1. As notícias podem dar destaque à turbulência política e militar no mundo, com imediatismo e trágica espetacularidade, mas também globalmente há atividades e processos com outras escalas, de intuitos construtivos. Refira-se, por exemplo, com vista ao desenvolvimento social das populações, a intervenção de organizações internacionais na promoção de políticas educativas, abrangendo medidas de integração da diversidade linguística. Uma dessas entidades é o Banco Mundial (BM), que concede crédito e realiza estudos para o desenvolvimento de planos educativos nos diferentes países. Na Montra de Livros, apresenta-se a tradução em português de Em Alto e Bom Som: Políticas de Língua de Instrução Eficazes Para a Aprendizagem, que o BM lançou em 2021 com o objetivo de propor novas abordagens na alfabetização e ensino de línguas. Revela-se aí que 37% dos estudantes em países de rendimento médio e baixo veem comprometidos o seu rendimento académico e a permanência na escola por o ensino não ser feito na língua que falam e compreendem melhor. Como se diz na apresentação deste documento, esta e outras conclusões são com certeza «um mote interessante para uma reflexão mais alargada sobre o papel da língua portuguesa no sistema educacional de certos países, sobretudo, os PALOP».
* Para uma reflexão sobre este tema, leia-se, de Vivian Duarte Couto Fernandes e Gilberto José Miranda, "Banco Mundial e UNICEF na discussão da política global de educação: como essas organizações internacionais conquistaram relevância no debate educacional?", Revista de Estudos Internacionais, vol. 133, n.º 2, 2022. Imagem retirada do vídeo que acompanha a versão em inglês do documento Em alto e bom Som.
2. Muitas plataformas digitais têm vindo a degradar a qualidade dos seus serviços com excesso de publicidade e avidez pelo lucro. Em inglês, o fenómeno é conhecido polemicamente como enshittification, cuja transposição em espanhol dá mierdificación (digital). Em português, além da fácil e transparente adaptação da forma espanhola, que dizer de "embostificação" e "embostificar"? Em Controvérsias, a consultora Sara Mourato tece algumas considerações sobre este tópico.
3. Em O Nosso Idioma, um apontamento (no Facebook , 27/11/2024) do gramático Fernando Pestana dá conta da censura que no Brasil recai sobre o uso anafórico de «o mesmo», uma "jabuticaba", isto é, uma singularidade da doutrina normativa brasileira.
4. Na perspetiva do fenómeno da dêixis, como analisar o verso pessoano «o que em mim sente está pensando»? A pergunta encontra-se no conjunto de sete questões que atualizam o Consultório e se referem também à morfologia – "A formação de sobreconfiança" –, à sintaxe – "Ter permissão de" vs. "ter permissão para", – à semântica – "Uso genérico de substantivos" –, às classes de palavras – "A subclasse de converter" –, ao léxico – "O anglicismo 'shipar'" – e à variação linguística – "O advérbio adentro".
5. Quanto à rubricas em vídeo do Ciberdúvidas, fala-se do plural de Pai Natal, em Ciberdúvidas Responde, para assinalar o começo da época natalícia; e, com a participação da Escola Portuguesa de Díli (Timor-Leste), explica-se a noção de campo lexical em Ciberdúvidas Vai às Escolas.
6. Nas Notícias, anuncia-se que, até 31 de dezembro, decorre o prazo para a apresentação de candidaturas à edição de 2024 do Prémio Emília Amor de Investigação em Didática do Português. Mais informação aqui.
Refira-se igualmente a sessão "Tecnologias e barreiras linguísticas", promovida pelo IPPS-Iscte e organizada no âmbito do ciclo de conversas Migrações e Desafios de Integração. A transmissão é feita no Youtube em 12 de dezembro de 2024, das 18h00 às 18h45.
7. Falando de didática, registe-se os recursos audiovisuais que nesta área se disponibilizam nos canais da televisão pública, designadamente, na RTP Ensina. Destaquem-se os seguintes vídeos: "O Amor na Idade Média", "Quem é Eurico, o Presbítero?", "Português Língua Não Materna, para romenos", "A Floresta Relíquia, um tesouro ancestral", "Recursos expressivos que embelezam um texto" e "Sim, eu consigo".
8. Conteúdos de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 29/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares fala sobre o uso do verbo avisar. Inclui-se ainda a análise de um poema de Vinicius de Moraes, "O Falso Mendigo, feita por Carlos Rocha, professor e coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
– A coordenadora do ensino do português do Camões IP para Espanha e Andorra, Filipa Soares, apresenta as XXV Jornadas de Atualização Docente de PLE 2024 – Recursos audiovisuais no ensino do PLE: manual de instruções, que terão lugar nos dias 29 e 30 de novembro, no Camões – Centro Cultural Português em Vigo, em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 01/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 07/12/2024, às 15h30*). Participa também a professora Carla Marques, com um apontamento sobre a classificação a expressão «ora essa».
– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher assinalou-se a 25 de novembro. A data é celebrada pela ONU desde o ano de 1999, em homenagem simbólica às irmãs Mirabal (Patricia, Minerva e María Teresa), que lutaram contra a ditadura de Rafael Trujillo, na República Dominicana e que, devido às suas ações, foram assassinadas de forma violenta, a 25 de novembro de 1960. Este evento associa-se ao Dia Laranja (Orange Day), uma campanha organizada pela ONU, que convida a que, no dia 25 de cada mês, se vista uma camisola laranja, numa ação de denúncia da violência exercida sobre meninas e mulheres. A cor laranja foi selecionada como símbolo de um futuro mais brilhante e sem violência. Neste contexto discursivo, podemos assinalar o uso de palavras-chave, como feminicídio («assassinato de uma mulher»), que já se encontra dicionarizada. Continuamos, contudo, a registar o recurso a muitos anglicismos, para os quais urge encontrar correspondente em língua portuguesa. Entre eles, destacamos termos como gaslighting, que descreve um tipo de manipulação psicológica que consiste numa distorção da realidade feita pelo abusador, de forma a levar a vítima a duvidar da sua memória. O termo formou-se no inglês a partir do título do filme de 1944 Gaslight, que contribuiu para a popularização do termo. O filme (adaptação de uma peça teatral) conta a história da manipulação psicológica de uma mulher (papel desempenhado por Ingrid Bergman) por um marido abusador. Seguindo o percurso de formação da palavra em inglês, por meio de um processo de extensão semântica, podemos propor, para o português, a construção «fazer meia-luz» (Meia Luz foi o título dado ao filme em português). Outros termos relevantes para esta área são stalking, de onde já se formou o verbo "stalkear", que mantém uma estrutura de matriz inglesa. Estes termos descrevem comportamentos de assédio ou de perseguição obsessiva e poderão ser substituídos por palavras portuguesas como perseguição – perseguir ou assédio – assediar. De referir ainda o uso de expressões como «revenge porn» (que descreve o ato de expor, na internet, fotografias íntimas de terceiros e que se poderá traduzir como «pornografia de vingança») e sextorsion (uma forma de chantagem baseada em fotografias íntimas da vítima ou em vídeos sexuais onde esta apareça explicitamente, com o objetivo do obter dinheiro ou favores sexuais, presenciais ou via internet, por parte da pessoa chantageada). Como tradução, tem sido usado o termo sextorsão.
2. Na obra de Eça de Queirós, Os Maias, surge a expressão «saíam às cinquenta, às cem moedas...», cujo significado, em sincronia, é já um pouco opaco. Na atualização do Consultório, apresenta-se a explicação da construção queirosiana. A esta resposta juntam-se outras: «A pronúncia do topónimo Mariz», «A sintaxe de fundamental e evoluir», «Marcadores discursivos: «no final» e «em conclusão»», «Melhoria vs. melhora», «Fazer causativo e orações de infinitivo», «Coesão referencial: «Nesse aspeto, o Reino do Butão...»» e «Adjunto adverbial: «Nem um»».
3. O desafio linguístico desta semana está relacionado com a expressão «dez-réis de mel coado», cujo significado é explicado pela professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. Na rubrica O Nosso Idioma, partilhamos, com a devida vénia, um texto do editor e revisor brasileiro William Cruz, no qual o autor reflete sobre a importância dos estudos de estilística, como forma de analisar e compreender as potencialidades da exploração literária da língua: «os estudos estilísticos nos ajudam a desfazer a ideia de que a preocupação com a forma é mero artificialismo. Ideias corretas, verdadeiras e úteis podem jazer esquecidas numa prateleira empoeirada simplesmente porque lhes faltou o brilho do estilo [...] a estilística detém um excelente ferramental para educar a nossa sensibilidade linguística. O campo da estilística não é o do certo e do errado, mas o da experimentação: o que acontece se eu disser assado e não assim?»
5. Entre os eventos de relevo, destacamos:
– A ação de formação de professores coordenada pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa: Áreas críticas da análise gramatical: a didática da gramática com o Ciberdúvidas, que será assegurada em parceria com o Centro de Formação Professora Maria Helena Mira Mateus, da Associação de Professores de Português (e cuja primeira edição se encontra já esgotada);
– A atribuição do Prémio de Literatura dstangola/Camões a Jorge Arrimar pela obra Cuéle – O pássaro troçador (Editora Guerra & Paz).
1. Depois da autorização dos EUA para as forças militares ucranianas usarem mísseis de longo alcance, ganham relevo informações incertas de uma resposta armada da Federação Russa, que teria lançado um «míssil balístico intercontinental», mas que o presidente Vladimir Putin afirma ser um «míssil balístico experimental». De mísseis também se fala, a respeito da guerra no Médio Oriente (ler aqui e aqui). E, enquanto o encerramento da COP29 deixa dúvidas sobre uma concertação mundial para defesa do ambiente, foca-se uma vez mais o rescaldo das eleições nos EUA, desenhando-se, segundo alguns analistas, uma "mudança de regime", no sentido plutocrático. Míssil e a família de palavras de plutocrata tornaram-se recorrentes na comunicação social, e, portanto, vale a pena deixar um rápido comentário a cada uma. Como se assinala numa resposta em arquivo, míssil é originariamente um adjetivo que, por conversão, se emprega sobretudo como nome; a palavra vem do adjetivo latino missĭlis, e «lançável, arremessável», mas a sua difusão em português, com registos, pelo menos, desde 1881, deve ter sido motivada, como noutras línguas, pela expressão francesa «arme missile», que se reduzia elipticamente a missile. Relativamente a plutocrata, é, como plutocrático, palavra da família de plutocracia, termo surgido em português por volta de 1870 e originário do grego, mas não por via direta. Com efeito, o vocábulo plutocracia terá sido motivado pelo inglês plutocracy e francês ploutocracie, palavras de intenção pejorativa que significam em ambas as línguas «governo exercido pelos mais ricos», adaptando o grego ploutokratía, composto formado pelos radicais de ploutos, «riqueza», e krátos, «força, poder, autoridade». Não dando a etimologia a essência do significado hodierno das palavras (leia-se, do filósofo André Barata, "Etimologia", Público, 15/11/2024), parece, mesmo assim, que a presença de míssil e plutocracia no discurso mediático não promete vida sossegada para todos.
Fontes de informação: Dicionário Houaiss, Trésor de la Langue Française e Online Etymology. Sobre «míssil balístico» e «míssil intercontinental», ver as subentradas a míssil no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Consultem-se ainda a Abertura de 22/03/2024 e "Dividocracia" (14/07/2011), de Paulo J. S. Barata. Crédito da imagem: Gerd Altmann, Pixabay, 22/112024.
2. Se não fosse dramática ou trágica, dir-se-ia que a atual situação internacional tem o seu quê de rocambolesco. A este adjetivo, dedica a consultora Inês Gama na rubrica um apontamento na rubrica O Nosso Idioma, texto em que outro adjetivo sufixado por -esco, quixotesco, é igualmente objeto de atenção.
3. Apesar do panorama sombrio apresentado por muitas notícias, noutras áreas de atividade fala-se em ansiar por algo positivo, por exemplo, uma vitória num campeonato desportivo. Mas não é objetivo fácil, a começar na gramática, como assinala no Pelourinho a consultora Sara Mourato, que comenta o erro cometido pelo treinador de um famoso clube do futebol português ao conjugar o verbo ansiar.
4. Diz-se «foi-se embora» ou «foi embora»? A esta, juntam-se seis novas respostas, no total de sete que atualizam o Consultório, onde também são tópicos em questão: a colocação dos pronomes átonos depois das locuções «antes de» e «depois de»; o uso intransitivo do verbo arder; adjuntos adverbiais que encerram apostos; o emprego correto da construção «ser fácil de»; a classificação de pão como nome contável e não contável; e a expressão regional «em moco».
5. Temas dos projetos que o Ciberdúvidas desenvolve em vídeo:
– a partir da expressão «ficar em Timor», esclarece-se a noção de predicativo do sujeito e a sua associação a verbos copulativos no episódio 7 de "Ciberdúvidas Vai às Escolas", no qual participou a Escola Portuguesa de Díli, em Timor-Leste;
– no episódio 10 de "Ciberdúvidas Responde", fala-se do plural de bolo-rei, em alusão da quadra natalícia, que se avizinha.
6. Nas Notícias, dá-se conta da chamada de trabalhos para a 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes (11th International Conference on Pluricentric Languages and their Non-Dominant Varieties), que decorre de 22 a 24 de maio de 2025, no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, em formato híbrido.
7. Registos com interesse para o debate da situação da língua portuguesa nos dias de hoje:
– o artigo de opinião "O que é um erro de português", que o professor e linguista José Luís Landeira assinou no Público Brasil em 16/11/2024;
– o texto intitulado "Língua portuguesa e os desafios da Inteligência Artificial", de Ana Paula Laborinho, diretora em Portugal da Organização dos Estados Ibero-Americanos, e incluído no Diário de Notícias, em 18/11/2024.
8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– A entrevista a Ana Sousa Martins, coordenadora do projeto Ciberescola, galardoado com o Prémio Sonae Educação, na edição de 2024, em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 22/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 24/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 30/11/2024, às 15h30*), emite-se uma entrevista com os professores Cristine Gorski Severo, Ezra Alberto Chambal Nhampoca e Ezequiel Pedro José Bernardo sobre a obra Políticas Linguísticas Educacionais em Contextos Africanos.
Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O primeiro-ministro português Luís Montenegro anunciou, por ocasião da abertura da Web Summit, em Lisboa, que Portugal vai lançar um LLM ("Large Language Model"), que receberá o nome de Amália, e terá o objetivo de colocar o país no centro da inovação e de proteger a língua portuguesa. O LLM designa-se, em português, «grande modelo de linguagem» e constitui um modelo de aprendizagem profunda ("deep learning"), que é capaz de realizar autoaprendizagem, após treino inicial, e é desenhado para absorver grandes quantidades de informação. Estes modelos são importantes porque têm a capacidade de realizar uma panóplia muito diversificada de tarefas, como responder a perguntas, resumir documentos, realizar traduções e escrever ou completar textos. Os LLM são usados em articulação com a Inteligência Artificial para produzir conteúdos com base em pedidos realizados por seres humanos, com possibilidades como as que ficam patentes tanto no GPT-3 como no GPT-4 ou no ChatGPT, todos desenvolvidos pela Open AI, que fazem uso de modelos de linguagem desta natureza. O primeiro-ministro considerou a decisão tomada um «passo crítico» para o ensino, para a administração pública e para as empresas, sendo esta uma área que pode ser crucial para a afirmação da língua portuguesa no contexto da posição cada vez mais estratégica da Inteligência Artificial.
Primeira imagem: criada pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa usando inteligência artificial
2. Na Montra de Livros, divulgamos a obra Línguas e Culturas (Edições Paulinas, 2024), da autoria de Bonifácio Tchimboto, uma publicação onde o autor se dedica a questões relacionadas, num primeiro momento, com a etnolinguística e, numa segunda parte, com a literatura africana.
3. No Consultório, atualizamos as respostas a dúvidas relacionadas com os seguintes tópicos: a expressão do grau por processos morfológicos e sintáticos, a sintaxe do verbo gastar e a regência do nome reconhecimento. Incluímos também duas respostas dedicada à análise oracional, incidindo em áreas que oferecem dúvidas aos consulentes como a subordinação completiva de nome ou o valor de uma oração gerundiva. Por fim, analisa-se a possibilidade de presença de dêixis pessoal numa frase, identifica-se o género do nome de um programa informático e apresenta-se um parecer sobre a correção das estruturas «na soleira» e «à soleira».
4. O valor da locução «a par com» e a sua relação de equivalência com a locução «a par de» está no centro do apontamento da professora Carla Marques para a rubrica Dúvida da semana, divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2.
5. A questão do preconceito linguístico e das suas consequências no desempenho escolar e na afirmação profissional e social dão matéria ao artigo de Ricardo Cavaliere, cuja segunda parte se divulga, e onde o autor põe em evidência as atitudes que urge adotar para combater os preconceitos fundados na forma como determinados grupos sociais usam a língua (texto partilhado com a devida vénia).
6. Entre os eventos de interesse, divulga-se a apresentação da professora brasileira Fatiha Dechicha Parahyba, intitulada A escrita do gênero projeto de pesquisa: reflexões sobre a apropriação e a mobilização dos saberes, que ocorra no EMDA 23, no dia 28 de novembro de 2024, entre as 14h30 e as 16h00* (formato a distância, disponível nesta ligação).
*hora de Portugal continental
1. Entre as expetativas criadas (ou goradas) pela COP 2029 que decorre em Bacu, a capital do Azerbaijão (ver "COP29: glossário daquilo de que se fala na cimeira"( Público, 11/11/2024) e as reações ao resultado das eleições nos EUA, não falta matéria internacional para os noticiários em Portugal. Os temas também abundam no plano nacional, destacando-se a crise no INEM (sigla de Instituto Nacional de Emergência Médica) e a Web Summit, encontro que se realizou em Lisboa, oferecendo ao primeiro-ministro português, Luís Montenegro, a oportunidade para anunciar o lançamento, em 2025, de um modelo de linguagem de Inteligência Artificial (IA) para o português. E em muito do que se lê ou ouve detetam-se erros persistentes, pequenos ou grandes, que, difundidos na comunicação social, configuram aquilo a que ainda se chama «linguagem viciosa» na gramática prescritiva. Este é, portanto, o mote de um apontamento incluído no Pelourinho, no qual a autora, a linguista Carmen Gouveia, reúne e corrige alguns dos modismos e maus usos recorrentes nos canais de televisão em Portugal.
À volta de erros viciosos, sugere-se a consulta de outros conteúdos em arquivo: "Vícios de linguagem", "Vícios de linguagem... mediática", "Pronto, 'prontos' e 'prontes'", "O modismo expectável", "Fazer – um verbo a fazer as vezes de", "Pleonasmo", "Pleonasmos viciosos".
2. Uma canção recente, Imperial é fino, interpretada por Ana Bacalhau e Claúdia Pascoal e escrita por Capicua, leva a consultora Inês Gama a refletir sobre a variação regional do português europeu, a qual gera, por vezes, uma competição linguística saudável entre alfacinhas (lisboetas) e tripeiros (portuenses).
3. Na rubrica Montra de Livros, apresenta-se A arte de gostar de ler (Livros Horizonte, 2024), um livro de Carlos Nuno Granja, com o objetivo de transformar o ato de ler numa experiência de prazer e crescimento.
4. Acerca do seu estilo de escrita, pode dizer-se que um texto é esquálido? A resposta faz parte do conjunto de sete que atualizam o Consultório e abrangem igualmente outros tópicos: a substantivação do verbo olhar; a repetição da preposição de em «saco de farelo de milho»; a sintaxe de «licenciado por...»; a formação do nome litrada; a oração de gerúndio em «ouviu José falando»; e o adjetivo último.
5. Quanto aos novos projetos do Ciberdúvidas, em Ciberdúvidas Vai às Escolas, a professora Carla Marques explica o que são os deíticos, enquanto a locução «por que», tal como se escreve e usa o Brasil, é comentada pelo gramático Fernando Pestana.
6. Outros registos relacionados com a promoção científica e cultural da língua portuguesa:
– a chamada de trabalhos para o 6.ª Congresso Internacional de Neologia em Língua Românicas (CINEO 2025), que tem lugar de 7 a 9 de julho de 2025 na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra;
– enquadrada nas comemorações dos 500 anos do nascimento de Camões e por iniciativa da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, a estreia da cópia digital restaurada do filme Camões (1946), de Leitão de Barros (1896-1967).
7. Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre temas da língua, salientam-se:
– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 15/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se Sónia Reis (Universidade do Algarve) sobre a Inteligência Artificial e a criação e classificação automática de corpus de narrativas a partir de provérbios para o ensino de Português Língua Estrangeira;
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 17/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 23/11/2024, às 15h30*), João Pedro Aido, presidente da Associação de Professores de Português (APP), fala a respeito do declínio dos resultados das provas de aferição de Português. Ainda o apontamento gramatical de Carla Marques, esta semana sobre o uso correto de locuções.
Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O português foi levado para o Brasil nos inícios do século XVI. Aí contactou com as línguas das populações indígenas, com as línguas africanas trazidas pelos escravos e ainda com as línguas dos povos que, sobretudo a partir dos meados do século XIX, emigraram para o Brasil. Tendo sofrido um processo evolutivo próprio, o português do Brasil apresenta atualmente características gramaticais que o distinguem do português falado na Europa, um facto que periodicamente alimenta posições "separatistas" que advogam que estamos já perante duas línguas autónomas e não perante duas variedades da mesma língua. Esta perspetiva foi recentemente defendida pelo linguista Fernando Venâncio, que sustentou que a evolução linguística ocorrerá no sentido do afastamento gradual dos dois idiomas, uma visão que gerou uma grande controvérsia. Entre os que assumem uma posição discordante encontra-se o gramático brasileiro Fernando Pestana, que, no seu apontamento intitulado «Não é de hoje...», sustenta que o fenómeno da emigração aproxima o povo português e o brasileiro e mantém o idioma unido na sua diversidade (partilhado, com a devida vénia, na rubrica Controvérsias). A questão da diversidade é também pertinente quando se considera o próprio português do Brasil, que, no seu interior, evidencia diferenças muito acentuadas em particular na oralidade e em planos mais específicos como o léxico ou a sintaxe. Este fenómeno coloca questões muito complexas quando se observa que ele pode funcionar como um fator de segregação social, sendo uma barreira ao sucesso escolar. É neste plano que, segundo o professor universitário brasileiro Ricardo Cavaliere, a questão da norma e do seu ensino se pode tornar muito relevante, pois, como afirma, «praticamente todo o processo educacional do indivíduo se faz pela linguagem, seja em língua oral ou escrita. A capacidade de atuar como sujeito agente e sujeito receptor dos padrões de língua oral e escrita revela-se, pois, indispensável para uma completa formação educacional. Com efeito, leitores incipientes têm maiores chances de insucesso na vida profissional em face da incapacidade de enriquecer o conhecimento das coisas e do mundo pela autoinstrução.» (partilhamos, com a devida vénia, a primeira parte do artigo).
No acervo do Ciberdúvidas estão disponíveis muitos textos sobre questões linguísticas relacionadas com esta temática. Entre eles destacamos: «Brasil, Portugal e esta língua que nos (des)une»; «E o Brasil criou uma língua. Também é português»; «É prunúncia purtuguesa, ó pá!»; «Por que é melhor não tratar ninguém por “você” em Portugal»; «Eu digo “Brasiu’, ele diz ‘Purtugal’»; «Bilinguismo luso-brasileiro»; «Sobre o português do Brasil».
Primeira imagem: criada com inteligência artificial.
2. A significação da palavra obsoleto dá matéria ao apontamento da consultora Inês Gama, no qual aborda também as relações de sinonímia e de antonímia que estabelece com outros termos (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).
3. Na atualização do Consultório, partilhamos um conjunto de respostas relacionadas com temas lexicais, desde a significação de palavras e expressões, à sua forma correta ou grafia, passando pela sua classificação: «O verbo repercutir»; «A expressão «estar a fim de (algo/alguém)»»; «O gentílico de San Diego (EUA)»; «O substantivo míni»; «Nome comum coletivo: nação». Incluímos, ainda, um conjunto de questões de natureza sintática: «Complemento oblíquo: «passear pelo jardim»», «O verbo vestir»; «A conjunção que e ênclise pronominal». Por fim, trata-se um aspeto de pragmática relacionado com os atos ilocutórios: «Ato ilocutório diretivo indireto: «Agora é tempo de...»».
4. Entre os acontecimentos de interesse, destacamos:
– O Ciclo de debates na Biblioteca Nacional de Portugal, intitulado «Camões: entre a História e a Lenda», que, na quarta-feira, dia 13 de novembro, pelas 17h, contará com a presença de Carlos Bobone e Vanda Anastácio;
– A atribuição do Prémio Jabuti à escritora brasileira Marina Colasanti, considerada a Personalidade Literária da 66.ª edição.
1. A atualidade anda marcada pelo resultado das eleições norte-americanas, que se realizaram em 5 de novembro e das quais Donald Trump saiu incontestavelmente vencedor. O acontecimento justifica mencionar o prefixo super-, que associado a vitória, permite formar supervitória. Recorde-se que super- é hoje muito produtivo na formação de superlativos como superinteligente e super-rápido; pode também tornar-se palavra autónoma e ser categorizado como nome, dando, por exemplo, súper, forma curta de supermercado. Sobre o prefixo super-, cabe frisar que nunca se escreve com acento gráfico, nem mesmo quando hifenizado, como acontece com o caso de super-homem, vocábulo que tanto evoca heróis de banda desenhada como ideias controversas. A grafia do prefixo super- é precisamente o tema de uma das oito respostas que atualizam o Consultório e abrangem ainda outros tópicos: os topónimos Cagliari e Sande (com Sendim); a transitividade de ligar; o uso de imaginar com predicativos e a possibilidade de um grupo preposicional ser predicativo do sujeito; o adjetivo simpático referido a coisas e lugares; e o funcionamento de conforme e consoante como conjunções.
Na imagem, O viajante sobre um mar de névoa (c. 1817, Hamburger Kunsthalle), conhecido quadro do pintor alemão Caspar David Friedrich (1774-1840). Ver também João Gomes da Silva, "O viajante", Jornal Arquitetos, 2007, pp. 32/33.
2. Na Montra de Livros, apresenta-se o segundo volume da obra As cores de Abril, com o subtítulo Abril, o sonho em construção, o qual reúne, tal como o primeiro volume, um conjunto de artigos sobre a revolução de 25 de Abril de 1974 e no âmbito das comemorações dos 50 anos deste acontecimento.
3. Em Lisboa, o turismo dá azo ao cúmulo de, na restauração, a língua que se lê, fala e ouve é o inglês, e não o idioma nacional. No Pelourinho, transcreve-se parcialmente, com a devida vénia, um trabalho da jornalista Fernanda Câncio (Diário de Notícias, 03/11/2024) acerca dos excessos anglófonos na vivência da capital portuguesa.
4. Qual será a melhor maneira de aprender português em Lisboa? Apesar da vaga anglicista, as tradicionais pastelarias, onde se servem cafés, galões e pastéis de nata, são ainda lugares da aprendizagem ao vivo da língua mais genuína. É o que se conclui em O Nosso Idioma, com uma bem-humorada crónica da jornalista arménia Raya Khachatryan, desde 2022 a residir em Lisboa, sem perder a paciência com as idiossincrasias alfacinhas no uso da língua.
5. Os projetos do Ciberdúvidas continuam com novos episódios. Em Ciberdúvidas Responde (episódio 8), fala-se do adjetivo somativo, e em Ciberdúvidas Vai às Escolas, uma aluna do Agrupamento de Escolas de Nelas (Viseu) pergunta: porque não é formado por parassíntese o advérbio infelizmente?
6. Nas Notícias, dá-se conta de atribuição, em 05/11/2024, do Prémio Sonae Educação 2024 à Ciberescola, projeto da Associação Aprendo Português, e da realização do encontro Leitura: prazer ou obrigação?, promovido pelo Plano Nacional de Leitura e realizado em 08/11/2024 na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
7. Outros registos com incidência no debate, estudo e ensino da língua portuguesa:
– as Conferências da Academia às Quintas-feiras, uma iniciativa da Academia Angolana de Letras (programa de novembro aqui);
– o artigo de opinião "O português como política pública", de José Luís Landeira, que o assinou no Público Brasil;(03/11/2024);
– o 1.ª Encontro Internacional sobre Lexicografia, Lexicologia e Terminologia em Angola, que decorre em Luanda, de 13 a 15/11/2024 (informação aqui);
– O Encontro Lexicográfico entre Academias – Academia das Ciências de Lisboa/ Academia Brasileira de Letras, que se realiza em 13/11/2024, às 15h00 na Academia das Ciências de Lisboa (regime híbrido);
– o inquérito que a Associação de Professores de Português está a levar a cabo, para revisão dos documentos das Aprendizagens Essenciais, em vigor nos ensinos básico e secundário de Portugal (mais informação aqui).
8. Temas de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica a temas do português:
– O impacto de um ensino intercultural comunicativo na aprendizagem do género gramatical nominal em português por imigrantes adultos é o tema da conversa com Bruno Costa em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 8/11/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 10/11/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 16/11/2024, às 15h30*), entrevista-se a coordenadora da Ciberescola, Ana Sousa Martins, sobre a atribuição do Prémio Sonae Educação 2024 a este projeto. Transmite-se ainda uma conversa com a professora Sónia Reis (Universidade do Algarve) acerca da Inteligência Artificial no ensino de línguas, nomeadamente, do português. Ainda o apontamento gramatical de Inês Gama, assistente editorial do Ciberdúvidas, sobre a sinonímia do termo obsoleto;
– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. As eleições para a presidência dos Estados Unidos decorrem presencialmente ao longo do dia 5 de novembro. Pela importância que assume, este ato eleitoral deixa o mundo em suspenso, uma vez que o seu resultado poderá ser determinante para várias situações internacionais, como a guerra na Ucrânia ou o conflito israelo-palestino. Independentemente do seu desfecho, toda a campanha eleitoral já fez história em vários planos, tendo sido considerada, por diversos especialistas na área, como aquela que evidenciou a maior polarização de sempre. O termo polarização (do latim polus, i, via grego πóλος, que significa «ponto de apoio, eixo (do mundo), cúpula celeste, estrela polar, norte») é entendido como descrevendo o resultado de uma interação entre dois polos, neste caso, do plano político. Encontramo-nos perante um fenómeno que se ficou a dever sobretudo à apresentação progressiva de ideias muito distantes e, por vezes, completamente opostas por parte dos dois candidatos, que se foram afastando em áreas como a economia, a imigração ou o próprio contexto de guerra no mundo. A recente campanha política protagonizada por Donald Trump e Kamala Harris ficou ainda marcada por aquilo que foi já descrito como a normalização do insulto. O substantivo normalização (do latim normālis, com o significado de «feito com esquadro, normal») descreve o processo ou o resultado de normalizar, ou seja, da ação desenvolvida de forma a que uma dada situação se enquadre no que é considerado habitual, padronizado. Neste caso, o objeto de normalização foram os insultos, uma área lexical que habitualmente não integra o discurso político, pela descortesia que convoca. No entanto, no caso das presentes eleições, o tom crescente da retórica da agressividade levou a que os insultos fossem surgindo, com particular acuidade nos discursos de Trump, que, por exemplo, considerou a sua opositora «burra que nem um calhau» e apodou Joe Biden de «sacana estúpido». Também este último, ainda Presidente dos Estados Unidos, referiu-se aos apoiantes do candidato republicano como «lixo». Tanto os insultos como as palavras grosseiras costumam estar abrangidos pelo tabu linguístico, o que leva a que, em determinados contextos sociais, exista um acordo tácito que leva a que certos termos não sejam mobilizados no discurso por serem considerados inconvenientes por alguma razão de ordem moral ou religiosa. Com Trump, estes limites foram quebrados e a injúria passou a ser sentida como normal, o que, na ótica de muitos, significa um aviltamento da retórica política. Uma opção discursiva que, gradualmente, tem vindo a ganhar seguidores um pouco por todo o mundo.
2. No Consultório ficam disponíveis as respostas às seguintes questões: «Cultura e solidário são palavras simples ou complexas?», «Qual a diferença entre conjunções correlativas e advérbios conectivos?», «O advérbio ali pode ser deítico e anafórico?», «Como distinguir orações adjetivas relativas de orações completivas?», «Os advérbios não e apenas podem surgir na mesma frase?», «Devemos usar a forma chamo-me ou chamam-me?», «Qual a diferença entre montanha e serra?» e «É correta a construção «comprar de alguém»?».
3. A Universidade de Aveiro lançou uma publicação intitulada Abril, o florir dos cravos, com o objetivo de manter viva a memória do 25 de Abril. Apresentamos na Montra de Livros o primeiro volume da publicação, composto por «artigos que abordam o fim da censura e a conquista da liberdade através de análises daquilo que era dito pela imprensa nacional e internacional sobre as consequências da revolução».
4. O uso da expressão «barrela de perguntas», que se revela inadequada face ao contexto de utilização, motiva o apontamento do consultor Paulo J.S. Barata para o Pelourinho, onde esclarece que a expressão a usar deveria ter sido, eventualmente, «barragem de perguntas». Ainda na mesma rubrica incluímos uma nota da consultora Sara Mourato sobre a construção «entrar num contentor de lixo».
5. Com base na frase «inocentou-se aquele réu», a professora Carla Marques explica as diferenças entre a passiva sintática e a passiva de -se, no seu apontamento para a dúvida da semana (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
1. As eleições nos Estados Unidos têm lugar no dia 5 de novembro, embora já se encontre a decorrer o período de votação antecipada. Enquanto o mundo está em suspenso aguardando o resultado do sufrágio norte-americano, as ações de campanha vão intensificando o tom com acusações muito graves de ambos os lados.As palavras são, neste contexto, muito poderosas: erguem-se em promessas de um mundo melhor, convertem-se em armas apontadas aos maiores problemas, assinalam os culpados e mostram inimigos a abater.A força retórica do discurso tem sido trabalhada desde a Antiguidade e foi mesmo, durante um longo período de tempo, considerada disciplina fundamental na formação académica porque era tida como um atributo fundamental de qualquer orador. No século XXI, sobretudo por mão dos políticos e dos seus discursos inflamados, continuamos a presenciar a força incrível das palavras que conseguem transformar um cenário normal num profundo negrume ou dourar futuros antecipados. Entre os recursos retóricos mais mobilizados no discurso político, encontramos a metáfora, uma construção conceptual que tem a capacidade de criar cenários no âmbito dos quais famílias de metáforas florescem, sendo colocadas ao serviço das intenções do locutor. Este fenómeno observa-se com toda a clareza no discurso que Donald Trump proferiu em Nova Iorque no domingo, dia 27 de outubro. Aí a metáfora foi colocada ao serviço do desenho de um contexto de guerra que exige medidas extremas, como a Lei Marcial. A professora Carla Marques analisou a construção destas metáforas no seu apontamento intitulado «Convocar a metáfora para ganhar eleições», onde incide sobre o uso da metáfora da guerra no discurso do candidato e nos efeitos que este procura atingir.
2. No Consultório, uma das questões chegadas pretende saber se a palavra segundo pode ser usada como conjunção subordinativa. A resposta apresentada abre as atualizações de hoje. A ela juntam-se oito novas respostas que poderão ser consultadas aqui: «O verbo produtizar»; «Perífrase e locução verbal»; «Modificador: «cortou a meta em primeiro lugar»»; ««Nascido e crescido», «nado e criado»»; «A expressão «conflito de interesses»»; «O que exclamativo + adjetivo»; ««Quer sentar-se» e «quer sentar»» e «Falda e fralda».
3. A propósito das novas rubricas do Ciberdúvidas, recordamos a participação dos professores Carlos Rocha e Carla Marques no programa Páginas de Português, na Antena 2, onde apresentaram os novos projetos e os seus objetivos. As rubricas Ciberdúvidas responde e Ciberdúvidas vai às escolas podem ser acompanhadas no Portal do Ciberdúvidas ou nas redes sociais associadas (Facebook, Youtube, Instagram e TikTok).
4. O uso incorreto do adjetivo caloroso na construção «receção calorosa» com o valor de «hostil; violento» motiva a reflexão do consultor Paulo J. S. Barata, que procura determinar a genealogia do erro neste apontamento disponível na rubrica Pelourinho.
5. O consultor Fernando Pestana reflete sobre as fontes onde a língua deverá encontrar os seus melhores modelos: na literatura ou nos usos quotidianos? A sua visão deste assunto encontra-se explanada no artigo «A dimensão deôntica da linguagem».
6. Na Montra de Livros, apresenta-se a mais recente obra de Onésimo Teotónio de Almeida: Diálogos lusitanos (Quetzal editores). Nela o autor trata «aspetos e figuras da vida literária portuguesa, sobretudo da segunda metade do século XX, até à atualidade norte-americana, centrada principalmente no trumpismo».
7. A concordância do nome gente com a forma verbal que acompanha levanta muitas vezes dúvidas aos falantes. Embora se trate de uma expressão de uso coloquial, há regras que determinam a correção das construções em que ocorre, como nos explica a consultora Inês Gama no seu apontamento (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).
8. Devido ao feriado de 1 de novembro, a próxima atualização fica agendada para dia 5 de novembro.
1. São já lugar-comum os relatos de equívocos gerados na comunicação entre falantes de português e espanhol. Na perspetiva da língua portuguesa, caindo na ingenuidade de julgar que o parentesco linguístico torna tudo mais fácil, emprega-se, por exemplo, espantoso como elogio – «Madrid é espantosa!» – e ofendem-se certamente os madrilenos, porque o espanhol espantoso pode querer dizer «horrível» e «muito feio». A este caso de «falsos amigos», somam-se muitos outros, como salienta a consultora Inês Gama num apontamento incluído em O Nosso Idioma.
Ver também "O portunhol e os 'falsos amigos' luso-espanhóis". Sobre outros «falsos amigos», por exemplo, os do inglês, com consequências nefastas, ler: “'Falsos amigos': frase e o inglês 'phrase'”, "Coisas da língua", "A tradução de populate", "Efetivamente eficaz e os falsos amigos do inglês" e "Aperceber-se/entender – e não 'realizar'". Crédito da imagem: Gerd Altmann, Pixabay (25/10/2024).
2. Ainda na rubrica O Nosso idioma, dá-se conta de mais um tipo de fraude informática, o quishing, palavra anglo-saxónica que a consultora Sara Mourato comenta, avaliando o seu uso em português e interrogando os limites da pressão terminológica do inglês.
3. Se a concordância verbal com a locução «a gente», de valor equivalente ao do pronome nós, é feita na 3.ª pessoa do singular, então porque o possessivo correspondente é nosso, e não seu? A resposta faz parte da atualização do Consultório, que neste dia conta com um total de oito respostas. Os esclarecimentos distribuem-se por tópicos relativos aos empréstimos (ou palavras importadas), aos nomes próprios, à concordância, à regência nominal, às orações comparativas, aos plural em nomes de unidades de medida e à indeterminação do sujeito numa frase.
4. Prossegue a atualização de conteúdos nas rubricas que o Ciberdúvidas desenvolve nas redes sociais. Assim:
– no episódio 6 de Ciberdúvidas Responde, a consultora Sara Mourato dá indicações para não confundir os usos de «dá-o» e «dá-lo»
– e no episódio 3 de Ciberdúvidas Vai às Escolas, a professora Carla Marques esclarece o que é uma metáfora, com exemplos e pistas para a sua identificação.
Recorde-se ainda que o desafio "Dúvida da Semana" continua ativo, às segundas e às terças no Facebook.
5. Registe-se, em contexto brasileiro, uma corrente das redes sociais, ou, usando o modismo anglicista, trend, que tem viralizado certas gralhas e erros cómicos. É o assunto de duas peças de publicações do grupo Globo, o G1 (22/10/2024) e o GE (23/10/2024), nas quais se recolhem dois exemplos com o seu quê de inesperado: "foge da minha ossada" (correto: «foge da minha alçada») e "medilcre" (correto: medíocre).
6. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 25/10/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Fátima Mendonça, professora jubilada da Universidade Eduardo Mondlane, aborda os ecos de Camões nos poetas africanos de língua portuguesa.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 27/10/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 02/11/2024, às 15h30*), os professores Carla Marques e Carlos Rocha apresentam os novos projetos associados à atividade do portal Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e discutem o papel deste portal na manutenção de um equilíbrio entre a preservação da norma e a aceitação das mudanças linguísticas. O programa inclui ainda um esclarecimento da consultora Inês Gama acerca da seguinte questão: pode dizer-se «a gente iremos explicar», ou só «a gente irá explicar» é frase correta?
– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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