O Museu da Língua Portuguesa, o primeiro do género no mundo, é inaugurado nesta segunda-feira, dia dia 20 de Março, em São Paulo, depois de três anos de construção e de restauro de parte das instalações.
O Museu da Língua Portuguesa ocupa parte das antigas instalações da Estação da Luz, uma das principais estações do metropolitano da cidade, com um movimento diário de 300 000 pessoas, e um dos cartões-de-visita de São Paulo.
Silvia Finguerut, responsável da Fundação Roberto Marinho,a entidade prometora do projecto, explica assim o significado da construção de um museu dedicado à língua portuguesa na Estação da Luz, construída em 1901:
«Durante muitas décadas, os imigrantes estrangeiros que chegavam a São Paulo desembarcavam nesta estação, um local, portanto, onde as outras línguas se encontravam com o nosso português».
«Este é um projecto inédito. Não existe no mundo um museu dedicado à língua», explica a gerente de Património e Meio Ambiente da Fundação Roberto Marinho, ligada às Organizações Globo, o principal grupo de "media" brasileiro.
A cidade de São Paulo foi escolhida para albergar o museu também porque reúne a maior população de falantes da língua portuguesa no mundo, actualmente mais de 10 milhões de pessoas.
A construção do museu insere-se igualmente no projecto da Prefeitura (Câmara Municipal) de São Paulo no revigoramento centro histórico da cidade, degradado ao longo dos últimos anos, com a instituição de novos usos nomeadamente para prédios públicos.
O Museu da Língua Portuguesa ocupa três andares da Estação da Luz, numa área total de 4333 metros quadrados, o que representou um investimento de 37 milhões de reais (14,5 milhões de euros).
A fase de projecto e de construção do museu reuniu 30 especialistas em língua portuguesa e mais de 750 trabalhadores envolvidos dire(c)ta e indirectamente nas obras de restauro e de adaptação do antigo prédio.
O museu é dedicado a mais de 200 milhões de pessoas que falam a língua portuguesa em oito países dos cinco continentes, salientou Silvia Finguerut.
Logo na entrada do museu vê-se a chamada "Árvore da Língua", uma escultura de três andares de altura, criada pelo
arquitecto brasileiro Rafic Farah.
Nas folhas da árvore são projectadas os contornos de vários objectos, e suas raízes são formadas por diversas palavras que deram origem ao português.
A "Árvore da Língua" é vista pelos visitantes através de um elevador, com paredes transparentes, que dá acesso ao terceiro andar, a porta de entrada do museu.
Durante a ascensão do elevador até ao terceiro piso, o visitante ouve uma canção especialmente composta pelo artista Arnaldo Antunes que utiliza os termos "língua" e "palavra" em vários idiomas.
«A “Árvore da Língua” e a música de Arnaldo Antunes constituem o primeiro rito de passagem do visitante, a primeira experiência com a língua portuguesa», disse Sílvia Finguerut.
Para a abertura do museu, será apresentada uma exposição que assinala os 50 anos da obra "Grande Sertão: Veredas", do escritor Guimarães Rosa, cuja comissária é a directora teatral Bia Lessa.
A mostra criou um espaço também interactivo e com efeitos de cenografia que "recriam" o sertão de Guimarães Rosa, com a exposição das 400 páginas originais, com as correcções do autor.
O visitante que for à casa de banho da exposição poderá ler frases marcantes do livro e ver em aparelhos de televisão, especialmente instalados, depoimentos de especialistas sobre Guimarães Rosa.
«A ideia é que o visitante tenha um momento de reflexão sobre o seu próprio sertão ao visitar a casa de banho», refere a comissária Bia Lessa.
O Museu da Língua Portuguesa conta ainda com o apoio de empresas públicas e privadas brasileiras, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Fundação Luso-Brasileira.
Cf. Museu da Língua