A utilização de você no português do Brasil (PB) corresponde, regra geral, à utilização de tu e de você familiar em português europeu (PE). No tratamento de superior para inferior hierárquico (por exemplo, na universidade, o tratamento do professor para o aluno) é usado você em ambas as variedades. Quando o tratamento é mais formal ou respeitoso, o PE usa o nome próprio, o cargo, o título ou o grau de parentesco, ao passo que o PB usa o(a) senhor(a), e, dentro do grupos profissionais, o cargo ou o título.
O pronome você é uma forma de tratamento de terceira pessoa, uma vez que, apesar de designar a pessoa com quem se fala (a segunda pessoa do singular) combina-se com o verbo na terceira pessoa do singular («Onde é que você vai?»), quer em PE quer em PB. Tu designa também a segunda pessoa e combina-se com o verbo na segunda pessoa («Onde é que tu vais?»). No entanto, a utilização do pronome de objecto directo ou indirecto no contextos em que se usa tu ou você como pronome sujeito obedece a regras diferentes. Assim, verifica-se que, em PE, quando se usa você, deve usar-se o pronome de objecto da terceira pessoa, ou seja, o [objecto directo] ou lhe [objecto indirecto]. Por exemplo:
«(Você) quer que eu o ajude?»
«Já lhe disse que você não devia ir lá.»
Em português do Brasil, por outro lado, usa-se você ou te como pronome de objecto directo ou indirecto. Por exemplo:
«(Você) quer que eu ajude você?»
«(Você) quer que eu te ajude?»
«Já te disse que você não devia ir lá.»
«Já disse a você que você não devia ir lá.»
É o que acontece que frase que o consulente dá como exemplo «Ora, chefe, eu te conheço e sei que está de mau humor», em que o pronome de objecto directo é o pronome de segunda pessoa te, apesar de estar a utilizar a terceira pessoa verbal, está. Em PE, a forma de tratamento usada para falar com o chefe é normalmente a forma de terceira pessoa, pelo que o pronome de objecto directo deve ser também o de terceira pessoa. Desta forma teríamos: «Ora, chefe, eu conheço-o e sei que está de mau humor.»