O nosso idioma - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de investigação/reflexão sobre língua portuguesa.
A confusão (recente) entre <i>estada</i> e <i>estadia</i>

Estada e estadia tem significados distintos e assim o atestam os principais dicionários, brasileiros e portugueses* – embora o seu emprego indistinto tenha diluído a diferença semântica de uma e de outra palavra**. Um uso que em nada legitima essa impropriedade – argumenta neste texto a autora, historiando a etimologia de cada uma delas e as suas abonações mais antigas, dicionarísticas e literárias.

* Por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

** Estada ou estadia

<i>Fui</i> (do verbo <i>ser</i>) e <i>fui</i> (do verbo <i>ir</i>)<br> Porquê a mesma forma?

O filósofo Fernando Belo, professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fez-nos chegar as seguintes questões acerca dos verbos ser e ir:

«Como é que se explica que estes dois verbos, em português como [...] em castelhano, pelo menos (em italiano não existe ire), tenham esta forma comum em pretéritos e conjuntivos, sendo que ela só existe em latim em esse, e não em ire? O meu interesse é de filósofo: como compreender que um verbo que indica essência e substância tenha tido uma influência sobre um outro que indica movimento? Fascina-me que uma forma verbal correlacione ser e movimento (em grego, o ser – phusis – é sobretudo o dos vivos, que se movem, crescem, etc). É possível explicar o fenómeno linguístico?»

Em resposta, o latinista e tradutor Gonçalo Neves lançou-se numa uma pesquisa etimológica donde resultaram os apontamentos que se seguem sobre este curioso caso histórico de parcial convergência morfológica de dois verbos semanticamente diferentes.

A língua ao serviço da comunicação

Como comunicar com adequação e a eficácia q.b., seja na forma escrita ou oral? Quais os mecanismos da língua e as suas marcas mais expressivas para se "tocar" quem nos dirigimos? Sandra Duarte Tavares enuncia alguns conselhos em texto dado à estampa na versão digital da revista Visão do dia 6 p.p., reproduzido na íntegra a seguir, com a devida vénia.

Covfefe – o gerador de patetice

O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, rematou uma das suas mensagens de Twitter com a forma "covfefe", que, não sendo palavra reconhecida do inglês, logo suscitou numerosas reações a respeito do que poderia ser. Gralha, lapso, neologismo arbitrário e idiossincrático? Há quem considere que foi simples erro de digitação, por coverage, o mesmo que «cobertura jornalística»*; mas o que o historiador e político português José Pacheco Pereira aí deteta é um sinal preocupante de crescente e perigosa loucura: «[...] Ele é Presidente dos EUA e o que diz e o que escreve tem sempre enorme importância, visto que o faz com os mesmos dedinhos com que pode digitar os códigos nucleares. E se ele estiver doido?» Texto publicado no jornal Público em 3/06/2017, que a seguir se transcreve na íntegra, com a devida vénia.

*N. E. (11/06/2017) – Pode também tratar-se de deturpação fónica e gráfica de kerfuffle, usado no inglês britânico no sentido de «confusão; agitação desnecessária» (dicionário de inglês-português da Porto Editora). Agradece-se à Dr.ª Rosalina Goulão a chamada de atenção para esta explicação, bastante plausível.

Para quê cantar em português?

A propósito da vitória do cantor português Salvador Sobral no festival Eurovisão 2017 – a primeira de um representante de Portugal, cantando no nosso idioma –, pergunta o autor, no artigo que a seguir se transcreve na íntegra, publicado no jornal Público do dia 19 p.p: «(...) Como se vence cantando em português? O que é o mesmo que perguntar, o que nos diz a nós e porque é que também diz a tanta gente que não sabe a língua?»

Escrever bem em 7 passos

O que fazer para escrever bem? A linguista e professora Sandra Duarte Tavares elenca sete etapas de elaboração textual, juntando recomendações práticas para desenvolver a competência e apurar a arte de comunicar por escrito.

[Texto publicado na revista Visão em 11/5/2017.]

6 dicas para comunicar em público de forma eficaz

«É a poderosa simbiose palavra/imagem que fará com que, sempre que pisar um palco, se torne um orador de excelência e inesquecível» – recomenda Sandra Duarte Tavares, num dos seis conselhos  para uma boa comunicação em público, em texto publicado em 14/4/2017 na revista portuguesa Visão.

Português para todos

«Ensinar a ler e a escrever uma criança que não fala português porque é outra a sua língua materna requer metodologias e técnicas de ensino diferentes das que são usadas no ensino de crianças que já falam a língua, ou para as quais o português é a primeira língua» – lembra Maria de Lurdes Rodrigues, professora do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa e ex-ministra da Educação (2005-2009) em Portugal, a propósito do estatuto do português nos sistemas de ensino de países como Cabo Verde, Angola, Timor-Leste ou Moçambique. Texto publicado no jornal português Diário de Notícias em 12/4/2017.

A  história e o significado da expressão  XPTO
= «de qualidade excelente»

Acerca da expressão XPTO (ver respostas aqui e aqui), uma  consulente de Lisboa, a tradutora Diana Marques, diz que ficou «[...] espantada e divertida por saber que tem origem nas letras gregas que compõem a palavra Cristo», mas considera que há uma questão por desvendar: «No entanto, continuo intrigada e quero perceber como pode ter derivado a palavra Cristo até vir a significar "algo de qualidade excelente". A correlação não me parece óbvia e talvez tenha uma qualquer anedota por detrás [...].»

Gonçalo Neves quis investigar a fundo as origens deste uso de XPTO para descobrir que, afinal, o muito que se diz não tem grande fundamento.

O significado e a história do adjetivo <i>compreensivo</i>

O consulente Paulo de Sousa (Cascais, Portugal) perguntou:

«Uma das muitas aceções do verbo “compreender” é a de “abranger”. Como tal, poderá o adjetivo “compreensivo” encerrar também o sentido de “abrangente”?»

Como se sabe, apesar de a compreensivo poder ser atribuído o significado de «que compreende ou pode compreender, abranger ou conter», acontece que não se recomenda o uso do vocábulo em tal aceção.

Traçando a etimologia deste adjetivo e comentando a interferência do inglês comprehensiveGonçalo Neves explica com pormenor as origens e o significado de compreensivo.