Quando via a palavra assim escrita nos letreiros dos lugares de hortaliça, dava o desconto. «Afinal, não eram aqueles os lugares próprios para se exigir grande correcção ortográfica», pensava eu do alto das minhas certezas…
E foi só agora, no Ciberdúvidas, que percebi que a minha «intuição linguística» me tinha traído: os merceeiros tinham razão, não se escreve «bróculos», é brócolos que o Vocabulário de Gonçalves Viana (4.ª edição, 1920) regista.
Parece que a palavra vem do italiano «broccoli», plural de «broccolo», diminutivo de «brocco». Esta, por sua vez, radica no termo latino broccu(m) = dente saliente.
Ora, pensando bem, o meu erro que era também o de João Carreira Bom, apontado oportunamente por uma consulente do Ciberdúvidas, nem é assim tão disparatado: se em Italiano «broccolo» deriva de «brocco», a que se acrescentou o sufixo diminutivo -olo(a), e em Português o sufixo correspondente é -ulo(a) (montículo, espátula), porque é que um «pequeno dente saliente» dum certo tipo de couve não se há-de poder chamar bróculo?
Em Espanhol coexistem as duas formas: brócoli e bróculi; em Português não abundam as palavras proparoxítonas terminadas em -olo… Enfim, tudo aponta para alguma estranheza (traduzida em erro) nesta grafia duma verdura que ganhou raiz em língua estranha: brócolos!
Eu preferia «bróculos»...