Como a expressão «nem o tempo» veicula informação adicional à que é pressuposta pela palavra nada, o predicado concorda com este pronome indefinido e deve ficar no singular.
Note-se que a concordância com sujeitos compostos ligados pela conjunção nem verifica oscilações, podendo usar-se o singular se os termos do sujeito complexo se excluírem mutuamente, em alternativa (Celso Cunha e Lindley Cintra 1984: 508): «Nem tormenta nem tormento/nos poderia parar» (Cecília Meireles, Obra Poética, Rio de Janeiro, Aguilar, 1958, pág. 141). Além disso, o pronome indefinido nada, integrando-se num sujeito composto constituído por uma enumeração, desencadeia a concordância no singular, porque resume os termos aos quais se associa (idem: 507): «Letras, ciências, costumes, instituições, nada disso é nacional» (Eça de Queirós, Obras, Porto, Lello & Irmão, 1958, vol. II, pág. 1108).
Relativamente ao verso em causa, visto «nem tu» se comportar como aposto ou um parênteses de nada, importa ter em mente a descrição de M.ª H. M. Mateus et al., na Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, p. 587) sobre termos coordenados parentéticos em sujeitos compostos:
«Numa coordenação de sintagmas nominais singulares, com a relação gramatical de sujeito, quando o termo coordenado é parentético, a concordância pode fazer-se apenas com o termo coordenado não parentético, como mostra (14):
(14) (a) Ele, e não ela, foi ao brasil este ano.
(b) O João, e também a Maria, conhece bem S. Paulo.
{#c|} A Alemanha, ou a França, lidera o mercado europeu nesse sector desde há alguns anos.
(d) A Transbrasil, mas não a Lufthansa, deixou de fazer voos para Portugal.»
Convém também empregar duas vírgulas para assinalar esse estatuto parentético de «nem tu». Por isso, o verso deverá ser escrito assim:
«[...] E nada, nem o tempo, me fará desistir tão fácil de você [...].»