1. Sobre o vírus de Zika*, de tão grande (e preocupante) atualidade, refira-se que parece haver alguma vacilação no nome do mosquito que o transmite. Buscando exemplo nas línguas irmãs do português, damos conta do que a Fundéu-BBVA já propôs para o espanhol; e, assim, salvaguardadas as especificidades do nosso idioma, assinalamos que se trata do vulgarmente chamado mosquito-da-febre-amarela (cf. Dicionário Houaiss), cujo nome científico é Aedes aegypti – com maiúscula inicial no primeiro termo e em itálico, pelas razões aqui explicadas a propósito de um outro caso.
* Propõe-se aqui a expressão «vírus de Zika», em lugar do frequente «vírus Zika». A denominação do vírus integra Zika, nome de uma floresta tropical no Uganda, «a floresta de Zika», o qual, não tendo relação com o léxico comum do português, parece excluir a associação de artigo definido e, portanto, a possibilidade de uma sequência como «a floresta "da" Zika». Além disso, a eventual opção por «floresta Zika», sem preposição, revela-se invulgar para este tipo de topónimos, que, depois do substantivo descritivo (p. ex., floresta, mata, tapada), costuma exibir uma preposição («a floresta de Sherwood», «mata do Camarido», «tapada de Mafra»). Sendo assim, afigura-se consistente dizer ou escrever quer «floresta de Zika» quer «vírus de Zika». Em referência ao vírus, é igualmente possível empregar «o zika», convertendo o nome próprio em nome comum, grafando-o com letra minúscula inicial mas em itálico, visto o uso k ter restrições fora da escrita dos nomes próprios (ler resposta "Ainda a grafia de Kinshasa"). Solução alternativa: aportuguesar zika como zica: «o zica», como elipse de «o vírus de Zika», seguida da referida adaptação. É o que faz o jornalista português Carlos Fino, no jornal brasileiro O Globo, em 1/02/2016, muito embora grafando «o Zica», em lugar do uso que sugerimos, «o zica»: «E assistimos, hoje, pelo contrário, não só à multiplicação dos confrontos como à emergência de novas ameaças [...] e até de novas pragas, como antes o Ebola e agora o Zica.»
2. A presente atualização traz também cinco novas dúvidas ao consultório:
– O que é mais correto: «morrer nas mãos de alguém», ou «morrer às mãos de alguém»?
– Que se deve fazer quando dois pronomes átonos se encontram associados ao mesmo infinitivo?
– Que nome se dá a uma terapia alternativa que consiste na manipulação das vértebras?
– Que género atribuir ao nome microbiota, «conjunto de micro-organismos de um ecossistema»?
– Que palavra se pode derivar de reciclável?