma forte componente linguística ainda hoje evidenciada por palavras do quotidiano como azeite, arroz e açúcar. Na toponímia, a herança é avultada, com nomes total ou parcialmente arábicos, sendo a região metropolitana de Lisboa particularmente rica a este respeito: Alfama, Algés, Queluz, Almada, Alcochete, Alcabideche, Odivelas. Os próprios nomes Lisboa e Tejo, se bem que pré-romanos, acusam o influxo fonético árabo-berbere. Em O Nosso idioma, a consultora Inês Gama aprofunda este tema, referindo-se ao impacto do árabe dos antigos Mouros na história do nosso idioma comum. Vide, ainda, Só «ignorância» explica manifestação contra «islamização» de Lisboa

Na imagem, aspeto da igreja de Nossa Senhora da Anunciação, edifício que está localizado em Mértola (distrito de Beja) e que foi antiga mesquita (crédito: "Sua Maldade", 25/11/20015).

2. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato assinala um uso especial de gratidão, que em tempos mais recentes tem aparecido em concorrência com a fórmula de agradecimento mais convencional – obrigado ou obrigada.

3. Na aprendizagem da leitura e da escrita, que estratégia adotar quando a letra e se pronuncia [i] em veado ou até nem se realiza foneticamente, por exemplo, em escola, que, em Portugal, pode soar "chcola"? A questão integra o conjunto de seis perguntas da atualização do Consultório, onde igualmente são tema: a grafia do arabismo Hajj, a expressão «pôr a ridículo», os valores aspetuais de «vem exercendo», os usos do pretérito perfeito do indicativo e a palavra blusão.

4. O futebol é sempre notícia, e, em Portugal, as manchetes multiplicam-se pelos piores motivos, dando conta da detenção, em 31 de janeiro de 2024, de Fernando Madureira, de alcunha "(o) Macaco" e líder dos Super Dragões, a claque do Futebol Clube do Porto. A propósito deste escândalo e à volta dos usos idiomáticos e jocosos a que se presta o nome macaco, em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia o artigo de opinião que escritor Bruno Vieira Almeida publicou no semanário Expresso de 02/02/2024.

5. Destinado ao uso do inglês nas instituições da União Europeia, surgiu um documento com recomendações para uma linguagem não sexista. A reação não se fez esperar, como revela o jornalista Tiago Caeiro numa peça incluída no jornal Observador em 29/01/2024 e transcrita na rubrica Diversidades com a devida atribuição.

6. Registos com interesse linguístico direto ou indireto:

– Em 29/01/2024, o veto, por Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, dos decretos do parlamento sobre escolha de nome próprio neutro e medidas a adotar pelas escolas para a implementação da lei que estabelece a autodeterminação da identidade e expressão de género (ver Jornal de Notícias).

– Em 31/01/2024, a conferência PROPOR24 – A língua galega com outros olhos, proferida por Valentim Fagim, professor de português na Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela e diretor da Através Editora.

– As eleições nos Açores, para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma, que se realizam no domingo, 04/02/2024 (ver Comissão Nacional de Eleições; sobre a grafia de açoriano, ler resposta).

– O trabalho de voluntariado de um grupo de cidadãos portugueses que, na Guiné-Bissau, dão formação a professores de Português (cf. Observatório da Língua Portuguesa).

7. Acaba de ser lançado um novo episódio do podcast do Ciberdúvidas, produzido pelo Laboratório de Competências Transversais do Iscte. O tema são os nomes de marcas que se tornaram substantivos comuns, como aconteceu com Tupperware, aportuguesado como taparuere.

8. Referência final para três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 02/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a professora Edleise Mendes, coordenadora do XV Curso de Capacitação para a Elaboração de Materiais Didáticos em Timor-Leste, promovido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) entre os dias 5 a 9 de fevereiro de 2024, na cidade de Dili (Timor-Leste).

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 04/02/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 10/02/2024 às 15h30*), João Pedro Aido, da Associação de Professores de Português, fala sobre as XI Olimpíadas da Língua Portuguesa, uma iniciativa conjunta da Associação de Professores de Português (APP) com a Direção-Geral da Educação (DGE), o Plano Nacional de Leitura (PNL), a Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE), a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) e a Escola Secundária de Camões (ES Camões). Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques sobre uma questão de concordância.

–  Igualmente na Antena 2, Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, cujas emissões de 5 a 9 de fevereiro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50) são preenchidas pelo tema da etiqueta vocal.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. Microplásticos é a palavra do momento. Designa pequenos pedaços de plásticos com uma medida inferior a 5 mm, que poluem as águas, representando já entre 60% a 90% do lixo marinho. Esta é uma situação que exige medidas imediatas dos governos, visto que os microplásticos já entraram na cadeia alimentar humana, estão presentes em objetos que se manuseiam quotidianamente e inclusive na água engarrafada, que, segundo estudos, apresenta, em média, cerca de 250 000 fragmentos de nanoplástico. Microplástico é uma palavra derivada resultante da associação do prefixo grego micro-, com o sentido de "pequeno, curto", à palavra plástico. A palavra nanoplástico refere partículas residuais do plásticos, com uma medida entre 1 a 1 000 nanómetros (ou seja, até 0,001 mm) e resulta da junção do prefixo nano- ("anão") a plástico (note-se que, nas descrições brasileiras, estes elementos são normalmente considerados radicais). Ainda neste contexto, a comunidade científica começou a usar neologismos como macrolixo para referir lixo com dimensão superior a 25 mm, microlixo, para lixo inferior a 5 mm, e mesolixo, para lixo com dimensão entre os 5 e os 25 mm. Macro- significa "de larga escala", micro-, "pequeno" e meso- "médio". Acrescente-se ainda que se aconselha a grafia destas palavras como palavra única, sem espaço ou sem hífen. 

2. Qual a forma preferível: «A gente irá explicar» ou «A gente iremos explicar»? A consultora Inês Gama explica o processo de concordância à luz da visão normativa, num apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.  

3. A construção «É pena tu tere-la abandonado» está correta? A análise da conjugação das formas verbais infinitas com o pronome clítico abre a atualização do Ciberdúvidas, na qual se podem ainda consultar sete novas respostas: "O verbo reacionar"; "O pronome vós e formalidade", "As contrações à e ao na criação de locuções", "O nome pátrio de Maldivas", "Voz passiva com estar", "Colocação do clítico com o verbo poder" e "Amor de Perdição: incoerência".

4. O neologismo sologamia é usado para designar «o ato de casar consigo mesmo». Trata-se de um termo analisado pelo consultor Paulo J. S. Barata, num apontamento que se abre a outros elementos da mesma família de palavras. 

5.  A professora universitária e linguista Margarita Correia propõe um conjunto de reflexões sobre a relação dos estudantes guineenses com as línguas nacionais do seu país e com o português, num texto onde também se fala de xenofobia linguística (artigo publicado no Diário de Notíciasaqui transcrito com a devida vénia).

6. Entre os eventos de relevo, destaque para o início das candidaturas destinadas a autores(as) de nacionalidade moçambicana, ou que tenham residência oficial em Moçambique, a uma residência literária em Lisboa, a decorrer entre 1 a 31 de maio de 2024 (programa promovido pelo Camões – Centro Cultural Português no Maputo, com candidaturas abertas entre 1 a 29 de fevereiro 2024). 

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1. «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», «amor é um fogo que arde sem se ver», «descalça vai para a fonte», «mais do que prometia a força humana», «naquele engano da alma, ledo e cego», «ó glória de mandar, ó vã cobiça» ou «nesta apagada e vil tristeza»1 são expressões e versos de Camões frequentemente citados em textos contemporâneos, integrados já na fraseologia do português. Isto mesmo é sublinhado na peça que o portal Porto.pt dedica à abertura das comemorações do centenário de Camões na Paços do Concelho da Cidade Invicta, assinalada com a exposição de um exemplar da 1.ª edição (1572) de Os Lusíadas, que se conserva no Ateneu Comercial do Porto. A esta iniciativa junta-se outra, com curadoria do escritor Gonçalo M.Tavares, que se propõe distribuir as 1102 estrofes da epopeia a 1102 cidadãos, «com o critério de ter uma criança de sete anos a ler “As armas e os barões assinalados”, a primeira estrofe, e uma pessoa de 87 anos a terminar a leitura, em “Sem à dita de Aquiles ter enveja"» (mais informação aqui). A participação nesta leitura coletiva, cujas gravações serão depois espalhadas pela cidade (acessíveis através de códigos QR), está sujeita a inscrição através do endereço eletrónico camoes500anos@cm-porto.pt.

1 «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», «amor é um fogo que arde sem se ver» e «descalça vai para a fonte» são versos iniciais de três famosos poemas da lírica de Camões. As restantes expressões provêm de Os Lusíadas: «mais do que prometia a força humana» (canto I, est. 1); «naquele engano da alma, ledo e cego» (canto III, est. 120); «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça» (canto IV, est. 95); «[dũa austera,] apagada e vil tristeza» (canto X, est. 145). Na imagem, cartaz do filme Camões (1946), do cineasta português Leitão de Barros (1896-1967). Crédito da foto: Artbid.

2. Ainda em Portugal, uma campanha publicitária da IKEA, aludindo com ironia à Operação Influencer e, em particular, ao antigo chefe de gabinete do demissionário primeiro-ministro portuguêsAntónio Costa, teve grande repercussão nas redes sociais com reações e comentários ora críticos ora favoráveis quanto ao envolvimento da multinacional sueca do mobiliário e da decoração no atual período eleitoral e no correspondente debate partidário no país. Sobre a recomendada dicção do nome IKEA e, num desses cartazes, a forma errónea 75.800, com um ponto indevido em lugar do espaço – 75 800 é a escrita correta –, o apontamento do jornalista José Mário Costa no Pelourinho.

3. Se embaixatriz é tradicionalmente a forma do género feminino de embaixador, porque será que agora se usa tanto a palavra embaixadora? É que a imperador apenas corresponde imperatriz, não se aceitando "imperadora". A consultora Inês Gama apresenta uma reflexão sobre este problema na rubrica O Nosso idioma.

4. A construção comparativa «mais bem do que mal» está correta? Não deveria ser antes «melhor do que pior»? O esclarecimento desta dúvida faz parte do conjunto de sete respostas que atualizam o Consultório e que abrangem ainda as seguintes questões: a locução «em aberto» é galicismo reprovável? Qual a origem da palavra biruta? As orações condicionais exprimem uma relação de causa-efeito? O que significa a expressão «neste conspecto»? Como usar fera predicativamente? Que valor tem o pronome se na frase «ele sagrou-se campeão»?

5. Ainda a respeito de Portugal, a comunicação social continua fazer eco da preocupação gerada, no final de 2023, pelo relatório Pisa 2022, cujos resultados revelaram uma queda significativa da proficiência dos alunos em matemática e leitura (cf. Margarita Correia, "O que é o PISA e que nos traz de novo"). Vem, portanto, a propósito registar, à volta do ensino: "Dependência de ecrãs: 'Há uma espécie de normalização da embriaguez digital'" (Público, 23/01/2024); "Falar e escrever bem: uma missão difícil, mas possível!" (Observatório da Língua Portuguesa, 25/01/2024); e o dossiê Porque pioram os alunos?, uma compilação de entrevistas, reportagens e análises do jornal Público sobre o PISA 2022.

6. Sobre o termo subsidiodependente, recorrente, por exemplo, no discurso do líder do partido político português Chega, leia-se "“Subsidiodependência” entrou para o léxico político. Mas existe mesmo?" (Diário de Notícias, 24/01/2024).

7. Entre publicações escritas e audiovisuais que, na Internet, abordam temas do idioma português, saliente-se Pilha de Livros, o podcast do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves. Últimos episódios: "Tradutores, revisores e outros escritores" (24/01/2024); "O estranho caso da princesa inglesa que sabia duas línguas" (25/01/2024); e "Um mundo com uma só língua seria mais pacífico?" (26/01/2024).

8. Quanto a três dos programas que, na rádio pública de Portugal, tratam de temas da língua portuguesa:

–  Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 26/01/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Ana Luísa Costa, professora da Escola Superior de Educação de Setúbal, fala sobre as regras de pontuação.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 28/01/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 03/02/2024 às 15h30*), Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahía) apresenta o curso de Capacitação para a Elaboração de Materiais, promovido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) entre os dias 5 a 9 de fevereiro de 2024, na cidade de Dili (Timor-Leste). Inclui-se ainda um apontamento de Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, acerca das regras de concordância.

– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira. 

Hora oficial de Portugal continental.