A chegada da pandemia trouxe alterações que modificaram a forma de viver de um planeta inteiro. A linguagem não ficou imune a esta mudança. Novas realidades procuraram novas palavras e estas, as primeiras, estão a dar origem a outras tantas.

Uma das primeiras a chegar foi covid, o nome dado à doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2. Covid é um acrónimo formado a partir de coronavírus disease: co- de corona, vi- de virus e -d de disease. A resistência à aceitação desta nova palavra não tardou a fazer-se sentir, mas ela, indiferente a tudo e a todos, ficou, como o vírus que a provoca. E porque alterou a realidade, rapidamente a palavra covid começou a gerar uma nova família: a família covid. É todo um conjunto de neologismos que nasce da criatividade dos falantes, aliada à necessidade de nomear novas realidades. E é assim que surgem termos como covidar para referir uma conversa entre amigos, mediada pelas redes sociais; covidice, para designar as coscuvilhices em forma de teorias da conspiração ou simples mentiras virais à volta da pandemia; covidelírio, nome dado às ideias, mais ou menos loucas, que vão surgindo, fruto do isolamento; covidiota, para descrever aqueles que, em tempos de pandemia, assumem atitudes idiotas; ou covinado, expressão que designa o confinamento em tempo de covid. Mais pesados são os termos covidário, designação dada às zonas com doentes covid nos hospitais, ou covidivórcio, palavra que descreve os divórcios resultantes da situação de pandemia. Enfim, gradualmente, os falantes vão construindo o covidês, ou seja, uma língua própria da covid.

A grande questão que se coloca está relacionada com a longevidade destes neologismos. Será a necessidade que a ditará. E é provável que, se a pandemia não durar muito, mais eles caiam no esquecimento. Será bom sinal. Será sinal de que já não servem. Ficarão depositados algures e servirão apenas para fazer história da língua.

Áudio disponível aqui:

[AUDIO: A família covid]