Sobre as Origens do Português
Por Fernando Venâncio
Um livro que se apresenta como uma nova maneira de contar uma história, neste caso, a da língua portuguesa. Do princípio ao fim, o estilo pode surpreender, porque o tema era, até há poucos anos, dos mais sisudos, pelo menos, para quem o vê de fora dos círculos académicos; mas não dececiona quem já conhece este autor e procura uma abordagem irónica e não raro provocatória. Para além disso, trata-se de discutir uma dimensão fascinante – a da língua –, geralmente decisiva para qualquer identidade nacional, pelo menos, em muito pontos do globo desde o século XIX. Na verdade, falar da origem e elaboração do português como língua de expressão de arte literária e poder político-administrativo acaba muitas vezes por instaurar uma narrativa muito mais mítica do que a extraordinária estabilidade da fronteira política de Portugal: é que a língua que sempre foi tida como portuguesa não deixa de conhecer, afinal, linhas e pontos menos definidos, como é próprio da construção de um país e da(s) sua(s) cultura(s)1.
O livro compreende uma extensa introdução – 31 páginas –, numa promessa que prepara o leitor para as revelações que se desenrolam depois em 15 capítulos distribuídos por quatro partes. A primeira parte levanta o problema de identidade que suscita a discussão das origens do português, com uma proposta que talvez ainda encontre alguma reserva no discurso menos especializado que é produzido em Portugal sobre os primórdios da língua. A preponderância da área galaica – e mais da parte que hoje constitui o território da Galiza – é até ao século XIII uma realidade que, como aponta o autor, não teve a devida atenção por parte da investigação filológica e linguística portuguesa e mesmo brasileira, apesar dos protestos mais ou menos discretos dos especialistas galegos. Na segunda parte, F. Venâncio retoma a perspetiva que, partindo de Ivo Castro, alcançou maior desenvolvimento no t...