Os valores aspetuais perfeito-imperfeito realizam-se na flexão do verbo. É o aspeto gramatical.
Uma ação perfetiva (realizada pelo pretérito perfeito) corresponde a uma ação unificada, sumariada, holística. Imaginemos um intervalo de tempo como uma linha espacial, com um princípio (limite da esquerda) e um fim (limite da direita). O intervalo de tempo da ação perfetiva tem o limite da direita fechado. Esse intervalo de tempo pode ter demorado um segundo ou décadas, mas o seu limite temporal da direita é perspetivado como fechado:
1. A minha filha brincou no parque, depois fomos às compras e foi tudo perfeito.
Pelo contrário, a situação imperfetiva oferece uma visão analítica da ação, na sua extensão não mensurável. O intervalo de tempo da ação é aberto, ou seja, o termo da ação não é considerado. O aspeto imperfetivo, em português, pode ser expresso pelo pretérito imperfeito, pelo presente, pelo pretérito perfeito composto, ou pelo progressivo (estar a + INF):
2. Eu brincava neste parque. Tudo era perfeito.
O valor durativo pertence à semântica do verbo que designa a ação, independentemente das opções morfológicas do locutor, ou seja, independentemente da flexão em que se encontra o verbo (se bem que nem todas as combinatórias sejam aceitáveis, como por exemplo: ? «A bomba estava a explodir»). Falamos então de aspeto lexical.
Na avaliação integral do valor aspetual de uma predicação (e não só do complexo verbal) consideram-se também os complementos e adjuntos do verbo (a composicionalidade da predicação).
Sistematizemos os valores aspetuais não puramente gramaticais:
Situações estativas: ser azul; odiar
Situações dinâmicas: correr/correr 5 km
Situações durativas: crescer
Situação pontual: explodir
Situação composta por uma ocorrência singular: partir
Situação composta por ocorrências plurais: a) iterativa: dormitar b) frequentativa: estuda muitas vezes c) habitual: costuma estudar d) gnómica: estudar é enriquecer
Situação atélica: jogar, cantar, pensar
Situação télica: afogar-se, nascer, morrer
Como há perífrases cujos verbos auxiliares não estão totalmente vazios do seu significado lexical, também é possível considerar:
Situação iminencial: está para estudar
Situação inceptiva: começa a estudar
Situação continuativa: continua a estudar
Situação pré-final: está a acabar de estudar
Situação final: acaba de estudar
Situação cessativa: deixa/para de estudar
Situação egressiva: tem a matéria estudada.
A análise aspetual da frase «os investigadores continuam a fazer perguntas»: situação imperfetiva (flexão de presente), continuativa e frequentativa – por causa do plural «(fazer) perguntas» (= «perguntar muitas vezes»).