Faleceu em 30 de maio o escritor, crítico literário e linguista Fernando Venâncio.
Nascido em Mértola, em 1944, Fernando Venâncio foi viver aos dois anos para Lisboa e mais tarde, aos 10 anos, ingressou no seminário de Braga. Aos 26 anos saiu de Portugal, para se radicar nos Países baixos. Formou-se em 1976 em Linguística Geral, na Universidade de Amesterdão, onde se doutorou em 1995, com um estudo sobre as As ideias de língua literária em Portugal no século XIX. Paralelamente, desenvolveu a escrita jornalística no Jornal de Letras (JL), no semanário Expresso e na revista Ler. É autor dos romances Os Esquemas de Fradique (1999) e El-Rei no Porto (2001) e da antologia Crónica Jornalística. Século XX (2004). Sobre a história do português e as suas tendência de evolução, escreveu as suas últimas obras Assim Nasceu uma Língua (2019) e O Português à Descoberta do Brasileiro.
Fernando Venâncio foi um crítico acérrimo do Acordo Ortográfico de 1990, a que apontava diversos erros de conceção (cf. "Acordo Ortográfico. Visita guiada ao reino da falácia", Ler, setembro de 2011). Criticava também a ideia de uma unidade linguística imposta por planificação oficial (“Pensar que podemos mudar a língua, sobretudo a dos outros, é uma ilusão que importa perder o mais rapidamente possível”, Visão, 03/08/2022), pelo que convergia com círculos que defendem que o português do Brasil pode ser considerado atualmente um idioma independentemente (cf. "A Gramática Pedagógica do Português Brasileiro de Marcos Bagno. Alguns apontamentos portugueses", 2016).
A situação linguística da Galiza também o interessou, levando-o a envolver-se no debate com círculos galeguistas, reintegracionistas ou não. Deu, portanto, um importante contributo para, em Portugal, se recuperar ou aprofundar o conhecimento da língua e cultura galegas (cf."Mana Galiza", Expresso, 01/12/2006). Sobretudo na ótica da história do léxico, Fernando Venâncio explorou também a relação de Portugal com a órbita cultural do reino de Castela, espelhada nos muitos castelhanismos insuspeitos que se fixaram na língua literária e administrativa a partir do século XV (cf. "O castelhano como vernáculo português", 2014, revisto e corrigido em 2020) .
Muitas das publicações de Fernando Venâncio estão acessíveis no sítio eletrónico "Fernando Venâncio".
Ao longo dos anos, o Ciberdúvidas divulgou igualmente, com a devida vénia, textos de opinião e estudos de Fernando Venâncio na página que aqui lhe corresponde.
Do que se escreveu em Portugal, Brasil e na Galiza sobre Fernando Venâncio, pode salientar-se:
– Joana Amaral Cardoso, "Fernando Venâncio (1944-2025), o linguista e escritor que acreditava no futuro da língua portuguesa", Público, 30/05/2025
– Manuel S. Fonseca, "Fernando Venâncio (18 de novembro de 1944 – 30 de maio de 2025", Página Negra, 30/05/2025
– "Linguista e escritor Fernando Venâncio morre aos 80 anos", Expresso, 30/05/2020
– "Presidente da República recorda Fernando Venâncio", 30/05/2025
– Amauri Arrais, "Um mestre rigoroso e divertido", Quatro Cinco Um, 30/05/2025
– "Falece Fernando Venâncio, o lingüista que acreditaba na irmandade entre galego e portugués", Nós Diário, 30/05/2025
– Nuno Pacheco, "Fernando Venâncio, um nome e uma obra de grata memória", Público, 05/06/2025
Fonte da imagem: Quatro Cinco Um, 30/05/2025.
Notícia atualizada em 05/06/2025.