O nosso idioma - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de investigação/reflexão sobre língua portuguesa.
Do adjetivo *

Sobre o adjetivo, essa «palavra sem a qual o substantivo seria impreciso, vago, indefinido, amorfo» – com se lhe referia o filólogo e gramático brasileiro Carlos Góes, em artigo publicado na Revista de Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, 1921) com o título Do Adjectivo, a seguir transcrito do terceiro volume da antologia Paladinos da Linguagem (edição Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921), organizada por Agostinho de Campos. Manteve-se a grafia e respetiva norma originais.

A nobiliarquia do vocabulário

«De tráfico ou tráfego» – exemplifica o autor neste artigo* sobre uma série de palavras e expressões que, «com o correr dos tempos (...) têm resvalado para as baixezas do insulto» – «se originou trafi­cante». Mas há também o seu inverso: «Ascendem das bôcas populares para as classes elevadas, e aí se afidal­gam.»

* in Revista de Língua Portuguesa, n.º 12 Rio de Janeiro, 1912, pág. 69 e ss.), transcrito do terceiro volume da antologia Paladinos da Linguagem (edição Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921), organizada por Agostinho de Campos. Manteve-se a grafia e respetiva norma originais.

Vozes onomatopaicas
Do barulho das máquinas ao canto dos animais

Azoinar, bramar, catrapuz, estalo, fungar, ganir, latir, roersorver, zurzir. Ardor, brenha, crosta, trago, sarro, xarroco. Frio, mar, rotação, trôpego, vibrar. Mas também nomes como Abarroco, Buzarcante ou Dramuziande. Algumas das palavras que, na língua portuguesa – e são tantas mais –, reproduzem os sons da natureza, o barulho de máquinas, meros ruídos, gritos de pessoas, o timbre da voz humana, cantos de animais, neste extrato do artigo do autor, "O Português vem da língua latina, e não da céltica", transcrito do terceiro volume da antologia Paladinos da Linguagem (edição Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921), organizada por Agostinho de Campos. Manteve-se a grafia e respetiva norma originais.

Então mas o que é isto?

«Certas modas linguísticas – escreve o humorista português na sua crónica Boca do Inferno, na revista Visão de 23/03/2017 – ficam circunscritas a determinados meios (por exemplo, a expressão "quando assim é" quase não é usada fora do âmbito das entrevistas rápidas que ocorrem após um jogo de futebol), outras estão limitadas a uma faixa etária (é raro ouvirmos um maior de quarenta anos dizer que determinada coisa é "top"), mas há algumas que ultrapassam as barreiras da idade e da origem social, e infectam uma sociedade inteira. [E há, agora,] a multiplicação de "entões". (...)»

O caos gráfico

Até 1911, ano da entrada em vigor da sua primeira reforma ortográfica, a língua portuguesa – como recorda o autor, na Introdução do terceiro volume da antologia Paladinos da Linguagem (ed. Livrarias Aillaud e Bertrand, 1923) – era «o único dos grandes idiomas cultos europeus que não tinha ainda o seu cânone ortográfico seguro, coerente e fixo». Reinando até aí «o puro arbítrio de cada escritor ou escrevente», a verdade é que, onze anos passados da sua adoção como lei do país, seguida em todas as publicações oficiais e escolares, ainda se faziam ouvir, alto e em bom som, os ecos dos que se opunham às novas regras da escrita do português, elaboradas pelos filólogos portugueses Adolfo Coelho, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Cândido de Figueiredo, Gonçalves Guimarães, Gonçalves VianaJ.J. NunesJosé Leite de Vasconcelos e Júlio Moreira. Com as suas particularidades, como se explana – e contesta – no que a seguir se transcreve na íntegra.

Os papa-sílabas

Crónica do escritor português Miguel Esteves Cardoso sobre um processo fonético típico do português de Portugal, em especial, da modalidade lisboeta de pronunciação, cada vez mais difundida por todo o país. Trata-se da extrema redução das vogais em sílabas átonas, sobretudo do e átono, que, na prática desaparece (benefício soa "bnfício"), fenómeno que leva, segundo o autor, qualquer falante do chamado "lisboetês" a transformar-se num "papa-sílabas".

Venha o zangativo

Crónica irónica do autor no jornal Público de 1/03/2017, apelando à consagração adjetivo "zangativo": «É pena não existir. (...) Já não há paciência para alternativas rebuscadas como insuportável ou encanitante. A pessoa que não se irrita nem se enfurece continua a ter o direito de se zangar, muito simplesmente. (...)»

«Machista» e «heteropatriarcal», a língua portuguesa?

«Se, numa sessão pública, por exemplo, me derem a ler um discurso encimado por um vocativo do tipo “Car@s Alun@s”, digam-me, mas digam-me com toda a sinceridade e com toda a honestidade e com toda a clareza: como é que se lê aquela arroba?»

[Texto do linguista e professor universitário português João Veloso a propósito de género gramatical e regras de concordância, no contexto das discussão à volta do alegado machismo de certas fórmulas linguísticas, que se transcreve a seguir, com a devida vénia, da sua página pessoal.]

A arte de bem comunicar

«As palavras são a matéria-prima da comunicação, por isso, escolher as palavras certas é o primeiro passo», escreve – e exemplifica – Sandra Duarte Tavares neste texto publicado na edição digital da revista Visão do dia 21 de fevereiro de 2017.

O verbo <i>arrear</i> e a forma <i>arriar</i>

(...) Utilizada no 4.º programa da 9.ª série do magazine televisivo Cuidado com a Língua!, a expressão «arrear cabo»*, como aí foi grafada, concitou algumas perplexidades: não seria, antes, «arriar [o cabo]»? (...)

* «Arrear (o) cabo» usa-se na linguagem náutico, quando, por exemplo, o mestre de uma rebocador manda libertar ou soltar o cabo amarrado ao cais ou ao navio que está a dar assistência de chegada ou de partida.