DÚVIDAS

Uso de variantes

Gostaria de vossa apreciação no que se refere à utilização de variantes gráficas (tais como abdome/abdômen; aluguel/aluguer; arrebentar/rebentar; assoalho/soalho; bêbado/bêbedo; biscoito/biscouto; cãibra/câimbra; catorze/quatorze; cociente/quociente; degelar/desgelar; xícara/"chícara"; enfarte/enfarto; flauta/frauta; registo/registro; etc.). São lícitas? Pode-se utilizá-las num texto formal? Existe regra na gramática normativa que as reja? E a legislação cobre-as legalmente? Poderia, hipoteticamente, utilizá-las num texto de redação de vestibular sem haver problemas? O corretor considerá-las-á corretas? Um grande abraço e meus agradecimentos antecipados.

Resposta

As variantes apresentadas não são apenas gráficas, porque algumas também envolvem contraste fonológico. Além disso, pares ou grupos de variantes têm de ser apreciados separadamente, não podendo definir-se critério ou norma aplicáveis a todas as alternâncias. De notar ainda que não há legislação sobre estes casos; mas o que existe em muitos dicionários são indicações sobre o uso das variantes, facilitando a tarefa a quem não as conhece. Assim, em relação aos exemplos incluídos na pergunta:1

abdome/abdómen, bêbado/bêbedo, cãibra/câimbra, cociente/quocientedegelar/desgelar são pares de variantes cujos membros têm igual aceitação;

— há pares constituídos por uma variante preferencialmente usada em português europeu e por outra mais usada no português do Brasil (não tenho dados sobre as outras variedades do português), como acontece com aluguer (Portugal)/aluguel (Brasil),2 catorze (Portugal, Brasil)/quatorze (sobretudo usado no Rio de Janeiro, Brasil)3 ; registo (Portugal)/registro (Brasil); enfarte (Portugal)/infarto (Brasil, onde também são possíveis infarto, enfarto e enfarte);

— outros pares são formados por forma mais corrente no uso, usada em contextos formais e informais, e outra forma de tom mais popular, possível só em contextos informais: rebentar (corrente)/arrebentar (popular); soalho (corrente)/assoalho (popular).

— existem alternâncias entre formas características do uso contemporâneo e formas arcaicas, por exemplo, biscoito (mais frequente no uso contemporâneo)/biscouto (arcaísmo); flauta (mais frequente no uso contemporâneo)/frauta (arcaísmo).

Quanto ao par xícara/"chícara", basta dizer que o segundo membro está incorrecto do ponto de vista ortográfico.

1 Os meus agradecimentos a Luciano Eduardo de Oliveira, que ajudou a definir melhor o uso de algumas variantes no Brasil.

2 No Brasil, aluguel é palavra mais usada, embora também se use aluguer em linguagem jurídica (informação pessoal de Luciano Eduardo de Oliveira).

3 Embora quatorze pareça ter o favor dos falantes cariocas e seja palavra registada no Dicionário Houaiss, catorze é variante preferida no Brasil (informação pessoal de Luciano Eduardo de Oliveira).

Cf.: Variantes ou variedades do português

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