1. No consultório, pergunta-se se o verbo mandar pode fazer parte de uma construção passiva: será correto dizer «o restaurante foi mandado construir pela presidente da câmara»? Ao encomendar uma piza, pedimos «com muita mozarela» ou «com muito mozarela»? E pede-se para cortar «ao meio» ou «a meio»?
2. Alhadas são «problemas», mas igual forma corresponde ao nome de um lugar, que a jornalista Joana Marques Alves recolheu para uma lista de topónimos equívocos publicada sob o título "Outras terras com nomes peculiares em Portugal" no jornal i em 31/01/2017, dando continuação a um trabalho saído no mesmo periódico em 25/01/2017. Ambos os textos se encontram disponíveis em O nosso idioma.
3. Na Montra de Livros, apresenta-se A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa (Lisboa, Guerra e Paz, 2017), um novo livro do tradutor e professor universitário Marco Neves, que retoma uma interpretação do passado e do presente do português fora dos esquemas convencionais. Registe-se aqui um dos parágrafos da obra (pág. 19): «Para podermos saber as histórias das pessoas que falaram português e o que sentiam ao falar, temos de imaginar muito. Muito mesmo. Por isso, convido-vos a imaginar algumas das histórias de quem falou a nossa língua ao longo dos séculos. São histórias de quem viveu, trabalhou e amou nesta peculiar maneira de falar que é a língua portuguesa.»
4. Temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:
– Como surgem as línguas crioulas? Estarão os crioulos fadados ao esquecimento? Vão desaparecer? Em Cabo Verde, o crioulo tem o estatuto de língua oficial, a par do português e é o idioma materno, nas suas pequenas variantes, da maioria da população do arquipélago. Mas que definição é essa, a dos crioulos? O Língua de Todos, como sempre, transmitido na sexta-feira, 3 de fevereiro (às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado, 4 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), conversa com a professora Dulce Pereira.
– Uma iniciativa inédita, a do presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa: depois da mini-Feira do Livro de finais de 2016, o convite a escritores e ao público, jovem ou não, para entre si conversarem no Palácio de Belém. A Leitura e os livros, com Marcelo a participar, em Escritores no Palácio de Belém. O Páginas de Português de domingo, 5 de janeiro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*) falou com o presidente da República: acerca do reacender da polémica em torno do Acordo Ortográfico, depois das propostas de alteração elaboradas pela Academia das Ciências de Lisboa, e sobre a promoção global da língua portuguesa.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O que será um revesilho? Que quer dizer «revolução cultural»? A locução «no final» é uma maneira incorreta de dizer o mesmo que «no fim»? As respostas no consultório.
2. «Os olhos também comem», «comer com os olhos», «guarda que comer, não guardes que fazer», «do prato à boca se perde a sopa.» – são alguns dos provérbios e ditos populares ligados à arte de bem cozinhar e... melhor comer. A que aludem eles, de facto? E qual é a origem da expressão «apertar o bacalhau»? E o que distingue o tradicional cozinheiro do chefe de cozinha, pomposamente agora chamado chef, escrito à francesa? E a diferença entre culinária, dietética e gastronomia? Tudo muito bem condimentado e na dose certa é o que se pode apreciar no terceiro programa da nova série do magazine Cuidado Com a Língua!, transmitido pela RTP 1 nesta terça-feira, 31 de janeiro, depois das 21h001. Com a apresentação do ator Diogo Infante e a locução da jornalista Maria Flor Pedroso, aqui fica uma rápida antevisão deste programa:
1 Hora de Portugal Continental. A nova série do Cuidado com a Língua!, como qualquer das anteriores oito, fica igualmente disponível na página oficial da RTP. Outras informações, aqui.
3. Como já foi aqui assinalado, a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) aprovou em 26/1/2017 as suas propostas de alterações ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO), anunciadas já em 23/11/2016, para o adequar melhor à variedade do português de Portugal2. O documento aprovado – Sugestões para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa2 –, já suscitou diferentes reações críticas no meio da polémica à volta da questão ortográfica. Disso se dá conta na rubrica Acordo Ortográfico (subárea Critérios a rever – propostas e sugestões), com um apanhado dos principais artigos e notícias que nos últimos dias fizeram eco deste assunto. É o caso de um texto publicado no Jornal de Notícias de 29/01/2017, no qual a autora, a professora Lúcia Vaz Pedro, considera que esta proposta «introduziu novos aspetos que contrariam os objetivos iniciais: reduzir ao mínimo possível as diferenças existentes [entre os países signatários do AO]». Outro registo que aí fica é a estranheza manifestada por José Mário Costa, em declarações prestadas à agência Lusa, quanto a esta «iniciativa unilateral» da Academia portuguesa, em contraciclo ao histórico relacionamento com a Academia Brasileira de Letras – ambas responsáveis pela negociação e concretização deste Acordo Ortográfico3, subscrito em 16 de dezembro de 1990 pelos representantes de sete países lusófonos (mais tarde, oito, com Timor-Leste) – e ao próprio envolvimento do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, no seu estatuto e competências de entidade supranacional, em matéria da língua oficial comum dos Estados-membros da CPLP4.
2 Em comunicado, a ACL apresenta esta revisão como «um contributo que resulta de aturada reflexão em torno da aplicação da nova ortografia e sobre algumas particularidades e subtilezas da língua portuguesa que não podem ser ignoradas em resultado de um excesso de simplificação». Para a ACL, «[a]perfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos para fixar a nomenclatura do Vocabulário e do Dicionário da Academia.» Resta saber como conta a ACL pôr em marcha a revisão que propõe no quadro do conjunto dos países de língua portuguesa, quando é sabido que, no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, há muito trabalho feito, como evidenciam o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) e os vocabulários nacionais (VON) já elaborados e disponíveis em linha (ver apresentação do VOC, sobre o papel dos VON). A respeito de tudo isto, a ACL tem parecer desfavorável e não podia ser mais perentória nas referidas Sugestões: «6.º Apesar de o Vocabulário Ortográfico Comum (VOC), sob a coordenação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), se encontrar disponível em linha (http://voc.cplp.org/), até ao momento não há conhecimento dos critérios seguidos pelas equipas responsáveis, nem um histórico das alterações que hajam eventualmente ocorrido, e não existe uma publicação em suporte físico. Além do mais, o VOC apresenta versões específicas para cada país, o que contraria o espírito e o propósito de unificação ortográfica do texto legal. De facto, o Preâmbulo do AO90 previa a elaboração taxativa de um vocabulário, não de vários, que reunisse as grafias comuns.» Esta posição levanta, portanto, várias interrogações e gera perplexidade quanto ao futuro da aplicação coordenada do AO no mundo de língua portuguesa.
3 Sobre esta bem antiga cooperação ativa entre as duas academias, a portuguesa e a brasileira, conducentes à concretização do Acordo Ortográfico de 1980, leia-se o texto "O papel da Academia das Ciências de Lisboa no estabelecimento de uma ortografia simplificada para lusofonia (perspetiva histórica e realidade atual", da autoria do professor universítário Rolf Kemmler (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)– correspondente à palestra proferida por ocasião da sua tomada de posse como Sócio Correspondente Estrangeiro da ACL, na sessão da Classe de Letras do dia 12 de janeiro de 2017.
4 As competências na gestão da língua oficial dos oito países integrantes na CPLP, numa perspetiva multilateral e pluricêntrica, descrevem-se aqui. E os seus diversos projetos e trabalhos, concretizados ou ainda em curso – desde o Vocabulário Ortográficio Comum da Língua Portuguesa aos vários vocabulários nacionais –, assentam precisamente nas novas regras da reforma ortográfica de 1990 (e, para tal, com critérios comuns na sua aplicação, conforme decisão no ponto 4 do comunicado finala da XI Reunião do Conselho Científico do IILP, realizada na cidade da Praia, em maio de 2016).
4. Relevo ainda neste dia para o lançamento de Cantigas medievais galego-portuguesas: corpus integral profano, pelas 18h00, no auditório da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa. Com coordenação da professora Graça Videira Lopes (Universidade Nova de Lisboa), esta coedição da BNP, do Instituto de Estudos Medievais (IEM) e do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM) tem apresentação de Xosé Ramón Pena, professor catedrático na Universidade de Vigo e especialista em língua e literatura galega. Observe-se que uma versão eletrónica desta obra se encontra em linha desde 2011 na página Cantigas Medievais Galego-Portuguesas.
1. Depois de ter assinado a retirada dos Estados Unidos do Acordo Transpacífico de Comércio Livre, o novo presidente Donald Trump prepara a renegociação do tratado comercial entre os EUA, o Canadá e o México, ao qual noticiários se referem pela sigla NAFTA, sobretudo usada como acrónimo, isto é, lida como se fosse a palavra nafta. Esta é uma abreviação do inglês North American Free Trade Agreement, o mesmo que Acordo de Comércio Livre da América do Norte, conforme tradução da Infopédia (Porto Editora). Convertendo a expressão portuguesa em sigla, obtém-se ACLAN, que também pode comportar-se como acrónimo ("aclã")*. E se os noticiários em português deixassem de difundir formas inglesas e passassem a empregar esta e outras siglas em português? Lembre-se, por exemplo, o caso de OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ainda à espera de finalmente substituir o inglês NATO (North Atlantic Treaty Organization) nas notícias publicadas em Portugal.
* Para o espanhol, a Fundéu BBVA já recomendou o uso da sigla espanhola correspondente: TLCAN. Em português, ocorre expressão semelhante – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio –, cuja sigla seria "TNALC". A solução da Porto Editora pode ter vantagem, por a sigla correspondente, ACLAN, parecer mais fácil de pronunciar como acrónimo.
2. Aboim das Choças, Anais, Ancas, Cabeça Gorda, Carne Assada, Minhocal, Mioma, Nariz, Picha, Sarilhos Pequenos, Vale de Azares são alguns dos casos de toponímia insólita que pontuam o mapa de Portugal, do Minho ao Algarve, autênticos ex-líbris «que não lembram ao diabo» – como se descreve num trabalho da jornalista Joana Marques Alves, publicado no diário português i de 25/01/2017, que se disponibiliza na rubrica O nosso idioma, com devida vénia.
3. No consultório, comentam-se o a aberto átono de camião, o diminutivo colherinha e a grafia de hipereloquente. Outra dúvida, ainda: o significa cantera em futebolês?
4. Na rubrica Acordo Ortográfico (em espaço próprio relacionado com os contributos colocados na subárea Critérios a rever – propostas e soluções), o consultor D'Silvas Filho apresenta considerações críticas sobre o atual Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), elaborado no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
5. Na mesma rubrica – e na subárea correspondente – deixamos assinalada a petição do movimento Cidadãos contra o "Acordo Ortográfico" de 1990 e os argumentos de um dos seus subscritores, o realizador António-Pedro Vasconcelos, na RTP Notícias, no sentido da desvinculação de Portugal da norma ortográfica em vigor oficialmente no país desde 2009.
6. Entretanto, a Academia das Ciências de Lisboa aprovou as suas propostas de alterações ao Acordo Ortográfico de 1990 que anunciara já em 23/11/2016, com vista a adequá-lo melhor à variedade do português de Portugal**. Ao documento aprovado – Sugestões para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa** –, será dado o devido realce numa próxima atualização.
** No comunicado divulgado, a Academia das Ciências de Lisboa sublinha que se trata de «um contributo que resulta de aturada reflexão em torno da aplicação da nova ortografia e sobre algumas seis particularidades e subtilezas da língua portuguesa que não podem ser ignoradas em resultado de um excesso de simplificação. E nele esclarece o que entende por ‘aperfeiçoamento’: «Aperfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos para fixar a nomenclatura do Vocabulário e do Dicionário da Academia.»
7. Temas dos programas desta semana produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:
– Que problemas se colocam a nível linguístico-comunicativo em contextos escolares reais africanos? Como se pode ensinar o português língua não materna? O Língua de Todos de sexta-feira, 27 de janeiro (às 13h15***, na RDP África, com repetição no sábado, 28 de janeiro, depois do noticiário das 9h00***), conversa com a Professora Helena Ançã, especialista no ensino do português como segunda língua, em contexto africano.
– O Glossário da Poesia Medieval Galaico-Portuguesa (GLOSSA) constitui o primeiro repertório lexical dicionarizado, contextualizado e exaustivo do corpus da lírica profana galego-portuguesa: cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e de maldizer, para além de alguns textos de outros géneros com uma menor representação. A primeira versão completa do glossário está acessível no sítio do projeto, que nasce no seio do Grupo de Investigación Lingüística e Literária (ILLA) da Universidade da Corunha. O Páginas de Português de domingo, 29 de janeiro (na Antena 2, às 12h30***, com repetição no sábado seguinte, às 15h30***), entrevista Manuel Ferreiro Fernández, investigador principal do GLOSSA e seu orientador.
*** Hora oficial de Portugal continental.
8. Ainda a propósito de poesia lírica profana galego-portuguesa, assinale-se o lançamento de Cantigas medievais galego-portuguesas: corpus integral profano, no dia 30 de janeiro p. f., pelas 18h00, no auditório da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa. Com coordenação da professora Graça Videira Lopes (Universidade Nova de Lisboa), trata-se de uma coedição da BNP, do Instituto de Estudos Medievais (IEM) e do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM), cuja apresentação é feita pelo professor Xosé Ramón Pena, especialista em língua e literatura galega. Recorde-se que a versão eletrónica desta obra se encontra em linha desde 2011 na página Cantigas Medievais Galego-Portuguesas.
9. A próxima atualização do Ciberdúvidas fica marcada para 30 de janeiro p. f.
1. «Nenhuma vacina é 100% efetiva» – leu-se na legenda ao lado* com certa estranheza ou pronta rejeição nas redes sociais desse dia, pois esperar-se-ia da vacina que fosse eficaz, e não "efetiva". Uma pesquisa eletrónica depressa facultou algumas «vacinas efetivas» em artigos científicos, e instalou-se a dúvida: não se trataria de interferência semântica do inglês effective, de configuração tão semelhante a efetivo, mas equivalente a eficaz? Na verdade, o dicionário Aurélio XXI, apesar de aplicar efetivo ao que se diz de alguma coisa «que se manifesta por um efeito real, positivo», não apresenta este adjetivo como sinónimo de eficaz. Outras fontes, entre elas, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (2001) ou o dicionário de Artur Bivar (1948), registam efetivo no sentido de «que produz efeito» – afinal, o significado básico de eficaz. E em dicionários mais recentes, quer de Portugal, quer do Brasil, subentende-se ou chega a explicitar-se decididamente que efetivo pode, afinal, ser usado como sinónimo de eficaz. Que fazer? Aceitar efetivo, quando queremos dizer «eficaz»? Não ignorando o registo dicionarístico da sua sinonímia com eficaz, o aumento da frequência de efetivo afigura-se-nos por vezes transposição preguiçosa do inglês effective. Para evitar esta e outras confusões induzidas pelos falsos amigos do inglês, sempre empobrecedoras, reserve-se efetivo sobretudo para qualificar algo que existe concretamente («foram tomadas medidas efetivas», ou seja, «reais, concretas»), ou que é permanente («conseguiu um lugar efetivo»), e deixe-se eficaz produzir efetivamente (=«realmente») «vacinas eficazes». Sobre casos inequívocos e mais clamorosos de anglicismos semanticamente traiçoeiros, leiam-se, por exemplo: "O recorrente erro do realizar (por perceber)", "'Falso amigos': frase e o inglês phrase", "Do transpacífico aos 'falsos amigos' do inglês", ou "A praga dos vocábulos estrangeiros que não sabemos usar. Está Portugal perdido na tradução?".
* in Bom dia, Portugal, RTP 1, 28 de janeiro p.p.
2. No consultório, três respostas sobre a sempre problemática mesóclise («absolver-me-á», «absolver-me-ia»), a expressão «boas práticas» e o adjetivo «azul e branco».
3. O tema do bom e do mau tempo... também no português que falamos e escrevemos é o que trata o segundo programa da nova série do magazine Cuidado Com a Língua!, que a RTP 1 emite nesta terça-feira, dia 24, depois das 21h00**. Por exemplo: qual é a diferença entre chuva, neve, granizo e saraiva? E entre tufão e furacão? E o que é, na verdade, um aguaceiro? E qual é a palavra que designa o aparelho que mede o vento? E, em Angola, o que quer dizer «chuva de caju»? Finalmente: porque é errada a frase «condições climatéricas»?
** Hora de Portugal Continental. Esta nova série do Cuidado com a Língua!, como qualquer das anteriores oito, fica igualmente disponível na página oficial da RTP. Outras informações, aqui.
4. Se durante muito tempo se pensou que o liberalismo era uma das dimensões inerentes à democracia, hoje vive-se uma situação absurda: como é possível falar de «democracia iliberal»? Uma tentativa de resposta acha-se no artigo intitulado "Há uma nova linguagem política quando falamos de democracia?", que a jornalista Teresa de Sousa assinou no jornal Público, em 22/1/2017. É uma reflexão em torno de vocábulos como democracia, nacionalismo, xenofobia e racismo, cujo uso e significado dão sinais de preocupante mutação.
5. Finalmente, na rubrica Acordo Ortográfico fica disponível um artigo saído no jornal Observador em 22/1/2017 e a que o seu autor, Carlos Maria Bobone, deu o título "História dos acordos e desacordos ortográficos", lançando o desafio sereno de pôr a ortografia do português em perspetiva, para identificar os sucessivos enquadramentos culturais em que se foi inscrevendo.
1. No dia da tomada de posse de Donald Trump como 45.º presidente dos Estados Unidos da América, justifica-se retomar perguntas e artigos que incidam quer no tema específico da campanha eleitoral que culminou com a vitória do multimilionário, quer em tópicos de alguma maneira relacionados com o país em apreço e com o impacto que ele tem na política mundial. Sugere-se, portanto, a leitura de "Dos tempos de Obama ao de Trump", "Suspense, palavra marcante nas eleições dos EUA", "Estado Unidos: plural, ou singular?", "Os estados Unidos são um país", "Sigla EUA", "Tradução dos nomes das regiões dos Estados-Unidos", "Gentílicos de cidades dos Estados Unidos da América", "Estado-unidense, estadounidense, norte-americano", "Norte-americano" ou "americano"?, "'Eleito como' e 'considerado'". Torne-se também ao registo dos vários neologismos e palavras recorrentes que rechearam as notícias sobre a ruidosa ascensão de Trump: por um lado, trumpismo, trumpista, pró-Trump, anti-Trump, trumpada, Trumpamérica, trumpesco, trumpificação, trumpestade; por outro, racismo, xenofobia, misoginia, homofobia, populismo, arrogância, ou megalomania. E, para não esquecer como se usam e abreviam os numerais ordinais, recorde-se ainda que 45.º é a representação numérica de «quadragésimo quinto», a qual, como abreviação que é, se escreve com ponto abreviativo e, depois deste, com -o final de quinto em expoente (ler "O ponto é ou não obrigatório para marcar uma abreviação?").
* Posteriores derivações, entretanto, do antropónimo do novo Presidente dos EUA: Como trurmpificar um pais. Ainda a respeito do discurso mediático decorrente da tomada de posse de Donald Trump, concretamente para o castelhano, vide a recomendação,da Fundación para el Español Urgente (Fundéu BBVA), com data de 19/1/2017.
2. Na rubrica Acordo Ortográfico, fica disponível um texto do jornalista Nuno Pacheco saído no Público de 19/1/2017, a propósito do anúncio dos aperfeiçoamentos que a Academia das Ciências de Lisboa tenciona introduzir na aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 (AO) em Portugal. Uma curta citação: «Que volte tudo à mesa, para que, "remendando" o AO ou deitando-o fora, não haja mais escolhas impensadas, baseadas em panaceias há muito desmentidas».
3. No consultório, quatro perguntas: a palavra odre tem o fechado ou aberto? É correto empregar o particípio passado aceito? Se linguística tem acento, porque não se acentua linguista? «Ser confrontado com» ou «por»?
4. A variação linguística sempre deu azo a situações cómicas: são exemplo as falas das personagens populares do teatro vicentino, destinado a fazer rir quem se sentia instalado na variedade tida por normal. Explorando esta tendência, o humorista Ricardo Araújo Pereira dedicou, na rubrica Mixórdia de Temáticas da Rádio Comercial, um apontamento à volta de duas pronúncias dissonantes do padrão: trata-se de como, quando articulado "cumo", e de rio, tio ou frio, que continuam a ser dissílabos em várias regiões portuguesas. Observe-se que estes três últimos vocábulos, em Lisboa e cada vez mais noutros pontos de Portugal, são monossílabos, pronunciando-se "riu", "friu" e "tiu", portanto, com ditongo.
5. Quanto aos programas que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa, lembramos que o Língua de Todos de sexta-feira, 20 de janeiro (às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado, 21 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), a consultora Sandra Duarte Tavares foca dúvidas recorrentes do português. No Páginas de Português de domingo, 22 de janeiro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), Sara de Almeida Leite, professora do Instituto Superior de Educação e Ciências (Lisboa), comenta o impacto dos anglicismos na nossa língua.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Na presente atualização, o consultório foca a dimensão gramatical das palavras: a forma "interespécies" estará bem construída? E qual será o plural de aluno-tutorando? Como pronunciar revoltas em «águas revoltas»? E diz-se «dar fé a», ou «dar fé de»?
2. Também sobre as palavras, mas incidindo no seu poder comunicativo, a rubrica O nosso idioma disponibiliza uma reflexão de Sandra Duarte Tavares, professora do Instituto Superior de Educação e Ciências (Lisboa), e consultora do Ciberdúvidas. Desse texto, publicado na edição em linha da revista Visão, em 17/01/2017, duas frases a reter: «Há palavras que edificam, outras que destroem; umas trazem bênção, outras, maldição. E é entre estas duas balizas que a comunicação vai moldando a nossa vida.»
3. Nos mesmos moldes do que foi feito em Portugal, também em Angola e Moçambique a Porto Editora promoveu o passatempo Palavra do Ano 2016. Os angolanos escolheram crise, enquanto, entre os moçambicanos, a palavra selecionada foi paz. Num caso e noutro, palavras que assinalam bem as atuais preocupações dos cidadãos deste países.
4. Quanto aos programas que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:
– No Língua de Todos de sexta-feira, 20 de janeiro (às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado, 21 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), são focadas algumas dúvidas recorrentes do português. Por exemplo, diz-se e escreve-se "logotipo" ou "logótipo"? A resposta é da consultora Sandra Duarte Tavares.
– No Páginas de Português de domingo, 22 de janeiro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), pergunta-se: os anglicismos estão a invadir a língua portuguesa? O comentário de Sara de Almeida Leite, professora do Instituto Superior de Educação e Ciências (Lisboa).
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Após uma interrupção de quatro anos, pela própria RTP, o primeiro canal da televisão pública portuguesa começa a emitir a nova série do magazine Cuidado com a Língua!, nesta terça-feira, dia 17 de janeiro, a partir das 21h00, hora de Portugal Continental. Com retransmissão nos canais internacionais da RTP*, a arte da ourivesaria e as palavras e expressões mais com ela relacionadas são o tema do primeiro programa desta nova série – a nona. Por exemplo, o que quer dizer «casar um brinco»? E qual a relação entre salva, de prata quase sempre, e «salva de palmas»? E a origem, e o significado, do ditado popular «onde o ouro fala tudo cala»? E porquê o ditado «o barato sai caro»? E, ainda, à volta do erro muito comum com palavra "jaziga"... pura e simplesmente inexistente. Com o ator João Grosso no papel de ourives, à conversa com Diogo Infante, o cicerone de sempre deste já clássico espaço televisivo onde se promove o bem escrever e o bem falar em português, exposto de forma lúdica e com algum humor.
* Esta nova série do Cuidado com a Língua!, como qualquer das anteriores oito, fica igualmente disponível na página oficial da RTP. Outras informações, aqui.
2. Regressa ao consultório a análise sintática, com um problema em torno da associação do verbo caber a uma oração subordinada relativa. Chega também uma dúvida a respeito da nem sempre fácil distinção entre o futuro do conjuntivo e o infinitivo flexionado (também conhecido como infinitivo pessoal). Finalmente, alguém pergunta como se pronuncia coerência.
3. A Antena 1, canal generalista da rádio pública portuguesa, promove, com a Sociedade Portuguesa de Autores, um programa-concurso, no formato de aula, sob a direção do músico João Gil. Propósito explícito: a «promoção da música portuguesa e, em especial, o apoio a novos autores que componham e interpretem em língua portuguesa.» Se é em língua portuguesa, e para estimular a criação musical em português, qual o sentido de se dar um nome em inglês, Master Class? – questiona José Mário Costa, em texto que deixamos na rubrica Pelourinho.
1. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa completa 20 anos no dia 15 de janeiro. Com a filosofia de um jornal, nas suas áreas de abordagem devidamente delimitadas, é um espaço que junta ao mesmo tempo o esclarecimento, a informação, a reflexão e também a polémica em torno do idioma oficial dos oito países da CPLP, constituindo-se como a primeira iniciativa no género, via Internet – e ainda sem paralelo em todo o universo da lusofonia. São porém 20 anos não isentos de dificuldades. E, até, de algumas interrupções resultantes dos constrangimentos financeiros para a manutenção de um serviço desta natureza e alcance, gracioso e sem quaisquer fins comerciais – e sem outros apoios senão a generosidade de alguns dos seus mais dedicados consulentes, na campanha SOS Ciberdúvidas. São também duas décadas com a recompensa do apreço manifestado por quantos nos procuram e acompanham – com uma média de um milhão de visualizações por mês –, dirigindo-nos palavras de estímulo ou enviando comentários e sugestões. Para todos os nossos consulentes e amigos, vai, portanto, um agradecimento especial, sempre na esperança de encontrarmos finalmente condições para levar por diante este projeto, sem as enormes dificuldades presentes.
2. Regressam ao consultório as dúvidas à volta das subtilezas do uso do conjuntivo nas orações relativas. Também se fala do nome próprio Corgo, que designa um rio que passa pela cidade portuguesa de Vila Real. E o que é melhor: «entredentes» ou «entre dentes»? E será que caverna é palavra derivada de cavidade?
3. Os estreitos laços históricos entre o português e a língua espanhola (também conhecida como castelhano) são fonte de erros recorrentes, pelos muitos falsos amigos lexicais que envolve. São exemplos clássicos o espanhol oficina, que é escritório em português, ou o traiçoeiro espantoso, que diz exatamente o contrário da palavra portuguesa espantoso. Para evitar a fatalidade destes e de outros mal-entendidos, a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, em Lisboa, organiza em 15 de janeiro p. p. uma sessão com o curioso título Portuñol no es idioma, oficina orientada pela professora Ana Rita Laureano, que propõe aos participantes virem «conhecer os erros mais comuns cometidos pelos portugueses que também pensam que falam espanhol porque abrem as vogais e falam mais alto quando falam estrangeiro»*. Entretanto, fica também aqui a ligação para um artigo muito útil do boletim «a folha» – Boletim de Língua Portuguesa nas Instituições Europeias (n.º 47, primavera de 2015): "Lista de falsos amigos espanhol-português, español-português". Sobre falsos amigos lexicais e castelhanismos, consulte-se no Ciberdúvidas: "Oferta e promoção", "As eleições em Espanha e os castelhanismos do português", Saramago, o Ibérico + Castelhanismos, a propósito de Saramago.
* Numa perspetiva diferente, refira-se a existência do portunhol riverense, um dialeto português que é falado na fronteira do Uruguai com o estado brasileiro do Rio Grande do Sul.
4. Entre as notícias que relevam da preocupação ou interesse pela nossa língua comum, realçamos:
– Em Portugal, o Tribunal de Contas, no relatório que publicou em 12/1/2017, sobre o JESSICA, iniciativa destinada a projetos nas cidades, mostra-se descontente com o uso da língua inglesa nos documentos desse acordo e recomenda ao governo que providencie no sentido de «garantir que se assegura uma versão em língua portuguesa dos documentos que regulem a implementação e execução dos instrumentos de engenharia financeira» (ler notícia aqui).
– O arcebispo de Goa e Damão, D. Filipe Neri Ferrão, salientou a visita oficial do primeiro-ministro português António Costa à União Indiana, que decorreu entre 7 e 12 de janeiro p. p., como um reforço do interesse pela língua portuguesa que está a crescer entre os jovens no estado de Goa (ler notícia).
5. O Ciberdúvidas assinala também o seu aniversário nos programas que produz para a rádio pública portuguesa. No Língua de Todos de sexta-feira, 13 de janeiro (às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado, 14 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), o editor executivo do Ciberdúvidas, Carlos Rocha, faz um balanço do nosso trabalho ao serviço de quem fala e escreve o idioma oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. No Páginas de Português de domingo, 15 de janeiro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), este percurso de duas décadas é comentado por um linguista (o professor Malaca Casteleiro) e um jornalista (António Loja Neves).
* Hora oficial de Portugal continental.
♦ Regista-se novamente com apreço a alocução em língua portuguesa que Cristiano Ronaldo fez em agradecimento do prémio de melhor futebolista do mundo de 2016, atribuído pela FIFA. O gesto repete-se como atitude muito necessária à saúde do idioma, cuja promoção passa também por falá-lo frequentemente, com confiança, tornando-o audível nas mais diversas instâncias internacionais. Um bom exemplo para quantos, com responsabidades políticas, optam em sentido contrário. E bem contrastante com o que é regra dentro de portas, com comunicação mediática encharcada de anglicismos para tudo e para coisa nenhuma.
♦ Do consultor D'Silvas Filho, a rubrica Acordo Ortográfico (sub-rubrica Critérios a rever – propostas e sugestões) disponibiliza o conjunto integral das considerações que, sobre o tema, o autor divulgou recentemente na sua página pessoal e em versão mais reduzida no Pórtico da Língua Portuguesa, em 6/1/2017.
♦ Das muitas perguntas que chegam ao consultório, salientam-se três:
– o substantivo derivado de binário é "binaridade" ou "binariedade"?
– o superlativo absoluto sintético de autêntico é "autentiquíssimo"?
– e, afinal, vamos "direitos" ao assunto ou "diretos" a ele?
♦ Completando 20 anos de atividade – já!... – em 15 de janeiro p. p, o Ciberdúvidas assinala o seu aniversário nos programas que produz para a rádio pública portuguesa. O Língua de Todos de sexta-feira, 13 de janeiro (às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado, 14 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), propõe um breve balanço do que tem sido este espaço ao serviço de quem, por esse mundo fora, quer saber sempre mais – e melhor – sobre o idioma oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Prícipe e Timor-Leste. O mesmo tema está também em foco no Páginas de Português de domingo, 15 de janeiro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*). Sobre este percurso de duas décadas conversa-se com um jornalista (António Loja Neves) e um linguista (o professor Malaca Casteleiro).
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Regressa à atividade o consultório com novas dúvidas: a propósito das acusações de espionagem informática da Federação Russa nas eleições americanas de 8 de novembro de 2016, o que querem dizer os anglicismos phishing e spearphishing? E qual o significado do símbolo Btu, quando se fala de petróleo? Como grafar o nome de uma cidade brasileira: "Ipuiúna" ou "Ipuiuna"? E um morfema, o que é? Igualmente a rubrica O nosso idioma disponibiliza um novo texto, sobre os tão expressivos regionalismos da região portuguesa do Alentejo.
2. O falecimento do fundador do Partido Socialista português, o primeiro primeiro-ministro do atual regime constitucional de Portugal e seu presidente da República de 1986 a 1996, Mário Soares (1924-2017), em 7 de janeiro p. p., impõe assinalar aqui o modo como a sua personalidade e a sua intervenção política moldaram decisivamente o seu país no último meio século. Com a descolonização e a restauração da democracia em Portugal, também Soares não foi indiferente à necessidade de reequacionar o futuro do idioma e a sua unidade, como evidenciaram as suas muitas declarações sobre o tema, cuja memória se recupera agora, por exemplo, no serviço Rádio ONU (em português) ou no jornal são-tomense Téla Nón, que, de uma entrevista concedida em 2009, transcrevem a seguinte passagem: «[...] o presidente [José] Sarney deu um exemplo também extraordinário quando foi presidente porque ele tem um artigo da Constituição brasileira que diz "o idioma oficial falado no Brasil é a língua portuguesa". Portanto ele disse, um brasileiro, que é a língua portuguesa não a brasileira. Não há língua brasileira e a portuguesa. É a mesma como a língua que se fala em Portugal, como a língua que se fala em Angola, como a língua que se fala em Timor-Leste e como a língua que se fala em todas as ex-colónias de Portugal. Portanto, tivemos a grande vantagem de todas elas adotarem como língua oficial o português.» Recorde-se ainda que, com o embaixador brasileiro José Aparecido de Oliveira (1929-2007), o ex-líder português se distinguiu como um dos paladinos da constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (ler notícia do Observatório da Língua Portuguesa).
3. No novo ano, continuam a ter projeção mediática os diversos vocábulos que marcam o momento político nacional e internacional. O neologismo pós-verdade, como eufemismo de mentira, já foi aqui comentado, mas, entretanto, avulta uma nova palavra, descrispação, que o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou preferir a geringonça como a palavra do ano de 2016 (ler aqui), motivando o jornalista João Miguel Tavares, em crónica publicada no Público (7/1/2017), a produzir o seguinte comentário: «É uma escolha surpreendente de Marcelo, desde logo porque a palavra não existe. Porto Editora, Houaiss, Aurélio, Academia – nenhum dicionário cá de casa a reconhece.» Nada mais errado, pois o critério de correção das palavras não depende do seu registo nos dicionários – uma vez que eles nem sempre conseguem prever e abranger os muitos derivados possíveis com certos prefixos e sufixos. É o caso de descrispação, vocábulo bem formado – derivado de crispação, por adjunção de des-, um dos mais produtivos prefixos da língua contemporânea. Sobre este tema, leia-se também, da linguista portuguesa Margarita Correia, o artigo "Os dicionários de língua".
4. No tocante à situação e às perspetivas da língua portuguesa em 2017, a atualidade pede alguma reflexão:
– Em Cabo Verde, no meio de aplausos e vozes críticas, o português passa a ter estatuto de segunda língua no ensino. Note-se que esta mudança formaliza uma situação linguística efetiva, em que os crioulos cabo-verdianos (em processo de estandardização) constituem a língua familiar e de todos os dias. Tal não significa, porém, que o português surja agora como língua estrangeira, porque por língua segunda se entende «língua não materna que por razões sociais ou políticas é utilizada pelo indivíduo em certas circunstâncias do seu quotidiano (por exemplo, em situação escolar)», como acontece com «as línguas europeias com estatuto de língua oficial em certos países africanos [que] devem considerar-se línguas segundas» (Dicionário de Termos Linguísticos volume II, Lisboa, Edições Cosmos, 1990). Observe-se, de resto, que o governo cabo-verdiano não manifestou nenhuma intenção de deixar de usar o português na administração ou nas suas relações externas.
– Da visita oficial do primeiro-ministro português António Costa à União Indiana entre 7 e 12 de janeiro, espera-se o reforço ou o incentivo de resultados no âmbito da promoção e recuperação do português naquele país, sobretudo, no estado de Goa, bem como em Damão e Diu, onde o idioma tem longa história. Sobre a Índia, consultar o seguintes artigos e perguntas: "Os gentílicos de Calecute e Nova Deli (Índia)", "Monção, monções", "Nos 200 anos do nascimento do orientalista português Cunha Rivara", "Bombaim ou Mumbai?", "Toponímia da Índia e norma portuguesa", "As formas Diu e Dio", "O caso de Goa", "Palavras com origem na língua concani", "A influência do português no Oriente".
– Nota final para os pareceres que a académica e coordenadora da nova edição do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), Ana Salgado, tem publicado recentemente no Pórtico da Língua, definindo os ajustamentos anunciados em 23/11/2016 pela própria ACL. São eles, a saber: Sobre ântero-, ínfero-, íntero, látero-, póstero-, súpero- (7/12/2016); Sobre o emprego do hífen (1) (13/12/2016); O prefixo re-; (19/12/2016) Sobre a acentuação gráfica (6/1/2017). No mesmo portal, leia-se ainda, da autoria de D'Silvas Filho, o artigo Imperfeições e dúvidas na b), do 1.º, da Base IV do AO90 (6/1/2017).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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