Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Sebastianismo ortográfico
A propósito da escrita de infeção no português europeu

 «Confesso que não deixo de admirar a pequena tribo de opositores ao Acordo Ortográfico, os quais, passados mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada – o que o torna irreversível –, continuam a pugnar pelo regresso à antiga ortografia, com a mesma convicção com que os sebastianistas esperavam o regresso de D. Sebastião.

O caso é tanto mais de admirar, quanto eles insistem sem desfalecimento num pequeno menu de argumentos, em geral de uma enorme fragilidade, como se deduz de mais uma peça de um dos seus mais empenhados ativistas, Nuno Pacheco, no Público, um dos poucos periódicos que se mantém fiel à antiga ortografia.»

[Texto* do autor, rebatendo o artigo "Enquanto combatemos o novo coronavírus, o velho "ortogravírus não pára". Cf. "O Acordo Ortográfico em tempos de pandemia"].

* Publicado no dia 17 de abril de 2020 no blogue Causa Nossa.

 

A realidade do Acordo Ortográfico dez anos depois
Em vigor no Brasil desde 2004, em Portugal desde 2008 e em Cabo Verde em 2015

O retomar em Portugal da polémica à volta do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 – cf. Parlamento [português] prevê (des)Acordo Ortográfico + Acordo Ortográfico "é estúpido e não deixa pensar" – é pretexto deste artigo da professora Lúcia Vaz Pedro, publicado em versão reduzida no “Jornal de Notícias” de 21 de maio de 2019.

Em defesa do novo Acordo Ortográfico
Um apanhado sobre as novas regras e a desinformação à sua volta
« A Língua Portuguesa, como qualquer língua viva, evolui com o tempo, ao longo dos séculos. Portanto — escreve neste artigo* aa linguista e professora universitária portuguesa Naidea Nunes Nunes —, a língua que falamos e escrevemos hoje não é igual à dos séculos passados. Se assim fosse e se a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa não tivesse ocorrido em 1911, após a implantação da República Portuguesa (em 1910), ainda escreveríamos assumpto em vez de assunto, characteristica em vez de característica e pharmacia em vez de farmácia. Ou seja, embora a ortografia seja conservadora, houve necessidade de aproximá-la da fala, sem comprometer muito a sua origem etimológica do Latim, para que não existisse um fosso muito grande entre estas duas realidades.»
 
* in Funchal Notíci@s, com a data de 29 de novembro de 2018, a seguir transcrito, na íntegra, com a devida autorização autora.
Por uma ortografia comum de todos os países lusófonos, <br> transnacional e transdisciplinar
Declaração apresntada na ACL sobre o AO de 1990

«A Academia das Ciências de Lisboa não [deve] tomar uma posição negativa quanto ao processo iniciado com o Acordo Ortográfico de 1990mas, sim, manifestar a sua disponibilidade para continuar a contribuir para a sua consolidação e aperfeiçoamento, levando em conta a complexidade transnacional e transdisciplinar da problemática envolvida», defende o musicólogo e professor catedrático jubillado (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas-Universidade Nova de Lisboa) Mário Vieira de Carvalho na declaração que apresentou à insttiuição de que é sócio correspondente, com data de 23 de maio de 2017. Texto que adiante se transcreve na íntegra, com título da responsabilidade editorial do Ciberdúvidas.

 

Um discurso ignorante e retrógrado
Sobre a petição "Cidadãos contra o Acordo Ortográfico"

O «movimento de cidadãos contra o Acordo Ortográfico» – escrevem os autores nestas suas considerações, enquanto membros efetivos da Academia das Ciências de Lisboa, sobre a petição entregue na Assembleia da República no dia 8 de março de 2017, reclamando a sua desvinculação de Portugal – «é um tropismo de adesão emocional, uma animação chique, intelectualoide, classista e reacionária. Os poetas e os intelectuais não têm problemas de escrita. No que à ortografia diz respeito são inimputáveis, mas dir-se-ia que alguns se julgam donos da língua. Têm saudades do tempo em que a qualidade da língua era aferida pelo número dos erros de ortografia.»

Só porque um grupo de «velhos do Restelo»<br> não aceita a mudança?
Posição da APP sobre o Acordo Ortográfico

«Como se explica que uma Academia [das Ciências de Lisboa] que foi a principal defensora do acordo [ortográfico de 1990], que teve uma longa troca de negociações com a Academia brasileira, que foi a grande responsável pela promulgação do acordo, o esteja neste momento a pôr em causa? Será que estamos perante uma situação de “rei morto, rei posto"?»

[Comunicação da presidente da Associação dos Professores de Português, Edwiges Ferreira, no Encontro de Profissionais da Escrita (sobre a adoção do Acordo Ortográfico em Portugal) – com a gravação vídeo aqui –, realizado na Academia das Ciências de Lisboa, no dia 9 de Março de 2017. Título da responsabilidade do Ciberdúvidas. ]

Antes do AO1990 já era assim e ninguém protestou?

Texto versejado do autor à volta de palavras com cuja homofonia e homografia lidamos há muito, muito tempo – mais propriamente desde a reforma ortográfica de 1945, com a eliminação de uma série de acentos diferenciadores* –... sem os protestos, pós-AO, por causa da abolição do acento agudo, por exemplo, na 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo parar.

Além dos casos referidos neste texto, a eliminação do acento gráfico nas palavras homógrafas graves consagradas pelo Acordo de 1945, em Portugal, e pela Lei n.º 5765, de 18 de dezembro de 1971, no Brasil, regulou desde então muitos outros. Por exemplo: acerto (ê) / (é), acordo (ô) / (ó), forma (ô) / (ó) (substantivos/ formas verbais); cor (ô) / (ó) (substantivo / elemento da locução "de cor"); bola (ô) e bola (ó), sede (ê) e sede (é); molho (ô) / molho (ó), ambos substantivos. Cf. "Supressão dos acentos nas palavras homógrafas: pelo, para, molho. sede, cor", de Lúcia Vaz Pedro ("Jornal de Notícias", 4/10/2015). 

«Um retrocesso de mais de 100 anos»

«Sem sentido» é como o gramático e académico brasileiro Evanildo Bechara qualifica a iniciativa unilateral da Academia das Ciências de Lisboa de uma revisão do Acordo Ortográfico, «um tratado internacional assinado pelos oito países de língua oficial portuguesa. Entrevistado pelo jornalista Miguel Roque Dias para o programa Língua de Todos do dia 24/02 p.p., aponta a dedo o presidente da ACL, Artur Anselmo, que considera «fora de rumo» nessa campanha.

 «Sem pés nem cabeça» as mexidas no AO <br>propostas pela Academia das Ciências de Lisboa
Segundo João Malaca Casteleiro

Entrevista de João Malaca Casteleiro, um dos responsáveis, da delegação portuguesa, pelo acordo que pôs fim à dupla ortografia oficial na língua portuguesa, ao jornal digital Observador, do dia 13 p.p. «Voltar atrás – diz – seria um atentado ao bom senso», criticando em particular a propostas de alterações constantes do documento "Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesaapresentadas pela Academia das Ciências de Lisboa.

Não ao Acordo Heterográfico

«Ainda bem que [o ministro dos Negócios Estrangeiros português] Augusto Santos Silva (...) pôs ordem naquilo que deve estar na ordem (orto). E que o parlamento recusou alterar o Acordo Ortográfico para Acordo Heterográfico. 27 anos depois não podemos continuar a discutir as preferências de cada um. A minha avozinha morreu em 1985 a escrever mãi e pae, como tinha aprendido antes do acordo de 1911, e juro que nunca ninguém lhe chamou analfabeta. Apenas se manteve na sua...»

[texto do jornalista Henrique Monteiro, a propósito da rejeição pelo parlamento e pelo Governo portugueses da proposta de Academia das Ciências de Lisboa de alterações ao Acordo Ortográfico em vigor no país desde 13 de maio de 2009]