A pandemia de covid-19 obrigou ao confinamento, e a este sucede afora o desconfinamento, palavra que até há poucas semanas só existia como possibilidade. Crónica publicada no jornal Público no dia 5 de maio de 2020.
A pandemia de covid-19 obrigou ao confinamento, e a este sucede afora o desconfinamento, palavra que até há poucas semanas só existia como possibilidade. Crónica publicada no jornal Público no dia 5 de maio de 2020.
A propósito dos debates à volta da atualidade política internacional na Europa, o historiador e cronista* Rui Tavares cria o neologismo entãosismo, com base no marcador discursivo «e então...?» e para traduzir o inglês whataboutism, termo aplicável a uma variante do argumento tu quoque, isto é, um contra-argumento falacioso através do qual se acusa o interlocutor de não praticar o que diz.
* in jornal "Público" de 31 de agosto de 2018.
O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, rematou uma das suas mensagens de Twitter com a forma "covfefe", que, não sendo palavra reconhecida do inglês, logo suscitou numerosas reações a respeito do que poderia ser. Gralha, lapso, neologismo arbitrário e idiossincrático? Há quem considere que foi simples erro de digitação, por coverage, o mesmo que «cobertura jornalística»*; mas o que o historiador e político português José Pacheco Pereira aí deteta é um sinal preocupante de crescente e perigosa loucura: «[...] Ele é Presidente dos EUA e o que diz e o que escreve tem sempre enorme importância, visto que o faz com os mesmos dedinhos com que pode digitar os códigos nucleares. E se ele estiver doido?» Texto publicado no jornal Público em 3/06/2017, que a seguir se transcreve na íntegra, com a devida vénia.
*N. E. (11/06/2017) – Pode também tratar-se de deturpação fónica e gráfica de kerfuffle, usado no inglês britânico no sentido de «confusão; agitação desnecessária» (dicionário de inglês-português da Porto Editora). Agradece-se à Dr.ª Rosalina Goulão a chamada de atenção para esta explicação, bastante plausível.
Crónica irónica do autor no jornal Público de 1/03/2017, apelando à consagração adjetivo "zangativo": «É pena não existir. (...) Já não há paciência para alternativas rebuscadas como insuportável ou encanitante. A pessoa que não se irrita nem se enfurece continua a ter o direito de se zangar, muito simplesmente. (...)»
A propósito da recente nomeação de uma mulher para ocupar o cargo de bispo na Igreja Anglicana, na Inglaterra, levantou-se o problema da sua designação em português: a episcopisa ou a bispa?
Apesar de palavra controversa (ver Ainda o termo "islamista" vs. Islami(s)tas? + Textos Relacionados), a verdade é que islamista se tem imposto por permitir fazer mais facilmente a destrinça entre um muçulmano e aquele que «utiiza o islão como arma política». Ou seja: a diferença não é linguística, mas política – como observa o jornalista Wilton Fonseca em mais uma crónica publicada no jornal i.
O caso, em Portugal, da venda de 85 obras do pintor catalão Joan Miró (1893-1983), pertencentes ao entretanto intervencionado e, depois, vendido Banco Português de Negócios – escreve o autor – «passará à história» também por via de verbo “coimar” que... «nunca chegará aos pés» do seu rival "multar". In jornal "i" de 15 de maio de 2014.
«[…] se atendermos aos pesados custos económicos e sociais pagos pelos portugueses pelas políticas austericidas, mais troiquistas do que a Troica, que o Governo da coligação PSD/CDS nos impôs […]»
Conselho Superior, Antena 1, 21 de janeiro de 2014
Os neologismos não têm todos um futuro garantido: se muitos acabam por entrar no dicionário, outros têm vida efémera ou esperam ainda uma oportunidade para ter atenção e uso, como observa o escritor e professor universitário Fernando Venâncio, em mais uma crónica na coluna "Língua movediça" da revista Ler (dezembro 2013).
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