Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Classe de palavras: conjunção
João Rodrigues Professor Leiria, Portugal 8K

Sendo as conjunções descritas muitas vezes como elementos que ligam orações, elas deverão ser inseridas nas mesmas ou ser consideradas elementos de ligação? Tomemos como exemplo a frase «O André chegou tarde porque esteve a conversar com o amigo». Nesta frase, a oração subordinada causal é «porque esteve a conversar com o amigo», ou «esteve a conversar com o amigo»? A minha dúvida surge do facto de, se a conjunção é um elemento de ligação, ela funcionar como uma espécie de ponte e nesse sentido não pertence a nenhuma das margens. Contudo, e penso que eu é que estarei errado, nas gramáticas elas aparecem sempre como parte integrante ou das orações coordenadas ou subordinadas. Nesse sentido, como explicar a contradição?

Desde já, o meu obrigado.

Fernando Bueno Engenheiro Belo Horizonte, Brasil 10K

Veja-se a seguinte frase:

«Se não adivinhava tudo, a ideia que se formara da senhora Calas não deixava de corresponder à que podia ter agora que sabia.»

Minha dúvida se prende ao fragmento «agora que sabia». Trata-se de oração adverbial temporal iniciada pela locução «agora que»? No entanto, há também a possibilidade de estar a palavra agora ligada à frase anterior: à que podia ter agora (isto é, naquele momento). Nesse caso, porém, a frase «que sabia» se me afigura incompleta. Em suma, o que conjecturo é que a formulação imaginada pelo redator deveria ser esta: «à que poderia ter agora, agora que sabia» (?), ou seja, no exemplo, a palavra agora estaria sendo usada com dupla função. O melhor seria escrever «à que poderia ter naquele momento (atualmente, naquela ocasião), agora que sabia».

Peço a gentileza de um comentário, que, desde já, agradeço.

Diogo Lopes Estudante Grenoble, França 6K

Dou desde já os meus parabéns à equipa do Ciberdúvidas, pelo excelente site que mantêm.

A minha pergunta é sobre o soneto de Camões «Na desesperação já repousava», mais especificamente sobre a segunda quadra (só esta transcrevo pois parece-me que, em termos de significado, ela se basta a si própria ):

Quando uma sombra vã me assegurava
Que algum bem me podia estar guardado
Em tão fermosa imagem, que o traslado
Na alma ficou, que nela se enlevava.

Não percebo a que se referem os dois últimos «que»: qual deles faz parte da locução comparativa «tão... que»? Qual o sujeito de «... que nela se enlevava»?

Obrigado.

Patrícia de Souza Professora Niterói, Brasil 7K

Na oração «Poluída que estava, a praia foi interditada», qual seria a classe gramatical da palavra que?

Rogério Silva Estudante Macau, China 4K

Li um artigo no Diário de Notícias [em linha], datado de 23 de Março e intitulado «Estudantes chineses estão a aumentar», no qual me deparo com a seguinte frase: «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, como a maioria das outras. Enche-se de meninos que vêm aprender mandarim, porque é ali que funciona a Escola Chinesa de Lisboa.»

Causa-me uma certa "impressão" a conjunção como na frase. Embora perceba que a escola em questão não fecha aos sábados contrariamente às outras, ao tentar analisar a frase surgiu-me uma dúvida.

1) «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, como [o faz] a maioria das outras»?

Ou

2) «A Escola Básica do 1.º Ciclo n.º 26 não fecha aos sábados, [tal] como a maioria das outras»?

Ou seja, a escola em questão está aberta ao sábado, contrariamente às outras (frase 1), ou a escola em questão está aberta ao sábado do mesmo modo que as outras (frase 2)?

Muito obrigado.

L. Lima Professora C. Rainha, Portugal 60K

Na Gramática Universal da Língua Portuguesa, de António Afonso Borregana, a palavra nem aparece no quadro dos advérbios de negação. Procurei informação em outras gramáticas e encontrei uma grande diversidade de informação. Pergunto:

1. Nem, além de conjunção, também pode ser advérbio de negação? Em que casos?

2. Apenas a palavra não é advérbio de negação, ou também nunca e jamais?

Em Celso Cunha e Lindley Cintra apenas figura não como advérbio de negação...

Obrigada.

António Tadeu de Sousa Bancário (aposentado) Natal, Brasil 5K

Estava lendo um livro de crônicas do escritor Machado de Assis intitulado A Semana, volume 2, publicado pela Editora Mérito, 1959, quando, na página 93, deparei com o seguinte período: «Desaparece o sacristão, e torna alguns segundos depois, acompanhando o padre.» O que o referido escritor quer nos transmitir apondo a vírgula antes da conjunção coordenada e? No meu modesto entendimento, concluo que tem a finalidade de dar ênfase à frase a qual inicia. Estou errado?

Grato.

Alexandre Fernandes Corrêa Sociólogo/antropólogo Rio de Janeiro, Brasil 6K

No texto [de um autor brasileiro], há uma frase que parece imprecisa. Ela deixa no ar certa ambiguidade, já que parece elidir os termos gramaticais do que/ao invés de. O trecho é: «A poesia tem uma realidade independente da matéria que serviu para sua criação, é por assim dizer exterior a essa matéria, participando muito mais do espírito de seu criador, ou da época, da finalidade, das circunstâncias, do ambiente em que foi criada.» Minha dúvida se refere ao uso do ou. Caso o autor tivesse utilizado do que/ao invés de, não haveria qualquer ambiguidade. Estou certo? Observem o argumento, a premissa «a matéria da poesia participa do espírito do seu criador», entra em contradição com a continuação da frase... Pois se pode sofrer influência de tudo, não tem porque afirmar a premissa inicial, não é? Eu ocultei o autor, pois a fama dele pode inibir o juízo imparcial do especialista [...].

Gílson Celerino Estudante Hanôver, Alemanha 18K

Escrevo-lhes em parte para pedir esclarecimentos, em parte para, com cuidadosa modéstia, contribuir.

Começo pela contribuição. Acerca da conjunção como, ao ler nesta resposta a categórica afirmação de não-existência da pronúncia /cumo/ no Brasil, tenho de discordar.

Certamente não era do conhecimento dos senhores consultores — daqueles que formularam a resposta — a variação ortoépica existente no Nordeste brasileiro. Embora tida como ruralizante, a pronúncia /cumo/ ainda se encontra em pessoas mais velhas ou em falantes que vivam mais afastados dos grandes centros urbanos. Tal fato se torna bastante notável em frases que contenham a expressão de realce é que. Por exemplo: «Como é que vai a senhora?» pode soar, no Nordeste do Brasil, da seguinte maneira: /cumé qui vai a sinhóra?/, em que ocorre elisão de como + é.

Em seguida, a respeito do tema em apreço ainda me restam dúvidas relativamente à pronúncia doutras palavras. Em se tratando de língua portuguesa, que palavras são, por natureza, átonas? Há classes gramaticais de palavras inteiramente átonas?

De acordo com o que aconselham, deve-se proferir /cômo/; se se trata de dissílabo átono, como se explica a preferência pelo o fechado, em contraste com porque /purque/? Sem contar com outros monossílados átonos, por exemplo: por, com.

Muito obrigado pela atenção.

Madalena Afonso Professora Porto, Portugal 4K

Mas — única conjunção coordenativa adversativa?

Agradeço que me esclareçam sobre a questão em epígrafe, pois tive conhecimento de que, no âmbito de uma acção de formação sobre os novos programas do ensino básico, se disse, entre outras coisas, que a TLEBS morreu e que há também outras alterações ao nível das classes de palavras, como a que enuncio, bem como, por exemplo, o facto de a conjunção mas já não se considerar um conector ou articulador.