Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Na cena internacional, conflitos e situações de impasse diplomático arrastam-se, e em Portugal as atenções centram-se nas eleições de 18 de maio, para a Assembleia da República. Mas falemos da Galiza e do Dia da Letras Galegas, que se celebra em 17 de maio. A Galiza é uma comunidade autónoma espanhola com profunda afinidade linguística e cultural com Portugal, e os media portugueses recordam por vezes o significado dessa relação, uma herança do português nem sempre devidamente reconhecida. Na verdade, o contributo da Galiza não é só o da Idade Média, e um trabalho incluído no jornal Público, em 11/05/2025, relembra que a família e o apelido de Camões terão origem no sul da atual província de Pontevedra, na povoação de Camos, não longe de Vigo; que Fernando Pessoa também tinha um antepassado galego da província da Corunha que emigrou para os Açores; e até a genealogia de Eça de Queirós inclui gente galega. Há, portanto, uma grande ligação não só da história linguística, mas igualmente da história demográfica, por via das migrações que a fronteira nem sempre travou. Voltando ao Dia das Letras Galegas, assinale-se que a edição de 2025 é dedicada à poesia popular oral, conforme a conservaram quatro mulheres da freguesia de Mens, isto é, quatro cantareiras, homenagem com qual, lê-se nas páginas da Real Academia Galega, se quer «recoñecer a importancia da poesía popular oral, que acompaña a nosa sociedade desde sempre». Anote-se que cantareira é um caso de "falsos amigos" entre o galego e o português: com efeito, este vocábulo não se relaciona com cântaro, mas, sim, com cantar, com o significado de «cantiga, canto». Em galego, uma cantareira será aproximadamente o equivalente a cantadeira, ou seja, mulher que canta canções tradicionais, muitas delas com versos e quadras igualmente conhecidas em Portugal.

Na imagem, ilustração de de Nuria Díaz (crédito: Cultura Galega, 10/03/2025).

2. No outro lado do mundo, em Timor-Leste, pergunta-se como evolui o português em Timor-Leste. Que papel tem este idioma na sociedade do país? Em Lusofonias, divulga-se com a devida vénia uma reportagem da SIC Notícias sobre a função identitária que a língua portuguesa exerce entre os Timorenses.

3. Na oferta de emprego e na atividade empresarial, desengane-se quem pense que o português é irrelevante. Um trabalho incluído no Público Brasil (06/05/2025) e disponibilizado em O Nosso Idioma mostra que a língua portuguesa é fator diferencial na admissão de novos profissionais nas empresas brasileiras.

4. Na frase «João foi à escola durante o período da tarde», deve colocar-se uma vírgula entre «escola» e a expressão circunstancial «durante o período da tarde»? A resposta está no Consultório e integra o conjunto de cinco esclarecimentos, que abrangem outros tópicos: a etimologia de alguns termos relativos jogos de cartas; a sintaxe do verbo chocar; a expressão «pagar em dinheiro»; e a construção «esse tal de...».

5. Porque «fim de semana» não tem hífen e guarda-chuva tem? No 29.º episódio de Ciberdúvidas Vai às Escolas, esclarece esta dúvida, de um estudante do Instituto Politécnico de Lisboa. Quanto a Ciberdúvidas Responde, o 34.º episódio trata de outra questão, relacionada com as regras da concordância: diz-se «conteúdos e competências estratégicas» ou «conteúdos e competências estratégicos»?

6. O escritor angolano Luandino Vieira completou 90 anos em 4 de maio do corrente ano. O aniversário do escritor foi assinalado por As Artes entre as Letras, que lhe dedica o n.º 386 (14/05/2025). Acrescente-se que o autor de Luuanda (1963) é um dos participantes no colóquio “Ventos de Mudança – Como ler as independências cinco décadas depois”, organizado nos dias 15 e 16 de maio pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em comemoração dos 50 anos da independência dos países africanos de expressão oficial portuguesa (cf. Jornal de Letras, 14 a 27/05/2025, p. 31). À volta deste escritor e da literatura angolana, sugere-se a leitura dos seguintes conteúdos em arquivo: "Prémio Camões 2006 atribuído ao escritor angolano José Luandino Vieira", "Papéis da Prisão de Luandino Vieira em versão digital", "Linguística da literatura angolana" e "Uma viagem lusófona".

7. O registo, ainda, de Flores de Cinza, o novo livro da escritora Dora Gago, cujas crónicas abordam frequentemente questões da língua (ver aqui).

8.  Temas de dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, dizem respeito à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 16/05/2025, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), o investigador Paulo Feytor Pinto (CELGA/ILTEC) aborda o português como língua pluricêntrica no contexto africano, temática que será discutida na 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes, que decorrerá de 22 a 24 de maio, em modo híbrido, no Iscte.

– Em Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 18/05/2025, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 24/05/2025, 15h30*), o mesmo investigador apresenta as características das línguas pluricêntricas, com os seus enquadramentos teóricos e implicações sociais, educacionais e culturais, discussão que será promovida também na 11.ª Conferência sobre Línguas Pluricêntricas e suas Variedades Não-Dominantes.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As estratégias que as diferentes línguas adotam para expressar os números podem constituir um desafio à aprendizagem e à compreensão. Com efeito, nem todos os sistemas linguísticos organizam a comunicação dos números usando as mesmas estratégias, ainda que o pensamento de base decimal, linear ou adaptado, seja dominante. Assim, em português, o número 92 diz-se somando o número maior (noventa), que surge em primeiro lugar, ao número menor (dois), apresentado em segundo lugar. O mesmo sistema é adotado, por exemplo, em línguas como o espanhol, o italiano ou o inglês. Um caso particular é o da língua francesa, que, embora adote também um método decimal, a partir do número 70 verbaliza os números segundo uma estrutura vigesimal, ou seja, de base 20. Deste modo, 70 diz-se soixante-dix («sessenta-dez»),  80, quatre-vingts («quatro vintes») e 92, quatre-vingt-douze («quatro-vinte-doze). Encontramos, todavia, línguas que adotam outros padrões de comunicação dos números, como é o caso do esloveno, que, seguindo uma base decimal, adota uma ordem diferente, apresentando, em primeiro lugar, o número mais baixo. Assim, 92 diz-se, em esloveno, dvaindevetdeset, uma palavra complexa que inclui os seguintes elementos dva («dois»); in (e); devetdeset (90, à letra «nove-dez», ou seja, 9 vezes 10). Em alemão, identificamos também a adoção da ordem «unidade-dezenas». Com efeito, os números entre 21 e 99 são ditos segundo esta ordem. Por exemplo, 92 diz-se zwei­und­neunzig, que se decompõe nos elementos zwei («dois»), und («e») e neunzig («nove-dez»). Deste modo, diz-se, à letra, «dois e nove-dez». Por fim, mencionemos o sistema dinamarquês, que assenta igualmente na base decimal, mas apresenta algumas curiosidades que lhe trazem complexidade. A partir do número 50, diversas construções assentam no sistema vigesimal, tal como acontece no francês, mas incluindo formas arcaicas truncadas. Assim, 50 diz-se halvtreds. A palavra integra o elemento halv, que colocado antes de um número o reduz em 0,5. Por exemplo, se for colocado antes do número 3, redu-lo para 2½ (dois e meio). Deste modo, halvtreds, que tem como forma longa halvtredsindstyve, inclui os seguintes elementos: halv (meio ou metade), treds («terceiro», de tredje, que corresponde ao número 3), -ind(s) (sufixo que vem de uma forma antiga de multiplicação: -sind, que significa vezes) e tyve (vinte). Desta forma 50, diz-se, à letra, «2½ × 20». Já 92 dir-se-á tooghalvfems, ou seja, to («dois»), og («e») e halvfems («noventa»). O elemento halvfems é a forma abreviada de halvfemsindstyve, que significa literalmente «quatro e meio vezes vinte», ou seja "4½ × 20" (= 90). A forma como a língua evidencia as conceções da realidade é um domínio extraordinário, que permite compreender como os humanos resolveram problemas relacionados com a referência à realidade, de forma diferente, usando, ainda assim, os mesmos instrumentos linguísticos. 

2. Ainda no rescaldo da eleição do papa Leão XIV, a consultora Inês Gama vem explicar o significado, a formação e a história ligada à expressão «sumo pontífice», um conjunto de curiosidade disponíveis num apontamento divulgado na rubrica O Nosso Idioma. Por seu turno, o professor universitário e linguista Dieter Kremer centra-se no nome de batismo do papa Leão XIV Robert Francis Prevost e explica a sua origem e formação num apontamento de onomástica, traduzido do alemão e aqui partilhado com a devida vénia. 

3. No Consultório, apresenta-se a resposta a seis questões endereçadas ao Ciberdúvidas: «Qual a forma correta: «a quatro mãos« ou «a duas mãos»?»; «O que justifica o uso do pretérito mais-que-perfeito em «se houvera quem me ensinara»?»; «Está correta a frase ««O vento era muito forte como se fossem «touros indómitos»»?»; «Qual a origem das palavras bombordo e estibordo?»; «Como analisar a oração «Espero que sim!»?»; «O verbo falar pode ter dois complemento não diretos?»

4. A professora Carla Marques, no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, analisa a função da partícula -se na frase «Ouviram-se os jovens».

5.  Assinalando o Dia Mundial da Língua Portuguesa, o ex-presidente da República Federativa do Brasil e antigo senador José Sarney apresenta um artigo dedicado à criação da CPLP e à sua missão, colocando a tónica no que constitui a força desta comunidade de países unidos pelo idioma português (transcrito com a devida vénia).

6.  O artigo do consultor Fernando Pestana dedicado aos resultados do INAF 2024 desencadeou alguma polémica, de que dá conta a mensagem disponibilizada na rubrica Correio.

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1. Assinalam-se os 80 anos do fim da 2.ª Guerra Mundial na Europa, acontecimento que não significou mundialmente o termo do conflito, ocorrido meses mais tarde com a rendição do Japão. Os media portugueses, mais focados na campanha para as eleições convocadas em Portugal para 18 de maio, não deixam de dar relevo a cerimónias realizadas, por exemplo, em Londres, no Reino Unido, ou em Moscovo, na Federação Russa, em comemoração do fim do conflito em maio de 1945, conforme visões bastante diferentes da efeméride, para não dizer antagónicas, tendo as hostilidades na Ucrânia como pano de fundo. Mas a grande notícia com interesse internacional foi o conclave que, no Vaticano, pouco depois das 18h00 (hora local) de 8 de maio de 2025, culminou com a eleição de Leão XIVRobert Prevost de nome próprio. No par de dias que durou o conclave, ganhou especial protagonismo visual a chaminé donde sai o fumo negro, indicativo de a votação não ter sido decisiva, ou o fumo branco, que permite proferir depois a tão desejada frase latina «habemus papam» («temos papa»). Cabe recordar que, em português, a palavra chaminé é galicismo antigo, atestado, pelo menos, desde começos do século XV, de acordo com informação do Dicionário Houaiss. Na sua origem, está, portanto, um vocábulo francês, cheminée, forma que poderia sugerir uma relação com chemin, que tem a mesma etimologia e o mesmo significado que caminho. Não é isso que se verifica, e a investigação histórica revela que cheminée vem do latim medieval, da expressão «(camera) caminata», ou seja, «sala provida de uma chaminé», em que caminata constitui um derivado de camīnus, i, «forno, fornalha», este do grego káminos, ou, com o mesmo significado e de filiação obscura (ibidem).

À volta do nome do novo papa, Leão XIV, veja-se o apontamento de Marco Neves no Instagram e o de Helder Guégués no blogue Linguagista ("A importância de se chamar Prevost", 08/05/2025). Sobre os papas que se sucederam desde 1997, ano da fundação do Ciberdúvidas, leiam-se: "Numeração de reis, papas e séculos, novamente", "Totus tuus", "Antecessor e predecessor", "Benedito ou Bento?", "As palavras do papa", "Da alva ao camauro". Na imagem, a chaminé do telhado do edifício onde se encontra a Capela Sistina, espaço de realização dos conclaves (fonte: "Gaivotas viralizam durante conclave na Capela Sistina", Correio do Povo de Penedo, 09/05/2025). Na foto, veem-se também gaivotas, cuja presença os media e as redes sociais deram especial atenção.

2. Outras preocupações são as de Discurso Académico: Complexidade Teórica e Diversidade Didática, um volume que reúne artigos apresentados no III Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA 3) e a que se dedica uma nota em Montra de Livros.

3. Como integrar no ensino básico e secundário o impacto que a Inteligência Artificial (IA) está a ter nas tarefas escolares? Na rubrica Ensino, transcreve-se com a devida vénia a reflexão que a professora, linguista e consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques escreveu como editorial do n.º 22 (2025) do Boletim dos Sócios da Associação de Professores de Português.

4. No Brasil, foi publicado o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2024, no qual se revela que, entre os universitários, há graves lacunas no desenvolvimento da leitura crítica, da interpretação de textos e da argumentação. Sobre este assunto, registem-se as críticas que o gramático Fernando Pestana publicou no seu mural de Facebook (07/05/2025).

5. No meio de reações ora favoráveis ora adversas, a verdade é que os falantes de português europeu usam brasileirismos e estão cada vez mais em contacto com o português do Brasil, até porque a imigração de cidadãos deste país se faz notar de forma expressiva. Em Lusofonias, divulgam-se as declarações do professor português José Manuel Diogo à jornalista Amanda Lima, em entrevista incluída no DN Brasil em 05/05/2025.

6. Se nenhum já equivale a zero, para quê usar o plural nenhuns? A pergunta faz parte da atualização que integra outras cinco questões: a locução «no ponto» está correta? Junto pode ser advérbio?  Um aparte pode conter um comentário? Diz-se "cobranto" ou quebranto? O que se entende por «primo carnal»?

7. Tópicos abordados nos projetos em vídeo do Ciberdúvidas: em Ciberdúvidas Responde (episódio 33), fala-se da função sintática de lhe na frase «pegou-lhe ao colo»; e em O Ciberdúvidas Vai às Escolas (episódio 28, com a participação do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação) dão-se dicas para distinguir veem de vêm e vem.

8. Foi lançado e apresentado por Teresa BrocardoSampaio da Nóvoa no final de 2022, mas problemas de edição levaram infelizmente a retirá-lo do mercado. Chega agora a boa notícia de que o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval, elaborado por Malaca CasteleiroMaria Francisca Xavier e Maria de Lourdes Crispim, se encontra finalmente disponível. Para saber mais sobre esta obra fundamental para os estudos de linguística histórica respeitantes ao português, consulte-se o comentário que a linguista Margarita Correia fez, ainda em 2022, e que se partilha aqui.

9. Temas de dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 09/05/2025 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) propõe uma revisão crítica do que significa, nos dias de hoje, com a influência da Inteligência Artificial, ensinar português.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 11/05/2025, 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 17/05/2025, às 15h30*), celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa através da leitura de textos de Luís de Camões, Bernardo Soares, João Cabral de Melo NetoManuel Bandeira e Mia Couto. Este programa conta ainda com a participação da professora Carla Marques, com um comentário acerca do neologismo e da sua importância.

* Hora oficial de Portugal continental.

N. E. – Texto atualizado em 11/05/2025.

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1. Comemorou-se a 5 de maio o Dia Mundial da Língua Portuguesa, numa altura em que se assumem os desafios de olhar para o crescimento da língua «dando voz à multiplicidade de vozes que a compõe e que constitui um dos seus traços fundamentais» (Camões, Instituto da Cooperação e da Língua). A comprovar este dinamismo da língua e a sua constante evolução, recordamos as declarações da linguista Helena Figueira, do Priberam, à agência Lusa, onde assinalou um aumento do léxico «com forte influência do português do Brasil e um crescente contributo dos PALOP» . Ainda neste apontamento, a linguista destacou o recurso frequente às proposições de e em em usos sintáticos típicos do português do Brasil, o que espelha os fenómenos de contacto em curso entre as variedades de português europeu e a brasileira. As celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa motivaram, um pouco por todo o lado, uma diversidade de iniciativas unidas pelo intuito de dar à língua portuguesa a relevância que ela merece. Em Portugal, a Universidade de Coimbra e a Universidade Aberta organizaram sessões de conversa/debate em torno de temas relacionados com a língua (aqui e aqui) e a Universidade do Porto promoveu um seminário internacional sobre o ensino do português como língua estrangeira no contexto chinês (dia 6 de maio ─ programa). Por seu turno, o jornal Público, organizou na biblioteca do Palácio Galveias uma conversa que partiu do tema “Quando o livro, a leitura e a escrita deixam de ser só um prazer e passam a ser uma obrigação» (notícia). Também um pouco por todo o mundo lusófono se assinalou este dia da língua. No Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a programação foi dedicada a saraus, mesas literárias, performances, entre outras atividades. O Camões ─ Instituto da Cooperação e da Língua desenvolveu também atividades em diversos locais, como em Berlim, com a mesa-redonda de bilingues, que deu destaque ao português «como língua identitária e de afeto» (notícia), ou em Praga, que celebrou o dia com a presença da fadista Cristina Branco (notícia). Em Timor, Xanana Gusmão, considerando a língua portuguesa parte da identidade timorense, pediu aos timorenses que incentivassem os seus filhos a aprenderem o português (notícia). O Dia Mundial da Língua Portuguesa foi ainda contexto para o lançamento, pela Direção Geral da Educação, de «três ebooks didáticos, concebidos com o objetivo de promover a aprendizagem e a prática da língua portuguesa de forma autónoma e, também, lúdica» (disponíveis aqui). Também o Plano Nacional de Leitura aproveitou a data para lançar um Guia Didático sobre Leitura. Pluricêntrica, viva e cheia de matizes, a língua portuguesa está viva! 

2. O professor e poeta João Pedro Mésseder dedicou à língua portuguesa um belo texto em prosa poética, que motiva uma reflexão sobre o belíssimo património vivo que constitui uma língua, herança de todos nós: «[u]ma língua traz-nos no ventre muitos séculos. Nos últimos nove meses, os da gestação, começamos a escutar o seu timbre, o seu ritmo, a sua métrica. Sem darmos conta, a língua alimenta-nos, agasalha-nos, estamos nela mergulhados, na sua água, no seu calor.» (transcrito, com a devida vénia, do mural de Facebook da Leya Educação). 

3. Refletindo sobre a liberdade que as palavras podem conferir e sobre a ação de obras marcantes como as Novas Cartas Portuguesas, de autoria de  Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta Maria Velho da Costa, publicadas em 1972, a professora e investigadora Dora Gago defende: «Hoje, acender o poder das palavras veiculadoras de valores de liberdade, de igualdade, de paz, revela-se cada vez mais necessário, perante tantos retrocessos a que assiste, um pouco por todo o mundo, perante a aceitação passiva das maiores barbaridades.» (texto divulgado na rubrica Na 1.ª Pessoa). 

4. No Consultório, esclarece-se sobre como proceder para retomar três antecedentes distintos num dado texto. A esta resposta juntam-se outras cinco, que vêm esclarecer dúvidas específicas: «Qual a construção correta: "fazer alguém de herói" ou "fazer de alguém herói"?»; «Como traduzir a locução conjuncional francesa bien que?»; «Como analisar a estrutura nominal "a louca da tua mulher"»?»; «É possível usar o imperfeito do conjuntivo em lugar do mais-que-perfeito do conjuntivo em condicionais contrafactuais?»; «As construções "estar diretor" e "ser diretor" são possíveis?».

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Por proclamação da 40.ª sessão da Conferência Geral da UNESCO em 2019, festeja-se a 5 de maio o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Recorde-se que a data já fora oficialmente estabelecida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o intuito de celebrar a língua portuguesa como traço identitário comum a vários países e culturas. Em Portugal, contam-se em 2025 diferentes iniciativas que visam dar visibilidade à efeméride, muito embora a situação política interna e externa pareça suscetível de roubar a exuberância dos eventos oficiais de anos anteriores. Em todo em caso, no contexto da constante tensão entre «forças de união» e «forças de separação» (expressões do filólogo e linguista Ivo Castro) em que vive a língua portuguesa, tensão que se faz também sentir noutras línguas pluricêntricas, o dia 5 de maio oferece mais um momento para avaliar o estado do idioma. Nesse sentido, divulga-se em O Nosso Idioma um texto do gramático brasileiro Fernando Pestana, que compara uma frase com traços típicos do português europeu com a sua variante brasileira. Sustentando que o português mantém a sua unidade fundamental, Fernando Pestana argumenta que, do ponto de vista do conceito de língua, o sistema linguístico é o mesmo em Portugal, no Brasil, em Angola ou qualquer outro país da CPLP, porque o sistema, «vasto, flexível, pleno de possibilidades», permite escolhas, isto é, dentro daquilo que se pode denominar estilo, «que varia conforme o lugar, o tempo, a intenção, a identidade de quem fala».

Na imagem, aspeto do cartaz com que a Rede de Bibliotecas Escolares (Ministério da Educação, Ciência e Inovação, Portugal) assinala em 2025 o Dia Mundial da Língua Portuguesa

2. A projeção internacional da  língua portuguesa passa pelo seu ensino como língua estrangeira. Na Montra de Livros, apresenta-se um recurso que possibilita uma programação mais rigorosa da aprendizagem do léxico no âmbito de cursos e atividades em Português como Língua Estrangeira (PLE): RefLex. Referencial Lexical para o Português Língua Estrangeira: um Recurso para Professores e Investigadores de PLE/L2 (Universidade do Porto, 2024).

3. Nas muitas palavras dos comentários televisivos à volta do falecimento, velório e funeral do Papa Francisco, detetam-se erros e usos duvidosos. No Pelourinho, o consultor Carlos Rocha aponta três casos.

4. O apagão que afetou Portugal (ver Abertura de 29/04) levou muitos portugueses a procurarem algum forma de acesso a notícias, razão por que se redescobriu um velho equipamento: o rádio que funciona com pilhas ou mais simplesmente «o rádio a pilhas» – ou «rádio de pilhas»? A pergunta é feita no Consultório, onde se incluem seis novas respostas, abrangendo outros tópicos relativos ao léxico – «máquina de rastos», «ala-arriba» –, à coesão frásica e textual – «com efeito» vs. «de facto» – e às relações entre sintaxe e semântica – o uso escrito de ou e a preposição para a introduzir uma oração consecutiva.

5. Nos projetos em vídeo do Ciberdúvidas abordam-se as seguintes questões: as grafias porque, porquê e «por que» no 27.º episódio de Ciberdúvidas Vai às Escolas (participação de alunos e professores do Instituto Politécnico de Lisboa); e o uso correto de «mais bem» em Ciberdúvidas Responde (episódio 32).

6. Registo de textos da atualidade, com interesse para questionar tendências e inovações linguísticas e culturais: o termo humanicídio incluído no artigo de opinião intitulado "O humanicídio de Gaza: extermínio, impunidade, negação do indivíduo e da humanidade" e assinado pelos políticos e académicos Cláudia SantosFernando RosasManuel Loff (Público, 23/04/2025); à volta da imigração brasileira em Portugal e da expressão jocosa "Guiana brasileira", cabe mencionar "Guiana Brasileira” e memes como marcadores de identidade coletiva", da investigadora Ionara Silva (Público Brasil, 28/04/2025); a respeito da tendência de escrever sem maiúsculas, identificada recentemente entre os jovens, que fazem alguma tábua-rasa da própria pontuação, leia-se a crónica "A pontuação é uma arma", do escritor Miguel Esteves Cardoso (Público, 29/04/2025);

7. Relativamente a dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, são temas de entrevista:

– A professora Sandra Duarte Tavares fala sobre o significado de comunicação assertiva e a função do pleonasmo num texto literário em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 02/05/2025, 13h20*; repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*).

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 04/05/2025, 12h30*; com em 10/05/2025, 15h30*), entrevista-se a professora e linguista Edleise Mendes, da Universidade Federal da Bahia quanto aos desafios que se apresentam hoje a quem ensina a língua portuguesa, designadamente, no concernente à utilização da Inteligência Artificial e das novas tecnologias no processo de aprendizagem. O programa conta ainda um apontamento gramatical da professora Carla Marques sobre a função sintática do se na frase «ouviram-se os jovens».
 
* Hora oficial de Portugal continental.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Portugal viveu no dia 28 de abril uma situação de apagão generalizado, que se estendeu a toda a Península Ibérica. Às 11h30 (hora de Lisboa), todo o sistema elétrico deixou de funcionar, gerando o caos nos transportes, nos aeroportos e colocando em risco o sistema de saúde. Anunciou-se que o abastecimento de água poderia não estar assegurado e que a reposição do sistema elétrico poderia demorar. O medo da escassez de alimentos gerou as reações mais intempestivas, levando a que nos supermercados se esgotassem os bens alimentares enlatados, papel higiénico e água engarrafada. Felizmente, o abastecimento de eletricidade foi sendo reposto gradualmente e o dia 29 já amanheceu com a promessa de regresso à normalidade. Neste evento sem precedentes, a palavra em destaque foi apagão, um termo que merece duas reflexões no plano linguístico. Por um lado, a análise feita ao léxico mobilizado na comunicação social vem mostrar que o lexema português substituiu definitivamente (pelo menos neste caso) os termos ingleses com os quais competia – blackout e shutdown. Por outro lado, importa compreender a origem e semântica da palavra apagão. Esta deriva, segundo o Dicionário Houaiss, do espanhol apagón, formado a partir da base verbal apag(ar), a que se junta o sufixo -ón (-ão, em português), que expressa o resultado de uma ação, presente em nomes como apertão, arrastão ou esticão, por exemplo. Assim, ao contrário do que poderia parecer, a palavra apagão não corresponde ao grau aumentativo de um nome cujo grau normal teria uma forma como *apaga (que não existe). Trata-se, sim, de um nome deverbal que pode ser usado coloquialmente para referir a suspensão temporária de um dado serviço (informático, de telecomunicações...) ou também a perda temporária de memória ou de consciência (Infopédia). Este acontecimento veio demonstrar a importância da rede elétrica para o estilo de vida moderno, no qual grande parte das atividades desenvolvidas e serviços disponíveis dependem da existência de eletricidade. 

2.  No Vaticano, o conclave que irá proceder à eleição do novo papa está agendado para o dia 7 de maio e prolongar-se-á até que o novo bispo de Roma tenha sido escolhido pelos seus pares, o que será sinalizado com fumo branco e a tradicional expressão latina «Habemus papam» («temos papa»), que anuncia oficialmente ao mundo católico a eleição do novo papa. Enquanto não chega esse momento, vive-se o tempo de «missas novendiais» (do latim novemdiales), expressão que designa o período de nove dias durante o qual se realizam missas de sufrágio ao papa falecido. Até à chega do novo papa, a Igreja vive o chamado período de «sede vacante» (do latim sedes vacans, "trono vazio"), expressão que designa o intervalo de tempo durante o qual se está sem papa. Nesta época, é tempo ainda de recordar o legado do Papa Francisco, que também deixou marcas na língua, como é o caso da expressão «todos, todos, todos», usada pelo papa na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, no ano de 2023, para recordar que a Igreja não exclui ninguém. A este propósito, a consultora Inês Gama procede à análise linguística do lexema todos, evidenciando a sua versatilidade, neste apontamento

3. A atualização do consultório integra uma breve exposição dedicada a alguns aspetos etimológicos que podem contribuir para explicar a formação do topónimo Manho (ou Manhos). No plano lexical, reflete-se sobre aspetos relacionados com a «cor de coral» e, no plano sintático, analisa-se a correção da coocorrência dos termos «Ninguém... não» numa frase e a adequação da estrutura «ter dúvidas se». No âmbito do quadro gramatical brasileiro, propõe-se uma análise para o adjetivo na frase «Enamorou-se, jovem, de Gabriela» e esclarece-se sobre como classificar a locução «tão pouco»

4. No âmbito da rubrica dúvida da semana, a professora Carla Marques explica por que razão a construção «*Ele faz o que gosta» está incorreta e analisa possibilidades para a sua correção, num apontamento também divulgado no programa da Antena 2, Páginas de Português. Na mesma linha de correção dos usos, o consultor Paulo J. S. Barata, reflete, num texto divulgado no Pelourinho, sobre qual o termo correto: chicana ou "chincana"?

5. Cotejando o léxico usado no português do Brasil com formas do português europeu, o consultor Fernando Pestana recorda que muitas formas consideradas "brasileirismos" advêm da variedade europeia, um aspeto que por vezes as limitações da memória linguística tendem a encobrir. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, comemora-se o 25 de Abril de 1974, data que marca a instauração do regime democrático no país, a descolonização e uma aproximação à Europa que culminou em 1986 com a adesão à então chamada Comunidade Económica Europeia, à qual sucedeu em 1993 a União Europeia. Um aniversário é sempre ocasião para balanços e justifica-se recordar o que mais interessa nestas páginas: o impacto linguístico desse acontecimento de há 51 anos, que diz também respeito aos países africanos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e às normas nacionais que neles vão emergindo. Sobre a efeméride, cabe, portanto, sugerir a (re)leitura dos muitos conteúdos aqui disponíveis, referentes aos caminhos percorridos pela nossa língua comum neste meio século: "Palavras que nasceram com a década [1974-1984]"; "O 25 de Abril no léxico português"; "Revolução"; "Ponte 25 de Abril";  "Nos 30 anos do 25 de Abril"; "Palavras do 25 de Abril (1974-2014)"; 47 palavras nos 47 anos do 25 de Abril; "48 expressões e palavras nos 48 anos do 25 de Abril"; "Nomes que avivam memórias, neste outro 25 de Abril: 49 anos de vida e cultura democráticas";  "50 palavras nos 50 anos do 25 de Abril"; "Viva a liberdade!"; "O 25 de Abril e a afirmação da língua portuguesa em África" ; "As palavras e a mudança: do 25 de Abril à era tecnológica, da extensão semântica à eliminação lexical";

Como o 25 de Abril é feriado em Portugal, a próxima atualização fica agendada para 29 de abril. Na imagem, Cravos de Abril, da artista plástica Argentina Alarcão (cf. blogue O Carteiro da Saudade, "Os cravos de abril", 07/03/2019).

2. Entre os temas da atualidade, destaca-se, em 21/04/2025, a morte do Papa Francisco. Sobre o argentino Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do falecido papa, escreve a jornalista Inês Moreira Santos (RTP, 21/04/2025): «Sumo Pontífice desde março de 2013, Francisco iniciou uma nova era no Vaticano, marcada pela simplicidade, a humildade e um percurso de proximidade ao mundo.» Com o desaparecimento de Francisco, cujas exéquias têm lugar em 26 de abril, a comunicação mediática ativa léxico associado ao processo de escolha do novo papa. Salientem-se dois vocábulos: conclave, «reunião do sacro colégio de cardeais, convocado para eleger um novo pontífice» ou «aposento do Vaticano onde se dá tal reunião, a portas cerradas», do latim conclāve, is , na aceção de «toda a parte de uma casa fechada a chave, quarto, alcova» (Dicionário Houaiss); e camarlengo ou camerlengo, «cardeal que preside à Câmara Apostólica, e exerce a autoridade papal num interregno pontifício», termo que adapta o italiano camerlengo, que, por sua vez, tem origem no germânico kamerlinc, «inspetor da câmara» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). 

Sobre palavras e expressões valorizadas ou criadas pelo Papa Francisco – «Alzheimer espiritual»,  «desertificação espiritual», «economia da exclusão», «globalização da indiferença» ou «revolução da ternura» –, mencione-se Dicionário Bergoglio: as Palavras-Chave de um Pontificado (Farol, 2022), tradução para o português da obra Dizionario Bergoglio: le Parole Chiave di un Pontificato, do filósofo e teólogo catalão Francesc Torralba (mais informação aqui e aqui). Sobre a etimologia de papa, ler aqui.

3. Dois textos entram na rubrica O Nosso Idioma: "Ainda se diz 'uma bica, se faz favor'?", da consultora Inês Gama, que se refere à origem de bica como designação do café servido numa chávena pequena (o também chamado «café expresso»); e "Colocação pronominal: português do Brasil x português europeu", apontamento em que o gramático Fernando Pestana contesta a ideia de a sintaxe pronominal estar claramente diferenciada no Brasil e em Portugal.

4. A Diálogos com Lídia Jorge (Edições Dom Quixote), da autoria de Carlos Reis, professor catedrático emérito da Universidade de Coimbra, a escritora e professora universitária Dora Nunes Gago dedica o apontamento "Da magnífica arte de dialogar ", que se inclui na rubrica Literatura. Trata-se  de «uma publicação essencial, não apenas para alargarmos o nosso conhecimento da obra de Lídia Jorge, mas sobretudo, para nos enriquecermos com a discussão de temas atuais do mundo, da sociedade portuguesa, que nos ajudam a entender o passado e o presente e a equacionarmos o futuro».

5. Na frase «Ela tem olhos brilhantes feito o Rei Sol», reconhece-se um uso de feito que é típico do português do Brasil, conforme se comenta na atualização do Consultório. São ao todo sete novas respostas que abrangem as áreas do léxico – "A expressão 'tomar estado'" e "Unção e ungir" –, da semântica – "O advérbio especificamente" e "Os valores semânticos da preposição com" –, das classes de palavras – "Como, palavra denotativa de explicação (Brasil)" – e da sintaxe – "Concordância entre pessoa e herói".

6. Voltando ao campo literário, assinala-se em 23 de abril o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. É uma celebração proclamada em 1995, na 28.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e inspirada numa tradição catalã segundo a qual os cavaleiros ofereciam às suas damas uma rosa vermelha de São Jorge (Sant Jordi) e, em troca, recebiam um livro como testemunho dos seus atos de bravura (Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2025, Eurocid). Recorde-se que o Rio de Janeiro é, em 2025, a Capital Mundial do Livro, tornando-se assim a primeira cidade de língua portuguesa a receber este título (ibidem).

7. Refiram-se ainda dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, divulgam e debatem temas da língua portuguesa:

Língua de Todos, na RDP África, transmitido na sexta-feira, pelas 13h20, e repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00);

Páginas de Português, na Antena 2, ao domingo, pelas 12h30, e repetido no sábado seguinte, às 15h30.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois ambos os programas disponíveis aqui e aqui.

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1. Em Portugal, decorre a interrupção escolar da época da Páscoa, e também as atualizações regulares do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa fazem uma pausa até 21 de abril. Nos próximos dias, suspende-se o acesso ao formulário para envio de questões e não haverá novas respostas no Consultório, mas em 22 de abril retoma-se a atividade normal. Entretanto, continuará disponível a consulta de todos os conteúdos do Ciberdúvidas, os quais contam já com mais de 38 000 respostas, a que se juntam perto de 12 000 artigos sobre diferentes questões da língua portuguesa.

Na imagem, cerejeiras da região do Fundão (Castelo Branco, Portugal). Crédito: Notícias da Covilhã, 08/04/2021.

2. Mesmo assim, novos artigos vão dando entrada nas rubricas Na 1.ª PessoaNotícias e Montra de Livros, e, portanto, assinalam-se em:

O Nosso Idioma: "Provérbio 'Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira'" (08/04/2025); "'Chega-m'isso' e sicofantas" (11/04/2025).

Literatura: "Ana Paula Tavares " (08/04/2025).

Pelourinho: "Mais 'mal' desaproveitada?"

3. Recordem-se ainda as emissões de dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, são dedicados à divulgação e debate de tópicos do português em toda sua diversidade:

Língua de Todos, na RDP África, transmitido na sexta-feira, pelas 13h20, e repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00);

Páginas de Português, na Antena 2, ao domingo, pelas 12h30, e repetido no sábado seguinte, às 15h30.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois ambos os programas disponíveis aqui e aqui.

O texto acima foi atualizado em 11/04/2025.

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1. A linguagem não binária é uma questão política e ora é eixo de promoção, ora alvo de ataque de governos, em função das opções ideológicas das forças que exercem o poder. Um exemplo de como a linguagem neutra suscita reações contrárias fortes vem da Itália, país onde o Ministério da Educação (em italiano, Ministero dell'Istruzione e del Merito) determinou a proibição do uso de símbolos de linguagem neutra nas escolas ("Itália proíbe símbolos de linguagem neutra nas escolas e incendeia debate cultural", Executive Digest-Sapo, 21/03/2025). A decisão do Ministério de Educação italiano foi tornada pública em 21/03/2025, através da "Nota protocollare n. 1785" (literalmente «nota protocolar»), e visa diretamente dois dos símbolos usados em italiano, para evitar a distinção binária de género gramatical: o asterisco (*) e o schwa (ə), símbolo do Alfabeto Fonético Internacional que se pode aportuguesar como xevá (Infopédia). A referida nota ministerial apoia-se em três pareceres da famosa Accademia della Crusca, instituição que intervém na norma do italiano e que já anteriormente se tinha pronunciado sobre o uso destes símbolos, tendo considerado em 2024 que «a língua jurídica e burocrática não é a sede adequada para experiências inovadoras que transmitem falta de homogeneidade e comprometem a linearidade da compreensão dos textos». Em Portugal, como noutros países de língua portuguesa, têm sido usados os símbolos @ e, por vezes, x, em situações como "tod@s" e "todxs" (= «todas e todos»), além de haver falantes que realizam fonética e morfologicamente o marcador neutro como e – "todes". Diga-se, no entanto, que, ainda em Portugal, tanto quanto é dado a observar, estes símbolos não ocorrem em textos administrativos nem se aceitam nas escolas, pelo que uma nota similar da parte do ministério homólogo português, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação, seria muito de admirar.

Sobre este assunto, sugere-se a leitura dos vários artigos que se encontram identificados na lista do subtema "Linguagem inclusiva". Na imagem, "Mês de Abril", tela datada de 1669, da autoria de Baltazar Gomes Figueira e Josefa de Óbidos (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).

2. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama faz uma breve apresentação de alguns dos provérbios mais emblemáticos relacionados com o mês de abril. Na mesma rubrica, o gramático brasileiro Fernando Pestana lembra num apontamento que facto e fato são variantes legítimas da língua portuguesa, tal como registo e registro, acrescentando: «Cada norma linguística (seja no português, seja no espanhol, seja no inglês, seja no francês) tem as suas peculiaridades, pelo que, quanto mais estudamos a língua, menos sobranceiros e mais compreensivos ficamos.»

3. Continuando a surpreender confusões e velhas incorreções no que se ouve e lê nos media portugueses, o consultor Carlos Rocha regista quatro ocorrências no Pelourinho.

4. No Consultório, volta-se à Mensagem de Fernando Pessoa por causa das metáforas de um dos poemas dessa obra, "Fernão de Magalhães". Outras questões abordadas no conjunto de cinco dúvidas da presente atualização: a locução «nos idos de», o verbo frequentar, o modo associado à conjunção enquanto e a  distinção entre derivados afixais e não afixais.

5. A respeito dos projetos em vídeo do Ciberdúvidas, cabe mencionar O Ciberdúvidas Vai às Escolas*, cujo 24.º episódio é dedicado às regras do hífen em palavras derivadas e compostas, e Ciberdúvidas Responde (29.º episódio), onde o tópico é desta vez o uso das formas empregado  e empregue, particípios passados do verbo empregar.

* Com a participação dos estudantes e docentes do Instituto Politécnico de Lisboa.

6. Dois registos à volta da lusofonia: o projeto “Jovens Leitores”, que foi lançado na Guiné-Bissau e inclui uma formação para 20 jovens artistas do país, para ilustrarem uma nova coleção de contos destinada aos mais novos (in 7 Margens, 02/04/2025); e o relato do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, sobre a sua experiência numa Escola Oficial de Idiomas em Badajoz, capital da Estremadura espanhola, uma região em que o ensino do português tem vindo a crescer (in Pilha de Livros, 02/04/2025);

7. Em dois dos programas em que, na rádio pública de Portugal, se trata de temas da língua portuguesa, são temas em foco:

– em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 04/04/2025, às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Sandra Duarte Tavares aborda alguns problemas relacionadas com o funcionamento do português, nomeadamente, o uso da preposição de junto do verbo avisar, e inclui-se um comentário sobre o sentido da expressão «fizeram bicos de rouxinóis para o meu jantar», no poema "O Falso Mendigo" de Vinicius de Moraes.

– em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 06/04/2025, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 12/04/2025, 15h30*), a professora universitária Helena Carvalhão Buescu (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) apresenta os dois volumes da obra Mundos em Português e a consultora Inês Gama esclarece o provérbio «Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira».

8. Coincidindo com a interrupção letiva no ensino básico e secundário em Portugal, na época da Páscoa, o Ciberdúvidas faz uma pausa até 21 de abril. Durante este período, não funcionará o Consultório, mas, sempre que o interesse ou a atualidade o justifiquem, não se deixará de incluir novos conteúdos nas restantes rubricas (Na 1.ª Pessoa, Atualidades, Outros). A próxima atualização fica agendada para 22 de abril, e, até lá, ficam os votos de boas leituras sobre os temas e os problemas da nossa língua comum.

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1. A Comissão Europeia veio recomendar a criação de um kit de sobrevivência, que permita resistir durante 72 horas numa situação de crise, como um desastre natural ou um conflito armado. O anúncio foi recebido com alguma preocupação pelos europeus, preocupados com os verdadeiros motivos por detrás deste alerta. Alguns especialistas interpretam esta ação como uma «estratégia de linguagem securitária», que visa preparar psicologicamente os cidadãos para a aceitação de determinadas decisões políticas, particularmente no campo do armamento e da defesa, áreas sensíveis no atual contexto geopolítico. Neste âmbito, destaca-se a palavra kit (com o plural kits), um empréstimo do inglês, que entrou com esta forma em várias línguas e que se encontra já dicionarizada, não tendo sofrido qualquer processo de adaptação à língua portuguesa. Embora este vocábulo tenha entrado nos usos quotidianos e o seu significado seja transparente para a maioria dos falantes, será sempre possível substituí-lo por outros termos de matriz mais portuguesa para diversificar os recursos lexicais. Assim, para referir a realidade em questão, propomos também o uso de construções como «pacote de sobrevivência» ou «jogo de sobrevivência». Registe-se, ainda, que no discurso político mundial está em voga um conjunto de palavras pertencentes ao campo lexical de crise, associada ao mundo digital e às suas consequências no cidadão comum, o que esperemos não seja sinal de anúncio de tempos (ainda) mais conturbados. Ei-las: autossuficiência, cibersegurança, ciberataque, conflito e sobrevivência

2. Alertar para o facto de uma situação estar a ser referida em «sentido figurativo» é deixar-se cair numa das armadilhas da paronímia. Esta incorreção, detetada num direto televisivo, motiva a explicação do consultor Paulo J. S. Barata, disponível na rubrica Pelourinho. 

3. Tanto a palavra grémio como a palavra guilda podem ser usadas para referir associações comerciais. No entanto, qual será o vocábulo com mais tradição de uso no português? A explicação é apresentada nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Poderão também ser consultadas respostas no âmbito das áreas da significação lexical («A expressão numa fração de segundo»), da formação de gentílicos («Habitante de Getafe»), da sintaxe («O verbo juntar e o pronome lhe», «Faltar com oração de infinitivo», «Referir um jornal com nome em inglês») e da pragmática («Atos ilocutórios e a frase «está combinado»). 

4. A conjunção mas tem habitualmente um valor contrastivo. No entanto, assinalam-se usos nos quais surge com um valor aditivo, equivalente ao da conjunção e, tal como explica a professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2. 

5. Ainda no quadro do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, o jornalista e político português Alfredo Barroso evoca a rica e contraditória biografia camiliana, que sintetiza deste modo: «Camilo foi transformado, pouco a pouco, numa legenda áurea, numa lenda etérea, num verdadeiro Santo. O que bem se compreende, é mais que justo e de todo merecido. Mas a alma dele é, simultaneamente, tão negra e tão pura, desafiou o demónio tantas vezes e tais, provocou e sofreu tantas dores cá na Terra [...]», num apontamento de cariz biográfico, que se poderá ler na rubrica Literatura

6. Entre os eventos de referência, damos destaque a:

– Debate promovido pela Associação de Professores de Português, em torno do tema do português do Brasil em sala de aula em Portugal, no dia 28 de abril, entre as 17h e as 20h (evento a distância; inscrições abertas); 

Falecimento da escritora brasileira Heloisa Teixeira, que assinou muitas das suas obras como Heloisa Buarque de Hollanda, uma forte voz do feminismo brasileiro;

Dia Mundial da Conciencialização sobre o autismo, assinalado a 2 de abril;

Colóquio Internacional António Jacinto, poeta e guerrilheiro, com lugar a 4 de abril, na Biblioteca Nacional de Portugal; 

– Abertura na Academia das Ciências de Lisboa das candidaturas para o prémio Alberto Sampaio: os estudos, sobretudo no âmbito da História Social e Económica, poderão ser enviados até ao dia 31 de maio (mais informações aqui).