Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, os candidatos à eleição do presidente da República – a qual se realiza em 24 de janeiro p. f. – desdobram-se em declarações, e, no meio de debates acesos, regressa a "precaridade", uma incorreção que teima em substituir a forma legítima, precariedade. Relembremos, por isso, uma resposta da autoria de Maria Regina Rocha, intitulada "Precariedade, e não 'precaridade'".

2. Acerca de outros erros insistentes, no Correio, um consulente traz uma dica muito útil para quantos se esquecem de que não devem dizer nem escrever «"haviam" candidatos». Ainda sobre o mau uso do verbo haver, leia-se uma crónica do advogado Domingos Lopes no Pelourinho que, com a devida autorização, transcrevemos do seu blogue; e, em O Nosso idioma, o jornalista João Paulo Guerra retoma num apontamento radiofónico a destrinça entre refugiado e imigrante, a propósito da entrada de milhares de pessoas que fogem à guerra na Síria e no Iraque. No consultório, a perspetiva sobre a nossa língua comum é descritiva, no intuito de analisar uma oração ambígua.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As novas respostas do consultório concentram-se em palavras que suscitam dúvidas, porque:

– se associam a diferentes preposições, à semelhança de soterrado;

– não se sabe bem em que contexto devem ser usadas, como pode ser o caso de parco;

– as mulheres também jogam futebol;

– se enraiza uma locução concorrente de outra mais antiga, situação ilustrada pelo uso da controversa expressão «a maior», sinónima de «a mais»;

– se procura referir a pessoa que faz programas de entretenimento: animador, artista, apresentador...?

2. Assinale-se também o que entrou noutras secções do Ciberdúvidas:

– na rubrica Lusofonias, divulga-se um artigo que o tradutor-intérprete português João Paulo Esperança escreveu sobre os vínculos de Timor-Leste com o mundo de língua portuguesa;

– no Correio, dois consulentes manifestam certa perplexidade com aspetos decorrentes da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: tem sentido óptica e ótica exibirem agora a mesma grafia, ótica? E para quê a supressão do acento agudo de para (antes pára), do verbo parar?

3. Críticas ao Acordo Ortográfico e à sua aplicação em Portugal voltaram a ter destaque em dois espaços televisivos. O primeiro foi no programa da TVI24 Olhos nos Olhos, do dia  4 p. p., com a participação do diretor-adjunto do jornal Público, Nuno Pacheco. O segundo aconteceu na emissão do dia 7 p. p. do debate Quadratura do Círculo, na SIC Notícias.*

* No caso do debate Quadratura do Círculo, sobre algumas imprecisões produzidas por dois dos seus participantes, Jorge CoelhoJosé Pacheco Pereira, sobre a alegada «não implementação» do Acordo Ortográfico no Brasil, remete-se para estes dois esclarecimentos... brasileiros: Acordo Ortográfico em pleno no Brasil desde 1 de janeiro de 2016 + Carta do embaixador do Brasil aos deputados portugueses.

4. O incêndio que destruiu o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, em 21/12/2016, deixou consternados os países e as comunidades de língua portuguesa. Registe-se, por isso, a deliberação do parlamento de Portugal de colaborar na reconstrução daquele espaço, acontecimento a que a imprensa do Brasil não foi indiferente, como se confirma pelo relevo que lhe deu o jornal carioca O Globo.

5. O programa Língua de Todos de sexta-feira, dia 8 de janeiro (às 13h15**, na RDP África, com repetição no sábado, 9 de janeiro, depois do noticiário das 9h00**), foca as dificuldades linguísticas que, em Portugal, encontram os alunos que falam as variedades africanas do português. O Páginas de Português de domingo, 10 de janeiro (às 17h00**, na Antena 2), assinala o projeto de criação de um museu da diáspora e da língua portuguesa na cidade de Matosinhos.

** Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Nesta data, em que tradicionalmente se festeja o Dia de Reis, o consultório disponibiliza duas novas perguntas sobre tópicos da história e do presente da nossa língua comum:

– Qual será a origem da troca do v pelo b (o chamado betacismo), tão característico dos falantes do Norte de Portugal?

– No passado, terá havido relação entre o verbo enxergar, «distinguir, avistar, ver», e o substantivo enxerga, «colchão»?

2. No programa Língua de Todos de sexta-feira, dia 8 de janeiro (às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado, 9 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), o realce vai para uma entrevista com a professora e investigadora Maria Manuel Chitas sobre o estudo Alunos dos PALOP – dificuldades concretas do português europeu. No Páginas de Português de domingo, 10 de janeiro (às 17h00*, na Antena 2), o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, fala sobre a criação de um museu da diáspora e da língua portuguesa naquela cidade.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Brasil passou a aplicar plenamente o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa a partir de 1 de janeiro de 2016, pondo assim termo ao período de transição que começara em 2009 e durante o qual coexistiram a norma mais antiga – a do Formulário Ortográfico de 1943 – e as novas regras. A este assunto dedicou a TV Globo uma reportagem que está também disponível na rubrica Acordo Ortográfico.

2. Como anunciado, o consultório regressa às atualizações trissemanais para neste dia evidenciar a mestria do Padre António Vieira (1608-1697) no uso da interrogação retórica, descrever o comportamento do numeral milhão e analisar a formação de inúmero. Em O nosso idioma, a propriedade vocabular é o tema em foco numa crónica do professor e jornalista angolano Edno Pimentel, que mostra como a confusão entre convite e bilhete é também um problema de honestidade. Por último, no Correio, um consulente retoma o debate sobre a definição da norma linguística: o que é o erro? Que limites devem ter a variação e a mudança da língua?

3. Igualmente neste dia, em cerimónia realizada na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures (Portugal), anunciou-se (ler notícia) que refugiado é a Palavra do Ano de 2015, escolhida entre as dez de uma lista que a Porto Editora pusera em linha em dezembro passado, para votação pública. Além da vencedora, contavam-se as seguintes opções: terrorismo (17% das escolhas), acolhimento (16%), esquerda (8%), drone (7%), plafonamento (6%), «bastão de selfie» (5%), festivaleiro (4%), superalimento (3%) e privatização (3%). Sobre refugiado, podem ler-se no Ciberdúvidas: "A noção jurídica de refugiado", "Refugiados, e não migrantes", "O significado de migrante".

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Vai-se 2015, e, depois dos festejos do Ano Novo, o consultório retoma as suas atualizações semanais na segunda-feira, 4 de janeiro de 2016. Neste entrementes (para usar um arcaísmo, como que em homenagem ao ano velho), entram respostas que aguardavam divulgação e peças jornalísticas que abordam temas da atualidade à volta da língua portuguesa. Comecemos pelo consultório, no qual se propõe um breve comentário sobre a história do verbo calhar e se regista um uso que parece exclusivo do português do Brasil. Em O nosso idioma, um texto de Manuel Matos Monteiro questiona a anglicização que o avanço tecnológico comporta (ver Público de 27/12/2015); e, na mesma rubrica, inclui-se um apontamento que lista vocábulos característicos do falar carioca, aludindo à realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Finalmente, nas Lusofonias, um artigo de Renato Epifânio, presidente do Movimento Internacional Lusófono, defende a validade da ideia de lusofonia (ver Público de 27/12/2015).

2. A propósito das notícias publicadas em Portugal sobre o caso do Banif, convém lembrar que o nome por que este banco português é conhecido resulta de um acrónimo, ou seja, uma redução baseada em iniciais e grupos gráficos do nome oficial – Banco Internacional do Funchal – que se lê como uma palavra – "bànife". Sobre a diferença entre acrónimo e sigla, consultar a resposta "A distinção entre siglas e acrónimos".

3. Com interesse para as culturas de língua portuguesa, registem-se ainda:

– o trabalho que a agência Lusa dedicou à situação (precária) do crioulo português de Malaca (ler aqui).

– a entrevista que o músico e escritor Mário Lúcio, galardoado em 2015 com o Prémio Miguel Torga pelo livro Biografia do Língua, concedeu ao jornal Público (de 27/12/2015) e na qual o também ministro da Cultura de Cabo Verde evoca, com alguma ironia, o impacto da linguagem publicitária nas suas aprendizagens: «Aprendi a ler graças à importação das latas de banha e de azeite de Portugal. [...] Inventava muito o ler quando ainda não sabia ler. E às vezes acertava. É muito engraçado. Também hoje me pergunto como é que copiava Vaqueiro, V, A, Q, U, E, I, R, O, e como é que sabia que era vaqueiro. Essa frase sempre me perseguiu, era muito criança e repetia: “Vaqueiro torna tudo mais apetitoso.” Ou a lata de banha, “Braço Forte, Lda.” Ou: “Azeite Galo.” Copiávamos tudo o que havia. Isso tudo no chão de terra batida. E líamos. Ali nasceu a escrita.»

4. O incêndio no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, foi um dos desastres de 2015. E acerca do que já se projeta para o reerguer, o programa Língua de Todos de sexta-feira, 1 de janeiro (às 13h15* na RDP África; com repetição no sábado, 2 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*) entrevista António Carlos Sartini, diretor desse lugar único, inaugurado em 2006. No Páginas de Português de domingo, 3 de janeiro (às 17h00*, na Antena 2), em conversa com o professor José de Sousa Teixeira, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, fala-se de provérbios e frases feitas: o que são, para que servem, qual a sua importância para a língua portuguesa, a utilização que têm na literatura, na publicidade, na política... Alguns exemplos: «presunção e água benta, cada qual toma a que quer», «quem não se sente não é filho de boa gente», «ensinar o padre-nosso ao vigário», «quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele», «essa é que é essa», «tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica à porta», «não há fogo sem fumo», «grão a grão enche a galinha o papo».

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas faz a tradicional pausa de Natal, para regressar logo depois da festa de Ano Novo, razão por que o formulário para envio de perguntas para o consultório fica  inativo até 4 de janeiro p.f. (para outros assuntos, recorrer aos contactos indicados aqui). A seu tempo, poremos entretanto em linha as dúvidas que aguardam esclarecimento e, sempre que for caso disso*, outros textos de interesse à volta da língua portuguesa. Aos nossos consulentes – de cuja generosidade tanto depende a sustentabilidade de um serviço desta natureza, gracioso e sem fins comerciais, sem nenhuns outros apoios para a sua manutenção –, agradecemos as questões, os pedidos, as observações e os reparos, tantas e tantas vezes acompanhados de palavras de estímulo e incentivo ao longo de 2015. A todos desejamos um Natal feliz e um 2016 que permita manter este estimulante contacto de quase 19 anos.**

Os novos textos e respostas que forem sendo colocados durante esta pausa ficarão devidamente assinalados nos Destaques (em baixo ou à direita), assim como no Facebook do Ciberdúvidas.

** Na imagem, um pormenor de "A Adoração dos Reis Magos", de Domingos Sequeira (1768-1835), pintura à volta da qual o Museu de Arte Antiga, em Lisboa, promove a campanha "Vamos pôr o Sequeira no lugar certo" com vista à aquisição desta peça.

2. Com tristeza, registamos nas Notíciasincêndio que destruiu o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, em 21 de dezembro p.f. (na imagem, fotografia da edição impressa de 22/12/2015 da Folha de S. Paulo). Apesar de a nota emitida pelo Museu deixar esperança numa rápida reconstituição do seu acervo (ao que parece, todo em suporte digital), são sempre de temer as partidas que as conjunturas pregam à continuação de projetos desta envergadura. Oxalá comece depressa a reconstrução deste espaço tão admirado entre os países e as comunidades de língua portuguesa!

3. No consultório, comentam-se a possível relação do termo loca («gruta, cavidade, depressão») com a língua alemã e a etimologia de uma palavra dos tempos dos trovadores. *** Ainda acerca da Idade Média, o Correio dá conta do interesse de um consulente flamengo em consultar registos áudio da reconstituição fonética do galego-português: como soaria a língua literária de Portugal e da Galiza nos séculos XII a XIV? Em O nosso idioma, o professor angolano Edno Pimentel corrige um erro também frequente no português de Angola: o uso do verbo abusar na voz passiva; e disponibiliza-se um texto do humorista português Ricardo Araújo Pereira sobre o excesso de obrigados que pode ocasionar uma sequência de ações do dia a dia.

*** Nova resposta disponível desde 22/12/2015: "A etimologia de diálogo e diabo".

4. No programa Língua de Todos de sexta-feira, 25 de dezembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no dia seguinte, 26 de dezembro, depois do noticiário das 9h00*) o tema central é o chamado «cânone literário em língua portuguesa», com uma conversa com o professor universitário português Vítor Aguiar e Silva. Já o programa Páginas de Português de domingo, 27 de dezembro (às 17h00*, na Antena 2), passa uma entrevista com o brasileiro Rafael Trombetta, organizador do 1.º Congresso Lusófono de Escrita Criativa, realizado em novembro passado.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O consultório regressa ao tema das palavras que o português toma de empréstimo a línguas estrangeiras, nem sempre com o devido cuidado. Assim, uma consulente manifesta surpresa por detetar um «desculpem as moléstias» («desculpem o incómodo/o transtorno»), quase por certo decalcado de uma expressão espanhola. E, dos Açores, perguntam-nos como usar militaria (pronuncia-se "militária"), termo provavelmente com origem no inglês e referente a objetos militares com interesse histórico. Muito menos hipotético é o uso do ponto abreviativo, como, a propósito do apontamento que recebemos do magistrado Anselmo Lopes, se assinala noutra resposta que define os critérios a ter em abreviaturas como n.º e art.º. A rubrica O nosso idioma foca a própria expressão da dúvida e da probabilidade na nossa língua, disponibilizando uma crónica do escritor português Miguel Esteves Cardoso sobre a locução «se calhar», tão típica do falar lusitano, que, com a devida vénia, transcrevemos do jornal Público.

2. A respeito do processamento computacional de língua portuguesa, a Universidade de Lisboa anuncia a realização, de 13 a 15 de julho de 2016, em Tomar, do PROPOR, um encontro bienal de especialistas dessa área (informação sobre a iniciativa aqui). Atenção, que o prazo para o envio de comunicações e tutoriais termina em 15 de dezembro p. f.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Com as palavras parónimas todo o cuidado é pouco: basta lembrar a repetida troca de discriminar por descriminar ou a confusão infantil entre cumprimento e comprimento. A propósito de paronímia e de mais um par traiçoeiro, a rubrica O nosso idioma inclui uma nova crónica do professor e jornalista angolano Edno Pimentel, que, aludindo a outras "-nímias" da língua portuguesa (sinonímia, antonímia, antroponímia), salienta o contraste ortográfico, semântico e etimológico entre dispensa e despensa. Quanto às dúvidas em foco no consultório, descreve-se a função discursiva da expressão «convenhamos», reflete-se sobre a classe gramatical dos nomes das notas musicais e comenta-se a morfologia dos termos gramaticais preposição, pronome e advérbio.

2. Em Portugal, um acontecimento trágico (três jovens colhidos por um comboio no apeadeiro de Águas  Santas, na região do Porto), levou a informação mediática a empregar sem hesitações (e bem) as formas grafiteiro e grafitar, derivadas do aportuguesamento grafito ou do empréstimo italiano graffito, mais usado no plural – graffiti –, para designar «desenho, inscrição, assinatura ou afim, feito geralmente com tinta de spray, em muros, paredes e outras superfícies urbanas» (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, consultado em 11/11/2015)*. Recorde-se que, na linguagem popular, esta arte urbana antes era por vezes chamada  "pinchagens", mas as notícias sugerem que as palavras derivadas grafiteiro e grafitar, de resto, já dicionarizadas, poderão dar oportunidade à generalização de grafito, em concorrência com grafíti, que igualmente aparece em referência específica a esse tipo de inscrições e como adaptação mais direta do italiano graffiti (ver dicionário Priberam; consultar ainda resposta "Os graffiti" e o apontamento Grafite(s) é outra coisa).

* Refira-se que no Brasil, a par de grafito, se usa e aceita grafite, no género masculino, como aportuguesamento de graffiti (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, edição brasileira de 2001; ler também, na revista brasileira Veja, de 16/08/2011, o artigo "A grafite e o grafite: parece, mas não é", de Sérgio Rodrigues, e texto do blogue Dicionarioegramática.com, em 27/09/2015). Regista-se também pichação, mas como designação de simples escritos ou rabiscos inscritos sobre mutos e paredes de edifícios (idem).

3. No programa Língua de Todos, que vai para o ar na sexta-feira, 11 de dezembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 12 de dezembro, depois do noticiário das 9h00*), Sandra Duarte Tavares esclarece várias dúvidas frequentes no uso da língua portuguesa. O Páginas de Português de domingo, 13 de dezembro (às 17h00*, na Antena 2), foca também diferentes questões linguísticas.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A presente atualização inclui esclarecimentos e comentários sobre:

– a escrita dos números, das horas e das datas, num artigo do professor Guilherme de Almeida, em linha em O nosso idioma;

– a palavra caligrafia, atualmente utilizada como sinónimo de «escrita à mão», como observa o professor e jornalista angolano Edno Pimentel também em O nosso idioma;

– um erro sintático recorrente na imprensa portuguesa com o verbo tratar-se, que José Mário Costa assinala no Pelourinho, num apontamento que inclui uma dúzia de outros casos nada abonatórios do domínio básico do idioma nacional;

– três palavras, a saber, Bíblia, enviuvar e édito, cujo uso é descrito no consultório.


2
. A propósito de palavras, das suas origens e da sua formação, uma nota muito breve a respeito de chocalho, designação de um instrumento de metal que, pendurado ao pescoço dos animais, produz som e ao qual, em 1 de dezembro p. p., a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) atribuiu o título de Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente. O vocábulo surgiu em português como derivado por sufixação de choca, que, entre várias aceções, também pode significar «chocalho grande» (Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2.ª edição, 1913, em linha como Dicionário Aberto). A sua família de palavras inclui alguns termos que adquiriram novas significações; por exemplo (fonte consultada: Dicionário Houaiss): chocalhar, «fazer soar o chocalho», «sacudir, agitar», «conversar alto», «divulgar segredos ou espalhar boatos»; chocalhada, «ato ou efeito de chocalhar», «gargalhada»; chocalhante, «que chocalha»; chocalheira, «mulher intriguista, mexeriqueira», «tipo de mesa ou escrivaninha»; chocalheiro, «que chocalha», «que faz intriga»; chocalhice, «ato ou traço de caráter de pessoa intriguista». Chocalheiro é também como se chama uma das máscaras dos festejos do Entrudo em Trás-os-Montes.

3. Muitas pessoas têm dúvidas na grafia das palavras porque e por que. Quando é que devemos escrevê-las, junto e em separado? Sandra Duarte Tavares responde a esta e a outras perguntas no programa Língua de Todos, que vai para o ar na sexta-feira, 11 de dezembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 12 de dezembro, depois do noticiário das 9h00*). O Páginas de Português tem nova emissão no domingo, 13 de dezembro (às 17h00*, na Antena 2), focando várias questões linguísticas, entre as quais: a forma adjetival “inconfortável” está correta?

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, continua instalada a prática de juntar títulos académicos aos nomes próprios em enunciados como «o senhor doutor deseja um café?», ou «a senhora engenheira... está?». Neles ocorrem formas de tratamento ou de referência que pretendem obsequiar um prestígio real ou imaginado, quantas vezes com lapsos embaraçosos («olhe que a senhora não é engenheira, é arquiteta...»). Mas não terá a língua recursos para um estilo mais económico e direto, sem faltar à civilidade e ao respeito mútuo nem entrar em familiaridades abusivas? O nosso idioma disponibiliza uma crónica do historiador e político português Rui Tavares, na qual, depois da fúria revolucionária do título  – "Morte aos doutores!" –, se salienta com mais distância um acontecimento político com repercussão linguística: «Segundo ouvi na rádio, não foram mencionados os títulos académicos dos novos ministros e secretários de Estado durante a tomada de posse do novo Governo. Tentei depois procurar confirmação na imprensa escrita, mas não vi qualquer menção a este facto. A ser verdade, é uma revolução. Por ter acontecido e por não ter sido notado, o que significa que pode estar em vias de normalização o tratamento igualitário e republicano pelo nome próprio» (texto da edição de 30/11/2015 do jornal português Público). No consultório, para falar e escrever sem sobressaltos, as dúvidas focam a grafia da expressão «mau humor», o uso do nome próprio espanhol Don Juan e a análise da concordância na frase «todos os dias é Natal».

2. Dos usos e inovações que, em Portugal, o mundo mediático vai registando, colhe-se o (aparente) neologismo perplexizante, empregado pelo ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas, líder do CDS-PP, agora na oposição. A palavra foi proferida durante a discussão em parlamento de uma moção de censura ao novo governo português, mas já não é primeira vez que Portas a emprega. Na verdade, ela já ocorria em 2014, em declarações reproduzidas pela Rádio Renascença, que assinalou a sua novidade com aspas: «"É "perplexizante" que alguns achem que as casas caem do céu.» Mas o vocábulo tem história mais recuada, como atesta uma ocorrência de 2007, num título do blogue do politólogo português Pedro Magalhães: "Tesourinhos perplexizantes da história eleitoral portuguesa". O percurso desta palavra não dicionarizada promete.*

* O uso escrito de perplexizante recua a 1995, se não for anterior: o Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC), do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa apresenta seis ocorrências da palavra, compreendidas entre 1995 e 2000; os corpora da Linguateca (CL), que incluem textos brasileiros, facultam uma única ocorrência, datada de 1997, num texto de Portugal (no Corpus do Português, nenhuma ocorrência). Refira-se também a forma perplexante, que uma consulta das fontes consultadas identifica com textos jornalísticos portugueses (no total, duas ocorrências, mas só uma datável – de 1995).  Perplexizante pressupõe o tema dos verbo "perplexizar", que os dicionários não registam nem os corpora consultados revelam; perplexante tem por base o tema de perplexar, que ocorre uma vez nos textos brasileiros dos CL (trata-se de um particípio passado com valor passivo: «Processar-se-á a desinfernização do transporte rodoviário nacional, ainda hoje perplexado por mão-de-obra despreparada e metodologias operacionais superadas.»). Sobre perplexizante, observa o tradutor brasileiro Luciano Eduardo de Oliveira, também consultor do Ciberdúvidas (comunicação pessoal): «Seria interessante saber se o político português também usaria o infinitivo "perplexizar", que o adjetivo perplexizante sugere. Se voltarmos ao latim, temos que perplexo vem de perplexus, por sua parte composto de per + plecto, cujo particípio presente, perplectans, muito facilmente teria dado "perplectante" ou "perpletante". A palavra evoca a invenção de um também político, desta vez brasileiro, Antônio Rogério Magri, que comentou que um plano governamental era "imexível" (ou seja, que não podia ser retirado), uso muito criticado na década de 90.»

3. É tempo igualmente para um breve esclarecimento sobre a publicidade em língua inglesa que se acha nestas páginas. Trata-se de um espaço exclusivamente gerido pelo ISCTE-IUL, para cujos servidores o Ciberdúvidas se transferiu a partir de 10 de junho de 2015, situação que determinou mudanças estruturais e contrapartidas em benefício da referida entidade. Embora o ideal fosse ler essas mensagens promocionais em português, os compromissos universitários internacionais da instituição que nos acolhe requerem o inglês como veículo suscetível de abranger um público ainda mais alargado. Sem deixar de desejar o sucesso dessa estratégia na projeção além-fronteiras do ensino superior de Portugal, fazemos votos para que, em breve, a língua portuguesa se faça ler intensa e extensivamente não só nesse âmbito mas também aqui.

4. Termina neste dia o congresso internacional Língua Portuguesa: uma Língua de Futuro, uma iniciativa com que a Universidade de Coimbra quis assinalar as comemorações da sua fundação há 725 anos.

5. No programa Língua de Todos de sexta-feira, 4 de dezembro de 2015 (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 5 de dezembro, depois do noticiário das 9h00*), fala-se das regras do hífen à luz do Acordo Ortográfico e de algumas flexões verbais difíceis. No Páginas de Português de domingo, 6 de dezembro (às 17h00* na Antena 2), comenta-se a abolição, em Portugal, dos exames no 4.º ano de escolaridade e reflete-se sobre a questão do cânone nas literaturas de língua portuguesa (mais informação na Abertura de 2 de dezembro p. p.).

6. Devido ao feriado do dia 8, em Portugal, voltamos com nova atualização do Ciberdúvidas, na quarta-feira seguinte, dia 9.

*Hora oficial de Portugal continental.