A conjunção mais frequente, a introduzir uma oração subordinada substantiva completiva é que:
(1) «Eu aposto que consigo dar um salto!»
No entanto, do verbo apostar, encontram-se atestações literárias do seu uso com a sequência ou locução «em como»:
(2) «O nosso furriel quer apostar comigo em como não chega a participar coisa alguma?» (João de Melo, Autópsia de um Mar em Ruínas, 1992)
O exemplo (3) poderia deixar supor que se trata de uma marca de oralidade, refletindo um uso coloquial, de cunho popular, que o escritor quis recriar num diálogo ficcional. Contudo, «em como» acha-se também no discurso escrito mais elaborado:
(3) «Apostamos também em como ao governo faltará decisão para pedir ao exército sacrifícios harmónicos co' a estiagem do erário, mas sacrifícios fundados! » (Fialho de Almeida, Os Gatos, 1889-1894)
No exemplo (4), retirado de um texto de Fialho de Almeida (1857-1911), autor muito conceituado pelo estilo, a presença de «em como» indicia que esta sequência é também adequada na prosa literária, tem tradição escrita e está, portanto, correta depois do verbo apostar e a introduzir uma oração subordinada substantiva completiva.
Assinale-se ainda a possibilidade de a sequência «em como» ocorrer depois de nomes como documento, certificado, declaração, a introduzir orações completivas em construções que hoje parecem confinar-se a fórmulas da linguagem notarial e administrativa1:
(3) [...] requer que lhe seja certificado em como o prédio [está] inscrito na matriz predial urbana.»
1 No português antigo, como e em como ocorriam com alguma frequência em lugar de que, como registava Augusto Epifânio da Silva Dias na sua Syntaxe Historica Portuguesa (2.ª edição, Livraria Clássica Editora, 1933, pág. 263; desenvolveram-se as abreviaturas e atualizou-se a ortografia do original citado, exceto nas passagens em português medieval; sublinhados nossos):
«§ 354. O português arcaico médio empregava frequentemente o advérbio como pela conjunção que. Todavia, esta prática (hoje quase antiquada) é muito restrita e quase só se dá depois de verbos sensitivos e declarativos, e em sumários de capítulos:
quãdo souberon como Hercolles era viindo em Espanha, prougue-lhe ende muyto (Lenda da Vinda de Hercules Lisboa, apud Leite de Vasconcelos, Textos Arcaicos, 46 [...]
Em sumários também se diz: de como, em como, e também depois dos verbos declarativos (no português arcaico, também depois dos verbos sensitivos), e dos substantivos correspondentes: em como:
Em quanto isto assi passavan foy dito a elrey em como ho Arcebispo recusava fazer o que tinha prometido [...].»