1. A Academia das Ciências de Lisboa, na figura do seu presidente, o filólogo Artur Anselmo, convocou para o dia 25 p. f., quinta-feira, um plenário dos seus membros – sócios efetivos e os por correspondência também –, com um ponto único, conforme a respetiva convocatória: «Votação sobre a petição que um grupo de cidadãos dirigiu à Assembleia da República, solicitando "a desvinculação de Portugal do Tratado e Protocolos Modificativos ao Acordo Ortográfico de 1990 e a revogação da Resolução n.º 8/2011 do Conselho de Ministros" de que é subscritor [o advogado e ex-ministro português] António Duarte Arnaut.» Mais se informa que o resultado da votação [por via de um boletim de voto com três quadrículas, "Sim", "Não" e "Abstenção"] deverá ser comunicado à Assembleia da República até ao dia 28 do corrente mês de maio.
* Segundo os seus organizadores, a petição Cidadãos contra o “Acordo Ortográfico” de 1990 conta com 20 mil subscritores, neles se destacando personalidades variadas do meio cultural, universitário, musical e político português..
[Atualização posterior: o plenário da Academia das Ciências de Lisboa, como se noticia no ponto 4 da Abertura do dia 26/05/2017, descartou esta ordem trabalhos, reafirmando o que fora anteriormente aprovado e constante no documento Sugestões para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.]
2. Uma década depois da primeira reforma ortográfica da língua portuguesa, em 1911 – que pôs termo ao «caos gráfico» das nenhumas regras minimamente fixadas até aí para a escrita do português, como apontou à época Agostinho de Campos –, as reações hostis nos meios intelectuais portugueses de há 100 anos não podiam ser mais coincidentes com o que se passa hoje com o Acordo Ortográfico de 1990. É o que, sobre a «saga da procura da unificação ortográfica da língua portuguesa» e as razões históricas de ainda hoje andarmos «às turras com o Acordo Ortográfico», assinala o linguista João Malaca Casteleiro, em artigo que deixamos disponível na rubrica Acordo Ortográfico. Em representação da Academia das Ciências de Lisboa, ele fez então parte da delegação portuguesa ao Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, realizado na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, em 1986, e cujos trabalhos conduziram ao Anteprojeto de Bases da Ortografia Unificada da Língua Portuguesa, em 1988. E, dois anos mais tarde, no novo encontro realizado na Academia das Ciências de Lisboa, de aprovação final do novo Acordo Ortográfico, com a participação das delegações dos então sete países da CPLP e da Galiza (com o estatuto de observador). «Foi, pois, com muita tristeza – escreve agora João Malaca Casteleiro – que vimos o atual presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Artur Anselmo, atuar, nos últimos tempos, em movimentações públicas, primeiro, para tentar reverter o Acordo Ortográfico, e, depois, vendo que tal era impossível, a apadrinhar uma revisão atabalhoada, linguisticamente mal fundamentada e inoportuna, numa verdadeira afronta à memória da própria Academia e dos ilustres académicos e filólogos, dos dois lados do Atlântico, já falecidos, que tanto se esforçaram para que a língua portuguesa tivesse uma ortografia unificada.»
3. Temas restantes da presente atualização do Ciberdúvidas:
• Na rubrica O Nosso Idioma, e a propósito ainda da vitória do cantor português Salvador Sobral no festival Eurovisão 2017 – a primeira de um representante de Portugal, cantando em português –, deixamos a transcrição de um artigo publicado no jornal Público do dia 19 p. p, cujo autor, Francisco Louçã, nos convida à seguinte reflexão: «Como se vence cantando em português? O que é o mesmo que perguntar o que nos diz a nós e porque é que também diz a tanta gente que não sabe a [nossa] língua?»
• E, no consultório, responde-se a três novas perguntas. Qual a origem da expressão «Nem por sombras»? Diz-se «atirar pagaias» no sentido de «dar palpites»?
Finalmente: é «a aula "de campo"» ou, antes, «a aula "em campo"»?