Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.

Ao retomar o tema "...uma das autarquias que... apresenta/apresentam", gostaria de agradecer a Jorge Madeira Mendes a leitura atenta da resposta que dei. E faço-o com a consciência de que a reflexão sobre a nossa língua comum é a melhor forma de a honrarmos e de a preservarmos na sua diversidade.

Gostaria ainda de asseverar o meu profundo respeito por todos aqueles que se interessam por estas lides e/ou a elas se dedicam.

No artigo "A praga dos neologismos" (EXPRESSO / Única 26/7/03), preocupa-se Paulo Querido com a entrada e difusão de neologismos relacionados com a Internet. E tem razão em preocupar-se.

Esta querela à volta da vírgula de Saramago já vai longa, mas seja-me permitido por uma última vez pronunciar-me e, em particular, respondendo ao último texto da dr.ª Maria João Matos.

Vejamos, então, mais uma vez a frase do nosso escritor:

"Uma língua que não se defende, morre."

Sim, podemos considerar este se como uma partícula apassivante - certíssimo. Coisa engraçada!... Quando dei a minha resposta pensei nas duas classificações: partícula apassivante ou pronome indefinido?

Ao sustentar esta controvérsia com o dr. José Neves Henriques, não me sinto numa posição confortável.

O dr. José Neves Henriques é um estudioso da Língua Portuguesa e já deu sobejas provas dos conhecimentos que tem sobre ela. Com as suas explicações no Ciberdúvidas, aprendi muito e espero continuar a aprender. Pelo contrário, eu entrei como consultora para o Ciberdúvidas praticamente na mesma altura em que manifestei a min...

Voltando à querela da vírgula de Saramago e ao último texto da dr.ª Maria João Matos, talvez que na frase «Uma língua que não se defende, morre», a oração relativa não tenha as características bem marcadas de oração restritiva. Vejamos as seguintes frases:

a) Uma língua que não se defende, morre.

b) Um homem que não se defende, morre.

Suponhamos a seguinte situação: (...)

Agradeço ao dr. José Neves Henriques as suas amáveis palavras. É através da controvérsia, certamente, que todos aprendemos, uma vez que ela nos obriga, como diz, "a observar, a pensar, a estudar e a resolver"; é também esse o meu objectivo, e é por isso mesmo que, mais uma vez, me permito discordar da sua explicação.

Fico muito agradecido à dr.ª Maria João Matos por ter discordado de mim, porque nada aprendo com quem está de acordo comigo. Aprendo, sim, com os que discordam de mim, porque me obrigam a observar, a pensar, a estudar e a resolver. E assim aprendo. E quanto mais e melhor aprender, mais e melhor posso ajudar o próximo. É para isso que estou neste mundo. Ora vamos lá:

1. "Uma língua que não se defende" não é o sujeito de "morre".

Não concordo de modo algum com a explicação dada pelo consultor José Neves Henriques sobre esta questão. Independentemente de a vírgula estar correcta ou não (e eu acredito que sim, que esteja correcta), ela está lá entre o sujeito e o predicado. A expressão «uma língua que não se defende» é o sujeito de «morre» e não pode ser considerada, portanto, uma expressão isolada entre vírgulas, ou seja, intercalada.

(…)
      Em 1990, o lingüista e educador britânico Michael Stubbs escrevia que «toda a área da língua na educação está impregnada de superstições, mitos e estereótipos, muitos dos quais têm persistido por séculos e, às vezes, com distorções deliberadas dos fatos lingüísticos e pedagógicos por parte da mídia». É triste constatar que essas palavras, publicadas há mais de uma década, se aplicam com precisão impressionante ao que ainda ocorre hoje em dia no Brasil. A...

A propósito do meu artigo de há duas semanas, alguns leitores exprimiram-me a sua discordância quanto ao sentido do termo "despoletar", por entenderem que ele significa "impedir uma explosão". Vejamos.

O termo "despoletar" surge registado, pela primeira vez, na 7.ª edição do dicionário da Porto Editora, que é de 1994. Antes disso, não vinha em nenhum dicionário. (...)