Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A atualidade anda marcada pelo resultado das eleições norte-americanas, que se realizaram em 5 de novembro e das quais Donald Trump saiu incontestavelmente vencedor. O acontecimento justifica mencionar o prefixo super-, que associado a vitória, permite formar supervitória.  Recorde-se que super- é hoje muito produtivo na formação de superlativos como superinteligente e super-rápido; pode também tornar-se palavra autónoma e ser categorizado como nome, dando, por exemplo, súper, forma curta de supermercado. Sobre o prefixo super-, cabe frisar que nunca se escreve com acento gráfico, nem mesmo quando hifenizado, como acontece com o caso de super-homem, vocábulo que tanto evoca heróis de banda desenhada como ideias controversas. A grafia do prefixo super- é precisamente o tema de uma das oito respostas que atualizam o Consultório e abrangem ainda outros tópicos: os topónimos CagliariSande (com Sendim); a transitividade de ligar;  o uso de imaginar com predicativos e a possibilidade de um grupo preposicional ser predicativo do sujeito; o adjetivo simpático referido a coisas e lugares; e o funcionamento de conforme e consoante como conjunções.

Na imagem, O viajante sobre um mar de névoa (c. 1817, Hamburger Kunsthalle), conhecido quadro do pintor alemão Caspar David Friedrich (1774-1840). Ver também João Gomes da Silva, "O viajante", Jornal Arquitetos, 2007, pp. 32/33.

2. Na Montra de Livros, apresenta-se o segundo volume da obra As cores de Abril, com o subtítulo Abril, o sonho em construção, o qual reúne, tal como o primeiro volume, um conjunto de artigos sobre a revolução de 25 de Abril de 1974 e no âmbito das comemorações dos 50 anos deste acontecimento.

3. Em Lisboa, o turismo dá azo ao cúmulo de, na restauração, a língua que se lê, fala e ouve é o inglês, e não o idioma nacional. No Pelourinho, transcreve-se parcialmente, com a devida vénia, um trabalho da jornalista Fernanda Câncio (Diário de Notícias, 03/11/2024) acerca dos excessos anglófonos na vivência da capital portuguesa.

4. Qual será a melhor maneira de aprender português em Lisboa? Apesar da vaga anglicista, as tradicionais pastelarias, onde se servem cafés, galões e pastéis de nata, são ainda lugares da aprendizagem ao vivo da língua mais genuína. É o que se conclui em O Nosso Idioma, com uma bem-humorada crónica da jornalista arménia Raya Khachatryan, desde 2022 a residir em Lisboa, sem perder a paciência com as idiossincrasias alfacinhas no uso da língua.

5. Os projetos do Ciberdúvidas continuam com novos episódios. Em Ciberdúvidas Responde (episódio 8), fala-se do adjetivo somativo, e em Ciberdúvidas Vai às Escolas, uma aluna do Agrupamento de Escolas de Nelas (Viseu) pergunta: porque não é formado por parassíntese o advérbio infelizmente?

6. Nas Notícias, dá-se conta de atribuição, em 05/11/2024, do Prémio Sonae Educação 2024 à Ciberescola, projeto da Associação Aprendo Português, e da realização do encontro Leitura: prazer ou obrigação?, promovido pelo Plano Nacional de Leitura e realizado em 08/11/2024 na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

7. Outros registos com incidência no debate, estudo e ensino da língua portuguesa:

– as Conferências da Academia às Quintas-feiras, uma iniciativa da Academia Angolana de Letras (programa de novembro aqui);

– o artigo de opinião "O português como política pública", de José Luís Landeira, que o assinou no Público Brasil;(03/11/2024);

– o 1.ª Encontro Internacional sobre Lexicografia, Lexicologia e Terminologia em Angola, que decorre em Luanda, de 13 a 15/11/2024 (informação aqui);

– O Encontro Lexicográfico entre Academias – Academia das Ciências de Lisboa/ Academia Brasileira de Letras, que se realiza em 13/11/2024, às 15h00 na Academia das Ciências de Lisboa (regime híbrido);

– o inquérito que a Associação de Professores de Português está a levar a cabo, para revisão dos documentos das Aprendizagens Essenciais, em vigor nos ensinos básico e secundário de Portugal (mais informação aqui).

8. Temas de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica a temas do português:

– O impacto de um ensino intercultural comunicativo na aprendizagem do género gramatical nominal em português por imigrantes adultos é o tema da conversa com Bruno Costa em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 8/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 10/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 16/11/2024, às 15h30*), entrevista-se a coordenadora da Ciberescola, Ana Sousa Martins, sobre a atribuição do Prémio Sonae Educação 2024 a este projeto. Transmite-se ainda uma conversa com a professora Sónia Reis (Universidade do Algarve) acerca da Inteligência Artificial no ensino de línguas, nomeadamente, do português. Ainda o apontamento gramatical de Inês Gama, assistente editorial do Ciberdúvidas, sobre a sinonímia do termo obsoleto;

– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As eleições para a presidência dos Estados Unidos decorrem presencialmente ao longo do dia 5 de novembro. Pela importância que assume, este ato eleitoral deixa o mundo em suspenso, uma vez que o seu resultado poderá ser determinante para várias situações internacionais, como a guerra na Ucrânia ou o conflito israelo-palestino. Independentemente do seu desfecho, toda a campanha eleitoral já fez história em vários planos, tendo sido considerada, por diversos especialistas na área, como aquela que evidenciou a maior polarização de sempre. O termo polarização (do latim polus, i, via grego πóλος, que significa «ponto de apoio, eixo (do mundo), cúpula celeste, estrela polar, norte») é entendido como descrevendo o resultado de uma interação entre dois polos, neste caso, do plano político. Encontramo-nos perante um fenómeno que se ficou a dever sobretudo à apresentação progressiva de ideias muito distantes e, por vezes, completamente opostas por parte dos dois candidatos, que se foram afastando em áreas como a economia, a imigração ou o próprio contexto de guerra no mundo. A recente campanha política protagonizada por Donald Trump e Kamala Harris ficou ainda marcada por aquilo que foi já descrito como a normalização do insulto. O substantivo normalização (do latim normālis, com o significado de «feito com esquadro, normal») descreve o processo ou o resultado de normalizar, ou seja, da ação desenvolvida de forma a que uma dada situação se enquadre no que é considerado habitual, padronizado. Neste caso, o objeto de normalização foram os insultos, uma área lexical que habitualmente não integra o discurso político, pela descortesia que convoca. No entanto, no caso das presentes eleições, o tom crescente da retórica da agressividade levou a que os insultos fossem surgindo, com particular acuidade nos discursos de Trump, que, por exemplo, considerou a sua opositora «burra que nem um calhau» e apodou Joe Biden de «sacana estúpido». Também este último, ainda Presidente dos Estados Unidos, referiu-se aos apoiantes do candidato republicano como «lixo». Tanto os insultos como as palavras grosseiras costumam estar abrangidos pelo tabu linguístico, o que leva a que, em determinados contextos sociais, exista um acordo tácito que leva a que certos termos não sejam mobilizados no discurso por serem considerados inconvenientes por alguma razão de ordem moral ou religiosa. Com Trump, estes limites foram quebrados e a injúria passou a ser sentida como normal, o que, na ótica de muitos, significa um aviltamento da retórica política. Uma opção discursiva que, gradualmente, tem vindo a ganhar seguidores um pouco por todo o mundo.  

2.  No Consultório ficam disponíveis as respostas às seguintes questões: «Cultura e solidário são palavras simples ou complexas?», «Qual a diferença entre conjunções correlativas e advérbios conectivos?», «O advérbio ali pode ser deítico e anafórico?», «Como distinguir orações adjetivas relativas de orações completivas?», «Os advérbios não e apenas podem surgir na mesma frase?», «Devemos usar a forma chamo-me ou chamam-me?», «Qual a diferença entre montanha e serra?» e «É correta a construção «comprar de alguém»?». 

3. A Universidade de Aveiro lançou uma publicação intitulada Abril, o florir dos cravos, com o objetivo de manter viva a memória do 25 de Abril. Apresentamos na Montra de Livros o primeiro volume da publicação, composto por «artigos que abordam o fim da censura e a conquista da liberdade através de análises daquilo que era dito pela imprensa nacional e internacional sobre as consequências da revolução».

 4. O uso da expressão «barrela de perguntas», que se revela inadequada face ao contexto de utilização, motiva o apontamento do consultor Paulo J.S. Barata para o Pelourinho, onde esclarece que a expressão a usar deveria ter sido, eventualmente, «barragem de perguntas». Ainda na mesma rubrica incluímos uma nota da consultora Sara Mourato sobre a construção «entrar num contentor de lixo». 

5. Com base na frase «inocentou-se aquele réu», a professora Carla Marques explica as diferenças entre a passiva sintática e a passiva de -se, no seu apontamento para a dúvida da semana (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As eleições nos Estados Unidos têm lugar no dia 5 de novembro, embora já se encontre a decorrer o período de votação antecipada. Enquanto o mundo está em suspenso aguardando o resultado do sufrágio norte-americano, as ações de campanha vão intensificando o tom com acusações muito graves de ambos os lados.As palavras são, neste contexto, muito poderosas: erguem-se em promessas de um mundo melhor, convertem-se em armas apontadas aos maiores problemas, assinalam os culpados e mostram inimigos a abater.A força retórica do discurso tem sido trabalhada desde a Antiguidade e foi mesmo, durante um longo período de tempo, considerada disciplina fundamental na formação académica porque era tida como um atributo fundamental de qualquer orador. No século XXI, sobretudo por mão dos políticos e dos seus discursos inflamados, continuamos a presenciar a força incrível das palavras que conseguem transformar um cenário normal num profundo negrume ou dourar futuros antecipados. Entre os recursos retóricos mais mobilizados no discurso político, encontramos a metáfora, uma construção conceptual que tem a capacidade de criar cenários no âmbito dos quais famílias de metáforas florescem, sendo colocadas ao serviço das intenções do locutor. Este fenómeno observa-se com toda a clareza no discurso que Donald Trump proferiu em Nova Iorque no domingo, dia 27 de outubro. Aí a metáfora foi colocada ao serviço do desenho de um contexto de guerra que exige medidas extremas, como a Lei Marcial. A professora Carla Marques analisou a construção destas metáforas no seu apontamento intitulado «Convocar a metáfora para ganhar eleições», onde incide sobre o uso da metáfora da guerra no discurso do candidato e nos efeitos que este procura atingir.  

2. No Consultório, uma das questões chegadas pretende saber se a palavra segundo pode ser usada como conjunção subordinativa. A resposta apresentada abre as atualizações de hoje. A ela juntam-se oito novas respostas que poderão ser consultadas aqui: «O verbo produtizar»; «Perífrase e locução verbal»; «Modificador: «cortou a meta em primeiro lugar»»; ««Nascido e crescido», «nado e criado»»; «A expressão «conflito de interesses»»; «O que exclamativo + adjetivo»; ««Quer sentar-se» e «quer sentar»» e «Falda fralda». 

3. A propósito das novas rubricas do Ciberdúvidas, recordamos a participação dos professores Carlos Rocha Carla Marques no programa Páginas de Português, na Antena 2, onde apresentaram os novos projetos e os seus objetivos. As rubricas Ciberdúvidas responde e Ciberdúvidas vai às escolas podem ser acompanhadas no Portal do Ciberdúvidas ou nas redes sociais associadas (FacebookYoutube, Instagram e TikTok). 

4. O uso incorreto do adjetivo caloroso na construção «receção calorosa» com o valor de «hostil; violento» motiva a reflexão do consultor Paulo J. S. Barata, que procura determinar a genealogia do erro neste apontamento disponível na rubrica Pelourinho. 

5. O consultor Fernando Pestana reflete sobre as fontes onde a língua deverá encontrar os seus melhores modelos: na literatura ou nos usos quotidianos? A sua visão deste assunto encontra-se explanada no artigo «A dimensão deôntica da linguagem».  

6. Na Montra de Livros, apresenta-se a mais recente obra de Onésimo Teotónio de Almeida: Diálogos lusitanos (Quetzal editores). Nela o autor trata «aspetos e figuras da vida literária portuguesa, sobretudo da segunda metade do século XX, até à atualidade norte-americana, centrada principalmente no trumpismo».

7. A concordância do nome gente com a forma verbal que acompanha levanta muitas vezes dúvidas aos falantes. Embora se trate de uma expressão de uso coloquial, há regras que determinam a correção das construções em que ocorre, como nos explica a consultora Inês Gama no seu apontamento (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2). 

8. Devido ao feriado de 1 de novembro, a próxima atualização fica agendada para dia 5 de novembro.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. São já lugar-comum os relatos de equívocos gerados na comunicação entre falantes de português e espanhol. Na perspetiva da língua portuguesa, caindo na ingenuidade de julgar que o parentesco linguístico torna tudo mais fácil, emprega-se, por exemplo, espantoso como elogio – «Madrid é espantosa!» – e ofendem-se certamente os madrilenos, porque o espanhol espantoso pode querer dizer «horrível» e «muito feio». A este caso de «falsos amigos», somam-se muitos outros, como salienta a consultora Inês Gama num apontamento incluído em O Nosso Idioma.

Ver também "O portunhol e os 'falsos amigos' luso-espanhóis". Sobre outros «falsos amigos», por exemplo, os do inglês, com consequências nefastas, ler: “'Falsos amigos': frase e o inglês 'phrase'”, "Coisas da língua", "A tradução de populate", "Efetivamente eficaz e os falsos amigos do inglês" e "Aperceber-se/entender – e não 'realizar'". Crédito da imagem: Gerd AltmannPixabay (25/10/2024).

2. Ainda na rubrica O Nosso idioma, dá-se conta de mais um tipo de fraude informática, o quishing, palavra anglo-saxónica que a consultora Sara Mourato comenta, avaliando o seu uso em português e interrogando os limites da pressão terminológica do inglês.

3. Se a concordância verbal com a locução «a gente», de valor equivalente ao do pronome nós, é feita na 3.ª pessoa do singular, então porque o possessivo correspondente é nosso, e não seu? A resposta faz parte da atualização do Consultório, que neste dia conta com um total de oito respostas. Os esclarecimentos distribuem-se por tópicos relativos aos empréstimos (ou palavras importadas), aos nomes próprios, à concordância, à regência nominal, às  orações comparativas, aos plural em nomes de unidades de medida e à indeterminação do sujeito numa frase.

4. Prossegue a atualização de conteúdos nas rubricas que o Ciberdúvidas desenvolve nas redes sociais. Assim:

– no episódio 6 de Ciberdúvidas Responde, a consultora Sara Mourato dá indicações para não confundir os usos de «dá-o» e «dá-lo»

– e no episódio 3 de Ciberdúvidas Vai às Escolas, a professora Carla Marques esclarece o que é uma metáfora, com exemplos e pistas para a sua identificação.

Recorde-se ainda que o desafio "Dúvida da Semana" continua ativo, às segundas e às terças no Facebook.

5. Registe-se, em contexto brasileiro, uma corrente das redes sociais, ou, usando o modismo anglicista, trend, que tem viralizado certas gralhas e erros cómicos. É o assunto de duas peças de publicações do grupo Globo, o G1 (22/10/2024) e o GE (23/10/2024), nas quais se recolhem dois exemplos com o seu quê de inesperado: "foge da minha ossada" (correto: «foge da minha alçada») e "medilcre" (correto: medíocre).

6. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 25/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Fátima Mendonça, professora jubilada da Universidade Eduardo Mondlane, aborda os ecos de Camões nos poetas africanos de língua portuguesa.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 27/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 02/11/2024, às 15h30*), os professores Carla MarquesCarlos Rocha apresentam os novos projetos associados à atividade do portal Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e discutem o papel deste portal na manutenção de um equilíbrio entre a preservação da norma e a aceitação das mudanças linguísticas. O programa inclui ainda um esclarecimento da consultora Inês Gama acerca da seguinte questão: pode dizer-se «a gente iremos explicar», ou só «a gente irá explicar» é frase correta?

– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os provérbios têm uma presença muito frequente nos usos dos falantes. São estruturas enraizadas nos processos de comunicação oral que veiculam ensinamentos relacionados com conhecimentos sobre a vida, os quais estão relacionados não só com saberes e experiências comuns ou com o folclore como também com pensamentos filosóficos ou com manifestações artísticas diversas. Os provérbios são normalmente uma criação de autor anónimo que vai sendo transmitida por via oral de geração em geração, o que se processa com naturalidade porque estes são agradáveis ao ouvido e fáceis de memorizar e de repetir. Alguns têm origem mais precisa, pois advêm de fontes bíblicas, foram criados por grandes pensadores ou por poetas, mas também foram recuparados de publicicidades ou de músicas. Com o seu forte pendor argumentativo, são ideais para enfatizar formas de comportamento preferenciais e assinalar atitudes ou opções erradas. Servem, muitas vezes, para descrever situações típicas ou perfis que se associam a um processo de generalização. Sobre o provérbio «Burro velho não toma andadura», a rubrica O Nosso Idioma inclui um apontamento da professora Carla Marques.

2. No Consultório, fala-se da função sintática de todo numa frase e da diferença entre modificador do nome e complemento do nome. Entre as nove questóes da presente atualização também se salienta esta outra: é possível empregar regionalismos num texto formal?

3. «Um terço dos mais jovens não sabe falar galego. Onde está a sua "liberdade de escolha"?» – interroga-se Xosé-Henrique Costas, linguista e professor da Universidade de Vigo acerca dos dados alarmantes de um inquérito do Instituto Galego de Estatística (IGE), os quais revelam a descida preocupante do número de falantes de galego, principalmente entre os jovens. Na rubrica Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia o original galego e apresenta-se uma versão em português do artigo de opinião que este linguista galego assinou 11/10/2024 no Diário Nós.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No plano internacional, aos conflitos armados acresce a tensão decorrente da questão de Taiwan e avoluma-se a expetativa quanto às eleições presidenciais nos EUA, que se avizinham. Em Portugal, a situação será comparativamente pacífica, mas as negociações para a votação do Orçamento do Estado 2025 na Assembleia da República motivam declarações políticas nada idílicas; e a escolha do novo presidente da República em 2026 já vai dando que fazer e falar. Por exemplo, no Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (12/10/2024), em comentário à declaração favorável do primeiro-ministro português à candidatura do político e comentador Marques Mendes, ouviu-se em tom irónico a forma «endorsado», a qual pressupõe "endorsar" e "endorsamento". São formas que adaptam livremente as palavras inglesas to endorse e endorsement, atualmente recorrentes nos media norte-americanos, para denotar o apoio de uma figura pública a um político (ou a um produto) e que podem bem traduzir-se pelas perífrases vernáculas «tomar partido» ou «declarar apoio» (cf. "Taylor Swift declara apoio a Kamala Harris, Sábado, 11/09/2024). Independentemente da intenção jocosa associada a "endorsado", será este um aportuguesamento viável? A esta e outras questões dedica a consultora Sara Mourato um apontamento disponível em O Nosso Idioma.

2. Segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, nunca se venderam tantos livros em Portugal e os principais compradores são gente nova. Trata-se, contudo, de leituras completamente fora do cânone literário clássico. Na rubrica Literatura, a consultora Inês Gama discorre sobre os hábitos de leitura dos jovens e a sua relação com os grandes clássicos.

3. Diz-se «do mesmo jeito que...» ou «mesmo jeito como...»? E o uso desta expressão é típico de que país de língua portuguesa? Com esta, são oito as respostas que atualizam o Consultório e que dão esclarecimentos a respeito de outros tópicos: o significado das expressões «o Roque e a amiga» e «em razão disso»; a etimologia do verbo esparralhar; o uso do conjuntivo numa relativa sem antecedente; a sintaxe do verbo apontar; e o plural associado a «um ou mais...».

4. Em Ciberdúvidas Responde, um novo vídeo trata da colocação do pronome pessoal átono que acompanha um infinitivo. Sobre o uso mais correto, pergunta-se: diz-se «obrigado por informar-me» ou «obrigado por me informar»?

5. O projeto Ciberdúvidas Vai às Escolas divulga um novo vídeo, acerca da identificação do predicativo do sujeito numa frase. A pergunta vem do Agrupamento de Escolas de Nelas, cuja participação muito se agradece.

6. Nas Notícias, dá-se conta do falecimento do jornalista Emídio Fernando (1965-2024), numa nota assinada pela jornalista Paula Torres de Carvalho.

7. Registos da atualidade:

– Na Galiza, os dados de um inquérito do Instituto Galego de Estatística (IGE) revelam a descida preocupante do número de falantes de galego, principalmente entre os jovens. Há fortes reações dos setores afetos à promoção do galego, que acusam o governo autonómico, a Xunta, de não saber ou não querer contrariar esta tendência (cf. Diário Nós, 11/10/2024).

– A publicação de uma reflexão Associação de Professores de Português (APP) a respeito do perfil do docente de Português Língua Não Materna (PLNM).

– A comemoração do centenário de António Ramos Rosa, nascido em Faro em 17 de outubro de 1924 e falecido em Lisboa em 2013. Na Antologia, disponibilizam-se dois poemas deste poeta português: "Coágulo do tempo" e "A palavra".

8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 18/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a escritora luso-moçambicana Fernanda Melo Alves sobre o seu romance recentemente editado À Procura dos Rinocerontes Perdidos;

– Em Páginas de Português, programa transmitido pela Antena 2, no domingo, 20/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 26/10/2024, às 15h30*), apresenta-se uma conversa com a professora Helena Rebelo (Universidade da Madeira) sobre o património linguístico deste arquipélago, nomeadamente os múltiplos hipónimos da palavra pão. Ainda o apontamento gramatical da autoria da professora Carla Marques;

– Menciona-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e igualmente transmitido na Antena 2, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, a tensão política em torno do Orçamento do Estado para 2025 tem fornecido matéria de relevo à comunicação social, que se tem esforçado por descrever todas as movimentações dos líderes políticos e todas as suas reações. Uma das mais recentes notícias vindas a público descreve a forma como o secretário-geral do PS [Partido Socialista], Pedro Nuno Santos, lidou com os comentadores políticos afetos ao seu partido: «Pedro Nuno afasta-se do Orçamento e zurze comentadores do PS que defendem viabilização» (jornal Público). Este título faz uso de um verbo pouco frequente nas interações quotidianas: zurzir. Os seus significados têm uma grande amplitude que vai do domínio físico («golpear com chibata») ao foro psicológico («causar dor ou sofrimento; maltratar; magoar»). No caso da situação descrita no título, o sentido não será tão violento, pois a intenção da jornalista passará por referir a atitude de «repreender com severidade» (Infopédia). Curiosamente, o verbo zurzir tem a mesma etimologia do verbo cerzir, derivando ambos do verbo sarcīre («remendar, coser vestidos, reparar, consertar»). O verbo cerzir derivou da forma latina por via do latim vulgar, tendo durante um período de tempo coexistido com a forma serzir, que acabou por desaparecer, e manteve significados próximos do verbo original. Por seu turno, a forma zurzir, que se revela mais distante da sua origem etimológica, terá entrado no português por via do castelhano zurcir. A sua evolução semântica é também curiosa uma vez que perdeu os sentidos ligados ao ato de costurar e evoluiu para a descrição de ações que infligem algum tipo de dor no outro.

2. A expressão «muita água pode correr debaixo da ponte» admite muitas variantes: «por baixo da ponte», «por debaixo da ponte» ou «sob a ponte». Todavia, na rubrica Pelourinho, assinala-se o uso inesperado da expressão «abaixo da ponte» que é incompatível com o que se pretende afirmar, tal como é explicado pelo consultor Carlos Rocha

3. A questão das classificações textuais pode ser efetuada de acordo com diferentes óticas e no contexto de diferentes quadros conceptuais. Por esta razão, um mesmo texto pode admitir diferentes classificações que o integram em diferentes tipologias textuais. Este é o caso do Sermão de Santo António, da autoria de Padre António Vieira, o qual poderá ser considerado tanto um sermão, como um texto argumentativo ou ainda uma alegoria, como se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Damos destaque também a duas respostas que se centram em textos clássicos: uma dificuldade de tradução num passo de Odisseiaa identificação de um recurso expressivo em O Sentimento dum Ocidental, de Cesário Verde. Poderão ainda ser consultadas respostas que tratam questões relacionadas com as preposições em e de usadas com o nome qualificações e com a locução prepositiva «mais de». Ainda respostas relacionadas com o uso do adjetivo senil, a vírgula antes do advérbio não duplicado, o uso de maiúsculas em nomes de cargos e a regência do verbo trazer

4.  A identificação da sílaba tónica da palavra mãezinha é o tema do apontamento da professora Carla Marques, no qual também se aborda a função do til numa palavra e a sua relação com a identificação da sílaba tónica (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2). 

5. Damos destaque na atualização aos seguintes acontecimentos:

– O lançamento do Dicionário Fonético do Português Europeu, de João VelosoAna Isabel FernandesFátima Silva (Inovação Educativa – Reitoria da Universidade do Porto), uma publicação disponível em linha que trata, de forma visual e muito esclarecedora, questões relacionadas com a anatomia, os sons vocálicos e os sons consonânticos. 

– A atribuição à escritora e jornalista Maria Teresa Horta do Prémio Rodrigues Sampaio, da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, um galardão atribuído pela primeira vez a uma mulher. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Depois do aparecimento de Ciberdúvidas Responde, em 19/09/2024, surge agora o projeto Ciberdúvidas Vai às Escolas, iniciativa e realização da equipa do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Como se explica nas Notícias, no âmbito da intenção do alargamento da ação do Ciberdúvidas nas redes sociais, trata-se de o levar às escolas onde se ensina a língua portuguesa, em Portugal e no mundo. De forma presencial ou à distância, um consultor do Ciberdúvidas esclarece, ao vivo e em direto, dúvidas dos alunos relacionadas com questões de gramática. As sessões são gravadas em formato vídeo e divulgadas posteriormente nas redes sociais do Ciberdúvidas, dando a conhecer a resposta a cada uma das dúvidas apresentadas, de modo a outros alunos e professores acederem aos conhecimentos envolvidos. As escolas interessadas em participar neste projeto, recebendo o Ciberdúvidas presencialmente ou à distância, poderão contactar os responsáveis pelo projeto por correio eletrónico: ciberduvidas@iscte-iul.pt

* Com colaboração do Laboratório de Competências Transversais do Iscte-IUL. Na imagem, fotograma do vídeo n.º 1 deste projeto do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (mais vídeos no canal Youtube).

2. A propósito de gramática e práticas didático-pedagógicas, na Montra de Livros apresenta-se Reflexões sobre Lingua(gem) em Contextos de Ensino é uma compilação de textos e artigos científicos, organizada por Wagner Rodrigues Silva e publicada pela editora da Universidade Federal do Tocantis (EDUFT).

3. Quem poderia imaginar que o verbo empolgar e o nome polegar partilham o mesmo radical de origem latina? Em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato explica como.

4. No Consultório, discute-se uma ideia ainda popular: qual é a cidade ou a região onde melhor se fala? Será Coimbra? E que sentido têm estas perguntas? Outras questões sobre norma e variação são abordadas na atualização deste dia: o regionalismo foxe e as oscilações entre «São Hugo» e «Santo Hugo» e entre «giraldinha» e «giraldina». Completam o conjunto dúvidas sobre sintaxe: a função frásica de sexualmente; a realização pronominal do complemento indireto; o uso de preposições com «ter tempo»; e um modificador associado ao verbo arrancar.

5. Regista-se com pesar o falecimento do jornalista angolano Rui Ramos em 09//10/2024. Nas Notícias, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, dá conta do percurso político e profissional de Rui Ramos, que colaborou também nestas páginas, como consultor de temas da língua portuguesa em Angola.

Refira-se também o falecimento da linguista Gabriela Vitorino. Investigadora principal do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, era responsável pelo Atlas Linguístico do Litoral Português e do Mapa Dialectal Sonoro de Portugal. Mais informação aqui.

6. Eventos relacionados com temas da língua portuguesa:

– O lançamento do novo livro do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves: Queria? Já Não Quer? Mitos e Disparates da Língua Portuguesa, editado pela Guerra e Paz (pormenores aqui).

– Em 21/10/2024, a sessão "Leitura e viagens", uma conversa com a escritora e professora Dora Gago promovida pelo Instituto Português do Oriente na Biblioteca Camilo Pessanha, em Macau (mais informação aqui).

7. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 11/12/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se Cristine Gorski SeveroEzra Alberto Chambal NhampocaEzequiel Pedro José Bernardo sobre a obra que organizaram, Políticas Linguísticas Educacionais em Contextos Africanos, na qual se analisam os contextos educacionais africanos, principalmente os de Angola e Moçambique.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 13/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 19/10/2024, às 15h30*), conversa-se com Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares, professora da Rede de Ensino do Português no Estrangeiro (EPE) na Alemanha do IC/ Camões, sobre um inquérito – «O Português para mim é.…» – a cerca de 700 alunos, entre os 7 e 16 anos, que frequentam os cursos de Língua e Cultura Portuguesas na Alemanha, Suíça e Luxemburgo. Ainda o apontamento gramatical de Carla Marques.

– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Num mundo onde a globalização está na ordem do dia, muitos países sentem a invasão do que é "estrangeiro", tanto no plano material como no imaterial. A língua também não é alheia a estes movimentos, pois é muito permeável à entrada de palavras estrangeiras, sobretudo em setores inovadores, que já geraram inovação lexical numa língua fonte, como é frequentemente o caso do inglês, que tem influenciado de forma muito evidente diversas áreas do português. Fenómenos desta natureza têm motivado o aparecimento de correntes de nacionalismo linguístico, que, em casos desta natureza, defendem a proteção do idioma pátrio como forma de identidade e de afirmação. São estes mesmos nacionalismos que, noutras situações, advogam a causa da "libertação" da língua face a outra à qual se encontra subjugada. Uma manifestação deste último fenómeno tem surgido associada à variedade de português do Brasil pelas mãos de uma corrente que defende que, no Brasil, a língua usada já não é o português, mas sim o brasileiro, uma língua que evoluiu, autonomizando-se face ao português europeu, que tem uma norma e especificidades fonéticas, semânticas, lexicais e sintáticas distintas. Os defensores desta perspetiva afirmam que a intercompreensão entre portugueses e brasileiros se torna cada vez mais difícil e, nalguns casos, mesmo muito difícil, o que parece não ser um facto assente em muitas situações; e há quem rebata este ponto de vista, considerando que as diferenças não são de molde a poder falar-se de separação. A este propósito, recorde-se a experiência do tradutor e professor universitário Marco Neves (aqui relatada em vídeo). Recorde-se também a posição do primeiro-ministro português Luís Montenegro, que — tal como já  antes o manifestara  também o Presidente brasileiro Lula da Silva — reclamou o estatuto do português como língua oficial na ONU, só possivel, naturalmente, como sucede com o inglês, o  francês, o espanhol, o mandarim, o russo e o árabe, independentemente das respetivas variantes geográficas. As manifestações de nacionalismo linguístico têm gerado  fortes reações um pouco por todo o mundo lusófono,  no pressuposto de ser na unidade da língua portuguesa que assenta uma eficaz estratégia de política linguística para a sua afirmação e difusão nternacional. Recentemente, o escritor José Eduardo Agualusa veio também manifestar a sua preocupação com a ascensão do fenómeno e com as suas implicações, numa entrevista dada ao jornal  digita Observador, na qual apresentou o seu novo romance, Mestre dos Batuques, com a chancela da Quetzal (disponível aqui, com a devida vénia). 

A este propósito, recordamos alguns textos disponíveis no acervo do Ciberdúvidas: «O português de Portugal está ficando mais brasileiro?», «A língua e os seus proprietários», «Como se ensina uma língua pluricêntrica?», «O que queremos desta língua?», «O brasileiro já é a língua do Brasil?». Nota ainda para a polémica recente desencadeada pela entrevista do jornalista brasileiro Sérgio Rodrigues ao jornal Expresso, que motivou reações como a do jornalista Miguel Sousa Tavares.

2. A identificação da função desempenhada pelo pronome relativo que é um dos aspetos que oferecem dificuldades aos alunos no âmbito do estudo da sintaxe. Abrimos a atualização do Consultório com o esclarecimento relativo aos processos que permitem identificar as situações em que o pronome tem a função de complemento direto. Poderão também ser consultadas várias respostas de âmbito sintático: a sintaxe de «cair no esquecimento», a colocação do clítico em «bons olhos o vejam», a regência do verbo importar-se e as construções com o verbo retaliar. No plano semântico-lexical, esclarecemos as dúvidas relacionadas com a forma registrar e as diferenças entre lembrar e relembrar. Ainda um esclarecimento sobre algumas formas de tratamento e sobre o conceito de géneros digitais.

3.  A consultora Inês Gama apresenta um apontamento sobre as palavras elegível e ilegível, as quais estabelecem relações de dissemelhança no plano gráfico, mas são frequentemente articuladas da mesma forma, uma vez que tradicionalmente muitos ee átonos e a começar palavra (pré-tónicos) tendem a ser pronunciados como [i] (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).

 4. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos os seguintes:

– Lançamento do romance À Procura dos Rinocerontes Perdidos, da autoria de Fernanda Melo Alves, nas edições Cordel de Prata (notícia);

– Festival Fólio, uma edição subordinada ao tema "Inquietação", que decorrerá em Óbidos, entre 10 e 20 de outubro (mais informações);

– A atribuição do Prémio Literário António Gedeão 2024 para a poesia a Rui Lage, com a obra Firmamento, da Assírio & Alvim (notícia). 

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Que textos podem constituir-se como fonte e modelo dos usos linguísticos normativos? Esta é a pergunta de um debate inesgotável que nos últimos tempos, no Brasil, tem motivado intervenções críticas de certas conceções da norma culta com origem universitária. Em Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do gramático Fernando Pestana, que, sobre a questão, reúne alguns dados e se interroga sobre o valor dos textos jornalísticos como fonte confiável da norma-padrão. Este é mais um texto que se soma aos que o Ciberdúvidas tem recolhido a propósito do problema da definição da norma culta e do da autonomia da variedade brasileira; são eles: "'Me empurra' e 'empurra-me'",  "Norma culta brasileira", "Era uma vez um estrangeiro que desejava aprender 'brasileiro'", "Quem dera que fosse ficção...", "Sabe aquela sensação... ?", "A evolução esbarra na educação", "Os 'peixe'", "Ó pá, fique lá com o seu gerúndio e deixe o Camões em paz!", "Bilinguismo luso-brasileiro", "Sobre a língua brasileira", "'O brasileiro'?!", "O 'jeitinho brasileiro' de falar ", "O português de Portugal está em risco?".

Na imagem, Fonte da Pipa, c. 1915, aguarela sobre cartão, de Álvaro da Fonseca (1887-1920) (crédito: Almada na História. Boletim de Fontes Documentais, 27/28, 2014).

2. É inegável o progresso dos tradutores automáticos, mas serão eles de fiar? No Pelourinho, o consultor Paulo J. S. Barata dá conta da confusão entre férias e feriados num aviso em que provavelmente a tradução automática do italiano para o português não correu da melhor maneira. Na mesma rubrica, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, assinala a frequente prolação errada do topónimo Salém em noticiários das televisões portuguesas, acerca da peça As Bruxas de Salém, do dramaturgo norte-americano Arthur Miller, em cena até 06/10/2014 no Teatro São João (Porto).

3. A frase «chegando a casa, foi dormir» terá ou não o mesmo significado que «tendo chegado a casa, foi dormir»? Na presente atualização do Consultório, além dos valores das formas simples e composta de gerúndio, são tópicos em questão a correção dos termos reconchegar e deleonismo, o significado de «primos paralelos» e «primos cruzados», a diferença semântica entre os adjetivos choroso, lagrimoso e plangente, a vírgula entre duas conjunções seguidas, a grafia de niilismo, o uso de artigo definido com determinante possessivo, o uso demonstrativo de o numa estrutura de coordenação e a expressão «fora de órbita».

4. No século XIX, a influência da língua francesa foi especialmente intensa em Portugal, país que, entre 1807 e 1810, também se confrontou com o poder militar de França, ao sofrer três invasões dos exércitos de Napoleão. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama explora algumas das expressões idiomáticas alusivas aos contactos históricos entre Portugal e França. Ainda em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato aborda a origem e significado de fanfic, termo referente a um tipo de narrativa geralmente criada e partilhada por fãs na Internet, utilizando personagens ou universos de obras já existentes.

5. Comemora-se em Portugal a implantação da República, ocorrida em 5 de outubro de 1910. Relativamente a aspetos associados à palavra república, sugere-se a consulta de "Os usos de bolsonarista, a função dos adjetivos, a «ocidental praia lusitana» e o nome república", "'Viva a República' e 'vivà República'" e "As palavras república e monarquia". Registe-se que, na mesma data, se celebra o Dia Mundial dos Professores.

6. Em 2024, o anúncio dos Prémios Nobel faz-se entre 7 e 14 de outubro (cf. página em inglês da organização do Prémio Nobel), e a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) promove um encontro de especialistas em 23 e 24 de outubro «para discutir as contribuições e mérito dos galardoados com os Prémios Nobel 2024» (mural da ACL no Facebook em 04/10/2024). Como sempre, convém aqui lembrar que o nome Nobel deve pronunciar-se como palavra aguda, isto é, como "nobél", e não "nóbel". Sugere-se a (re)leitura de alguns dos muitos conteúdos que o Ciberdúvidas dedica ao tema: "Nobel", "Nóbel ou Nobél?", "Ainda o Nobel", "Como (bem) dizer ONU e Nobel... em português", "Fugiu o Nobel, ficou o erro", "Nobel, palavra oxítona (aguda): /Nobél/", "Outra vez a pronúncia de Nobel".

7. Recorda-se que decorre, até 6 de outubro p. f., o 39.º Colóquio da Lusofonia, uma iniciativa do jornalista e escritor Chrys Chrystello. Nesta edição, que tem lugar na Biblioteca Municipal de Vila do Porto (Santa Maria, Açores), são homenageados os escritores Pedro Almeida MaiaArsénio Puim, bem como, postumamente, Helena Chrystello, vice-presidente da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia.

8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 04/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora universitária Rita Marnoto (Universidade de Coimbra) fala sobre Camões e a identidade literária do português. Discutem-se ainda o papel do épico na consolidação da nossa língua como veículo literário e os reflexos que Os Lusíadas eternizam na língua e na cultura portuguesas.

– Camões é também o tema principal da conversa com a professora jubilada Fátima Mendonça (Universidade Eduardo Mondlane) em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 06/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 12/10/2024, às 15h30*). O programa inclui também um apontamento gramatical de Inês Gama, que esta semana discorre sobre os termos elegível e ilegível.

– Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.