Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Sintaxe
Maria Antónia Fraga Professora (aposentada) Açores, Portugal 2K

Como devo dizer: «Obrigada sou eu que lhe fico» ou «obrigada sou eu quem lhe fica»? Ou ambas as formas são aceitáveis?

Diogo Morais Barbosa Estudante Lisboa, Portugal 1K

Ouve-se e lê-se muitas vezes «o que gosto».

Segundo percebo por respostas anteriores, o verbo gostar pede o de.

No entanto, hesito numa frase como «O que gosto é de jogar futebol». Numa frase como esta, não devemos duplicar o de e escrever «Aquilo de que gosto é de jogar futebol»? Ou «O que gosto» basta?

Obrigado.

Paula Bernardes-Silva Professora, atualmente a exercer funções técnicas numa agência governamental Lisboa, Portugal 6K

Regra geral, tenho poucas dúvidas quanto ao português escrito; acredito, porém, que essa segurança advém do facto de ser uma leitora compulsiva, e não de ser especialmente versada nas questões menos comuns da gramática da nossa língua (de gramática, só recordo as distantes lições da instrução primária e do liceu, e uma leitura, também já distante no tempo, da «Nova gramática do Português contemporâneo»*, de Celso Cunha e Lindley Cintra), pelo que, frequentemente, me debato entre a certeza da formulação correta e a falta de base teórica para defender a minha posição. E quando não sei mesmo (nem sequer intuo), recorro ao Ciberdúvidas, claro.

Encontro-me presentemente a rever vários textos [...] e deparei com uma frase que me soa mesmo mal; mas como as alterações que proponho têm de ser discutidas com os autores, gostaria, caso tenha razão, que me proporcionassem o tal fundamento teórico, para poder apresentá-lo se aqueles não aceitarem a correção. A frase é a seguinte:

«Distinguir a diferença entre a perspetiva focal e periférica na relação com si próprio, com o outro, com os objetos e com o espaço.»

Eu sugiro «[...] na relação consigo próprio [...]». Tenho razão?

Obrigada e parabéns pelo vosso trabalho.

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 1K

Relativamente ao "hábito" de se responder a partir das perguntas dos enunciados, noto uma tendência que se traduz na seguinte frase:

«A importância dos sonhos É QUE/É PORQUE a personagem pressente algo ruim.»

Perguntava-vos, como tal, se é aceitável uma construção desse género.

Obrigado.

Hiyashi Osamu Estudante São Paulo, Brasil 2K

Tenho uma questão quanto à qual a gramática tradicional é um tanto quanto esquiva, então gostaria de seus pareceres.

Se trata de campo semântico de adjetivos em sintagmas nominais com mais de um substantivo.

Considerando-se que a GT [gramática tradicional] diz que um único adjetivo caracteriza mais de um substantivo (pelo menos enquanto o sentido do adjetivo os cobrir) e que isso ocorre conforme a disposição de termos no sintagma — inclusive em todos os casos de concordância atrativa — (o que é minha maior dúvida se de fato o é), me interesso em saber como contornar interpretações equívocas nestes casos, mormente casos em que a concordância atrativa é obrigatória, por ex., quando adjetivo(s) anteposto(s) (funcionando de adjunto adnominal) aos nomes:

«Comprei manuais e gramáticas velhos/velhas.»

(penso que caracterize ambos independentemente da ausência de determinantes e da concordância estabelecida, tanto é que se objetivasse a caracterização de somente um nome contornaria assim:

«Comprei manuais velhos e gramáticas.» / «Comprei gramáticas velhas e manuais.»

Nestes casos, a concordância se faz obrigatoriamente com o mais próximo, pois logicamente só há o mais próximo para concordar. Por conseguinte, quanto a isso também gostaria de saber que acham.)

«Comprei velhos manuais e gramáticas.»

(nota-se que o sentido do enunciado, provocado pelo deslocamento do adjetivo, mudou.

Aqui começa a complicar em meu entender, pois o adjetivo pode, conforme sua carga semântica, caracterizar ambos. E fico em dúvida se efetivamente ocorre, a ausência de determinantes teria alguma implicação diferente na interpretação? Suponho que não...

«Comprei os manuais e as velhas gramáticas.»

(Por mais que a concordância seja atrativa, não por intuição possibilidade de caracterização semântica de ambos.)

Para não ir à exaustão com exemplos, para com casos de adjuntos adnominais, paro por aqui.

Ao predicativo do objeto agora:

Minha questão com este é mais sobre como contornar a interpretação de que ambos os substantivos são modificados. Para tal recorrendo a pontuação, penso conseguir fazê-lo. No entanto, como estou estudando pontuação ainda (sou um exímio "pontuador"); não sei se satisfaço plenamente a questão, portanto a vocês recorro.

«Comprei velhas as gramáticas; e os manuais» (não necessariamente velhos).

(E as gramáticas enquanto velhas, não necessariamente estão velhas no momento da enunciação.)

Aguardo suas reflexões ansiosamente. Obrigado pela atenção.

Alice Costa Do lar Rio de Janeiro , Brasil 1K

É correto escrever: «Ela desabafou sobre suas mágoas»?

Daniela Costa Tradutora Los Angeles, EUA 3K

Na frase «Era isso o que estava a manter o pensamento no lugar», é um erro o uso do artigo definido o antes de que? Se sim, qual é a regra que fundamenta isso?

Obrigada.

Evandro Braz Lucio dos Santos Professor Santa Quitéria , Brasil 1K

Na frase «Dona Carlota Joaquina causou muita polêmica ao vir para o Brasil», o termo «Carlota Joaquina» é núcleo do sujeito? Ou aposto especificativo?

O termo «Dona» é núcleo do sujeito ou adjunto adnominal? Qual a classe gramatical da palavra «Dona»?

Obrigado

Roberto Andrade Servidor Público Rio de Janeiro, Brasil 10K

Recentemente estive lendo o Dicionário prático de regência verbal de Celso Pedro Luft (um bom livro!).

Lá, deparei-me com um caso curioso: o verbo combater podendo ter dois "objetos indiretos".

O autor diz que o verbo é transitivo indireto e cita as preposições com, contra, por e a locução prepositiva «a favor de»...

Depois disso, observei uma frase:

«Combati contra José pela liberdade.»

Temos, na frase citada, dois objetos? «Pela liberdade» não dá uma ideia de locução adverbial de causa?

Obs.: A frase [em questão] não foi lida no livro, e sim em um artigo; mas, [apoiado] na visão de Luft, julguei dois objetos indiretos.

Desde já agradeço a enorme atenção que os Senhores sempre tiveram.

Maria Luísa Cordeiro Professora Chaves, Portugal 1K

No vilancete camoniano “Descalça vai para a fonte”, no verso «vai fermosa e não segura», o constituinte «fermosa e segura» é classificado como predicativo do sujeito, o que confundiu os alunos, dado que o verbo ir seleciona complemento oblíquo, como no 1.º verso: «… vai para a fonte».

Agradecia a vossa explicação, porquanto as gramáticas que consultei não foram esclarecedoras.