António Mega Ferreira *conta logo na introdução como nasceu este seu Roteiro Afetivo das Palavras Perdidas (ed. Tinta-da-China): «Ao longo dos anos, fui registando numa lista laboriosa de palavras que fui perdendo, palavras que tiveram um tempo no meu discurso (na minha vida?), ou que, pelo menos, nela traçaram um rasto fulgurante de cintilações afetivas rapidamente extintas no céu do meu olvido.» Resultado: desta «coletânea de murmúrios e reminiscências [...], menos de um terço das palavras listadas acabou por vir à escrita». Ou seja: 80 de uma lista inicial de 250.
Assumidamente «sem pretensões lexicográficas», sobressai, no entanto, uma cuidada recolha e pesquisa etimológica e semântica em obras, dicionários e prontuários de referência, devidamente assinalados logo pelo autor no princípio do livro. O resto, que é o principal: o talento de escrita e a vasta cultura clássica deste reconhecido amante das palavras.
Por isso, mais do que um dicionário de termos envelhecidos pelo tempo ou caídos no esquecimento, Roteiro Afetivo das Palavras Perdidas é uma evocação vocabular do quotidiano da geração lisboeta da segunda metade do século passado – a do próprio António Mega Ferreira –, numa viagem aos ambientes das ruas, das famílias, dos cafés, dos artistas e do contexto cultural desses tempos. Com a particularidade de, por cada palavra evocada pelo «espelho retrovisor da memória» do autor, fluir uma correspondente história vi...