O advérbio aonde, que surge da contração entre a preposição a e o advérbio onde, tem atestação nos dicionários com o seguinte uso: «Ao lugar que (em que direção); para o lugar que (para que direção); para qual lugar». Por outro lado, do advérbio onde ocorre com valor locativo, sem movimento, marcando o lugar onde se está. Posto isto, a frase de Camilo Castelo Branco não está exatamente incorreta, tudo depende da interpretação do significado da mesma. Veja-se:
(1) «Se ela assim continuar e ficar solteira, sabes onde vai bater o meu dinheiro e mais o teu?»
(2) «Se ela assim continuar e ficar solteira, sabes aonde vai bater o meu dinheiro e mais o teu?»
Em (1) podemos assumir que a pergunta é «em que lugar baterá o nosso dinheiro?»; já em (2) podemos interpretar a pergunta como «o dinheiro vai a determinado lugar e bate aí».
No entanto, e apesar da explicação acima dada, é importante citar a Gramática de Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, p. 2102): «Quando o verbo da oração relativa é "ir", embora o valor locativo seja direcional, pode também usar-se o pronome relativo não preposicionado: cf. a cidade onde eles foram é muito longe da minha.» Ora, esta passagem confirma que, com o verbo ir da oração relativa, podemos optar pelo advérbio aonde ou pelo advérbio onde com um valor locativo dinâmico sem que se incorra em erro. Aceitando que esta descrição pode ser transposta para as frases interrogativas, como é o caso da frase de Camilo Castelo Branco, afigura-se legítimo que esta seja introduzida tanto por onde como por aonde.
Uma nota final, ainda, para aquilo que Cunha e Cintra referem acerca dos clássicos e do uso destes advérbios: «[...] esta distinção [...] já não era rigorosa nos clássicos» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 351). Podemos assumir que a frase apresentada se enquadra neste panorama.