António Mega Ferreira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
António Mega Ferreira
António Mega Ferreira
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António Mega Ferreira (Lisboa, 1949), escritor português, antigo jornalista, principal responsável da ideia e da concretização da Expo-98, realizada em Lisboa. Presidente do Centro Cultural de Belém de 2006 a 2012.

 
Textos publicados pelo autor
Roteiro Afetivo de Palavras Perdidas
80 desusos lexicais
Por António Mega Ferreira

António Mega Ferreira *conta logo na introdução como nasceu este seu Roteiro Afetivo das Palavras Perdidas (ed. Tinta-da-China): «Ao longo dos anos, fui registando numa lista laboriosa de palavras que fui perdendo, palavras que tiveram um tempo no meu discurso (na minha vida?), ou que, pelo menos, nela traçaram um rasto fulgurante de cintilações afetivas rapidamente extintas no céu do meu olvido.» Resultado: desta «coletânea de murmúrios e reminiscências [...], menos  de um terço das palavras listadas acabou por vir à escrita». Ou seja: 80 de uma lista inicial de 250.

Assumidamente «sem pretensões lexicográficas», sobressai, no entanto, uma cuidada recolha e pesquisa etimológica e semântica em obras, dicionários e prontuários de referência, devidamente assinalados logo pelo autor no princípio do livro. O resto, que é o principal: o talento de escrita e a vasta cultura clássica deste reconhecido amante das palavras.

Por isso, mais do que um dicionário de termos envelhecidos pelo tempo ou caídos no esquecimento, Roteiro Afetivo das Palavras Perdidas é uma  evocação vocabular do quotidiano da geração lisboeta da segunda metade do século passado – a do próprio António Mega Ferreira –, numa viagem aos ambientes das ruas, das famílias, dos cafés, dos artistas e do contexto cultural desses tempos. Com a particularidade de, por cada palavra evocada pelo «espelho retrovisor da memória» do autor, fluir uma correspondente história vi...

«De repente, (...), rebentou nos jornais [portugueses] uma borrasca que, ao que parece, se vinha gerando desde há tempos na Academia das Ciências de Lisboa» – escreve o autor, sobre o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, vindo a público em 2001, «após doze anos de duros e silenciosos trabalhos.»

[artigo publicado na revista Visão do dia 4/05/2006, de que se transcreve a seguir, na íntegra com a devida vénia. Cf. nos Textos Relacionados outras opiniões sobre o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.]

Ciclicamente, alguns órgãos de comunicação social portugueses sobressaltam-se com aquilo a que, se efectivamente existisse, poderíamos chamar a «deriva anglófona» de Moçambique: os primeiros passos para a integração daquele país da costa oriental da África no espaço da Commonwealth, em meados da década de noventa, fizeram soar as campainhas de alarme destes integérrimos defensores da língua portuguesa.

O «passo seguinte» (chegou-se a escrever) seria a substituição pura e simples do portug...