1. Dos pontos de vista sintático, semântico ou lógico, encontra-se alguma razão para considerar a sequência «na medida do possível» melhor do que «na medida possível»? Não, mas a preferência pela primeira deve-se à sua cristalização histórica, como é característica das expressões fixas, comportando-se globalmente como uma palavra. É este o contexto de uma das novas perguntas do consultório, nas quais se inclui uma questão afim, a da relevância da análise sintática das locuções «além disso» e «além do mais». Outra dúvida: escreve-se «região Norte», ou «região norte»? Finalmente, regressa a etimologia dos topónimos: donde virão nomes de lugares como Murgido, Gião e Soleiro, situados no norte de Portugal? Ainda sobre topónimos, e respeitante ao que aqui se recomendou para grafia aportuguesada de Zica (nome prório)/zica (substantivo comum), na rubrica Correio respondemos a esta contestação que nos chegou pelo Facebook do Ciberdúvidas: «Se [com o Acordo Ortográfico] o k faz parte do nosso alfabeto, o mais lógico era escrever-se Zika (para além do mais, esta palavra é um nome próprio).»
2. A presença da língua portuguesa em África é significativa, seja nas variantes cada vez mais nacionais dos países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), seja por via da presença da emigração história, lusitana e moçambicana, sobretudo na África do Sul. Mas falta quase tudo o que devia acontecer: intercâmbio cultural, política do livro, tradução, esteio que interligasse as singularidades nacionais dos países da CPLP na sua articulação com o francês, o inglês, os crioulos e as línguas nacionais. São estes os aspetos debatidos no Língua de Todos de sexta-feira, 5 de fevereiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 6 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), em conversa com o professor Paulo Serra, leitor do Instituto Camões no Botsuana.
3. Abriram as inscrições para o programa O Ser e Saber da Língua Portuguesa 2016 – Curso de Verão em Portugal, organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) de Macau, com o apoio do Instituto Português do Oriente (IPOR). O programa de formação visa enriquecer os conhecimentos dos estudantes do ensino superior de Macau sobre a língua e a cultura portuguesas, aumentar o seu interesse na aprendizagem do português, reforçar a competência linguística destes estudantes e promover a formação de quadros bilingues qualificados, bem como desenvolver a singularidade de Macau na fusão entre o Ocidente e o Oriente. O programa Páginas de Português de domingo, 7 de fevereiro (pelas 17h00*, na Antena 2), dá relevo a esta iniciativa, numa entrevista ao presidente do IPOR, João Laurentino Neves.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Sobre o vírus de Zika*, de tão grande (e preocupante) atualidade, refira-se que parece haver alguma vacilação no nome do mosquito que o transmite. Buscando exemplo nas línguas irmãs do português, damos conta do que a Fundéu-BBVA já propôs para o espanhol; e, assim, salvaguardadas as especificidades do nosso idioma, assinalamos que se trata do vulgarmente chamado mosquito-da-febre-amarela (cf. Dicionário Houaiss), cujo nome científico é Aedes aegypti – com maiúscula inicial no primeiro termo e em itálico, pelas razões aqui explicadas a propósito de um outro caso.
* Propõe-se aqui a expressão «vírus de Zika», em lugar do frequente «vírus Zika». A denominação do vírus integra Zika, nome de uma floresta tropical no Uganda, «a floresta de Zika», o qual, não tendo relação com o léxico comum do português, parece excluir a associação de artigo definido e, portanto, a possibilidade de uma sequência como «a floresta "da" Zika». Além disso, a eventual opção por «floresta Zika», sem preposição, revela-se invulgar para este tipo de topónimos, que, depois do substantivo descritivo (p. ex., floresta, mata, tapada), costuma exibir uma preposição («a floresta de Sherwood», «mata do Camarido», «tapada de Mafra»). Sendo assim, afigura-se consistente dizer ou escrever quer «floresta de Zika» quer «vírus de Zika». Em referência ao vírus, é igualmente possível empregar «o zika», convertendo o nome próprio em nome comum, grafando-o com letra minúscula inicial mas em itálico, visto o uso k ter restrições fora da escrita dos nomes próprios (ler resposta "Ainda a grafia de Kinshasa"). Solução alternativa: aportuguesar zika como zica: «o zica», como elipse de «o vírus de Zika», seguida da referida adaptação. É o que faz o jornalista português Carlos Fino, no jornal brasileiro O Globo, em 1/02/2016, muito embora grafando «o Zica», em lugar do uso que sugerimos, «o zica»: «E assistimos, hoje, pelo contrário, não só à multiplicação dos confrontos como à emergência de novas ameaças [...] e até de novas pragas, como antes o Ebola e agora o Zica.»
2. A presente atualização traz também cinco novas dúvidas ao consultório:
– O que é mais correto: «morrer nas mãos de alguém», ou «morrer às mãos de alguém»?
– Que se deve fazer quando dois pronomes átonos se encontram associados ao mesmo infinitivo?
– Que nome se dá a uma terapia alternativa que consiste na manipulação das vértebras?
– Que género atribuir ao nome microbiota, «conjunto de micro-organismos de um ecossistema»?
– Que palavra se pode derivar de reciclável?
1. No consultório, com uma nova pergunta regressamos à discussão dos neologismos: se temos imortal e imortalidade, justifica-se criar agora amortal e amortalidade? Perante uma dúvida sobre dois sinónimos, aziago e azarento, propomos definir os matizes que contrastam as duas palavras. Deparamo-nos depois com o uso frásico das expressões «o bastante» e «o suficiente», para verificarmos que estas podem ter função adverbial. E, passando das palavras aos textos, retomamos as convenções da expressão poética e identificamos tipos de rima. No Pelourinho, Guilherme de Almeida aponta um erro de concordância verbal com o pronome indefinido alguém, numa legenda de jornal.
2. Voltando ao tema do necessário rigor a ter na formação e no uso de termos especializados, vale a pena chamar a atenção para os resultados da tão indispensável – e quantas vezes inexistente, infelizmente – colaboração entre certas entidades que, em Portugal e no Brasil, desenvolvem trabalho importante e até reconhecido oficialmente no campo da fixação das terminologias técnico-científicas. É o caso de um documento publicado em 2012, o Vocabulário Internacional de Metrologia – Conceitos fundamentais e gerais e termos associados (VIM 2012), versão luso-brasileira da 3.ª edição do International Vocabulary of Metrology – Basic and General Concepts and Associated Terms JCGM 200:2012. Não obstante o mérito de haver sido elaborada por uma equipa conjunta de especialistas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro (Brasil) e do Instituto Português da Qualidade, esta publicação denota, no entanto, algumas lacunas na correta articulação com a lexicografia e a lexicologia da língua portuguesa (ver Controvérsias). Não será tempo de coordenar esforços, e competências específicas, de modo a evitar discrepâncias entre as terminologias e as normas linguísticas de âmbito geral?
3. No programa Língua de Todos de sexta-feira, 29 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 30 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), o tema em foco é a situação do português na Guiné-Bissau. O programa Páginas de Português de domingo, 31 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), é dedicado ao VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa; que se realiza de 1 a 3 de fevereiro p. f., na cidade da Praia, em Cabo Verde.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O ano de 2016 é também o da comemoração do centenário do escritor português Vergílio Ferreira, nascido em 28 de janeiro de 1916, em Melo (Gouveia, no distrito da Guarda). A efeméride é assinalada por numerosos encontros e cerimónias que reúnem especialistas e o público em geral, que assim prestam homenagem à memória desta figura maior da literatura portuguesa da segunda metade do século XX. Deste autor, a Antologia disponibiliza parte de um texto que sublinha o valor da língua portuguesa como veículo de comunicação e entendimento, que cruzou oceanos e hoje une povos; citemos uma passagem bem conhecida: «Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e de ser nela pensamento e sensibilidade. Da minha língua vê-se o mar.»
Na mesma rubrica, sugerimos a (re)leitura de outro texto de Vergílio Ferreira: A palavra mágica.
2. Se, em Portugal, o contraste entre os demonstrativos este, esse e aquele faz parte da norma e do uso, noutros países lusófonos tende-se a neutralizar a diferença entre este e esse, como se percebe por uma dúvida chegada de Angola; e, quando se fala do léxico, deparamo-nos com palavras que só localmente se empregam – parece ser este o caso de escortinhar. No consultório, abordam-se ainda certas perplexidades de caráter geral: o verbo fugir será mesmo irregular? Qual a conjugação do verbo eclodir?
3. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 29 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 30 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), entrevista Sónia Coly, professora de português e antiga leitora na Guiné-Bissau, sobre a situação do português neste país. O programa Páginas de Português de domingo, 31 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), é dedicado à realização, de 1 a 3 de fevereiro p. f., do VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa; este evento, organizado pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa em colaboração com a Câmara Municipal da Praia, pretende contribuir para o diálogo entre escritores dos diferentes continentes, juntando, para enriquecimento recíproco, autores representativos e publicamente reconhecidos de todos os países de língua portuguesa e, ainda, da região administrativa especial de Macau.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Um jantar "enogastronómico"?! Num restaurante chill out?! Para acabar a noite num rooftop bar?! Em O nosso idioma, verifica-se que é também linguística a ressaca deste estilo de vida trepidante, a avaliar por um trabalho dos jornalistas Carolina Reis, João Miguel Salvador e Ricardo Marques publicado na revista do semanário português Expresso de 22/01/2015, à volta do fenómeno da importação (muitas vezes redundante) de palavras associadas ao cosmopolitismo. No Correio, a professora universitária Isabel de Sena partilha algumas considerações sobre o fenómeno das reduções vocabulares, a propósito de uma crónica de Edno Pimentel. No consultório, interpretam-se diferentes unidades, definindo alguns contrastes: donde vem o significado atribuído ao radical agri-? Desafiador é melhor que desafiante? Um texto cómico é o mesmo que um texto satírico? E haverá alguma diferença entre «chegar às oito horas» e «chegar pelas oito horas»?
2. Passando a outra vertente da vida social, é tempo de assinalar a existência de um precioso recurso para o acompanhamento da língua usada institucionalmente: referimo-nos à Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), disponível na página oficial do parlamento português e resultante de uma colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. Trata-se de uma importante ferramenta «concebida tendo em conta os requisitos necessários para garantir a qualidade dos conteúdos que são sistematicamente validados pelos diversos grupos de trabalho que incluem linguistas, terminólogos, tradutores, documentalistas, juristas e outros especialistas das várias áreas parlamentares».
Instrumento precioso até por não ser comum este género de preocupações na administração pública portuguesa, com raríssimas entidades dotadas dos respetivos guias orientadores de uma harmonização da sua comunicação escrita. Ao contrário, flagrantemente, da prática no Brasil. Atente-se, por exemplo, na iniciativa, até, da Presidência da República do Brasil, dispondo de um completíssimo Manual de Redação. Que tal o mesmo, deste lado do Atlântico – agora que os portugueses acabam de eleger para seu presidente alguém (Marcelo Rebelo de Sousa, na foto à esquerda) com experiência de jornais e sensível às questões da lusofonia e da língua portuguesa?
3. Fazendo pesquisa pela BDTT, deparamo-nos também com dois documentos de grande interesse para o debate da avaliação dos alunos no sistema de ensino não universitário em Portugal. Falamos dos contributos que a Associação Nacional de Professores de Português (Anproport) enviou recentemente à Assembleia da República, a saber: o parecer sobre a eliminação dos exames nacionais do 1.º ciclo do ensino básico e uma «reflexão sobre o mérito da existência das provas de avaliação do 1.º ciclo e os aspetos negativos inerentes à sua supressão» (disponíveis igualmente na página da Anproport – aqui e aqui).
4. Entretanto, chegam boas notícias do aumento do interesse pela língua portuguesa na Namíbia. Angelina Costa, coordenadora adjunta do Ensino do Português no Estrangeiro (EPE) neste país, declarou à Agência Lusa que depois da assinatura, em 2011, de um memorando de entendimento com o governo português, o número de alunos namibianos cresceu de 280 para 1800. A vizinhança com Angola motiva esta procura, para a qual contribui também a necessidade de os médicos saberem atender os numerosos pacientes angolanos que atravessam a fronteira em busca de cuidados de saúde.
1. As notícias do Brasil dão relevo ao convénio assinado em 21 de janeiro p. p. pela Fundação Roberto Marinho (entidade ligada ao grupo Globo), pela organização social ID Brasil e pelo governo de São Paulo, com vista à reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, completamente destruído por um incêndio ocorrido em 21/12/2015. A recuperação urgente deste espaço, que, desde a sua criação em 2006, se distinguiu pela sua dinâmica e originalidade, foi uma necessidade desde logo reconhecida pelas autoridades e opinião pública brasileira, como Geraldo Alckmin governador de São Paulo frisou: «É um museu único no mundo interativo. Não existe nada semelhante. Infelizmente tivemos este incêndio devastador, e a nossa tarefa é imediatamente reconstruí-lo.» Também em Portugal se teve perceção de tal imperativo, como foi o caso do ministro da Cultura, João Soares, que manifestou a disponibilidade do seu governo para apoiar as obras do museu.
2. Entretanto, ainda no Brasil, termina em 30 de janeiro p. f. o prazo de inscrição no curso de Comunicação e Cidadania do Projeto Redigir, inspirado em pedagogias alterantivas ao modelo de ensino tradicional.Trata-se de uma iniciativa da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Totalmente grátis, o curso é ministrado pelos alunos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Relações Públicas da USP. As aulas têm a duração de um semestre e abordam tópicos da língua portuguesa, além de promoverem debates sobre temas atuais. Mais informações aqui.
3. Entre as dúvidas chegadas ao consultório, selecionam-se duas que se centram nos seguintes problemas:
– Estará correta uma sequência como «convido a ti e à tua família»?
– Que origem tem e em que registo se usará o adjetivo entanguido?
4. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 22 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 23 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), convida Sandra Duarte Tavares a falar da diferença entre o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito. No programa Páginas de Português de domingo, 24 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), entrevista-se Filipe Valle Costa, diretor da Saudade Theatre, a primeira companhia de teatro portuguesa fundada em Nova Iorque.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Falecido em 21 de janeiro, o ator João Villaret (1913-1961) foi uma figura marcante do teatro e da declamação em língua portuguesa e dos primórdios da televisão em Portugal. À distância de precisamente 55 anos, voltemos neste dia a apurar o ouvido para a sua voz talentosa, talvez para descobrir como no registo áudio já se vai apreciando algum contraste entre as palavras gravadas há (pouco) mais de meio século e a pronúncia atual. Ditos por Villaret, escutemos, pois, aqui (blogue A Nossa Rádio) alguns poemas de Fernando Pessoa (1888-1935); e três sonetos de Florbela Espanca (1894-1930), também recitados pelo ator num programa que ele mantinha nos finais dos anos 50 do século passado, na, então, chamada Radiotelevisão Portuguesa (RTP).
2. Contra essa memória de João Villaret no primado da palavra em português, e sempre tão bem dita, nas emissões da televisão pública portuguesa, é sem dúvida a opção pelo inglês nos seus mais recentes programas de entretenimento – como satiriza Luís Carlos Patraquim, no texto "Talentos e talentaços", disponível desde esta data na rubrica Pelourinho. Já no consultório, trata-se da constituição das palavras: como analisar a estrutura da palavra liberdade? Será que as palavras com o sufixo -mento se usam mais no Brasil? E extubar – existe tal palavra?
3. Registo, ainda, para o falecimento de António de Almeida Santos (1926-2016), político português, ex-ministro, ex-presidente da Assembleia da República, com um papel determinante em Portugal nos processos da descolonização (1974/1975), bem como na génese da legislação do regime democrático. Num texto publicado no Diário de Notícias, o poeta e político Manuel Alegre evoca-o como "um príncipe da República", que cultivava a língua portuguesa como poucos: «[...] foi um dos mais brilhantes oradores da nossa história parlamentar, além de jurista eminente e legislador incomparável, pode mesmo dizer-se que o grande legislador de regime democrático. Almeida Santos é tudo isso. E já se sabe que não há lei ou decreto a que ele não tenha corrigido as vírgulas e a sintaxe. Mas no mais íntimo de si mesmo ele é um escritor. Um escritor emprestado ao Direito e à Política. Um dos grandes prosadores do nosso tempo. E o que é mais raro: um escritor de ideias. [...]»
4. Diz-se que temos palavras únicas – saudade, por exemplo. Mas, se o seu suposto mistério tem, afinal, tradução (de acordo com as subtilezas de cada língua de chegada), a sua sonoridade mantém-se em modulações que vão de Lisboa ao Rio de Janeiro, do Mindelo a Maputo, de Bissau a Luanda e São Tomé. Por isso, lembramos que:
– no programa Língua de Todos de sexta-feira, 22 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 23 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), Sandra Duarte Tavares fala da diferença entre dois tempos do indicativo, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito, distinção nem sempre acessível à intuição de quem aprende português como língua estrangeira ou não materna;
– no programa Páginas de Português de domingo, 24 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), conversa-se com Filipe Valle Costa, diretor da companhia Saudade Theatre, a primeira companhia portuguesa na «Grande Maçã», ou seja, a cidade de Nova Iorque.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O discurso do chamado empreendedorismo distingue-se pela abundância de empréstimos do inglês, sempre deslumbrantes para quantos a eles recorrem, mas raramente esclarecedores para falantes de português. No consultório, comenta-se o uso de start-up (e de feature) no contexto da anunciada realização no outono de 2016, em Lisboa, da Web Summit, um fórum anual que atrai numerosas empresas emergentes no campo das novas tecnologias: «Nenhuma destas palavras tem tradução portuguesa, ou trata-se só de mais um (mau) exemplo de um governante português preferir o inglês ao idioma nacional?» E, para não se pensar que é de agora a entrada de palavras ou expressões estrangeiras, leia-se a resposta sobre a construção modal «há que» seguida de infinitivo, um castelhanismo há muito naturalizado. Outras dúvidas: como empregar mesmo? Como elaborar o retrato de uma personagem?
2. Sobre a(s) pronúncia(s) no Brasil é o apontamento do nosso consultor Luciano Eduardo de Oliveira que fica disponível na rubrica Acordo Ortográfico, a propósito de declarações do jornalista Nuno Pacheco no programa Olhos nos Olhos do canal português TVI24, contestando o Acordo Ortográfico em vigor no país, desde 2009.
1. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa completa neste dia 19 anos de atividade junto de quem fala, escreve e quer saber sempre mais sobre o português em qualquer ponto do mundo. Com as suas características de sempre: desde que, em 1997, ficou disponível, como espaço simultaneamente de esclarecimento, de informação e de debate – em áreas devidamente demarcadas pelas suas atuais 12 rubricas temáticas – sobre os usos criteriosos da língua portuguesa nos países em que ela tem estatuto oficial ou nas comunidades em que perdura. Espaço pioneiro e – nestes seus moldes de funcionamento e natureza de serviço público, gracioso, sem fins lucrativos ou comerciais – ainda único na internet, passa também por aí a razão das suas conhecidas vicissitudes, obstáculos e constrangimentos de viabilização. Na inexistência de outros apoios, públicos ou privados, só com a generosidade dos nossos mais dedicados consulentes, mobilizados na campanha SOS Ciberdúvidas, tem sido possível levar por diante este projeto, como não há outro em todo o espaço lusófono. É, sem dúvida, este o maior prémio imaginável, confirmando a pertinência dos propósitos do Ciberdúvidas: a abertura ao conhecimento da língua portuguesa tanto na sua unidade como na sua diversidade geográfica e regional.
2. O fruto do trabalho acumulado ao longo destes 19 anos está aquí ao dispor de todos: um arquivo, de mais fácil e rápida pesquisa desde a sua última remodelação, com mais de 40 000 respostas e cerca de 3000 artigos que materializam bem o muito que temos coletivamente a dizer sobre a língua que falamos. Fora o que, noutros meios e plataformas, o Ciberdúvidas vem dinamizando: os programas radiofónicos Páginas de Português, na Antena 2 e Língua de Todos, emitido pela RDP África, assim como o formato Mambos da Lingua – o tu-cá-tu-lá do português de Angola, difundido na Rádio Nacional de Angola. Nos primeiros dois, criou-se um espaço de reflexão sobre múltiplas vertentes do idioma, estéticas, culturais, gramaticais, com o programa para os países africanos a privilegiar aspetos didáticos, de identidade e das variantes em presença nos PALOP. E esperemos que, da parte da RTP, seja possível dar continuidade a outra iniciativa impulsionada no âmbito do Ciberdúvidas, o magazine televisivo Cuidado com a Língua!, de tão forte impacto junto dos telespectadores portugueses e africanos.
3. De Brasília a Lisboa, de Luanda a Maputo, de Bissau a São Tomé, da Praia a Díli, em dia de aniversário desta plataforma comum que é o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, o seu consultório oferece cinco novas respostas, com os seguintes tópicos:
– a etimologia de bárbaro e bravo;
– a grafia das palavras prefixadas por co-;
– a noção de sujeito nulo;
– a concordância adjetival com substantivos coordenados;
– a classe de palavras de trio.
4. Outras rubricas igualmente se juntam à comemoração deste dia. O Nosso Idioma, com mais dois textos: uma nova crónica do jornalista e professor angolano Edno Pimentel, publicada no semanário Nova Gazeta (o que vêm a ser as "soas" que aparecem no discurso oral de alguns falantes de Angola?); e, à volta do furacão Alex, uma outra, do jornalista e escritor açoriano Joel Neto, que transcrevemos do Diário de Notícias. No Correio, o tema é o Acordo Ortográfico, com uma opinião crítica do consulente Rui Tavares – pretexto que aproveitamos para recordar outra marca identitária do Ciberdúvidas. É ela a absoluta isenção editorial no tratamento de toda e qualquer matéria controversa. É o caso da polémica sobre a nova reforma ortográfica e de outros temas fraturantes como são, em Portugal, também, a nova terminologia linguística, as metas curriculares do português para o ensino básico e secundário, ou, ainda, as chamadas «áreas críticas» do uso (ver Controvérsias) – temas e respetivos textos facultados, sempre, nas rubricas de opinião próprias e, como tal, devidamente assinaladas. É, afinal, o modelo de qualquer jornal cumpridor das normas profissionais – filosofia-padrão seguida no Ciberdúvidas desde a sua criação em 15 de janeiro de 1997, com a separação, sempre clara, entre informação e opinião, noticiário ou esclarecimentos factuais e tomadas de posição (e nestas, sempre que tem sido caso disso, a contemplação para o debate de ideias e a polémica de argumentos).
1. Quando se trata de convenções literárias, vemos que a criatividade foge muitas vezes à regularidade de sílabas e rimas, tal como se aponta no consultório, respondendo a uma dúvida sobre dois versos do poeta português Nuno Júdice. Uma segunda questão leva ainda a descobrir que, apesar das regras da pontuação, o travessão e as aspas manifestam literariamente uma liberdade insólita noutros contextos. Porém, passando ao plano do funcionamento da língua, quem fala e escreve – com ou sem intuitos estéticos – reconhece barreiras que não pode transpor sob pena de gerar agramaticalidade: assim sugere a descrição sintática do substantivo permissividade, que diverge de outra palavra da mesma família, permissão.
2. O programa Língua de Todos de sexta-feira, dia 15 de janeiro (às 13h15**, na RDP África, com repetição no sábado, 16 de janeiro, depois do noticiário das 9h00**), dá relevo à fundação do Saudade Theatre, a primeira companhia de teatro portuguesa em Nova Iorque: o seu diretor artístico, Filipe Valle Costa, é convidado a falar sobre a natureza e os objetivos do projeto. Na sequência do anúncio de alterações no sistema de avaliação dos ensinos básico e secundário em Portugal, o Páginas de Português de domingo, 17 de janeiro (às 17h00**, na Antena 2), entrevista o deputado Miguel Tiago sobre a iniciativa do Partido Comunista Português no sentido da anulação das Metas Curriculares introduzidas pelo ministro da Educação, Nuno Crato do anterior Governo PSD/CDS.
* Hora oficial de Portugal continental.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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