Entre falantes do norte de Portugal, a terminação gráfica -em pode corresponder aos ditongos [ɐ̃j̃]1 ou [ẽj̃]. No contexto da dialetologia da primeira metade do século XX, há registos de esse ditongo ter um apêndice consonântico nasal velar – [ŋ]2 – que, na ligação de palavras, faz com que as sequências apresentadas soem como «queiŋ é», «beiŋ alto», «tambeiŋ aparecem». Note também que a nasal pode também ocorrer a travar o ditongo representado por <-am> e <ão>, ou melhor, "õu", cuja transcrição fonética é [õw̃], realização que se mantém entre alguns falantes nortenhos: «o meu coraçõuŋ é teu». O mesmo pode ou poderia ainda acontecer com <ã>: «manhãŋ azul».
Considerando a descrição do consulente, é possível que certas realizações do ditongo [ɐ̃j̃] ou [ẽj̃] incluam <nh>, isto é, se efetuem com consoante nasal palatal – o segmento representado por <nh> em ninho, cujo símbolo fonético é [ɲ]: «queinh é», «beinh alto», «tambeinh aparecem».3 Note-se, porém, que, para elaboração desta resposta, não se achou bibliografia que registe esta realização.
1 No português de Lisboa e no português-padrão, as sequências gráficas -em e -ãe correspondem ao mesmo ditongo nasal: homem = [ˈɔm′ɐ̃j̃]; mãe = [mɐ̃j̃]. Esta neutralização do contraste entre os ditongos [ẽj̃] e [ɐ̃j̃] também se verifica há muito tempo nos dialetos setentrionais portugueses, pelo menos, em certas condições. Por exemplo, José Leite de Vasconcelos ("Dialectos transmontanos", Revista Lusitana, vol. VIII, 1890-1892, pág. 114) assinalava que no falar de Parada de Infanções (Bragança) «a terminação -em tonica ditonga-se como na lingua usual, ex. bãi (=bem), cãi (=quem), etc., onde o a é fechado, – i. é, âi nasal» (manteve-se a ortografia do original).
2 Próximo da sequência ng de canga, este segmento é Igual ou semelhante ao que ocorre em galego, por exemplo, no artigo indefinido unha (que corresponde à antiga forma ũa) ou quando um -n fecha sílaba mas é seguido de pausa ou palavra começada por vogal: non! – [noŋ]; non é [noŋ‘ɛ]. Cf. Xosé Luís Regueira, "Nasalización en gallego y en portugués”, Estudios de Fonética Experimental (EFE), 19, 2010, p. 84. José Leite de Vasconcelos ("Dialetos interamnenses", Revista de Guimarães, 1885, p. 241) observava que o referido segmento ocorria nos dialectos trasmontanos «mesmo entre duas palavras».
3 Esta é também uma realização frequente entre falantes do português do Brasil (informação do consultor Luciano Eduardo de Oliveira).