1. Um jantar "enogastronómico"?! Num restaurante chill out?! Para acabar a noite num rooftop bar?! Em O nosso idioma, verifica-se que é também linguística a ressaca deste estilo de vida trepidante, a avaliar por um trabalho dos jornalistas Carolina Reis, João Miguel Salvador e Ricardo Marques publicado na revista do semanário português Expresso de 22/01/2015, à volta do fenómeno da importação (muitas vezes redundante) de palavras associadas ao cosmopolitismo. No Correio, a professora universitária Isabel de Sena partilha algumas considerações sobre o fenómeno das reduções vocabulares, a propósito de uma crónica de Edno Pimentel. No consultório, interpretam-se diferentes unidades, definindo alguns contrastes: donde vem o significado atribuído ao radical agri-? Desafiador é melhor que desafiante? Um texto cómico é o mesmo que um texto satírico? E haverá alguma diferença entre «chegar às oito horas» e «chegar pelas oito horas»?
2. Passando a outra vertente da vida social, é tempo de assinalar a existência de um precioso recurso para o acompanhamento da língua usada institucionalmente: referimo-nos à Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), disponível na página oficial do parlamento português e resultante de uma colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. Trata-se de uma importante ferramenta «concebida tendo em conta os requisitos necessários para garantir a qualidade dos conteúdos que são sistematicamente validados pelos diversos grupos de trabalho que incluem linguistas, terminólogos, tradutores, documentalistas, juristas e outros especialistas das várias áreas parlamentares».
Instrumento precioso até por não ser comum este género de preocupações na administração pública portuguesa, com raríssimas entidades dotadas dos respetivos guias orientadores de uma harmonização da sua comunicação escrita. Ao contrário, flagrantemente, da prática no Brasil. Atente-se, por exemplo, na iniciativa, até, da Presidência da República do Brasil, dispondo de um completíssimo Manual de Redação. Que tal o mesmo, deste lado do Atlântico – agora que os portugueses acabam de eleger para seu presidente alguém (Marcelo Rebelo de Sousa, na foto à esquerda) com experiência de jornais e sensível às questões da lusofonia e da língua portuguesa?
3. Fazendo pesquisa pela BDTT, deparamo-nos também com dois documentos de grande interesse para o debate da avaliação dos alunos no sistema de ensino não universitário em Portugal. Falamos dos contributos que a Associação Nacional de Professores de Português (Anproport) enviou recentemente à Assembleia da República, a saber: o parecer sobre a eliminação dos exames nacionais do 1.º ciclo do ensino básico e uma «reflexão sobre o mérito da existência das provas de avaliação do 1.º ciclo e os aspetos negativos inerentes à sua supressão» (disponíveis igualmente na página da Anproport – aqui e aqui).
4. Entretanto, chegam boas notícias do aumento do interesse pela língua portuguesa na Namíbia. Angelina Costa, coordenadora adjunta do Ensino do Português no Estrangeiro (EPE) neste país, declarou à Agência Lusa que depois da assinatura, em 2011, de um memorando de entendimento com o governo português, o número de alunos namibianos cresceu de 280 para 1800. A vizinhança com Angola motiva esta procura, para a qual contribui também a necessidade de os médicos saberem atender os numerosos pacientes angolanos que atravessam a fronteira em busca de cuidados de saúde.