1. Celebra-se a 24 de junho o dia de São João, padroeiro popular e um dos três santos que se comemoram no mês de junho, num quadro que associa manifestações religiosas e profanas. Em cidades como o Porto, a festa, que decorre na noite de 23, é pontuada pelos balões de ar quente, pelos martelinhos, e, claro, pela sardinha assada a pingar na broa. Este ano, porém, aconteceu algo imemorável: os festejos foram cancelados devido às medidas de combate à covid-19 (ver notícias aqui e aqui). O tradicional fogo de artifício foi impedido, as vendas ambulantes proibidas, os espetáculos de animação suspensos, os arraiais públicos interditos e a Ponte D. Luís fechada à circulação. Este é um dia S. João menos festivo e alegre, mas que se pretende bem mais seguro e promissor de dias mais estáveis.
Cf. Algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com o tema: «Nos santos populares (en)cante com a poesia popular», «O provérbio «a descer todos os santos ajudam», «São João», «Chuva de S. João».
2. Em Portugal, a 24 de junho, celebra-se também o Dia Nacional do Cigano, uma minoria que é ainda mantida à parte em muitas situações e cuja designação continua a estar associada a uma forte carga pejorativa. Numa altura em que as atenções se mobilizam perante casos de discriminação racial e étnica será importante que também as minorias sejam recordadas, o que se justifica mais ainda se tivermos em consideração o recentemente divulgado relatório da Amnistia Internacional relativo à situação vivida durante a pandemia em 12 países europeus, que denuncia a existência de atitudes discriminatórias e de preconceito relativamente às minorias étnicas e grupos marginalizados por parte das polícias. No relatório, fala-se de um «padrão perturbador de preconceito racial», que as regras impostas pela pandemia vieram desvelar.
Esta é também uma oportunidade de recordar algumas respostas sobre questões lexicais relacionadas com este domínio: «Calão/jargão», «Vocabulário de origem romani no português», «O plural de rom (=cigano)», «Qual a origem do termo ramona?», «Dicionário Houaiss sob acusação de linguagem preconceituosa e discriminatória» e «Ciganos: parte da nossa história e do nosso futuro».
3. «Marcha atrás» é a metáfora que descreve as decisões tomadas pelo Governo português no sentido de tentar controlar o aumento dos contágios verificado na zona metropolitana de Lisboa. Por essa razão, 19 frequesias permanecerão em situação de calamidade, coimas serão aplicadas a quem desrespeitar o número máximos de pessoas em proximidade e o comércio volta a ter horários limitados. O mesmo retrocesso está a ocorrer em países um pouco por todo o mundo (como na Alemanha, Coreia do Sul ou China).
4. A crise pandémica continua, assim, o seu percurso que, do ponto de vista linguístico, o Ciberdúvidas continua a acompanhar introduzindo no seu glossário A covid-19 na língua as novas palavras ou expressões que vão sendo registadas. Desta feita, poderão ser consultadas as nove entradas : casos ativos, cadeia de contágio, corredores turísticos, cuidador, gargarejos, grupos de risco, marcha atrás, pobreza e turismo. Também em França, as palavras têm acompanhado a dinâmica da pandemia, como nos conta o jornal Le Point, que dá a conhecer a atividade do lexicógrafo Alain Rey, de 91 anos, que trabalha atualmente num pequeno glossário dos termos ligados à situação desencadeada pelo aparecimento do novo coronavírus.
5. O apelido do príncipe dos poetas portugueses Camões poderá ter tido origem no topónimo galego Camos, que está na origem também do adjetivo camoesa (de «maçã-camoesa»). Esta é uma curiosa história à volta da etimologia, que se conta no Consultório. Aqui divulgam-se ainda respostas a questões de diferentes temáticas: redobro do clítico com o verbo caber, a natureza do pronome com o verbo tocar, as regras de uso do pronome com a forma -lo/-la, as relações semânticas entre contrastar e comparar e a tradução do anglicismo "grawlix".
6. A gradual afirmação da língua portuguesa no panorama internacional foi um processo de início tardio, que tem sofrido alguns contratempos no seu percurso. A linguista Margarita Correia evoca, na crónica «Quero ver o português na CEE», publicada originalmente no Diário de Notícias, o percurso da língua nas últimas décadas, marcado por uma lenta abertura ao mundo, ao ensino nacional e internacional e ao necessário diálogo com as variantes não europeias.
7. O tradutor e professor universitário Marco Neves evoca o início do verão com um apontamento dedicado à origem da palava, que deriva do termo latino "ver", que significa "primavera (o primeiro verão)" e é prima de estio (texto divulgado no blogue do autor Certas Palavras).
8. Numa altura em que se começa a fazer o balanço das medidas implementadas para resolver os problemas causados pelo confinamento forçado, o ensino à distância volta a ser objeto de análise, desta feita, para se apontarem os constrangimentos e dificuldades que a opção trouxe a alunos e professores e para se atentar nos alunos que foram mais prejudicados por toda esta situação. É também neste quadro que o primeiro-ministro António Costa veio anunciar que o ensino presencial regressará entre 14 e 17 de setembro.
9. Recordamos que os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa terão lugar nos dias habituais.
– O programa Língua de Todos, na RDP África, tem como tema central a obra do Padre António Vieira, abordado numa conversa com José Eduardo Franco, historiador e professor catedrático convidado da Universidade Aberta e Titular da CIDH – Cátedra FCT/Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização (sexta-feira, dia 26 de junho, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 20 de junho, depois do noticiário das 09h00).
– O programa Páginas de Português, na Antena 2, traz à antena Adelina Moura, colaboradora do Plano Nacional de Leitura 2027 e tutora da formação contínua de professores do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, para falar sobre o guia de apoio ao Ensino de Português no Estrangeiro na plataforma de e-learning. Outros temas: o apontamento da professora Carla Marques sobre as palavras foco e fogo, a propósito dos convívios improvisados em espaços públicos e dos fogos que abriram o verão em Portugal; a crónica da professora universitária Margarita Correia, que esta semana se debruça sobre o ensino de Português Língua Não Materna em Portugal. No domingo, dia 28 de junho, pelas 12h30*. com repetição no sábado, dia 4 de julho, às 15h30*.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.