Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Campo linguístico: Derivação
Manuela Rosa Docente Tomar, Portugal 1K

Gostava de saber se posso usar em Portugal o advérbio sinergisticamente. Em parte esta pergunta já foi respondida mas baseando-se apenas em fontes brasileiras que considero não se adaptarem à realidade portuguesa. E portanto, a dúvida mantém-se.

Dora Marina Vilanova de Macedo Esteves Saraiva Docente Barreiro, Portugal 1K

Tenho algumas dúvidas quanto ao processo de formação das palavras biforme e (o)/(a) caça.

Penso que a palavra biforme é formada por composição morfológica, sendo que tanto bi- como -forme são radicais (bi- = «duas» / -forme = «formas»), e seguindo o exemplo de cruciforme (cruci- = «cruz» / -forme = «forma»; «em forma de cruz»). No entanto, algumas gramáticas apresentam bi-/bis- como prefixo de origem latina, apresentando como exemplos bisneto, bimestral, o que me leva a duvidar do processo de formação da palavra biforme. Assim sendo, biforme é um composto morfológico ou palavra derivada por prefixação, ou pode-se considerar os dois processos?

Quanto à palavra caça, a dúvida consiste na expressão «o caça». Esta palavra surge descontextualizada num exercício, pelo que creio que o raciocínio de quem o resolve pode levar à consideração de dois processos distintos de derivação, uma vez que tanto a conversão como a derivação não afixal permitem a formação de nomes a partir de verbos. Como classificar o processo da palavra «(a) caça» no par de frases «ele caça muito bem» e «a caça de elefantes é proibida» e da palavra «(o) caça» no par «ele caça muito bem» e «o caça voa a alta velocidade». A minha primeira lógica é classificá-los como conversão, mas serão ambas formadas da mesma forma? Se não, como explicá-lo a alunos de 8.º ano?

Obrigada pela atenção.

Duarte Pereira Domingues Estudante Coimbra, Portugal 769

Porque usamos tanto a forma -logista, como a forma -logo?

Ex.: psicólogo e neurologista.

Ao que me parece, -logo e -logista significam o mesmo: quem estuda a lógica de algo, seja a psique ou o cérebro.

Não poderia ser, eventualmente, "psicologista" e "neurólogo"?

Rogério Paulo Pais da Costa Professor Leiria, Portugal 548

Tenho visto em alguns textos a palavra "arejabilidade". Contudo, não a encontro em nenhum dicionário de língua portuguesa. É correto usar essa palavra, ou ela, pura e simplesmente, não existe?

Muito obrigado.

Diogo Morais Barbosa Revisor Lisboa, Portugal 758

"Antologiar", "antologizar" ou ambos?

Parece-me que o primeiro termo é que faz sentido, mas a verdade é que o segundo se impôs, não sei por que desenvolvimento linguístico.

Obrigado.

Inês Neves Metelo Bióloga Lisboa, Portugal 1K

Como poderei classificar uma espécie de peixe presente em todos os oceanos? "Circunglobal" ou, à semelhança de circum-estelar, "circum-global"?

Obrigada

Rivaldo Sade Ié Professor Bissau , Guiné-Bissau 1K

Qual é a tradução para português da palavra inglesa coethnic (nome/adjetivo, «que ou pessoa que tem a mesma etnia»).

Carlos Alexandre Coimbra Xavier Fernandes Aviação Comercial-Reformado Maia, Portugal 1K

Na peça teatral Três em Lua-de-Mel (uma sátira ao Frei Luís de Sousa) da autoria de Henrique SantanaFrancisco Ribeiro (Ribeirinho) em que a protagonista é casada com dois homens, um outro personagem faz-lhe reparo que «isso é um caso de biandria e portanto, pode ser presa».

A minha pergunta é: existe o vocábulo "biandria"?!

Sei que o prefixo indica dois, mas não consigo encontrar a palavra em nenhum dicionário nem na Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

Obrigado pela vossa disponibilidade.

Maria Teresa Borges de Almeida Tradutora Lisboa, Portugal 1K

Gostaria de saber qual é o gentílico de Dijon: dijonês ou dijonense?

Ao pesquisar, vejo que em português do Brasil se diz dijonense e que em espanhol também, mas confesso que me soa melhor dijonês. Será que as duas formas são admissíveis?

Agradeço, de antemão, a vossa ajuda.

José Luiz Ferreira Reformado Lisboa, Portugal 2K

A minha questão prende-se com apelidos/patronímicos.

Conquanto seja um facto, para os genealogistas, que o apelido Andrade é de origem toponímica e não patronímica, a verdade é que me parece encontrar evidências (?) de que também possa ter origem patronímica. Pelo menos, no que toca à minha família, e apenas no concernente ao nosso costado paterno – em “busca da qual” vagueei por horas, dias, semanas, meses e anos a fio, no tempo em tinha de me deslocar para a consulta das fontes, à (actual) Torre do Tombo, ao Arquivo Distrital de Santarém, à Conservatória do Registo Civil de Ferreira do Zêzere e ao Arquivo Paroquial da minha freguesia natal.

O meu texto, que se segue, vale apenas para contextualizar a problemática. A questão, portanto, é: poderá o apelido Andrade ou d’Andrade ser o patronímico de André?

Grato pela vossa atenção.

«APELIDOS; PATRONÍMICOS O apelido é o sobrenome de família que se transmite de pais a filhos. Parece terem sido os romanos que trouxeram para cá o uso do apelido. Uso com que a invasão goda acabou: com eles as pessoas apenas tinham o seu nome próprio, nada mais. Mais tarde, sob o domínio árabe generalizou-se o uso dos patronímicos. Estes, antes de se tornarem em verdadeiros apelidos, começaram por ser sobrenomes derivados do nome do pai. Alguns acabaram mesmo por constituir nomes próprios, embora derivados de outros e exprimindo filiação.

No tempo dos nossos primeiros reis, e até D. João I, vigorava a regra de que ao filho mais velho se desse o nome do avô materno seguido do apelido patronímico. Exemplo acabado desta regra é o caso de D. Afonso Henriques: Afonso, porque neto materno de Afonso (Afonso VI, rei de Leão e Castela, como se sabe – pai de D. Teresa), Henriques, porque filho de Henrique.

Mas os patronímicos também se formavam pela mera aposição do nome do pai ao do filho: assim, v. g., «Pedro Afonso» (filho de D. Afonso Henriques) era, de seu nome, Pedro; e porque filho de Afonso, Afonso. Ou seja: Pedro (filho de) Afonso. Ou: «Martinho/Martim (filho de) Lourenço», donde Martim/Martinho Lourenço.

Alguns patronímicos evidenciam bem a sua origem: como, v. g., Henriques se vê logo ser o patronímico de Henrique; ou Rodrigues, o de Rodrigo; ou Bernardes, o de Bernardo; como Sanches o de Sancho; ou Fernandes o de Fernando; ou Álvares o de Álvaro; ou Ramires o de Ramiro; ou ainda Martins/Martinez (e muito provavelmente Martens) o de Martim/Martinho. Tal como, ainda que hoje não seja para nós tão evidente, Soares é o patronímico de Soeiro; e Dias o de Diogo; e Peres o de Pedro/Pero; e Pais o de Paio/Pelágio. Da mesma forma muitos outros apelidos de hoje denunciam (até pela sua terminação em s) a sua origem patronímica, como acontece com Gomes.

Na nossa família encontramos duas aplicações muito evidentes relativamente a esta matéria de apelidos e patronímicos, com o apelido/patronímico Andrade, o mais remoto dos quais é o do tio-tetravô (padre) Francisco Manuel d’Andrade. A explicação que encontro (e tenho ideia de já o ter confirmado algures, e por mais de uma vez) é que o d’Andrade é o mesmo que «d’André»: «filho, e/ou neto, e/ou bisneto… de André». Como é aqui o caso: Francisco Manuel (R187) era filho de Manuel André, (046-054) nosso pentavô (hexavô...). Bom, mas não era só o pai do nosso referido tio-tetravô que era André, já o foi o seu avô (nosso hexavô...) Simão André (78) e o seu bisavô (nosso heptavô...) outro Simão André (184-216), assim como o trisavô dele (nosso octavô...), outro Manuel André (368-432) na mesma linha de ascendentes.

Igualmente “perto” (!) de nós temos também na família outro caso de um Andrade («de Andrade» ou «d’Andrade») que era filho de André: é o do tio-bisavô Manuel Ferreira d’Andrade, neste caso filho de António André. Era irmão do bisavô (trisavô/tetravô) Joaquim André Ferreira (004). Tanto o Manuel como o nosso bisavô Joaquim, eram filhos do trisavô António André (008). Daí ambos André, embora tivessem o nome completo construído de forma diferente, e um deles «d’Andrade» em vez de «de André» – que, tanto quanto penso, é o seu equivalente.

A propósito de apelidos, veja-se a “construção” do apelido André na nossa família desde o nosso, por um lado, octavô, por outro, heptavô Manuel André (a mesma pessoa física, que deve ter nascido cerca de 1630) passando pelos seus filhos Simão André e João André, respectivamente nossos heptavô e hexavô. São bem nítidas duas linhas contínuas que partem daquele octavô (numa linha) e heptavô, na outra, Manuel André, que se bifurcam naqueles seus dois filhos e convergem, de novo, no seu hexaneto Joaquim André Ferreira (nosso avô paterno), que no outro ramal é seu pentaneto. E então repare-se: dum lado temos uma linha agnatícia (varonil) até ao patamar da tetravó Maria Ribeira, em que se converte em cognática (feminina); do outro: sempre a linha varonil. Mas, todos eles, parentes directos, ou cognatos (consanguíneos, não afins). Resulta assim claro que o apelido que devíamos ter era o de André, o mais constante desde as gerações conhecidas de antepassados. Ou então André Ferreira, conjugando o mais antigo com o das últimas três gerações que antecedem a nossa.»

 

N. E. – O consulente adota a ortografia de 1945.