A interjeição, como aliás outras classes de palavras, pode ser analisada do ponto de vista da sua inserção numa das classes em que se organizam as palavras de uma língua. Neste campo, note-se que a consideração da interjeição como uma classe de palavras a par do nome, do verbo ou do adjetivo não é pacífica entre os gramáticos. Com efeito Cunha e Cintra afirmam: «Não incluímos a interjeição entre as classes de palavras pela razão aduzida à página 78.» e, mais à frente, «Com efeito, traduzindo sentimentos súbitos e espontâneos, são as interjeições gritos instintivos, equivalendo a frases emocionais.» e mais à frente «Não incluímos a interjeição entre as classes de palavras pela razão aduzida no capítulo 5.»1
No Dicionário Terminológico, a interjeição é apresentada como uma classe de palavras, com a seguinte descrição: «Palavra invariável que pertence a uma classe aberta. Uma interjeição não estabelece relações sintácticas com outras palavras e tem uma função exclusivamente emotiva. O valor de cada interjeição depende do contexto de enunciação e corresponde a uma atitude do falante ou enunciador.»
Como se observa, a definição da classe da interjeição assenta em critérios de natureza semântico-pragmática.
Até em coerência com as descrições apresentadas, verifica-se que é possível analisar as interjeições do ponto de vista dos recursos linguísticos que têm uma função expressiva no plano textual. Partindo deste ângulo de análise, podemos identificar num texto a função expressiva da interjeição. Recordemos, apenas a título de exemplo, a importância da interjeição como recurso de expressividade na Ode triunfal de Álvaro de Campos:
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! […]
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule! […]
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções! […]
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!2
Em tratados de retórica, alguns autores incluem a interjeição como um tipo de interposição, uma figura de adição que consiste na inserção de um segmento no interior da frase, que não mantém conexão gramatical com o que o antecede ou segue3.
Deste modo, é possível analisar a interjeição de diversos pontos de vista, como aliás acontece, por exemplo, com o adjetivo, que pode ser visto como uma classe de palavras ou como um recurso expressivo ao serviço de uma determinada intenção.
Disponha sempre!
1. Cunha e Cintra, Nova gramática do português contemporâneo. Ed. Sá da Costa, 1984, pp. 605-606.
2. Disponível in Arquivo Pessoa.
3. P.e., Ethelbert W. Bullinger, Diccionario de figuras de dicción usadas en la biblia. editorial clie, 1985, p. 384.