Não temos conhecimento, de facto, de uma gramática que analise a partícula se no âmbito do quadro gramatical usado no ensino básico e secundário.
No entanto, tanto na Gramática do português (Raposo et al.) como na Gramática da língua portuguesa (Mateus et al,) se considera que o agente externo (ou seja, o sujeito da frase ativa) não pode ocorrer no interior do sintagma verbal da passiva sintética, o que, na língua portuguesa contemporânea, explica a impossibilidade de :
(1) *Ouviram-se os jovens pelos professores.
Na passiva canónica, o agente externo ocorre na posição de agente da passiva:
(2) «Os alunos foram ouvidos pelos professores.»
O facto de em (1) não ser possível verbalizar o agente externo («pelos professores») implica que, como se explica na Gramática da Língua Portuguesa, «o agente é necessariamente implícito, com uma interpretação indeterminada». (p. 391).
A este propósito, afirmam Peres e Móia, em Áreas críticas da língua portuguesa, que nestas construções o argumento com a função de agente é sempre indeterminado, «estando provavelmente representado pelo próprio clítico» (p. 213). A interpretação que aqui seguimos enquadra-se nesta linha, o que nos leva a colocar a hipótese de o clítico se poder estar a preencher a função de complemento agente da passiva no caso das passivas sintéticas. Note-se, por fim, que, em contexto didático, não é usual fazer a análise do clítico, até porque não é pacífica a interpretação.
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