1. Perante uma série de formas linguísticas equivalentes e igualmente aceitáveis, será possível identificar uma melhor que as outras? Serão a norma e a padronização inimigas da variação? Ou o problema, sem residir propriamente nas variantes, tem antes que ver com a sua proliferação? E a quem caberá a decisão de as limitar? É esta a discussão que subjaz a três novas perguntas em linha no consultório: diz-se sem erro nem hesitação «centésimos de segundo», mas tem sentido empregar «centésimas de segundo»? Para designar um instrumento típico do Mali e da Guiné, ocorrem djambé, djembé e djembê: utilizamos todas, algumas ou nenhuma? E porque não jembê, forma mais de acordo com a fonia e a grafia do português? E, no domínio da linguagem científica, deve escrever-se permease, como parece ser o uso generalizado entre os especialistas, ou perméase, que certos dicionários registam como vocábulo mais correto?
2. Das miríades de tópicos que, à volta da língua portuguesa, se discutem na Internet, relevamos dois que nos chamaram a atenção:
– Um tem que ver com a renovação do léxico e prende-se com o neologismo sexalescente, o qual replica a formação do inglês sexalescent, «indivíduo na casa dos 60 anos que se recusa a envelhecer». O termo inglês é resultado de um processo de amálgama, ou seja, provém da associação de sequências truncadas das palavras sexagenary (= sexagenário) e adolescent (= adolescente). Como as palavras inglesas visadas têm origem latina, facilmente se transpõe a sua fusão para o português e obtém-se sexalescente. Esta palavra poderá incomodar os mais puristas, mas, dada a sua associação ao tratamento mediático mais ligeiro de temas muitas vezes efémeros, ligados à moda e ao estilo de vida moderno, não tem de estar sujeita ao rigor filológico.
– O outro tópico relaciona-se com a história linguística do território hoje ocupado por Portugal. Que línguas se falavam antes da chegada dos Romanos ou mesmo antes dos Lusitanos? O tema dá asas a conjeturas por enquanto inverificáveis, como sejam, por exemplo, a existência de uma língua semítica ancestral [ver A Origem da Língua Portuguesa (2013), de Fernando Rodrigues de Almeida] ou a fantástica escrita de Alvão, que ocultaria palavras de tempos muito recuados. Palpável é o que chegou até nós: as estelas que apresentam a escrita do Sudoeste, usada provavelmente entre os séculos VII e V a. C., no sul do Alentejo e no Algarve, para representar uma língua ainda desconhecida*, apesar das muitas propostas de filiação linguística; e as inscrições da chamada «língua lusitana», datáveis num período posterior ao da conquista romana no século I a. C. e dispersas numa área que vai do Alto Alentejo à Beira Alta.
* Estes documentos epigráficos encontram-se sobretudo reunidos no Museu da Escrita do Sudoeste, em Almodôvar (distrito de Beja).
3. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 12 de fevereiro (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 13 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), entrevista João Laurentino Neves, presidente do Instituto Português do Oriente, acerca de uma iniciativa apoiada por esta entidade, o curso de verão O Ser e Saber da Língua Portuguesa 2016, que é organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau. O Páginas de Português de domingo, 14 de fevereiro (pelas 11h30*, na Antena 2), entrevista Rute Costa sobre um projeto por ela coordenado, a Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), a qual resulta da colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.