As preposições sobre e sob tendem a confundir-se, quantas vezes a favor da primeira nos contextos errados. A troca é recorrente e detetou-se mais uma vez nas reportagens e comentários à volta dos bombardeamentos que, a partir de 13/06/2025, envolveram forças aéreas de Israel, do Irão e dos EUA.
Dois registos do que se ouviu em dois canais de notícias na televisão:
(1) «O meu país tem estado sobre ataque, sobre agressão» (NOW, 22/06/2025, 10:34)
(2) «Israel mantém sobre ocupação o território palestiniano« (SIC Notícias, 22/06/2025, 11:20)
Em ambos os casos a preposição correta é sob, sinónimo da locução «debaixo de» e, portanto, antónimo de sobre, que significa «em cima de». Ao longo dos anos, esta confusão tem sido retomada em comentários tanto no Consultório como nas outras rubricas, e, portanto, tratando-se de erro reiterado e muito provavelmente com origem em ambiguidades do funcionamento da língua, não é de esperar que este apontamento marque um novo estado de coisas.
Na verdade, o uso incorreto de sobre por sob decorrerá da quase identidade sonora das duas preposições no português de Portugal, com sob a pronunciar-se "sôb" – em transcrição fonética [sob] (cf. Vocabulário Ortográfico do Português) – e sobre a articular-se como "sôbre" – transcrição fonética [ˈsobɾɨ] – e até como "sôbr" e "sôb" na prolação mais rápida.Trata-se, portanto, de duas preposições parónimas, que em certas ocasiões se tornam homófonas.
Nesta perspetiva, uma sequência como "sobre este assunto" poderá soar como "sob'este assunto", e falantes preocupados com a ortoépia, isto é, com a pronúncia correta, e mais sensíveis à erosão fonética das palavras procurarão restituir o "r" perdido. E não poucos restituí-lo-ão onde não devem, por hipercorreção, em contextos em que sob, e não sobre, é a forma correta.
Não pretendendo com estas linhas dar a explicação definitiva deste erro e dar-lhe o remédio infalível, fica, no entanto, uma pista para não cair no engano: se, do céu, algo se precipita sobre nós, é porque estamos sob o que dele cai – bombas, por exemplo. O mesmo vale metaforicamente, pois ao poder exercido sobre alguém ou aos ataques militares lançados sobre outras forças corresponde a situação conversa de haver pessoas sob certo poder ou sob ataque.