DÚVIDAS

Ainda a vírgula antes da conjunção subordinativa consecutiva que

Como fica a vírgula em orações consecutivas com que depois de tão, tanto e tal? Li a instrução de que se deve usá-la sempre, mas há muitos exemplos de boas fontes que não o fazem. Que critério seguir? Dispensar a vírgula nos períodos de fácil entendimento?

Exemplos sem vírgula:

(Machado de Assis Dom Casmurro) «A vida é tão bela que a mesma ideia da morte precisa de vir primeiro a ela... O que cismei foi tão escuro e confuso que não me deixou tomar pé... Continuei, a tal ponto que o menor gesto me afligia...»

Napoleão Mendes de Almeida, Gramática Metódica: «Portou-se tão bem que o elogiaram.»

Dicionário Houaiss: «Tanto repetiu a leitura que conseguiu decorá-la. Bateu tanto que quase matou.»

Resposta

No contexto escolar e em muitas áreas de atividade em que é necessária a aplicação sistemática das normas, impõe-se o uso da vírgula em todos os casos apresentados. Esta prática tem vantagens didáticas, mas não é seguida universalmente, como bem confirmam os exemplos enviados, até porque é duvidoso que as chamadas orações consecutivas sejam verdadeiras orações adverbiais.

Por exemplo, na Gramática do Português (GP) da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, pp. 2168-2173), os exemplos de orações consecutivas nunca apresentam vírgula antes da conjunção que (ou da preposição para em casos como «ele é muito pequeno para conseguir lá chegar»). Esta ausência da vírgula correlaciona-se com a classificação das chamadas orações consecutivas, que, na GP, são construções de grau como as dos comparativos adjetivais, as quais não exibem vírgula antes do segundo termo de comparação:

1 –  «A Maria é mais alta do que a Rute.»

2 – «A Maria é tão alta que bate com a cabeça no teto.»

Concluindo, recomenda-se a vírgula antes das orações consecutivas, mas há quem não a use, e há bons argumentos para defender esta prática.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa