Concordância no verso «O rebanho é os meus pensamentos» (Alberto Caeiro)
Não querendo, de todo, desafiar Alberto Caeiro ou qualquer outro dos heterónimos de Pessoa, gostaria de (melhor) compreender a regra que permite escrever o seguinte: "O rebanho é os meus pensamentos"
Bem sei que se aplicam regras específicas quando se utilizam nomes colectivos. Porém, aplicando a mesma lógica, peço-vos que me indiquem se os próximos exemplos estão ou não correctos:
«O público é as minhas emoções.»
«A multidão é as minhas reivindicações.»
Grafia de acordo com a norma ortográfica de 1945
«Corre bem» e «decorre bem» II
Gostaria de saber se se diz «Espero que tudo “corra” bem» ou «Espero que tudo “decorra” bem»?
O verbo assistir referido a pessoas
Durante um debate entre parlamentares num canal de TV, vi uma deputada cumprimentar os participantes referindo-se aos telespectadores em casa com a expressão «aos que nos assistem».
Ora, dito assim, parece-me que que a senhora estará a dizer «aos que nos ajudam», e deveria ter dito «aos que nos veem/ouvem» em casa.
Em todo, porque tenho dúvidas na utilização deste verbo na construção frásica, solicito o vosso esclarecimento.
Melhores cumprimentos.
Uso do auxiliar ter e do pretérito mais-que-perfeito do indicativo
No uso de formas verbais, tenho dúvidas sobre o uso dos verbos ter e haver como auxiliares.
– Em expressões como «Tinha-me preparado para a docência»/ «havia-me preparado para a docência», gostaria de saber se são equivalentes, se se pode usar um verbo ou o outro indistintamente. Neste caso coincidiria com o tempo verbal chamado em espanhol pretérito pluscuamperfecto: «Me había preparado para la docencia».
E também [queria saber] se é equivalente à expressão: «preparara-me para a docência.» Acho que neste caso a forma verbal em português é o pretérito-mais-que-perfeito, e coincidiria com o que dizemos em galego: «Preparárame para a docencia.»
Outros exemplos similares: «Ele disse que havia tido uma espécie de alergia na pele.»/«Ele disse que tinha tido uma espécie de alergia na pele.»/«A moça entrou e disse que tivera um sonho terrível.»
– Em espanhol: «Él dijo que había tenido una especie de alergia en la piel.»/ «La chica entró y dijo que había tenido un sueño terrible.»
– Em galego: «El dixo que tivera unha especie de alergia na pel.»/ «A rapaza entrou e dixo que tivera un soño terrible.»
A construção concessivo-condicional «faça o que fizer...»
«Faça o tempo que fizer, vou dar um pequeno passeio todos os dias.»
Nesta oração concessiva, o elemento de ligação é «o tempo que» ou «que»? Porque é que usa «que» aqui e o que significa a oração concessiva?
Os modismos "dizer que", "observar que", "acrescentar que"
É comummente utilizado por vários políticos, jornalistas, comentadores e várias outras figuras públicas, na televisão, no início de qualquer discurso o "dizer que", "observar que", "acrescentar que", sem qualquer continuação na sintaxe que permita que a utilização do verbo no infinitivo seja um sujeito. Exemplo:
«Boa noite a todos os presentes. Em primeiro lugar, dizer que, estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia. Acrescentar que, apresentaremos ainda hoje um conjunto de medidas de auxílio á economia. Observar que, estaremos atentos ao aumento de casos.»
Não tenho qualquer dúvida do erro. Na minha opinião, é um erro grosseiro, que se está a generalizar.
Gostaria que o Ciberdúvidas deixasse registado o quão grave é este erro, para bom uso da língua portuguesa.
Maltratado vs. mal tratado
Não fiquei esclarecido com a resposta de 2.5.2012 em relação ao assunto «mal tratado» e «maltratado».
Diz-nos que «se nos quisermos referir ao estado de alguém, caraterizando-o, a forma correta será maltratado. Se se quiser referir ao verbo, dever-se-á colocar o advérbio mal após o verbo [tratado].».
Veja-se, por exemplo, esta frase:
«Qualquer pessoa é muito mal tratada se a apanharem com 15 anos.» (Miguel Esteves Cardoso, Os Meus Problemas).
Neste caso, não estará o «muito» a intensificar o verbo ser? Isto significaria, se estou a ver bem, que se deve escrever «muito mal tratada» (separado e com «muito» antes do verbo). Ou devemos escrever de outra forma?
Espero ter sido claro.
Muito obrigado pela vossa ajuda constante.
Reconceber e reconceção
Recentemente fui informado que a palavra reconceção e reconceber não se encontram dicionarizadas.
Ora, trata-se, no essencial, de «tornar a conceber». Há alguma razão para que este prefixo não possa ser utilizado, tornando a palavra como portuguesa?
Há muitos exemplos de palavras em que a (possível) utilização do prefixo não se encontra nos dicionários, todavia há palavras constituídas com o re que estão presentes, como por exemplo, o verbo rever («tornar a ver»), reconhecer («voltar a conhecer»).
Agradeço a atenção.
A construção verbal «é chegado» (arcaísmo)
Considere-se a frase:
«É chegada a hora da partida.»
Qual a voz verbal desta oração? É possível existir voz passiva com verbo de ligação e intransitivo?
Obrigado
Coocorrência do se indeterminado e do se passivo numa mesma frase
Acabo de ler: «Não se pode ter muitos amigos e mesmo os poucos amigos que se têm não se podem ter como nos apetecia.»
Ao ler o «se têm», achei logo que deveria ser «se tem» (impessoal»). No entanto, ao ler o resto da frase («não se podem ter...»), hesitei na minha correção. Afinal, nestes casos, é melhor, pior ou indiferente escrever «se tem» em vez de «se têm»?
