A propósito do caso da jovem imigrante sem-abrigo que abandonou o filho recém-nascido num contentor do lixo [em Lisboa], ouvi o termo adoptabilidade que, confesso, desconhecia (nem se encontra dicionarizado), mas que creio faz parte do léxico jurídico: [suponho que] "adaptabilidade", no sentido do processo legal para a adoção do bebé*.
Ou seja: qual a diferença entre adoptabilidade e adoção, e em que registo se usa um e outro?
* in Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo Anotada, de Paulo Guerra.
Gostava de saber se o verbo temperar também se pode referir a temperatura, ou seja ter como sinónimo amornar. Por exemplo, posso dizer: «vou temperar a água para tomar banho»?
Grata.
Gostaria de saber se a concordância verbal do verbo fazer, na terceira pessoa do singular, no impessoal, se utiliza para referir estados atmosféricos (ex. «Faz calor»), ou se apenas se utiliza para referir o tempo decorrido (Ex. «Faz dez anos»), tendo em conta as regras do português europeu e a diferença com o português do Brasil.
Obrigada.
«A advertência é própria para deixá-lo ciente do que se trata aqui, nestas páginas minguadas: um fugidio colóquio entre duas almas femininas – simples, corriqueiro e brando –, mas cujas consequências se supõe graves e irrecorríveis.»
Na frase acima o verbo supor está bem no singular?
Antecipadamente agradeço.
No âmbito da gestão, encontro com bastante frequência a palavra "calculativo" associada ao modelo de Meyer e Allen, nas traduções para português. No entanto, fico com dúvidas se, na realidade, esta palavra existe em português, ou se é mais uma tentativa de tradução forçada de um termo estrangeiro, e se não seria mais apropriado utilizar-se o termo "calculista".
A figura de linguagem zeugma refere-se apenas à omissão de termo já mencionado dentro da mesma oração ou também à omissão de termo mencionado em oração anterior?
Exemplo: «Pedro foi ao mercado ontem. Depois passou na oficina. Quando estava indo (*), encontrou Carlos.»
Na terceira oração se omite o termo «ao mercado», mencionado na primeira oração. Nesse caso, trata-se de zeugma ou de elipse, por o termo omitido não estar na mesma oração?
Obrigado.
Pesquisei nos meus livros e não encontrei a diferença entre monção e moção.
Um colega de trabalho insiste que «adquirir conhecimento sobre» (por exemplo, «adquirir conhecimento sobre matemática») está errado e que, nestes casos, é necessário utilizar o plural: «adquirir conhecimentos sobre».
No entanto, uma pesquisa no Google mostra o dobro das entradas para a opção no singular. Além disso, pesquisei nos dicionários mais populares e não vejo motivo para considerar errada a construção no singular.
Na vossa opinião, «adquirir conhecimento sobre» está errado ou causaria alguma estranheza a um falante de português de Portugal?
Muito obrigada.
A palavra idade pode usar-se mesmo quando não se refere a pessoas?
Por exemplo: «Qual a idade da sua empresa?»
A pergunta em cima está correta?
Obrigado.
Desde criança que oiço o termo “espenéfico”, com o sentido de «espevitado, atrevido, pretensioso»: «Andas muito espenéfico – disse a mãe ao filho, já farta de o ver armado em engraçadinho.»
Com espanto, não encontrei este vocábulo em nenhum dos vários dicionários que consultei. No entanto, numa busca no Google, esta palavra aparece utilizada por algumas pessoas, duas das quais afirmam «estar em todos os dicionários»!...
[Exemplos:]
– «Em tempos do "Botequim" à Graça, ouvi a Natália Correia dizer a propósito da actual jurada do Prémio Pessoa: "o quê? Essa espenéfica"?
Pensei que se tratava de um regionalismo açoriano. Mas afinal a palavra, muito adequada, está em todos os [d]icionários de [p]ortuguês. [...]
O significado anda mais ou menos na área semântica d[e]: presumido, pretensioso no aspecto e nos modos.
E está realmente em todos os dicionários.» (blogue Insónia, 29/05/2006)
– «A Joanita está um bocado espenéfica, não deve interessar a partido nenhum. Tem que ir à psicanálise e pedir perdão ao Guru Louçã.» (blogue Arrastão, 01/08/2009)
– «Nunca te calas e nem ouves o nome das pessoas, sê menos espenéfica.» (página de Facebook)
– «Ele queria aquele, claro, mas mesmo assim foi buscar outro e a espenéfica foi atrás! (blogue Travelling with Ritinh@, 19/04/2007)
Gostaria de ouvir a vossa opinião.
Muito obrigado.
P.S.: Em aditamento à minha consulta [...], acabo de descobrir no Google as variantes “espernéfico” e “esprenéfico”, que também não encontro em nenhum dicionário.
30/04/2016 – «Um programa – não me lembro do nome – presidido pela espernéfica senhora Constança e Sá.»
18/10/2018 – «Mal em si é a escolha de um cão de fila para a energia, um espernéfico ignorante na matéria, como tal várias vezes desmascarado [....].»
2/02/2008 – «O Presidente da República, Cavaco Silva, ao contrário de alguns meninos espernéficos...»
2006 – «Vozes: como se escreve espernéfico? Espernéfico ou esprenéfico? Outras vozes: nem de uma maneira nem de outra. Não vem no dicionário. Vozes: em qual?» (António Barros et al., Esta danada caixa preta só a murro é que funciona : CITAC 50 anos, Coimbra : Imprensa da Universidade, 2006, p. 211)
24/02/2017 – «Vai daí, trafulhamente, a dona Catarina, espernéfica [...].»
1996 – «[...] um roedor esprenéfico, de par de estalos, a dar às ancas [...].» (António Lobo Antunes, O Manual dos Inquisidores)
02/10/2014 – «Agora falta fazerem uma lei para me proteger do esprenéfico do cão da vizinha do 5º andar que não se cala o dia inteiro»
2009 – «[...] abre-se o mecanismo e volantezitos esprenéficos a garantirem.» (António Lobo Antunes, Que Cavalos São Aqueles que Fazem Sombra no Mar?)
23/07/2011 – «Uma faixa esprenéfica, que é um termo muito usado cá na família , que significa qualquer coisa ou pessoa entre o irritante e o espevitado.»
1994 – «Bom, então vê lá se deixas de ser esprenéfica, está bem?» (Rita Ferro, Por tudo e por nada. Crónicas, Lisboa, Contexto Editora, 1994, p. 120)
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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