Como em qualquer acção pedagógica, não há uma receita, nem uma forma única para fazer passar uma mensagem. Há, acima de tudo, que ter em conta a entidade única que cada turma constitui.
Assim sendo, e salvaguardada, desta forma, a provável inutilidade prática do que possa dizer-se a seguir, creio que o mais importante é sensibilizarmos os jovens para a alteração de sentido sempre que fazemos mudanças numa frase, ou para o sentido literal de frases nas quais, diariamente, recorremos a figuras de estilo.
A melhor forma seria, pois, começar com exemplos do dia-a-dia, a que todos recorremos, e desmontar o seu verdadeiro sentido, levando assim os jovens a perceber o jogo de linguagem que está subjacente.
Qual de nós nunca pronunciou, num ou noutro contexto, frases como «Continua assim, que vais bem…»? O que é que se diz, realmente, quando se pronuncia uma frases destas? Que aluno do 7.º ano não entende que quem lhe disser esta frase não está a dizer propriamente que está tudo bem, antes pelo contrário? A que distância estamos de uma ironia e de uma antítese?
E que dizer de expressões como «Eu morro de frio (ou de susto)»? Talvez seja uma boa forma de ajudar um aluno a perceber o que é uma hipérbole…
Depois de os alunos perceberem que é possível brincar de determinada forma com a linguagem para produzir efeitos específicos, poder-se-ia explorar o conceito de estilo, começando, por exemplo, por identificar grupos de jovens que se caracterizam pelo seu estilo ou forma de estar. Os Góticos; os Dread. Determinados grupos identificam-se por se comportarem, ou vestirem, mais ou menos da mesma forma. Estes grupos, no mundo das palavras, são as figuras de estilo… Também nas figuras de estilo, as palavras, como se tivessem vida, se comportam de uma forma sistemática para veicular um dado sentido. Na comparação, aparece sempre a palavra como. Na metáfora, a palavra como está sempre escondida; na animização, coisas inanimadas ficam animadas, com vida. E as flores saltam… e as pedras correm… Graças à personificação, os animais falam…
Depois… é só desafiar os alunos a descobrirem coisas destas, seja num texto, seja no dia-a-dia.
Queria apenas acrescentar que, dito desta forma, até pode parecer que é simples. Mas só parece. Enquanto escrevia, não havia 25 ou 30 jovens cheios de vida e de energia a gritar à minha volta. Nem havia quaisquer outros desafios ou constrangimentos. Mas havia a convicção profunda de que é possível. Tem de ser possível.
Bom trabalho!