1. A colocação dos pronomes clíticos na frase é considerada uma das áreas críticas do português. Com regras diferentes do português do Brasil, a variante europeia conhece casos de mesóclise (colocação do pronome no interior do verbo), de próclise (colocação antes do verbo) e de ênclise (colocação após o verbo, opção considerada a não marcada). No entanto, os contextos que atraem o pronome para antes do verbo colocam, por vezes, dificuldades aos falantes. Por exemplo, é sabido que os advérbios são atratores de próclise, mas esta especificidade aplica-se a qualquer advérbio? O advérbio hoje inclui-se neste grupo? A existência de palavras com formas e significados muito similares pode gerar atitudes de hesitação perante a seleção lexical em determinados contextos de utilização e mesmo quanto à sua correção. É neste âmbito que se enquadra a dúvida relacionada com as palavras anulação e anulamento. Os casos de evolução ortográfica justificam que se possa encontrar uma mesma palavra escrita com grafias distintas em textos que pertencem a diferentes fases da evolução da língua. É este o caso de siza / sisa que, na atualização do Consultório, se explica. Algumas associações lexicais podem oferecer dúvidas quanto à sua classe de pertença. Por exemplo, o sintagma nominal «Invasões francesas» deve ser considerado como pertencente à classe do nome próprio ou devemos proceder à sua análise considerando cada uma das palavras que o compõem? Por fim, uma dúvida relacionada com os valores aspetual e modal de uma frase da escritora portuguesa Hélia Correia.
2. Na Montra de Livros divulga-se Assim Nasceu uma Língua, a nova publicação do linguista português Fernando Venâncio, que promete abordar a evolução da língua portuguesa como se de uma história se tratasse. Esta é uma obra que trata criticamente o percurso de formação da língua, discutindo alguns dos mitos instalados e estabelecendo, em diversos momentos, um cotejo com o castelhano e com o galego. Trata-se de «um livro que vem reforçar a necessidade e o desejo de repensar a história da língua portuguesa», afirma-se no texto de apresentação.
3. E eis que o mundo do futebol volta a 'dar pontapés' na gramática. Desta feita, o problema é a assim designada "Final Four Allianz Cup", a final da taça da Liga. Uma expressão inglesa para uma competição realizada em Portugal por quatro equipas portuguesas. Nada justifica esta constante opção pelos anglicismos para referir realidades para as quais a língua portuguesa oferece soluções eficazes e claras. É a "cup", o "derby", o "fairplay", o "golden goal", o "playoff", o "sprint" final. Enfim, uma quantidade de empréstimos lexicais desnecessários, que facilmente se ultrapassariam com recurso ao português. Já em Os Maias, de Eça de Queirós, se refletia sobre este traço de caráter dos portugueses, que preferem importar a defender e usar o que é nacional:
«Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideais, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha... Somente, como lhe falta sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o modelo, deforma-o estraga-o até à caricatura.» (Edição «Livros do Brasil», p. 703)
Façamos, então, de modo a que o texto queirosiano não permaneça dotado de atualidade.
O recurso aos angliscimos em diferentes domínios tem sido profusamente tratado no Ciberdúvidas. Vem a propósito recordar alguns dos textos que mantêm a sua atualidade: «A Final Four disputou-se mesmo entre equipas portuguesas?», «Lisbon Revisited», «Aos tropeções nos anglicismos do nosso quotidiano», «E falar português, vai desejar?», «É o lifestyle, stupid», «Talentos e talentaços», «Reflexões sobre a linguagem hodierna», «Porquê Eusébio Cup?», «Black Friday, um duplo contrassenso», «E o humor foi também em inglês?».
4. As expressões idiomáticas, coloquiais ou os provérbios guardam histórias curiosas associadas, não raro, às usas próprias origens. Conhecer este percurso da língua é também compreender a sua evolução. Porém, sobretudo para os falantes de português língua estrangeira (ou não materna), estas mesmas expressões são caracterizadas por uma opacidade de sentidos que impede a curial interpretação da intenção do locutor. É no sentido de auxiliar este processo de construção de sentidos que a plataforma Say it in portuguese divulga um conjunto já alargado de pequenos apontamentos áudio sobre expressões idiomáticas como «zangam-se as comadres», «perder o fio à meada», «em casa de ferreiro», «ter o rei na barriga», só para referir as mais recentemente divulgadas.