1. Deverão as regras e os critérios da língua culta impor-se a tudo o que se diz? Se a resposta é afirmativa e categórica, as variantes fora da norma-padrão estarão sempre incorretas: qualquer regionalismo será uma tremenda asneira, quaisquer vocábulos ou giros populares têm de ser erradicados. Porém, como tudo em sociedade, há ocasiões para marcar solenidade ou distanciamento na comunicação, enquanto, entre amigos, em família, na intimidade, as liberdades na atitude e no trato se repercutem e fixam na expressão; deste prisma, um falante competente e com cultura linguística será visto como aquele que comunica com adequação, formal e informalmente. Motiva estas considerações a palavra "rasia", que os dicionários (ainda) não registam e a língua culta não tem de acolher, embora, como se observa no consultório, se use em Portugal, na locução «fazer uma rasia», isto é, «passar rente a alguma coisa ou alguém». Mas, lá porque se descreve o seu uso, não se julgue apressadamente que "rasia" já tem lugar na linguagem mais cuidada ou no discurso especializado; como é natural, nestes registos, as palavras são outras, como é o caso de eletrólito e exequível, ambas comentadas nesta atualização – a qual apresenta igualmente dúvidas sobre os significados do substantivo atacadista e do futuro perfeito (ou composto).
2. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 11 de março (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 12 de março, depois do noticiário das 9h00*), aborda vários temas, entre eles, o das expressões fixas: o que quer dizer «nivelar por baixo». No Páginas de Português de domingo, 13 de março (pelas 11h30*, na Antena 2), está em foco o latim: países como Inglaterra, Alemanha e Espanha colocam, atualmente, o seu ensino nos curricula, por perceberem a sua relevância na aprendizagem de matérias tão diversas que vão desde a matemática à biologia, à filosofia, à literatura e à aprendizagem das línguas, entre elas o inglês e o alemão. Em Portugal parece que já se gastou todo o latim, visto que a aprendizagem do latim entre nós decresce como os sestércios que dizem já não haver. Que génese e novas razões podem explicar esta lenta agonia? O Páginas de Português ouviu a professora de latim Susana Marta Pereira, da Escola Secundária Pedro Nunes.
* Hora oficial de Portugal continental.