João Almeida Moreira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
João Almeida Moreira
João Almeida Moreira
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Jornalista português, radicado no Brasil, correspondente dos jornais A BolaDiário de Notícias e Dinheiro Vivo, e da rádio TSF. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pelo autor
O léxico da eleição
Expressões, gírias e neologismos das presidenciais brasileiras

Um pequena viagem por expressões, gírias e neologismos que marcaram a campanha para as presidenciais brasileira no artigo "Pintou um clima, candidato padre, capiau, pinguço. O léxico da eleição", da autoria do correspondente do Diário de Notícias em São Paulo, João Almeida Moreira, publicado em 30/10/2022.

Fonte da imagem: "Resultado das Eleições 2022: Lula é eleito presidente do Brasil", Jota, 30/10/2022.

A uberização do <i>karma</i>
O neologismo que conduz o destino da atualidade política brasileira

Para o jornalista português João Almeida Moreira, correspondente do Diário de Notícias, em São Paulo, tem-se assistido nos últimos anos à uberização da vida política do Brasil, isto é,  muitos políticos brasileiros parecem conduzidos por atos de traição e vingança, consumados de forma pronta, ironicamente ao estilo do serviço de transporte Uber. Crónica que o autor publicou no referido jornal em 30 de abril de 2020 e que aqui se transcreve com  devida vénia.

 

 A forma karma, que é a do original transcrito e está registada como estrangeirismo, tem um aportuguesamento já dicionarizado: carma (cf. Dicionário Houaiss). Quanto ao título, ocorre o termo uberização – que pressupõe o verbo uberizar, um derivado no nome Uber –, pelo qual se entende o negócio apoiado nas tecnologias móveis que liga, através de uma plataforma digital, o consumidor ao fornecedor de produtos e serviços de forma personalizada e o mais diretamente possível (cf. Alexandra Leitão, "Uberização da economia", Jornal Económico, 05/09/2017). O nome comum e o verbo donde procede têm também sido empregados em tom crítico, porque a oferta de serviços pelas plataformas digitais acaba por se tornar frequentemente uma estratégia empresarial para fugir às responsabilidades sociais decorrentes da admissão de trabalhadores (muitas vezes chamados "colaboradores"; cf. Safaa Dib, "A uberização desregulada do trabalho", Jornal Económico, 17/01/2020).

A gramática e a política

«(...) Como se tivesse sido tirado às pressas, ainda empoeirado, de um baú, Temer soa antigo a cada gesto, a cada pausa, a cada sorriso, a cada murro na mesa. E, ainda por cima, disse a certa altura “(...) sê-lo-ia pela minha formação democrática (...)”. “Sê-lo-ia” é a tal mesóclise – que, se não se usa todos os dias em Portugal, no tropical e mais informal Brasil então é mesmo uma ave rara. (...)»

[in Dinheiro Vivo/Diário de Notícias, 17/08/2016]