Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Sintaxe
Cristina Machado Professora Porto, Portugal 10K

Na frase «O filme cujo guião a Ana escreveu foi premiado» (= «A Ana escreveu o guião do filme»), devem ser ou não colocadas vírgulas na oração subordinada? Podemos considerá-la uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva?

Obrigada.

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 2K

Relativamente ao verbo apostar, não tenho um exemplo que me confirme a gramaticalidade desta frase:

«Eu aposto COMO consigo dar um salto!»

Aceita-se que o verbo apostar reja a conjunção como?

Alexandra Cunha Estudante Porto, Portugal 58K

Sempre me dei bastante bem com a gramática. Contudo, neste momento, começo a ficar um pouco confusa com algumas funções sintáticas. Tento fazer alguns exercícios para estudar e tentar perceber bem, mas acabo sempre por desistir, já que fico bastante frustrada comigo mesma por errar e parecer cada vez mais confusa a cada exercício que faço. A minha dúvida é: como posso identificar (e "distinguir") bem, em qualquer frase, os modificadores (do nome, do grupo verbal e o apositivo) e o complemento do nome?

Obrigada desde já!

Luiz Gustavo Estagiário Brasília, Brasil 10K

Consideremos a seguinte frase:

«O paciente não está com (em) condições físicas para participar da audiência designada para o dia 7 de janeiro de 2018, uma vez que sofreu o quarto acidente vascular cerebral, que o deixou com o lado direito do corpo paralisado afetando sua mobilidade.»

Minhas dúvidas são: o paciente «não está COM condições» ou «EM condições»? Existe vírgula após «acidente vascular cerebral»?

Fernando Pinto Estudante Porto, Portugal 6K

Antes de mais, quero agradecer e elogiar o vosso precioso trabalho, pois tem-me sido muito útil.

Por vezes, fico baralhado com estas duas funções sintáticas até porque já me deparei com diferentes classificações apresentadas em cadernos de atividades para a mesma frase.

Tomemos como exemplo as seguintes frases [sic]: «O encontro de cientistas»; «O encontro internacional de cientistas»; «O encontro científico»; «Indústria sueca»; «economia europeia»; «O livro de português».

Nas frases apresentadas, como já vi diferentes classificações, afinal são modificadores ou complementos?

Já agora aproveito para tirar outra dúvida: «Versões tradicionais» – trata-se de um adjetivo qualificativo ou relacional?

Agradeço a atenção que, certamente, dispensarão às minhas questões.

 

[N.E. – Os exemplos apresentados não são frases, mas sim sintagmas ou grupos nominais.]

José Sousa vendedor Porto, Portugal 5K

Na frase «A personagem principal é a Sementinha», qual é o sujeito?

Na minha opinião o sujeito é «a Sementinha» já que «a personagem principal» é o predicativo de sujeito.

No entanto, na correção proposta pelo manual de Português do meu filho, a resposta é precisamente o contrário. Como pode um nome próprio, neste caso Sementinha (da obra de Alves Redol), ser um predicativo de sujeito?

Agradeço os vossos esclarecimentos.

Júnior Lima Dias Estudante de Direito Brumado – BA, Brasil 24K

Se eu estou na frente da casa de alguém, eu digo: «estou na porta de sua casa» ou «estou à porta de sua casa»?

Obrigado, esse portal de dúvidas tem-me sido especial.

Leonardo Júlio da Silva Transporte São Paulo, Brasil 15K

O verbo indagar pode ser regido, quando em uma sentença, pelo pronome oblíquo direto, como no exemplo: «Indaguei-o sobre sua participação no debate»?

Ou obrigatoriamente se deve reger pelo indireto, como em: «Indaguei-lhe [...]»?

Desde já, muito obrigado.

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 17K

Numa frase é aceitável a expressão disjuntiva correlativa «seja... ou...», em vez da que normalmente encontramos, «seja... seja...»?

Agradeço o esclarecimento.

José de Vasconcelos Saraiva Estudante de Medicina Foz do Iguaçu, Brasil 5K

Carlos Góis [1881-1934], no seu livro Sintaxe de Regência, estabelece distinção entre os verbos impessoais e os unipessoais. Transcrevo para aqui o que ele refere:

«1- Não se confundam Verbos Impessoais com Verbos Unipessoais. A lamentável confusão (em que não poucas gramáticas têm incorrido) provém de que:

– tanto uns como outros só se conjugam em uma pessoa – A TERCEIRA (DO SINGULAR, OU DO PLURAL), donde ser lícito concluir: 

– os verbos impessoais são sempre unipessoais.

Os unipessoais, porém, não são impessoais, porque o seu sujeito não é "indeterminado" (como sucede aos impessoais): é sempre determinado e expresso na frase, constituído:

a) ora por um infinitivo, ex.: "Convém estudar" – "Releva dizer" – "Sucedeu-lhe sair" – "Aconteceu-me falar";

b) ora por uma oração (cláusula substantiva subjetiva): "Convém que estudes" – "Urge que saias".»

Por último, transcrevo ainda o que ele menciona no item 4:

«4- Há uma tendência moderna (em que é manifesta a nefasta influência da sintaxe francesa) dos gramáticos em equiparar os verbos unipessoais aos impessoais, partindo do princípio de que:

Quer o infinito, quer a oração (únicos sujeitos que pode ter o verbo unipessoal) "não constituem propriamente pessoas gramaticais).

Ora, sendo Pessoas Gramaticais – as diversas maneiras de ser do sujeito, segundo a definição clássica – é certo que os casos de sujeito infinitivo e de sujeito oracional se enquadram na definição. Enumerando as diversas "relações", que podem funcionar como sujeito – são acordes as gramáticas (entre as quais sobre-eleva a de Mason) em arrolar o infinitivo e a oração. Ora, se equipararmos os verbos unipessoais aos impessoais, iremos cair no absurdo de considerar o infinito e a oração como seu objeto direto, o que poderá estar perfeitamente conforme ao génio da língua francesa, mas não no está em relação ao génio da portuguesa. É inacreditável que gramáticos do porte de Epifânio Dias [18841-1916] e João Ribeiro [1860-1934] pretendam inaugurar semelhante teoria, partindo de uma acepção muito restrita, em que estimam o acidente de pessoa, parecendo que só admitem como pessoa gramatical o "pronome" e o "substantivo" - esquecidos de que o infinito é um substantivo verbal, e de que orações há substantivadas, equivalentes do substantivo (segundo o testifica Mason), e de que o pronome, quando indefinido, é ainda mais vago e impreciso em sua enunciação pessoal que o infinito e a oração. Ouça-se o que aduzem a respeito: Epifânio Dias, em sua Sintaxe Histórica: "Em sentido lato também são impessoais as orações cujo predicado se refere a uma oração que faz as as vezes de sujeito (v.g. importa que isto se faça depressa), por isso que uma oração não é propriamente uma pessoa gramatical."»

Pois bem, tendo procurado em várias gramáticas portuguesas, não encontrei nenhuma distinção feita pelos autores entre os verbos impessoais e os unipessoais e por isso mesmo gostaria de saber se a diferença que Carlos Góis estabelece se encontra noutros autores de gramáticas portuguesas ou se se trata de uma teoria sua. Em havendo, gostava ainda de que me informassem o autor ou os autores que perspectiva(m) esses verbos da mesma maneira que o sr. Góis.

Trabalho maravilhoso o vosso.

Desde já muito obrigado!

 

P. S. : Ainda sobre a minha pergunta, desejava saber se a ação dos verbos unipessoais se atribui só a vozes de animais, se se trata unicamente de vozes de animais, por exemplo, rugir (leão), bacorejar (leitão), tinir (milheira) [...] Ou se o que sr. Carlos Góis aduz é um corolário seu, uma formulação da sua lavra, quando diz que os verbos impessoais são sempre unipessoais e que os unipessoais, no entanto, não são impessoais, porque o seu sujeito não é indeterminado, como sucede aos impessoais, sendo, portanto, sempre determinado e expresso na oração, constituído, ora por um infinitivo («Convém estudar»), ora por uma oração («Aconteceu-me faltar»), ou, se essa visão existe também em Portugal, na tradição gramatical portuguesa. [...]