1. Com a vitória surpreendente (para muitos, nem tanto assim) de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas de 8/11/2016, é de prever que continuem a ser ouvidas e lidas as palavras típicas da cobertura mediática de todo este processo. A marcar a hostilidade de diversas peças jornalísticas relacionadas com a figura de Trump, têm sido recorrentes vocábulos como racismo, xenofobia, misoginia, homofobia, populismo, arrogância, megalomania, ou seja, uma série de substantivos associados a juízos de reprovação. O estilo de Trump, em claro contraste como o do seu antecessor, pede e promete também neologismos à altura dos muitos termos, alguns já esquecidos, que os mandatos dos presidentes norte-americanos foram motivando ao longo de mais de três décadas, muitas vezes como decalques do inglês: recordem-se o reaganismo, durante a presidência de Ronald Reagan (1981-1989); os bushismos – do Bush pai (1989-2003) e, dando um salto temporal, do Bush filho (2001-2009); os erros clintonianos, no período de Bill Clinton (1993-2001); e a obamania ou obamamania à volta de Obama (desde 2009). E agora, que aos tempos de Obama sucedem os de Trump, que virá aí? O "trumpismo"*? E que mais?
* Para o mundo de língua espanhola, a Fundación para el Español Urgente (Fundéu BBVA) já fixou algumas palavras alusivas a Donald Trump: anti-Trump e pró-Trump, aplicando o critério de hifenizar os prefixos antes de nomes próprios, tal como se faz na ortografia do português; trumpismo e trumpazo – este último, literalmente, «choque, abalo causado por Trump» –, sem maiúscula inicial nem aspas, seguindo um critério idêntico ao existente na escrita do português (as palavras derivadas de nomes próprias mantêm as sequências gráficas estrangeiras na base da derivação, sem maiúsculas inicial, nem aspas ou itálico). No caso do português, excluindo trumpazo, que talvez pudesse transpor-se como "trumpão" («um trumpão», embora se registe golaço, que permitiria trumpaço), segundo o modelo de encontrão e apagão, ou "trumpada" (cf. "bofetada"), são possíveis anti-Trump e pró-Trump, além do já mencionado trumpismo; mas já se registam Trumpamérica e os substantivos trumpada, trumpesco, trumpista, trumpificação e trumpestade. E, ainda, da autoria do historiador português José Pacheco Pereira, em crónica no jornal "Público" de 9/01/2021: trumps, trumpinhos e trumpões nacionais. Todas estas palavras ainda aguardam uso mais extenso na língua portuguesa (com alguns registos nos media portugueses e brasileiros, como aqui, aqui, aqui aqui, aqui ou aqui, por exemplo).
2. Ainda sobre os EUA, registe-se a notícia do êxito que está a ter o documentário Portuguese in New England («Os Portugueses na Nova Inglaterra»), realizado por Nelson Ponta-Garça, que nele retrata a importante comunidade portuguesa que criou raízes nos estados da Nova Inglaterra, sem deixar de conservar aspetos da sua cultura de origem, entre eles, a língua. Sobre a expansão do ensino da língua portuguesa, na perspetiva de Portugal, leia-se o estudo O Ensino da Língua Portuguesa nos EUA, um trabalho de 2014, coordenado por Luís Reto (atual reitor do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, onde é também docente e investigador).
3. Na presente atualização do consultório, aborda-se uma distinção que pode ser importante no contexto do direito do trabalho: existe ou não diferença entre gravidade e severidade? Comenta-se igualmente o uso de «o quão», procura-se definir o significado de gravura e volta-se a falar do conceito de família de palavras.
4. São temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:
– O livro Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino, coordenado pelas professoras portuguesas Cristina Maria Flores, Maria Alfredo Moreira e Rosa Bizarro, tem como público-alvo os professores, investigadores, formadores e outros interessados no ensino do Português Língua Não Materna. O Língua de Todos de sexta-feira, 11 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 12 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), conversa com a professora Cristina Maria Flores sobre este útil e bem desenvolvido instrumento de trabalho.
– O Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, através da Coordenação do Ensino Português em Espanha e Andorra e em colaboração com o Centro Cultural Camões em Vigo e a Associação de Docentes de Português na Galiza, organizam as VIII Jornadas de Actualização de Docentes de Português, em 11 e 12 de novembro p. f., na Casa de Arins, em Vigo. Sobre este encontro, o Páginas de Português de domingo, 13 de novembro, na Antena 2 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), entrevista Filipa Soares, Coordenadora de Ensino para Espanha e Andorra, do Camões I.P.
* Hora oficial de Portugal continental.